Você não faz ideia do que eu sou capaz

109 12 0
                                    

 
Mills
 
— Você pode jogar vídeo game  por uma hora. Vou marcar no relógio! —  olhei em meu pulso — Depois disso é  lição de casa, mocinho. E não corra pela casa! — Falei em tom de repreensão quando vi Henry sair correndo pela  cozinha.  Tínhamos acabado de almoçar, e eu estava ajeitando as coisas. Sentia meu filho  um pouco mais animado, então não queria podar isso. Pelo menos a melhora de Henry era reconfortante, depois do dia estressante de trabalho que tive.
 
 Sabia que tinha desenvolvido aversão à Ariel, só não pensei que tomaria proporções  tão gigantescas. Ver o seu sorrisinho presunçoso ao desenvolver um projeto com os meus alunos, estava me dando nos nervos. Claro que já sabia que haveria essa atividade  depois da viagem. Tudo estava programado. Mas aceitei que  estivesse presente coordenando metade da sala, antes de toda a  confusão, não tinha ideia do quão rancorosa e problemática ela poderia ser.
 
Tinha também a questão do silêncio em relação ao que havia acontecido domingo. A ameaça de denúncia por agressão, e todo o escândalo que prometeu que faria, não resultar em nada, realmente não me convencia. E a todo momento me vinha à memória o fato de Swan estar fazendo o trabalho com ela. Eu entendo a necessidade  de manter uma distância segura. Mas aceitar  é uma coisa, ficar satisfeita, é  outra.
 
Terminei o que tinha que fazer na cozinha, e fui para meu escritório. Precisava fazer umas leituras e mandar e-mails  para que os alunos também as fizessem. Assim que sentei, escutei a campainha tocar. Bufei! Droga, claro que Henry não atenderia. Quando estava jogando não via nada a seu redor. Fui atender.
 
Não sei descrever o tamanho da  surpresa quando abri a porta e a figura de Cora Mills fez-se presente em minha frente.
 
— Ainda essa ideia de não ter empregados fixos? — falou dando um  passo, e entrando em minha casa, sem esperar ser convidada — Já fiquei cansada por você, Regina! 
 
— O que faz aqui, mãe? — perguntei com rancor na voz.
 
Ela ignorou começou a andar em direção ao meu escritório.  A segui. A vi entrar, sentar em minha cadeira, e cruzar as pernas. Fez um gesto para que eu sentasse à sua frente. Fiz o que ela me pedia já sentido meu sangue ferver. Odiava a maneira como ela agia, cheia de si,  mesmo sem abrir a boca.
 
Pendurou a alça de sua bolsa, suspirou pesadamente, colocou  as mãos sobre os joelhos, percorreu com o olhar cada parte de meu escritório com ar de desdém.
 
— Não canso de dizer o quanto você deveria trocar a decoração deste escritório. — balançou a cabeça em sinal de negação  — Ficaria melhor algo mais clássico.
 
— Você vai me dizer o que veio fazer aqui, Cora? — repeti  agora  já impaciente.
 
Ela levantou uma sobrancelha e me olhou com ar de superioridade, provavelmente reprovando minha atitude.
 
Levou suas mãos à sua bolsa, tirou de lá um envelope branco, o jogou com raiva sobre a mesa.
 
— Abra!  — disse, e agora era a sua voz que tinha um tom de impaciência. Franziu o cenho, e fiz o que indicou, tentado pensar aonde ela queria chegar com aquilo.
 
Ao abrir, vi alguns papéis que me pareciam ser documentos de conclusão de curso. Eram de instituições de ensino diferentes. 
 
— O que é isto? — fiz uma cara confusa, enquanto retirava os papéis por inteiro do envelope para ver melhor.
 
— Isso, filhinha, são os documentos falsos de pós-graduação e mestrado de uma tal de... — fez uma pausa, se inclinando para frente — Ariel  Darling. — falou pausadamente, com sua melhor cara de esnobe. Fechei os olhos por um instante. Se ela tinha informações sobre Ariel,  sabia da confusão de domingo. Um  frio subiu pela minha espinha. Até onde ela sabia?
 
— Regina, eu tenho cara de quem fica  separando briga de escola? — bateu a mão espalmada sobre a mesa.
 
— Como sabe disso? — perguntei, tentando disfarçar o abalo emocional.
 
— Nada de importante acontece em Storybrooke sem que eu fique sabendo. — levantou as mãos com as palmas para cima, falando em tom irônico — Agora veja a minha surpresa, quando na noite de domingo, recebo uma ligação informando que tinha uma mulher na delegacia da cidade querendo abrir um Boletim de Ocorrência contra Regina Mills.  O quão rápido tive que agir  para impedir que essa morta de fome não fizesse um escândalo midiático! — disse entredentes, e nessa hora eu já podia sentir o ódio sendo cuspido junto à cada palavra que saia de sua boca.
 
Levei a mão à testa e pressionei, respirei fundo. A última coisa que precisava agora era Cora de volta à minha vida.
 
— Essa professora, ela... — comecei a falar, mas ela me interrompeu.
 
— A sorte é  que ela tinha fraquezas muito fáceis de detectar. Pelo que está aí, o único diploma que realmente tem por mérito é o de graduação. E  convenhamos... — balançou a mão em sinal de desprezo — Para dar aulas àqueles  alunos piolhentos que você tem,  saber o alfabeto já está de bom tamanho! — apertei as unhas no estofado da cadeira.
 
— Cora, eu não admito que você ... — ela me interrompeu mais uma vez.
 
— EU É QUE NÃO ADMITO QUE VOCÊ DESTRUA A IMAGEM QUE  LEVEI ANOS PARA CONSTRUIR! —  começou a gritar, apontou o dedo em riste para mim — Eu estou deixando você  brincar de escolinha por enquanto, Regina. Mas só porque isso é uma propaganda fácil  à sua imagem. “Nossa, a candidata rica que dá aula para os pobres!” — usou uma voz irônica e fez aspas com os dedos — Mas se isso começar a afetar sua carreira  política, terá o seu fim, entendeu?  — bateu a mão novamente na mesa — E outra coisa o que essa professorazinha fez para te deixar tão descontrolada ao ponto de agredi-la?
 
Respirei aliviada, ela não citou Swan, então pelo menos dessa parte da história, não sabia. Nem posso imaginar o que seria capaz de fazer se soubesse de algo.
 
— Tem problemas comigo, porque voltei à escola e fiquei com as salas que ela gostava. — expliquei  encurtando  o assunto.
 
— Deus! Fico só imaginando o tipo de aluno, se as professoras ficam se engalfinhando assim. — maneou  a cabeça em negação — Mas com isso — apontou para os papéis — Essa pobretona  percebeu aonde é  o seu lugar.  E não  vai abrir a boca. Agora, Regina. — falou  meu nome pausadamente, e eu odiava quando ela fazia isso — Eu não posso tirar seis meses de férias que você já faz  alguma besteira? Quero que  entenda bem, não tenho disponibilidade para ficar limpando a sua sujeira. Então, trate de andar na linha!  — ameaçou, me apontando o dedo mais uma vez.
 
— Você falou com Ariel? — perguntei.  Precisava saber se o nome de Swan foi citado. Isso estava me corroendo por dentro.
 
— Claro que não! Kristoff falou.  — disse com cara de nojo — Até  parece que não me conhece,  esqueceu que não  costumo falar com esse tipo de gente. Esses proletariados me dão arrepios!
 
Pegou a  sua cartela de cigarros e acendeu. Revirei os olhos, ela sabia que não suportava.
 
— Tem mais uma coisa. — deu um longo trago —  Semana que vem temos uma reunião para decidir a direção de sua candidatura ao Senado. — senti o meu ar faltar no mesmo instante.
 
— O QUÊ? — disse alterada, me ajeitando na cadeira.
 
O Senado seria uma das metas de minha carreira. Já havíamos discutido sobre isso. Mas a projeção não era para agora.  Cada estado tinha direito a dois Senadores, as eleições para o cargo se alteravam a cada dois anos. O que foi decidido com o pessoal do partido era que Erik, ex‐prefeito de Portland, seria o candidato para a próxima eleição, isso em dois anos.  E eu seria a candidata para daqui quatro anos. — O QUE ACONTECEU COM ERIK?  — perguntei arregalando os olhos.
 
— Agrediu a esposa. Abafaram  o caso, claro. Mas o partido decidiu que ele é muito instável  emocionalmente, e perder as eleições está fora de cogitação.  Ainda bem que você não agride ninguém, não é filhinha? — falou com um sorriso irônico. Revirei os olhos — Depois da reunião teremos um jantar, nele  pode levar o seu marido. — Franzi o cenho. Tinha esquecido que ela  não sabia sobre a separação.
 
— Robin e eu não estamos mais juntos. — me apressei em falar.
 
Ela arregalou os olhos. Mas suavizou sua expressão logo em seguida.
 
— Melhor assim! — disse para a minha surpresa — Eu nunca gostei da postura filantrópica dele para ter filhos. Só vamos tratar de ser um divórcio silencioso, ok? E eu vou pensar em um outro partido. Quem sabe o seu novo marido me dê um neto de verdade. — falou como se estivesse decidindo sobre uma roupa nova que eu iria usar.
 
— Você não vai entrar em minha casa e falar assim do meu filho!— disse realmente me alterando, e por um instante, pude ver receio em seu rosto  — E outra coisa, não vou casar com mais ninguém por sua influência.
 
— Bom,  isso é  o que nos vamos ver, filhinha. — levantou, retomando a sua postura esnobe,  colocando sua bolsa no ombro  — Mas é  claro que casamentos na véspera das eleições  chamam mais atenção. Os eleitores adoram! Você  viu como funcionou na primeira vez. — sorriu satisfeita — Não precisa me levar até a porta, eu sei o caminho. — saiu com a mesma postura altiva que entrou.
 
Arrumei os cabelos e respirei fundo tentando me acalmar.  Se eu quisesse continuar com minha carreira política, sem abrir  mão  da  autonomia sobre minha vida pessoal,  teria que deixar Cora de lado. Passei  as mão nervosamente no rosto. Céus, essa mulher  tinha que voltar  agora, justo quando comecei a dar o rumo que realmente quero às coisas?
 
Levantei e dei outra olhada nos papéis que ela havia deixado.  Pelo menos, não precisaria me preocupar com Ariel. Balancei a cabeça  descreditada. Iria à tal reunião. Se realmente acontecer de ter que adiantar a minha candidatura, começaria todos os preparativos. E nesse percurso, daria um jeito de me livrar de Cora. Ela só não  poderia desconfiar de nada até eu decidir o que fazer. Se tem algo que aprendi em todos esses anos de convivência com minha mãe,  é  estar sempre um passo à frente de quem você quer afetar. Nunca quis que as coisas chegassem a esse patamar, mas se tratando dela eu não teria alternativa. Cora me menosprezava.  Em sua cabeça, eu ainda era aquela jovem ingênua da minha primeira campanha. Por enquanto, a deixaria pensar assim.
 
— Ah, Cora ... — balancei a cabeça de um lado para o outro , fitando a porta — “Você não faz ideia do que eu sou capaz!” — coloquei os papéis sobre a  vida acadêmica de Ariel em uma gaveta,  e fechei sem delicadeza.
 
 
 ***
 
 
— Ah, pode levantar dessa cama! — Zelena entrou no meu quarto acendendo a luz e puxando o meu edredom. Tinha me dado uma dor de cabeça insuportável.  Pedi para Henry fazer a lição de casa, minha sorte é que era  matemática, e ele conseguiu fazer sozinho, porque condições de explicar algo naquela tarde, não teria. Não depois de Cora! Tomei um remédio e deitei. Deixei a porta do meu quarto aberta, caso meu filho precisasse de mim.  Acabei dormindo.  Mas não antes de mandar uma mensagem  para Zelena contando sobre a visita inusitada de nossa mãe.  Então antes de abrir os olhos, já sabia o motivo de minha irmã estar ali.
 
— Pra que tanto barulho? — perguntei com a cara no travesseiro.
 
— Você não vai deixar aquela cobra te afetar assim. — senti um tapa estalado em minha bunda. Estava de camisola e quando ela puxou o edredom parte do meu corpo ficou exposta.
 
— Você é louca? — falei brava, tirando a cabeça do travesseiro e a encarando. Abaixei a minha camisola.
— Imagino você transando, e levando uns tapas nessa bunda. — disse sentando ao meu lado na cama —  Irmãzinha, você deve dar um  trabalho! — falou com uma cara safada. Senti minhas bochechas queimarem.
 
— Não me imagine... — fiz uma pausa, envergonhada — Fazendo essas coisas. — apontei o dedo para ela.  Zelena riu ainda mais.
 
— Passou a dor de cabeça? — perguntou,  e eu me sentei na cama.
 
— Sim. Estou bem melhor. — respondi arrumando o cabelo.
 
— Ótimo! Vá tomar banho, porque temos um jogo de vôlei para ir. — Arregalei os olhos  em espanto.
 
— Não vai me dizer... — comecei, mas ela me interrompeu.
 
— Sim!  Ruby me deu ingressos e nós vamos! Você tem uma hora para se arrumar. —  balancei a cabeça  em negação.
 
— Não acho que seja uma boa ideia.  — falei, claro que Emma Swan veio à minha cabeça.
 
— É uma ótima ideia, Sim!  Henry já está se arrumando. — fechei o cenho na hora. 
 
— Zelena, você tem que parar com isso! Não pode falar com Henry antes de mim, agora não tenho como negar. Você sabe como ele adorou ir ao último o jogo, e está muito sensível por causa do divórcio. Não posso dizer agora que não vamos. — falei em tom de repreensão.
 
— Eu sei, por isso avisei ele primeiro. — revirei os olhos — Você mesma disse que Emma está te evitando, então não tem porque ter receio de ir a este jogo. – concluiu dando de ombros. 
 
Havia passado na sala de minha irmã antes de vir embora e  contato  sobre Ariel fingir que nada  tinha acontecido, falei também, sobre a  postura de Swan.
 
— Ande, vá! — me empurrou para que levantasse da cama. Fiz, mas a contragosto.
 
Em uma hora, estávamos no carro de Zelena em direção ao ginásio.
 
O jogo correu tranquilamente, assim que entrou em quadra Swan nos viu na arquibancada, pois estávamos bem na frente.  Meu filho acenou para ela animadamente, ela retribuiu o aceno simpática.
 
O time de Storybrooke, apesar de algumas oscilações, conseguiu a vitória por três sets a zero. Passei o jogo revirando os olhos a cada ponto. Ver Swan abraçar a tal italiana nas comemorações não era agradável. Mesmo quando não estavam próximas, era visível que Piccinini a procurava  com o olhar, e fazia questão de ir  a seu encontro.
 
Não sei se apenas eu reparava isso, mas Swan parecia alheia às investidas. Ou estava muito concentrada no jogo para dar importância. Zelena se divertiu às minhas custas, assistiu mais as minhas reações do que a partida.
 
Se não fosse pela felicidade  estampada na cara de Henry por estar ali, teria ido embora, disso  não tinha dúvidas. Meu filho parecia ainda mais fascinado do que a primeira vez que esteve ali. Em nada lembrava o menino que passou a semana pelos cantos da casa chorando e cabisbaixo. Vê-lo assim acalentada meu coração.
 
O juiz apitou o término da partida. O locutor anunciou quem fora eleita a melhor jogadora em quadra. Não consegui  conter o sorriso ao ver Swan receber o troféu simbólico de destaque da partida. Ela se esforçou, foi merecido! Se tem uma coisa que eu não podia negar era o empenho em relação à  carreira que sempre a vi ter. Estava internamente orgulhosa em vê-la crescendo profissionalmente e tendo  reconhecimento por isso.
 
Ficamos na arquibancada durante mais alguns minutos. Henry queria falar com sua jogadora preferida,  claro. Usava a camisa que Swan tinha autografado no primeiro jogo.  Ruby Lucas foi a primeira a aparecer na arquibancada, já tomada  banho, deu alguns autógrafos e veio nos cumprimentar.  Swan saiu logo em seguida, também com os cabelos molhados por um banho recente, sua costumeira bolsa de gelo no joelho esquerdo e com o troféu de melhor jogadora na mão. Tirou fotos, deu autógrafos. Houve uma pequena aglomeração ao seu redor.  Com a qual ela soube lidar bem, sendo atenciosa com todos. Dois seguranças se aproximaram para garantir a ordem  por ali. De onde estávamos observávamos  tudo.
 
— É, parece que alguém está ficando famosa! — Zelena disse com um sorriso orgulhoso.
 
Meneei  a cabeça concordando. E  o sorriso ainda estampado em meu rosto não deixava eu disfarçar minha satisfação.
 
Henry não se aguentava de ansiedade. Assim que Swan conseguiu passar pelos torcedores.  Veio em nossa direção.  Meu filho agarrou em sua cintura dificultando a sua locomoção.
 
— Ei, garoto, como você está? — perguntou sorridente dando um beijo em sua cabeça  e bagunçando  seus cabelos logo em seguida. Sorri ainda mais vendo a cena. Balançou a cabeça  em um cumprimento para mim e Zelena. Respondemos da mesma forma.
 
 — Agora estou bem. Você foi demais nesse jogo! — meu filho falou ainda abraçada a ela.
 
— Obrigada! Ainda vou melhorar muito! — disse sorrindo.
 
— Ganhou até um troféu ele é  pesado? — Henry perguntou dando um passo para trás se desfazendo do abraço.
 
— Não.  Olha.  — Swan entregou o troféu a ele. Seus olhos brilharam.
 
— Eu queria que meu pai tivesse visto o jogo hoje. — disse  naturalmente,  devolvendo o troféu a ela.
 
— Você pode convidá-lo na próxima partida.— Swan falou  e me olhou sem graça. Balancei a cabeça já sabendo aonde aquela conversa chegaria.
 
— Ele foi embora de casa. — respondeu rápido e com a voz triste.
 
Swan arregalou os olhos me encarando novamente. Zelena coçou a cabeça virando para o lado oposto. Ruby sentou na primeira cadeira vazia que encontrou na arquibancada.
 
— Mas você po... — Swan gaguejou, voltando a olhar para Henry — Pode  chamá-lo assim mesmo.  — disse forçando um sorriso amarelo.
 
— Pipoca? — Zelena falou pegando no ombro de meu filho. Interrompendo a conversa.
 
— PIPOCA! — Ruby se levantou rapidamente fingindo uma animação teatral. Henry deu um sorriso animado.
 
— Já voltamos, Emma. — Zelena pegou na mão de meu filho. E o conduziu para comprar pipoca.  Ruby os seguiu.
 
Swan esperou que os três estivessem a uma distância razoável. Se aproximou de mim, com uma expressão preocupada, mas antes de ela falar algo, me apressei em dizer.
 
— Não! Não foi por causa do que aconteceu domingo. — falei levantando a mão com a palma virada para ela — Não vou mentir,  a conversa passou sim por isso, mas há  muito mais! Fique tranquila, não tem ligação nenhuma com você.
 
A vi respirar aliviada.
 
— Eu sinto pelo transtorno, professora Mills. — falou ainda sem graça.
 
— Bela, me dá uma carona? — revirei os olhos, só em escutar o "bela”, já sabia quem vinha interromper nossa conversa. No instante seguinte, vi a italiana agarrar Swan pelo ombro. Meneou a cabeça me cumprimentando. Nem me dei ao trabalho de responder.
 
— Sim. — Swan respondeu olhando para ela.
 
— Sabia que você é  minha jogadora preferida? — a italiana falou baixo com aquele sotaque  que me dava nos nervos.
 
— Não exagera, Picci. — Picci? Ótimo, Swan! Agora até apelidinho ela já  tem. Respirei fundo, desacreditada.
 
— E a mais bonita também. —  Swan sorriu sem graça. E eu bufei  internamente.
 
— Acho difícil, com tantos clubes que você jogou, eu ser a mais bonita. — ergui uma sobrancelha. Isso, Swan, dá corda mesmo. Tá certo! Comecei a bater meu pé  direito no chão impaciente em assistir aquilo.
 
— Ah, se você se visse como eu te vejo, Emma. — disse balançando a cabeça, levando o dedo indicador ao rosto de Swan e colocando alguns fios que estavam ali para trás da orelha. Swan arregalou os olhos e ficou ainda mais vermelha. Eu  apertei as mãos em um punho.  Todo jogo eu tinha que passar raiva? Não estava valendo  a pena!
 
 — Vamos ao Granny’s, irmãzinha? — Zelena, de aproximou de mim. Henry e Ruby  ficaram mais ao lado. — Boa noite! — minha irmã disse   à italiana.
 
— Boa noite!  — respondeu simpática.
 
— Não sei se é  uma boa ideia.  — disse à Zelena. Analisando a situação.
 
— Vamos, professora Mills. — Ruby falou olhando para mim — Acabei de contar a Henry que vovó colocou um novo hambúrguer no cardápio.  Ótimo! Era só o que faltava, Henry comendo mais besteiras.  Olhei para meu filho que aguardava a minha resposta ansioso. Não conseguiria negar isso a ele. Não hoje.
 
— Tudo bem. Vamos! — ele pulou, e logo em seguida, bateu sua mão à de Ruby em um estalo. Lucas sorriu.
 
— Você vai, patinho? — perguntou olhando para Swan.
 
— Não. — respondeu, e pareceu  ficar incomodada — Preciso terminar de pesquisar os poemas que Ariel pediu. Aqueles cartões são para amanhã. — passou os olhos por mim — E acabei de prometer à Picci  que a levaria em casa. — olhou para a italiana, que sorriu.
 
Zelena colocou a mão na boca, segurando o riso.
 
— É, sis, ela está te evitando mesmo!  — minha irmã sussurrou  em meu ouvido.
 
— E  você  está achando graça por quê? — respondi também em um sussurro, fechando a cara.
 
— Esqueceu que vou dormir na sua casa hoje? — Ruby perguntou, e pude ver o sorriso da italiana sumir no mesmo instante. E foi a minha vez de  sorrir disfarçadamente. 
 
— Não. Depois que você comer e arrumar suas coisas, me avisa. Vou te buscar. — falou resolvendo o problema.
 
— Eu a levo em sua casa, Emma.  — Zelena entrou na conversar — estou de carro, deixo Ruby, e depois levo Regina e Henry.
 
— Certeza? — Swan perguntou.
 
— Sim. — minha irmã sorriu.
 
Saímos todos juntos do ginásio. Nos separamos no estacionamento. Não  estava nada  satisfeita com o fato de Swan levar a italiana em casa. Mas fiquei manos ainda, quando vi o tal Neal Cassidy encostado em seu fusca, a sua espera. Mesmo de longe deu para perceber que Swan não gostou nada de encontrá-lo ali.  A vi trocar algumas palavras com ele, entrar  no carro junto à sua colega de time, e dar partida.
 
 
 
 
 

Cinza das Horas (Swanqueen)Onde histórias criam vida. Descubra agora