Mills
— Ah, ótimo! E essa agora? — Bufei! Não é possível que a tomada mais próxima está queimada. Impressionante a manutenção precária ali, e olha que éramos uma escola modelo. Fico imaginando as outras. Belo trabalho que os atuais prefeito e governador estão fazendo em relação à verba para a educação. Revirei os olhos.
Estava na sala de Leroy. Precisaria da lousa digital para as próximas aulas. Fui antes testá-la. O ideal era que tivesse um equipamento desse por sala, no entanto, com poucos recursos, Zelena comprou o que era possível, e deixou na sala dos inspetores, onde todos os professores tinham acesso. Com a apresentação rodando normalmente, era só levá-la aonde seria usada.
Precisei usar a tomada do lado oposto, pois só ela estava em bom estado. Comecei a mexer nas configurações. Quando cheguei à tela de login, consultei a agenda onde tinha os códigos anotados.
Escutei um barulho, vi um molho de chaves cair sobre a mesa em que apoiava a mão. Elas deslizaram pelo móvel, e só pararam ao encontrar minha agenda em seu caminho. Ergui o olhar para ver quem era.
— Bom dia para você também, Emma! — disse ao ver Swan me encarando. Estava com as mãos nos bolsos de trás da calça jeans, e um sorriso lindo no rosto.
— Bom dia, Regina! — sorriu ainda mais. Não havíamos nos encontrado ainda. Eu teria apenas as últimas aulas em sua sala.
— Não são minhas. — apontei para as chaves, e desviei o olhar consultando os códigos de novo. Me virei para a lousa, comecei a digitar. — Mais que droga! — xinguei baixo ao constatar que não deu certo. Repeti o processo.
— Vai usar na nossa sala? — a escutei falar atrás de mim.
— Se eu conseguir fazer o login. — respondi debochada, e mais uma vez, apareceu a mensagem indicando erro. Bufei novamente. Apoiei a mão na tela, abaixei a cabeça, e fitei o chão.
— Talvez se você fizessem isso. — senti o calor do seu corpo próximo às minhas costas, e seu braço passar por cima do meu. Levantei a cabeça. A vi apertando uma sequência de botões. O sistema abriu no instante seguinte. Arregalei os olhos.
— Como fez isso? — perguntei incrédula.
— Graham usou esta lousa lá na sala semana passada. Estava com a mesma dificuldade. Até usar o código da coordenação. Deixou salvo nas configurações. Esse código dá acesso a todo o sistema. Vê aqui. — apontou para o nome do usuário.
— Muito perspicaz! — sorri, e virei meu rosto para olhá-la. Ela se aproximou mais.
— Ganhei mais um pontinho com você, professora Mills? — Perguntou em tom brincalhão. E levou suas mãos à minha cintura. Retesei o corpo, e segurei em seus braços, impedindo o seu toque.
— Emma, você enlouqueceu? — perguntei baixo, em tom de repreensão. — Alguém pode entrar aqui. — ainda a segurando, olhei em direção à porta. Franzi o cenho ao constatar que ela estava fechada. — Você encostou a porta? — perguntei.
— Eu tranquei a porta! — olhou para a porta, depois para as chaves em cima da mesa, e então, para mim. Sorriu travessa. — Leroy sempre esquece as coisas dele por aí. Nesse chaveiro tem as chaves das salas de aula e dessa aqui. — explicou como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Você roubou as chaves do Leroy? — perguntei de boca aberta.
— Não! — fez uma careta — Peguei emprestada. Daqui a pouco, devolvo.
Balancei a cabeça em negação. Estava desacreditada com aquilo. Um sorriso involuntário começou a surgir no canto dos meus lábios, cai na risada. Não deu para segurar.
— Você é impossível! — soltei seus braços. Escutei um sorriso sair de seus lábios. Me abraçou pela cintura. Senti o seu corpo todo junto ao meu. Me deu um beijo estalado na bochecha, ficou com a boca encostada em meu rosto, enquanto me abraçava apertado por trás. Repousei a mão esquerda sobre a sua, em minha cintura, e a mão direita, levei ao seu rosto. Fiz um carinho ali.
— Vim buscar o meu beijo. — falou em meu ouvido.
Segurei suas mãos, e fiz força me desfazendo de seu contato. Mais um pouco, me deixaria levar.
— Emma, não vou beijar você aqui. — falei séria. Mantendo uma distância segura — Na verdade, nós temos que parar com isso. Eu já te falei!
Ela revirou os olhos. Deu um passo à frente, cruzou os braços.
— Ontem você disse que eu merecia. — fez uma cara de safada. Ia dar mais um passo, mas fiz um gesto indicando para ela ficar aonde estava.
— Swan! — ergui uma sobrancelha, e mudei o meu tom de voz. Ela entendeu.
— Tá, né! — disse vencida. — permanecendo no mesmo lugar. Abaixei a mão.
— Você não deveria estar na aula? — perguntei achando estranho.
— Sim, de Biologia. — meneou a cabeça — Inclusive, estou no banheiro agora. — deu de ombros .
— É uma cara de pau mesmo! — ela achou graça — Volte para a aula, Emma! — disse séria.
— Ganho um abraço, pelo menos? — perguntou se aproximando com cuidado. Analisando minha reação. A sua expressão era como se eu fosse uma fera, que iria atacá-la se desse um passo em falso. Acabei rindo da cena.
— Vem! — estendi a mão à ela. O seu sorriso foi largo. Segurou em minha mão, a puxei até mim. Cingiu minha cintura em um abraço carinhoso. Enterrou o seu rosto na curva de meu pescoço. E respirou fundo. Passei as mãos pelo seu ombro e a abracei apertado. Fechei os olhos aproveitando o seu toque. Queria aquele abraço tanto quanto ela. Encostei a boca em seu ombro. Senti o seu cheiro. Ela respirou fundo em meu pescoço novamente.
— Eu adoro o seu perfume! — senti um beijo em meu pescoço. Me encolhi, arrepiada. — Nada de beijo?
— Não! — falei abafado, com a boca em seu ombro, fingindo enfado na voz. Ela sorriu.
— Você é muito má, morena! — falou em tom brincalhão. Virando seu rosto para me olhar.
— E você, é teimosa, loira! — usei o mesmo tom. Sorrimos. — Vá para aula. — disse ficando séria. Ela meneou a cabeça concordando. Me deu um último beijo no rosto. Se afastou.
Pegou as chaves, e a observei sair, sorridente. Emma fazia de qualquer momento simples, algo encantador.
***
Swan
— Tô muito nervosa com o jogo de hoje, é vaga para a semifinal. Eu não acredito que estamos prestes a jogar essa fase do campeonato. — Ruby falava toda empolgada, tínhamos acabado de chegar ao vestiário, teríamos que esperar as outras jogadoras chegarem. O jogo de hoje era decisivo, e na cidade vizinha. Sairíamos do ginásio no ônibus do time.
— Vamos ganhar, Ruby! O troféu desse campeonato tem que ser nosso! — respondi, sentando no banco de madeira, encostei minhas costas na parede. Ruby se acomodou ao meu lado. Passou o olhar por todos os cantos do vestiário.
— Esse lugar perdeu toda a inocência pra mim. — fingiu um tom desapontado, e balançou a cabeça.
— Fica quieta, cretina! — senti minhas bochechas queimarem. Ela riu alto.
— Tudo bem! — levantou as mãos em sinal de rendição — Mas como as coisas vão ficar? Depois de todo esse sexo quente?
— Não ficam Ruby, nós conversamos ontem à noite, e hoje na escola, como te falei. Ela se esquiva. — disse olhando para minha amiga.
— Ainda não acredito que você se trancou com a professora na sala do Leroy. — levou as duas mãos à boca, rindo.
— Não podia correr o risco de alguém ver. — falei o óbvio.
— Tá! Situações engraçadas à parte, como você se sente com isso? — usou um tom sério agora.
— Ruby, pra mim foi especial. Nunca me senti tão completa com alguém antes. O toque, o cheiro, a voz, o sorriso. Tudo nessa mulher é maravilhoso. — fiz uma pausa escolhendo as palavras, mas por mais que eu me esforçasse, nunca conseguiria expor em palavras o que Regina significava pra mim — Estar com ela, mesmo que não a toque, já é bom. — Ruby abriu um sorriso — Tá rindo de quê?
— De como você fica boba apaixonada. Nunca pensei que te veria assim. — seu sorriso aumentou.
— Idiota! — revirei os olhos.
— Não tô zoando, tô falando sério! — me puxou pelo pescoço, e me deu um beijo estalado na bochecha. — Você fica linda caidinha. — olhou fixamente em meus olhos — Mas é sério, você tá apaixonada, não tá? Porque sempre que falo sobre isso, você não responde.
Fiquei em silêncio durante alguns segundos. Passeei com o olhar, reparando em cada detalhe do vestiário. Lembrei de todas as sensações causadas em meu corpo ao tê-la ali, em meus braços. Trechos de nossa conversa vieram à minha mente. A sensação de nossos dedos entrelaçados. Isso não era só atração. Precisava admitir aquilo que mais me dava medo nos últimos tempos, eu estava completamente apaixonada por Regina!
Respirei fundo.
— Eu tô apaixonada, Ruby! — falei e voltei a olhar para minha amiga. Uma insegurança me dominou por completo. Era estranho falar aquilo em voz alta.
Ruby sorriu de maneira carinhosa, e segurou em minha mão.
— E pra ela? Você acha que foi só sexo? — perguntou preocupada.
— Não sei. É difícil dizer. Sempre que faço algo mais carinhoso, mais íntimo, ela meio que fica receosa. Mas quando cede, parece aproveitar o momento tanto quanto eu. — expliquei insegura.
— Já passou pela sua cabeça que ela pode sentir algo também? — apertou mais a minha mão — Mas muita coisa na vida dela impediria isso. Ela não te falou que se fosse em outra situação, você teria uma chance?
— Sim, disse. Mas sentir algo, eu não sei. — respondi, não sabia o que pensar.
— Não vou dizer apaixonada, mas um carinho especial, pode ser. Qual é, Emm? — bateu a mão livre na própria perna — A gente tá falando de Regina Mills essa mulher não deixa quase ninguém se aproximar. E tudo o que vocês já viveram nesses últimos meses? Estamos no final de Setembro. Faz alguma coisa! — chacoalhou minha mão.
— O que você quer dizer com isso? — perguntei confusa.
— Parte pro ataque! — respondeu convicta, como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
— Ruby, a mulher não quer nem sexo sem compromisso comigo, imagine algo envolvendo sentimentos. — balancei a cabeça, achando aquele conselho um absurdo.
— Você não está apaixonada? Pois então, tente conquistá-la? — me encorajou ainda mais.
— E todas as complicações? — me mexi nervosamente no banco.
— São problemas para pensar depois que estiverem juntas, isso se acontecer. Uma coisa de cada vez. — tentava simplificar tudo. Como se Regina fosse uma conquista possível.
— Eu não sei... — aquela conversa me deixou ainda mais confusa.
— Você deve pelo menos tentar. — insistiu — Se realmente não der certo, bola pra frente! — gesticulou com a mão — É melhor superar alguém por quem lutou, do que superar sem ter feito nada pra ficar com a pessoa .
— Falou a voz da experiência! — usei um tom de deboche. Ainda não convencida do que seria o melhor a fazer.
— Cala a boca e escuta o que eu digo! — disse brava.
Kurt bateu na porta do vestiário. Pediu para nos juntarmos ao restante do time que já estava no ônibus.
***
Mills
Cheguei em casa, tomei um banho demorado. Coloquei um shorts jeans e uma camiseta preta. Fui à cozinha preparar o jantar. Henry estava no treino.
Pouco depois das sete, meu filho e Swan chegaram, e dessa vez, aquela animação costumeira não existia.
— Mamãe! — Henry se aproximou de mim.
— Oi, amor! — beijei sua testa, ele se agarrou à minha cintura. — Boa noite, Emma!
— Oi, Regina. — deu um sorriso amarelo.
— Obrigada por trazê-lo. — agradeci ainda abraçada a meu filho.
Tive um dia corrido no escritório. Zelena precisou levar Henry ao ginásio. Depois meu filho mandou mensagem avisando que Swan o traria de volta. — Janta conosco? — convidei.
— Não obrigada, estou sem fome. — agradeceu já dando um passo para trás — Vou indo.
— Espera! — me apressei em dizer, antes que se afastasse mais. — Henry, leve sua mochila lá para cima, e me espere na cozinha, vou servir o seu jantar lá. — meu filho meneou a cabeça em entendimento — Preciso conversar com Emma.
O observei ir em direção à escada. Voltei a olhar para Swan.
— Você precisa dar atenção a seu filho. — começou a falar — Não quero atrapalhar.
— Emma, você não atrapalha. — a interrompi — Conversei com Senhorita Lucas, ela me contou porque você não foi à escola hoje. A última vez que tinha visto Swan foi na aula de ontem, minutos depois do episódio na sala de Leroy.
Swan respirou fundo, e colocou as mãos na cintura. Ficou alguns segundos em silêncio.
— Foi vergonhoso, Regina! — balançou a cabeça em negação — Não tivemos a competência de ganhar um set. Não fomos só eliminadas do campeonato, fomos humilhadas! — sua expressão era um misto de indignação e tristeza.
Meu coração ficou pequeno em vê-la daquele jeito.
— Vem aqui! — a puxei pela mão para que entrasse, fechei a porta.
— Não quero acabar com a refeição de vocês — ainda relutava em ficar — É melhor eu ir embora.
— Comi uma salada a pouco, também estou sem fome. — expliquei, a guiei até a sala ainda segurando em sua mão — Só me dê um minuto, vou servir o jantar de Henry. — Ela balançou a cabeça concordando.
Fui à cozinha, Henry disse que só queria um chocolate quente. Pelo jeito ninguém ali estava com apetite. Preparei rapidamente. Meu filho se ajeitou com sua xícara em um dos bancos do balcão, e ficou mexendo em seu celular.
Peguei uma garrafa de sidra, dois copos. E voltei para a sala.
— O que é isso? — ela perguntou quando me viu colocando a garrafa sobre a mesa de centro.
— A melhor sidra que você vai beber em sua vida. — falei entregando um dos copos a ela. Me sentei no mesmo sofá, mas mantive uma distância segura. Nunca resultava em boa coisa me aproximar muito de Swan.
Brindamos, e a observei levar o líquido à boca.
— Realmente uma delícia! — falou, e desviou o seu olhar do copo, me encarou. Sorri ao escutar o elogio.
— Eu mesma fiz! — contei orgulhosa.
— Pois é mais uma coisa que você faz bem. Impressionante! — disse simpática. Mas dava para perceber o esforço que fazia para se manter assim. O seu sorriso não tinha o mesmo brilho.
Respirei fundo, analisando sua feição.
— O time adversário era realmente superior? Ou houve algo determinante na partida de ontem? — perguntei, voltando ao assunto.
Ela desviou o olhar para um ponto qualquer da sala.
— Não é um time que está acima da média. Pelo contrário, é considerado instável. Quando cruzamos com ele na primeira fase, ganhamos sem maiores complicações. — explicou.
— Então acha que o fato de jogarem em casa influenciou? — tentei entender a situação.
Ela ficou em silêncio alguns segundos, parecia colocar os pensamentos em ordem.
— Não sei se foi só isso? — gesticulou — O fator casa influenciou, mas não foi determinante.
— Vocês menosprezaram o adversário. Foi isso, não foi? Por já terem uma vitória em cima delas, e pela campanha irregular comparada à de vocês? — analisei friamente.
Swan se encostou por completo no sofá, soltou todo o peso. Bufou!
— Acho que foi isso sim! — admitiu.
Lancei um olhar compreensivo a ela.
— É um aprendizado, Emma. Agora é não cometer mais o mesmo erro. — tomei um gole de sidra.
— Não, Regina! Não é tão simples assim. Eu não podia ter cometido esse tipo de erro. — bateu a mão no braço do sofá.
— O vôlei é um esporte coletivo. Você não perdeu o jogo sozinha! Não pode se culpar por tudo. — tentei tranquilizá-la.
— Você não entende. — disse em tom derrotado, e abaixou a cabeça.
— O que eu não entendo, Emma? — perguntei, querendo saber aonde ela queria chegar.
— Preciso de bons resultados, Regina! — levantou a cabeça, me olhou — Tenho que retomar a minha carreira em alto nível. Eu não posso perder mais tempo em Storybrooke! — usou um tom sério e determinado.
E aquelas palavras me atingiram em cheio. Um soco machucaria menos. Forcei um sorriso, e desviei o olhar para o outro lado.
— Claro! Você não pode perder mais tempo em Storybrooke. — repeti baixo, mais para mim mesma do que para ela.
Uma sensação de perda se apossou de cada parte do meu corpo.
Eu já estava acostumada à sua companhia, seu olhar, o som de sua risada, o jeito carinhoso, todo o seu cuidado com Henry. Ali, naquele instante, constatei que lidar com o fato de não tê-la por perto era uma realidade que doía.
— Ganhar o estadual e algum prêmio individual... — continuou a falar — Me trariam visibilidade, e consequentemente, o interesse de clubes grandes. Perdi uma oportunidade significativa.
— E quando será o próximo campeonato? — perguntei, disfarçando ao máximo o abalo que essa conversa estava tendo sobre mim.
— A Liga Nacional começa no próximo mês, Outubro. — mexeu nervosamente com a mão — A cerimônia de abertura já está marcada.
— Então nem tudo está perdido. Vocês têm um campeonato maior pela frente. Pense que tudo dará certo. — sorri amarelo.
Swan meneou a cabeça, e bebeu um pouco mais de sua sidra.
— Não tenho outra escolha. — sorriu, mas a insatisfação era nítida em seu rosto.
— Mamãe, já terminei. — Henry chegou na sala, interrompendo nossa conversa. — Vou subir para meu quarto. Tô com sono. — e parecia que até o desânimo de Emma tinha atingido meu filho.
— Tudo bem, querido. Mas não esqueça de escovar os dentes. — ele veio até mim, dei um beijo em seu rosto.
Foi até Swan.
— Emma, não fica assim. No próximo você ganha! — se aproximou e a abraçou pelo pescoço.
— Obrigada, garoto! — sorriu, e retribuiu o seu abraço.
— E o joelho parou de doer? — ele perguntou, se afastando um pouco dela. Ergui uma sobrancelha.
— Que história é essa? Está com dores, Emma? — perguntei rapidamente.
Swan sorriu sem graça.
— É mamãe, ela nem conseguiu treinar hoje com a gente, só ajudou no posicionamento. — Henry contou, e eu olhei para ela já com o cenho fechado. Ela percebeu.
— Estou melhor! — se apressou em responder — Fique tranquilo. — meu filho sorriu, acreditando.
Henry se afastou, disse ainda um boa noite que respondemos em uníssono. Assim que ele desapareceu pela a escada, me virei para Swan com um olhar de reprovação.
— Você pode enganar Henry, mas essa desculpa que melhorou não me convenceu nem um pouco. — disse séria.
Ela soltou o ar, e fez uma cara de enfado.
— Não fui à fisioterapia . — admitiu. Abri a boca em um espanto.
— Como pôde ser tão irresponsável? — balancei a cabeça desacreditada — Não foi à aula, e nem à fisioterapia, Emma? Você tem que aprender a lidar com as frustações. Porque na sua vida, ainda vão acontecer muitas.
— Eu sei. — abaixou a cabeça envergonhada.
— Você toma algum remédio para dor? — abaixei o olhar para seu joelho.
— O médico me receitou um, mas só tomo quando a dor fica realmente insuportável. — falou baixo.
— Ótimo! — coloquei meu copo na mesa de centro — Se a sua dor aumentar não vai poder tomar o medicamento porque tem álcool em seu organismo. — me inclinei, e tomei o copo que estava em sua mão, o coloquei junto ao outro. Me levantei do sofá — E as coisas só pioram!
— Eu suporto a dor. Já estou acostumada. — disse com naturalidade.
— Deve ter algo que possa fazer para amenizar — coloquei as mãos na cintura e a encarei preocupada — Gelo! — falei rápido — Vi você várias vezes com uma bolsa de gelo no joelho.
— Ajuda sim. — balançou a cabeça positivamente.
— Vou buscar. — falei já dando alguns passos para sair da sala.
— Regina, não precisa. Já estou de saída. — fez menção de se levantar do sofá.
— Me espere sentada aí ! — falei brava, então ela permaneceu aonde estava.
Fui até o meu quarto peguei um shorts, que acreditei servir nela. Passei na cozinha e ajeitei a bolsa de gelo. Voltei para a sala, Swan estava pensativa, fitando um ponto qualquer da parede. Ela realmente estava abalada pelo o que tinha acontecido.
— Vai ter que colocar isto. — estendi o shorts, ela olhou, ia dizer algo, mas desistiu. Sabia que não adiantaria me questionar. Levantou, franziu um pouco o cenho, provavelmente era o joelho reclamando, foi até o banheiro.
Voltou em poucos minutos, usando o shorts, descalça, com suas meias de bichinho à mostra. Eu sempre riria do seu gosto para escolher meias. Balancei a cabeça observado a cena.
Deixou seu tênis em um canto, e a calça jeans em cima da poltrona próxima. Veio em minha direção.
— Sente-se — apontei para o sofá.
— Não adianta eu falar que ... — Começou, mas a interrompi.
— Não, não adianta! — ela revirou os olhos. Sentou, e esticou as pernas no sofá.
Peguei a bolsa de gelo, me abaixei ao lado do sofá, a ajeitei com cuidado em torno de seu joelho esquerdo. Vi os pelinhos loiros de sua coxa se arrepiarem pela temperatura. Achei uma graça. Tudo nela era lindo!
— Pronto! — falei me levantando. Ela me observava em silêncio. Me sentei na outra ponta do sofá, dobrei as pernas em posição de indiozinho.
— Faltar à fisioterapia? — usei um tom rígido — Sempre levou o seu tratamento tão a sério.
Ela apertou os lábios. Hesitou por um instante.
— Não é irresponsabilidade, como você disse. Eu sei das minhas obrigações. — falou baixo — Eu só estava triste, Regina. — desviou o olhar — Na verdade, ainda estou. — e foi quase um sussurro.
Percorri com o olhar cada detalhe de seu rosto. Aquela expressão triste acabava comigo.
— Você não está bem, não é? — perguntei, já sabendo a resposta. Ela apenas meneou a cabeça em negação.
— Vem aqui. — usei um tom carinhoso. Ela elevou o olhar para me olhar.
— O quê? — perguntou confusa.
— Deita aqui perto de mim. — falei já mudando de posição. Ela franziu o cenho. Mas não questionou. Se levantou em silêncio, veio até mim.
Encostei as costas no braço do sofá. Abri as pernas, ela se acomodou no meio delas. Repousou as costas em meu tronco, a sua cabeça ficou na altura de meu peito. A descansou ali. Passei os braços em torno dos seus, a abracei apertado. Abaixei um pouco a cabeça, e levei meu nariz a seus cabelos. Fechei os olhos, respirando o seu cheiro. E sentindo o calor de seu corpo, escutei um suspiro sair de seus lábios.
— Eu treinei tanto! — lamentou baixinho.
— Eí... — sussurrei em seu ouvido — Não fique assim, minha linda. — ela retesou o corpo por um instante, mas logo em seguida, escutei um riso sair de seus lábios.
— Minha linda? — senti minhas bochechas queimarem. Agora eu já havia dito, não tinha como voltar atrás. Me repreendi mentalmente por me deixar levar assim pelas emoções do momento. Não respondi, apenas levei a mão a seu cabelo, e comecei a fazer de leve um carinho ali.
— Eu gosto. — disse depois de alguns segundos, quando percebeu que não teria uma reposta verbal de minha parte.
Senti sua mão chegar à minha coxa esquerda. Começou a fazer uma carícia com a ponta dos dedos. Como era bom tê-la assim tão perto. Tocar em seu corpo. Sentir o seu cheiro. Seu toque delicado em mim. Nos perdemos por vários minutos, com ela assim em meus braços, em meio à carícias. Procurei na memória um momento de carinho assim em minha vida, não encontrei. Todos os similares foram com ela. Isso só deixava ainda mais claro como Swan era única. Ela tinha quebrado todas as barreiras. Minhas defesas iam ao chão em sua presença. Com seu jeito carinhoso, me ganhava fácil. Me via, cada vez mais, perdida nessa garota.
Senti o movimento que ela fazia em minha perna diminuir. Sua mão em dado momento, apenas repousou em minha coxa, a respiração ficou pesada.
— Emma? — sussurrei novamente em seu ouvido. Não obtive reposta — Emma ? — nada.
Com o braço que apoiava o seu tronco a inclinei um pouco para o lado. Sua cabeça pendeu, segurei rapidamente com a outra mão. Sorri, ao constatar que ela havia dormido.
Percorri o seu rosto com o olhar, ela tinha o sono tranquilo. Puxei delicadamente alguns fios de cabelo para trás. Levei a mão a seu rosto, desenhei o contorno de suas bochechas. A pele branca contrastava com o rosado dos lábios. Passei o polegar suavemente em seus lábios. Tudo nela me agradava. Tudo me atraia de um jeito que não conseguia explicar.
Inclinei a cabeça e aproximei meus lábios de seu rosto. Dei um beijo suave ali. “Eu não posso perder mais tempo em Storybrooke”. O som de sua voz ecoou em minha mente. Aquela sensação de perda me dominou mais uma vez. Perder o que, Regina? Você não tem nada! Minha consciência gritava, tentando trazer racionalidade para aquilo tudo. Mas se eu tivesse usado um pouco de razão desde o início, não estaria aqui agora, com ela em meus braços, sofrendo antecipadamente por uma provável partida que não deveria afetar em nada a minha vida.
O celular dela tocou alto no bolso de sua calça, na poltrona. Dei um pulo afastado meu rosto do seu. Ela abriu os olhos assustada, sem reconhecer aonde estava.
— Calma. — falei baixo, fazendo um carinho em seu peito. — É só o seu celular tocando. — ela reconheceu minha voz, e relaxou o corpo.
— Nossa! — disse — Não acredito que dormi. — sorriu sem graça, se levantou. Andou com certa dificuldade, por causa da bolsa de gelo, que a essa altura, era só água.
Pegou o celular. Ele já não tocava. — É a Ruby. Está preocupada, porque chegou lá em casa, e eu não estava. Ainda bem que deixei uma chave com ela. — falou, enquanto digitava algo. — Preciso ir. — guardou o aparelho no bolso da calça. Abaixou, e tirou a bolsa de gelo da perna.
Endireitei a postura no sofá. Ainda sentia o seu cheiro em mim.
Foi se arrumar no banheiro, em poucos instantes, estava de volta.
— E a dor? — perguntei olhando para a sua perna.
— Ainda incomoda um pouco, mas nada insuportável. — sorriu — Obrigada por cuidar de mim. — vi suas bochechas corarem, e as minhas não ficaram muito diferentes.
— Não foi nada. — sorri, sem jeito.
— Vou levar para lavar. — disse sobre o shorts.
— Não! — me aproximei, tomei de sua mão — Não é necessário, Emma. — coloquei a peça na mesa de centro. Ela apenas me observou — Acompanho você. — peguei em sua mão, caminhamos em silêncio até a porta.
— Promete que não vai mais faltar à fisioterapia? — falei, olhando em seus olhos. Vi um sorriso travesso pela primeira vez na noite surgir em seus lábios.
— Se for pra você me chamar de minha linda de novo. Tô até analisando aqui... — levou a mão livre ao queixo, fez uma expressão pensativa — Vale a pena sentir dor!
— Emma! Não diga bobagens! — falei brava por tal maluquice. — Você é inacreditável! — balancei a cabeça.
Me vi presa por alguns instantes em seu sorriso. Como eu gostava dele. Também sorri.
Ela se aproximou. Passou os seus braços por minha cintura e me abraçou apertado. Segurei em seu pescoço, e retribui.
— Você vai ficar bem? — perguntei com a boca em sua bochecha. Deixei um beijo ali.
Ela meneou a cabeça afirmando — Vou sim! — disse baixo. Se afastou. Mas ainda segurava em minha mão.
Abri a porta. Ela deu um passo para fora. Puxei sua mão, e a fiz olhar para mim novamente.
— Manda uma mensagem para avisar que chegou? — pedi.
Ela sorriu, balançou a cabeça afirmando que sim. Deu mais um passo, e nossos dedos se soltaram. Ainda olhou mais duas vezes em minha direção antes de chegar em seu fusca. Fechei a porta depois de vê-la partir. E já sentia a sua falta.
Arrumei as coisas na sala. Passei pelo quarto de meu filho, ele dormia profundamente. Coloquei uma camisola, escovei os dentes, e em vinte minutos, estava deitada em minha cama.
Escutei meu celular vibrar no criado mudo. O destravei. Sorri ao ver que era uma mensagem de Swan, ela não havia esquecido o meu pedido.
Número desconhecido: Cheguei em casa a pouco.
Eu: Que bom, Emma. Se demorasse mais um pouco, ficaria preocupada.
Vi que estava online. Entrei nas configurações do aplicativo, e salvei o seu número, não tinha feito isso ainda, apesar de ter trocado algumas mensagens com ela.
Emma: Tive uma visita inesperada.
Franzi o cenho lendo aquilo. Quem poderia ser além de Senhorita Lucas?
Eu : Como?
Swan enviou uma foto de um cachorrinho branco, estava em uma banheira. Reconheci ser o mesmo que fez um escândalo no dia em que dormi em sua casa.
Emma: Lembra desse bebê?
Eu: Como poderia esquecer? Esse cachorro me fez sair só de calcinha na varanda. (sorri ao lembrar da cena).
Emma: É fêmea. Vou levar no veterinário amanhã. Se o dono não aparecer, fico com ela.
Eu: Muito nobre de sua parte.
Emma: Bom... Vou deixar vc dormir. E terminar de dar banho nela. Bj.
Eu: Boa noite! E boa sorte nessa tarefa!
Virei para o lado, me acomodei para dormir. Me peguei pensando nos momentos que passamos abraçadas a pouco. Trechos de nossa conversa também ecoaram em minha memória. O fato de sua estadia em Storybrooke ser passageira ainda me deixava inquieta. Me senti a pessoa mais egoísta do mundo por estar assim. Emma era esforçada. Merecia reconhecimento em sua carreira. Fiquei absorta em meus pensamentos por um bom tempo. Até que escutei meu celular vibrar novamente. Destravei, percebi ser uma nova foto sua.
Senti um sorriso bobo surgir em meus lábios. Na imagem a cachorrinha já aparecia de banho tomado, seu pelo totalmente seco. Tinha os olhos atentos, e parecia bem.
Mas foi nos detalhes de Swan que me perdi, seus ombros estavam à mostra, e era possível ver as pintinhas que enfeitavam graciosamente a sua pele naquela região. Segurava a cachorrinha ao lado do rosto, em suas mãos era possível ver o esmalte vermelho, que combinava perfeitamente com seu tom de pele. Deixavam suas mãos ainda mais lindas. Eu adorava quando ela usava. Seus cabelos, em um coque frouxo, levemente bagunçados, deixavam exposto o contorno de seu rosto, com o queixo bem desenhado. A curva de seu sorriso formava covinhas em suas bochechas. Sem maquiagem alguma, Emma conseguia ser a mulher mais bonita que eu conhecia. Sua sobrancelha bem feita, junto àquelas orbes verdes, que olhavam fixamente para a câmera, mexiam comigo até mesmo pela foto, e eu achava isso um abuso! Seus olhos se fechavam levemente, por causa do movimento do sorriso.
De onde aquela cachorrinha tinha vindo, não sabia. Mas já simpatizava com ela pelo simples fato de trazer esse sorriso aberto de volta ao rosto de Swan.
Eu: Lindas!
Emma: “Sua linda!”
Ri alto. Claro que ela não perderia a chance de uma piada feita.
Nada respondi. Fechei o aplicativo de mensagens. Mas não resisti em abrir a foto novamente pela galeria. Ampliei, para ver melhor o seu rosto. Ela era perfeita! Ou eu estava louca.
Me acomodei de bruços, ajeitei melhor a cabeça no travesseiro. Analisei aquele olhar que me faziam sentir arrepios a cada vez que cruzava com o meu. O que essa garota tinha? Levei meu dedo ao celular. Me senti ridícula por querer senti-la através da tela.
A foto foi ficando menos nítida. Os meus pensamentos viajaram para longe, eles já tinham destino certo. Me entreguei ao sono, desejando fortemente que ela estivesse aqui comigo.
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Cinza das Horas (Swanqueen)
FanfictionRegina Mills é ex-prefeita de Storybrooke, volta a lecionar Literatura na escola da cidade depois de dois mandatos bem-sucedidos. No seu primeiro dia de aula, conhece Emma Swan, uma jovem atleta, que será sua aluna. Emma não pretende ficar muito tem...