Cinza das Horas (Swanqueen)

Em pranto rememoro o seu lento martírio

Mills

Deixei Emma na sala e fui arrumar minhas coisas. Era uma loucura! Eu sabia disso. Meu juízo gritava, enquanto meu peito ficava pequeno só de pensar em ficar longe dela de novo. Para piorar, ainda tinha a situação difícil de Liam. Eu não poderia, e nem queria, deixá-la passar por isso sozinha.

Em poucos minutos, trancava a porta de casa.

— Como assim nós vamos de fusca? — usei um tom indignado, seguindo Emma que carregava a minha mala.

— Eu estou acostumada com ele. É por isso! — deu de ombros, foi em direção àquele veículo horrendo.

— É um percurso longo, melhor irmos no meu carro, é mais confortável. — balancei os braços no ar, observei Emma abrir o porta-malas daquela lata velha.

Ela fechou levemente os olhos, me encarou séria.

— Você nunca entrou no meu fusca, como sabe se é confortável, ou não? — colocou minha mala junto à sua, e fechou.

— Os séculos de fabricação entre um carro e outro? — cruzei os braços, mirando-a de cima a baixo. Ela bufou!

— Eu não vou no seu carro! — falou já fazendo menção de andar até a porta do motorista. Segurei rapidamente em seu braço, impedi que se afastasse.

— E posso saber por quê? — ergui uma sobrancelha.

Emma fez uma expressão apreensiva, parecia pensar se falava ou não.

— Swan? — disse séria, voltei a cruzar os braços, esperando.

— Não me sinto segura, tá legal! É isso. Se fosse só aqui pela cidade, tudo bem. Mas em rodovias, eu não consigo. Desde o acidente com minha mãe, fiquei com receio de pegar a estrada. Foi difícil começar a dirigir. Superei isso aos poucos. Archie, o psicólogo da escola, me ajudou bastante. Antes tinha medo de andar de carro até com tia Ingrid. Já estou habituada, prefiro ir nele.

Meneei a cabeça entendo a situação.

— Ok, é uma boa justificativa. — respondi descruzando os braços, fui até a porta do carona. Abri. Emma ficou no mesmo lugar, me observando entrar no carro. Coloquei minha mala de mão no banco de trás. Senti o cheiro dela pelo carro inteiro, só por isso eu poderia simpatizar com ele.

Emma entrou e sentou-se ao meu lado.

— É tão ruim assim? — colocou o cinto de segurança.

— Não. — respondi olhando os detalhes do carro. Os bancos eram confortáveis. A restauração interna foi muito bem feita. Só não admitiria isso em voz alta — Parece que estou em uma lata de sardinha. — sorri sem mostrar os dentes. Ela ficou emburrada.

— Você fica linda assim fazendo bico. — provoquei, coloquei o cinto também. Ela não respondeu, deu partida. Sorri, e puxei o seu rosto para mim. Dei um beijo em sua bochecha. Emma ficou levemente corada. Segurou o riso.

— A Ava gosta. — disse depois de alguns segundos.

— Emma, acho que a opinião de um cachorro não é muito relevante nesse aspecto. — neguei com a cabeça.

— Claro que é! — disse com naturalidade — Ela é muito exigente. — levou aquele posicionamento realmente a sério.

Revirei os olhos.

— E onde está sua cachorrinha? Nunca a vejo. — perguntei achando estranho.

— Está com Ruby. É melhor do que deixá-la no Hotel para pets. Ela ficou lá quando fomos a Porland, mas não se adaptou muito bem. Quase não comeu pelo que me disseram.