Mills
Sai do ginásio sem noção da realidade. Entrei no carro. Minha cabeça estava uma bagunça. E tudo o que meu corpo mais queria era voltar naquela sala e beijar a boca de Emma Swan. Como foi difícil resistir a ela. Aquele cheiro. Deus! Por que ela tinha que me atrair tanto?
Vim com boas intenções. Queria uma conversa sincera, o intuito era ela não faltar mais às aulas. Não havia pensado em dar o colar que seria de Killian a ela, mas depois que falei com Ruby Lucas, não tive dúvidas que seria o certo a fazer. Agora eu estava aqui, estacionando em frente ao porto do Maine. Sem rumo e sem moral. Céus, eu sou casada!
Sentei em um dos bancos mais afastados. A água estava calma. Respirei fundo. Fitei o céu, ele estava claro e sem nuvens. Se antes eu já me sentia culpada por me sentir atraída por Swan, agora então, as coisas ganharam um novo patamar.
Claro que eu sabia que Swan sentia atração por mim. E ela percebeu as reações do meu corpo com a sua proximidade, a atiçou muitas vezes. Mas agora a tensão sexual não estava mais nas estrelinhas. Ela se aproximou, me tocou , e eu só a impedi quando já não tinha mais alternativa. Eu a deixei ir longe demais. Isso não é uma postura ideal para uma pessoa comprometida. Eu não conseguia mensurar a vergonha que estava sentindo.
Swan me prendeu com aquele olhar. Com o seu toque. Ainda podia sentir a maciez dos seus lábios em meus dedos. Abaixei a cabeça e olhei para minha mão. Toquei meus próprios dedos . Senti falta do calor. Me repreendi mentalmente. O que eu estava fazendo? Nunca me importei tanto com questões pessoais dos alunos. Sempre fui distante, e profissional. Tinha baixado muito a guarda. Talvez a aproximação com Killian tenha me amolecido. No entanto, o desejo por Swan tinha surgido antes mesmo de minha amizade com ele. Suspirei pesadamente, em meio a meu devaneio sem sentido. Ela estava sofrendo. A morte dele também me abalou muito, não podia negar. Mas isso não deveria ser um gatilho para uma aproximação que eu precisava evitar. Tinha que mantê-la longe. Eu simplesmente não sabia lidar com a sua presença.
Ela era um ímã perigoso. E eu tinha que contar o mal pela raiz. Teria que manter o profissionalismo e me afastar. Cada uma fazendo as suas obrigações, nos falando apenas quando necessário. Nada além da relação aluna e professora. O ideal seria nem isso! Suspirei tentado me conformar.
Voltei à realidade, quando senti meu celular vibrar, era Zelena. Me mandou mensagem dizendo que precisava falar comigo. A convidei para jantar em casa. Robin havia viajado a trabalho mais uma vez. Ela aceitou. Bloqueei o aparelho o colocando novamente no bolso. Voltei a encarar o horizonte.
Precisava retomar as rédeas das minhas emoções. Não podia agir feito uma adolescente. Os atos tinham consequências, e eu tinha muito a perder. Não jogaria tudo para o alto por uma atração. Não fiz isso nem quando tinha idade para atitudes inconsequentes, não faria agora, com uma família formada.
O horizonte ainda estava intacto. Apenas passara alguns minutos. Repetia mentalmente que precisava voltar a ser a Regina Mills de antes. Aquela imune à qualquer afeição. Aquela que eu perdi quando Swan chegou.
***
— VOCÊ FEZ O QUÊ? — Zelena gritou. Enquanto sentava no sofá da minha sala com uma taça de vinho na mão. Tínhamos acabado de jantar e abrimos uma garrafa.
— Desse jeito Henry vai acordar! — a repreendi levantando a mão e fazendo um gesto para falar baixo. Meu filho tinha subido a pouco. Deitou na cama dormindo. Já passava das nove. Ele sempre dormia por esse horário.
— Desculpa! — ela falou sussurrando, colocando a mão no peito fingindo estar ofendida — Mas você me fala que foi atrás de Emma no ginásio porque ela faltou à aula, e quer que eu aja normalmente? — apontou o dedo para mim — Quem é você? É o que fez com a minha irmã? — finalizou com uma voz grossa e teatralmente intimidadora.
— Idiota! — revirei os olhos, levei minha taça à boca.
— Swan tá abalando as suas estruturas, mesmo, ehm, irmãzinha. — riu debochada.
Fiquei em silêncio. Não consegui responder. Simplesmente não sabia o que falar. Porque na verdade, era exatamente isso que Swan estava fazendo. Ela estava derrubando todos os muros que levei anos para construir ao meu redor. Tijolo por tijolo. Fazia farelo de cada um. E eu precisava pará-la antes que o estrago fosse maior.
O sorriso de deboche morreu no rosto de Zelena. Ela percebeu que o assunto me preocupava. Minha irmã me conhecia.
Balançou a cabeça de um lado para o outro. Deixou a sua taça na mesa de centro e veio para o sofá onde eu estava sentada. Pegou em minha mão em meu colo, fez um carinho compreensivo.
— O que aconteceu? — perguntou em um tom de voz ameno.
— Ruby Lucas veio falar comigo pela segunda vez esta semana sobre o fato de Emma Swan se recusar a ir à escola.
— Isso por causa de Killian — fez uma cara triste.
— Sim. Swan passou todos os dias desta semana treinando a mais no ginásio de esportes. — apertei a sua mão em sinal de indignação — Treinando até à exaustão, para aliviar a dor da perda. — finalizei.
— A dor física, supera a emocional. Típico. Não funciona! — falou também indignada.
— Pois é! Falei com Lucas que resolveria com você o que fazer. — ela apenas balançou a cabeça concordando. — Mas... — fiz uma pausa e fitei o chão. Estava envergonhada pela minha atitude. — Quando fui guardar o material no meu armário, vi o colar que eu daria a Killian. — disse. Zelena fora comigo escolher o colar, sabia da minha intenção.
— E? — perguntou — Olha pra mim, sis. — bateu sua mão livre na própria perna.
Levantei a cabeça e a olhei. Respirei fundo criando coragem.
— Eu fui até o ginásio de esportes dar o colar de presente a Swan. — disse num lapso se coragem — Por isso não fui falar com você sobre o assunto.
Zelena franziu o cenho. E ficou em silêncio apenas me olhando. Torceu a boca. Parecia procurar as palavras.
— Isso tá tomando uma proporção grande. — falou depois de alguns segundos.
Soltei a mão da dela. Virei e coloquei minha taça sobre a mesa de centro. Levei as duas mãos ao rosto e subi passando-as nervosamente pelos cabelos. Bufei. Estava inquieta.
— No caso de Killian, eu entendo, você queria retribuir o presente. — fez uma pausa olhando para cima, parecia analisar a situação — Uma professora dar um presente simbólico a uma aluna que sofreu uma perda recente, é normal. — continuou — Desde que essa professora não seja Regina Mills. Aí a situação foge totalmente à normalidade! — finalizou convicta.
A olhei fixamente nos olhos.
— Eu sei! — concordei baixo e me veio uma vontade de chorar, mas não o fiz. Isso seria demais.
— Por que não deixou que eu resolvesse isso? — perguntou sem desviar o olhar do meu.
— Achei que seria uma boa ideia eu falar e lhe entregar o colar. Ela está um pouco chateada com você. — expliquei.
— Você sabe que não é só isso. — às vezes eu odiava a facilidade que Zelena tinha em me ler.
— O que quer dizer? — fiz uma expressão confusa.
— Eu vi vocês no parque. — balançou a mão — Escrevendo as mensagens e soltando o balão juntas .
— Pelo amor de Deus, Zelena, isso não quer dizer nada. — falei, passei as mãos nas minhas pernas, nervosa.
— Você realmente não percebe o que está acontecendo?
— Do que está falando? — franzi o cenho.
— Vocês, quando estão juntas parecem que esquecem tudo o que tem ao redor. Os olhares... Se perdem uma na outra. Pelo amor de Deus, digo eu, Regina! Você sabe a que estou me referindo. — falou impaciente se mexendo no sofá.
— Ela quase me beijou hoje. — fui direta.
Zelena arregalou os olhos.
— É você? — sua voz tinha o tom de surpresa.
Suspirei fundo. Senti minhas bochechas queimarem.
— Quis tanto quanto ela! — falei em um fio de voz.
Zelena abriu a boca em sinal de espanto, pegou sua taça de vinho, e em um gole só, bebeu todo o líquido.
— Não esperava toda essa sinceridade. — levou a mão ao peito — Eu tô em choque! — finalizou.
Passei a mão pelos cabelos, coloquei atrás da orelha.
— Eu sei. Também não sei explicar o que acontece comigo quando estou perto dela. Hoje só a parei quando não tinha mais alternativa. Quis ela perto de mim. Quis o seu toque. Em nenhum momento ela usou de força. Eu a deixei ir além do que é aceitável. Não houve beijo, mas sou uma mulher casada. Isso não está certo.
— E o que pretende fazer? — fez uma cara de interrogação.
— Quero largar a sala de Emma Swan! — respondi convicta.
— O quê? — Zelena alterou a voz.
— É a única maneira de eu ficar a uma distância segura dela. — fui sincera.
— Sinto informar, mas terá que dar outro jeito. — começou a explicar — A sala de Swan não é sua carga suplementar, ela constitui a sua jornada. Foi assim que a Ariel escolheu no início do ano. Se você deixar essa sala, perde as outras e só volta o ano que vem.
Bufei com a informação. Não é possível que seja tão difícil eu me livrar dela. Foi a minha vez de virar a taça de vinho em um gole só.
— Ótimo! — larguei a taça sobre a mesa.
— Olha se você vê isso como falta de sorte, não vai gostar do que eu tenho pra falar com você. — disse com receio.
— O que foi desta vez? — perguntei já desanimada.
— Sabe que a Ariel falou com os alunos hoje, não sabe? — perguntou já sabendo a reposta. Apenas afirmei com a cabeça que sim. Eu havia saído mais cedo da escola porque Ariel, a outra professora de Literatura, tinha uma palestra com os meus alunos. Então eles foram liberados das minhas aulas.
— Ela falou sobre a Jornada Literária. você lembra como funciona? — novamente balancei a cabeça em afirmação. — Ariel contou a todos sobre a viagem. Explicou também, que só poderia levar uma turma. E escolheu justamente a sala de Emma.
— Entendi. Bom, o ideal seria que todos fossem. Mas se não é possível, a sala de Swan, apesar se ser agitada, é a mais participativa. Eu entendo perfeitamente a sua escolha. — disse compreensiva.
— Eu também acho que ela fez uma ótima opção. — concordou e colocou o cabelo para trás.
— Então por que falou que eu não iria gostar? — perguntei sem entender aonde minha irmã queria chegar.
— Sabe que a Jornada reúne professores de Literatura e História justamente pela influência do período na escrita. — explicou o óbvio. E eu revirei os olhos. Já estava ficando impaciente. Zelena parecia pisar em ovos.
— Sim. Sei! — falei com cara de enfado.
— Então. — fez uma pausa escolhendo as palavras. — Graham não poderá ir. O parto da esposa dele está marcado para um dia antes da viagem. — Arregalei os olhos já prevendo o que viria a seguir. — Assinei a autorização do passeio hoje. Você vai acompanhando Ariel!
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Cinza das Horas (Swanqueen)
FanfikceRegina Mills é ex-prefeita de Storybrooke, volta a lecionar Literatura na escola da cidade depois de dois mandatos bem-sucedidos. No seu primeiro dia de aula, conhece Emma Swan, uma jovem atleta, que será sua aluna. Emma não pretende ficar muito tem...