Segunda-feira ninguém sabe o que será

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Mills

— O que estão fazendo? — perguntei para Ruby Lucas e Belle French ao entrar na sala aonde Ariel montava parte de sua exposição. O trabalho que o meu grupo de alunos fez, acabou sendo exposto no pátio mesmo, já os havia dispensado, inclusive. Mais ao fundo, pude ver Swan colando algo com uma pistola de cola quente. Ao escutar minha voz, ela ergueu o olhar e me observou por um instante, mas rapidamente abaixou a cabeça e continuou o que fazia.

— Recortando cartões com poemas. As pessoas que comprarem uma moeda para o poço, vão  ganhar um. — Ruby com uma tesoura na mão, explicou empolgada.

 — Comprar moeda?  — franzi o cenho — Poço? — perguntei  sem entender. 

— É! Aquilo que Emma tá montando é  um poço. — apontou para Swan — Ou deveria ser. É que ela é meio tapada mesmo. — riu debochada — Dez a zero para a pistola! — ela e Belle caíram na gargalhada.  Segurei o riso observando a provocação. 
Swan sorriu amarelo, mas nada disse.

— Ele representa a parte da exposição  que vai falar sobre o livro  “Poço dos Desejos”, de  Roseana Murray. Quem vier amanhã para a exposição poderá comprar uma moeda. — apontou para um baú estilo tesouro de pirata, que estava em uma das carteiras  — Jogar no poço para  fazer um pedido. E ainda ganha um cartão destes. — balançou o papel que recortava — Neles têm  trechos de poemas. — Me lembrei do dia anterior, quando vi Swan pesquisando as estrofes.

— Porque poemas são tesouros! — falei surpresa.  Ariel poderia ser uma cobra, mas a ideia era genial. 

— Exatamente, professora Mills. —Ruby balançou a cabeça sorridente. — Estamos recortando isto desde a hora do intervalo. — fez cara de cansaço — Ninguém merece!

— Também não aguento mais. — Belle falou.

— E esse dinheiro vai para? — perguntei sobre a venda das moedas.

— A Associação Poço dos Desejos, que fica no centro. Eles cuidam de crianças carentes. — Lucas respondeu orgulhosa.

— É  uma iniciativa  ótima. — sorri simpática.

— Mas haja dedo também! — respondeu, e nós três rimos.

— E esse  aqui? — apontei para um envelope separado.

— Este é o meu. — Ruby pegou o envelope —  Emma, vai escolher o dela ainda. Nós já fizemos nossas doações. Ficou com Ariel. Não viremos amanhã. 

— Por quê? — olhava para Swan enquanto conversava com Lucas. Mas ela se fazia alheia à minha presença.

— Teremos jogo. — explicou.

— Entendi. — meneei a cabeça, ainda fitando Swan indiretamente.

— Mas olha, professora Mills. — Ruby bateu a mão na própria perna em sinal de indignação — A maneira como Ariel retirou as estrofes dos poemas ficou meio estranha. É difícil entender, porque não tem contexto.

— Mas os poemas podem ter várias interpretações. Depende do momento. Depende do leitor.   Sua linguagem conotativa o torna rico em significados. — expliquei.
 
— Eu sei. Mas... — pegou o seu envelope e o abriu — “Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse”. — fez uma cara de interrogação. — O que essa estrofe vai dizer por si só?  — rimos mais uma vez.

— Que a pessoa tinha um olhar maduro diante das situações.  — Belle falou. Vi Swan passar seu olhar por nós rapidamente.

— Boa observação, Belle. —  concordei com ela. — Mas você sabe o contexto do poema todo. Nós já trabalhamos ele.

Cinza das Horas (Swanqueen)Onde histórias criam vida. Descubra agora