Tu terás estrelas que sabem sorrir!

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Swan
 
 
Depois que minha mãe morreu eu não vi mais motivos para festas em meu aniversário. Isso até Killian entrar da maneira mais espalhafatosa que podia em minha vida. Ele trouxe a alegria de voltar a celebrar os anos. Bom, até agora.
 
Hoje era o sábado dos meus dezoito anos. Não tinha nada a comemorar. Pelo contrário, tinha a lamentar, a chorar, a ficar triste, enfunada no meu quarto. Mas Ruby planejava  algo  diferente, queria de qualquer maneira, ir à tal fonte luminosa que Killian falou tanto em  conhecer. Achava uma maneira simbólica de homenageá-lo. Eu não compartilhava da mesma opinião, tinha a impressão que seria mais doloroso. Mas ela fazia questão, e eu queria confortá-la. Ambas estávamos sofrendo, tínhamos que nos apoiar.
 
Havia me arrumado com uma calça jeans, regata preta e minha costumeira jaqueta vermelha. Não tinha ânimo para mais que isso. Meus olhos permaneciam  vermelhos, parecia que agora esse era o estado normal deles. Eu estava uma bagunça. Não íamos nos divertir em nenhum brinquedo, claro, clima para isso não existia. Então esperava dar um horário bem próximo ao início do show de luzes para buscar Ruby. Não queria ficar mais que o necessário por lá.
 
Deitada em minha cama, fitando o teto, eu  repassava os últimos acontecimentos  em minha mente. E só conseguia me perguntar o porquê de tudo aquilo ter acontecido com uma pessoa tão maravilhosa como Killian.
 
 
***
 
— Ali! A entrada para a fonte é ali — Ruby falou com uma voz nasal. Provavelmente tinha passado o dia chorando, assim como eu. Mas não quis tocar no assunto. A vinda de carro já foi bem estranha e vazia sem Killian tagarelando no banco de trás.
 
Já havíamos estacionado. Passamos pela entrada principal, que dava acesso aos brinquedos e sem demora  fomos  em direção à fonte luminosa.
 
Chegamos a uma extensa área verde, com um lago no centro,  e uma ponte que o dividia. A maioria das pessoas estavam sentadas na grama, à beira do lago, esperando ansiosas com os celulares na mão. Decidimos ir para onde estava menos cheio, queríamos maior  privacidade possível, apesar de ser um lugar público. Subimos na ponte, caminhamos lentamente. A noite estava chegando, e com ela o início da apresentação. Encostei minha cintura de costas na grade da ponte e encarei Ruby. Suspirei inconformada.
 
— Ele ia adorar a animação dessa gente. — disse e senti meus olhos marejados.
 
— Ia sim. — ela sorriu triste. — Aí, patinho, eu ainda não acredito! — falou e uma lágrima escorreu pelo seu rosto.  Ela tentou secá-la rapidamente, mas foi em vão.
 
— Vem cá. — a puxei pelo braço. Ela encostou o rosto em meu peito. — Eu te amo! — falei baixo em seu ouvido.
 
— Também te amo, Emm. —  respondeu abafando o choro em meu peito. Fiz um carinho em seu cabelo. Ficamos ali por um tempo, até seu celular vibrar.
 
Ela, depois de segundos, se afastou, limpando as lágrimas e tentando respirar fundo, pegou seu celular e respondeu o que me pareceu ser uma mensagem de WhatsApp.
 
— Zelena chegou.  Avisei onde estamos.  — soltei o ar pesadamente. Admito que estar na presença de Zelena me lembrava que se ela não tivesse impedido, poderia ter me despedido de Killian. Sei que ela não tinha culpa. Mas ainda não conseguia evitar lembrar  disso.
 
— Patinho, ela não teve culpa. — Ruby falou ao ver minha  expressão.
 
— Eu sei! — disse e olhei para o céu. 
 
— Ele queria Zelena aqui hoje. — apenas assenti com a cabeça. Não tinha o que questionar. Killian queria! Isso era um fato.
 
— E a professora Mills veio?
 
— Não sei. Ela não disse nada que estava com a irmã. —  colocou o celular  de volta no bolso.
 
Assim que Ruby terminou a frase, pude ver a figura ruiva de Zelena aparecer no início da ponte. Ela vinha sozinha. Nunca acreditei realmente que Regina  viesse.
 
— Oi. — falou baixo e meio sem graça  se  aproximando de nós.
 
Ruby  não falou nada,  apenas foi abraçá-la forte e demorado. Depois Zelena veio e me cumprimentou com um beijo no rosto e um abraço receoso. Retribui.
 
— E sua irmã? — Ruby perguntou.
 
A ruiva ficou meio sem jeito.
 
— Regina almoçou comigo hoje para me felicitar pelo meu aniversário.  Mas depois foi para  casa.  Mandei mensagem pouco antes de vir para cá  agora à noite, mas ela não me respondeu.
 
Ficamos em silêncio. A contagem regressiva para acenderem as luzes começou. Instintivamente viramos de frente para o lago. Agora nós três tínhamos as mãos apoiadas na grade. O show de luzes começou e realmente era lindo. Não consegui controlar uma lágrima que escapou pelos meus olhos. Killian estaria eufórico com essa visão. Desci um pouco na ponte para ver mais de perto. Ruby  e Zelena ficaram onde estavam. Ambas choravam. Viram eu me afastar, mas nada disseram.  Talvez quisessem me dar privacidade. Ou apenas estavam tão imersas em suas tristezas que não  deram importância.
 
As luzes pareciam dançar  no ritmo das músicas instrumentais .
 
— Você  foi a luz mais brilhante desse arco-íris, Kill! — falei em um fio de voz. Tentei enxugar as lágrimas, mas já eram muitas.
 
— Um balão para mensagem ? — escutei uma voz atrás de mim falar, virei.
 
— Como? — pude ver um senhor baixo, de cabelos grisalhos e um sorriso simpático.  Ele segurava balões de gás hélio.
 
— Um balão para mandar sua mensagem para longe? — sorriu simpático, e só aí eu pude ver que na ponta do barbante de cada balão tinha  um envelope amarrado e uma caneta.
 
Balancei a cabeça  surpresa, entendendo a situação. Simplesmente peguei o dinheiro no bolso entreguei a dele. Ele me deu um balão.
 
— Obrigada! — sorriu mais uma vez e saiu.
 
Enrolei o barbante de maneira desajeitada na grade da ponte para não voar. Abri o envelope, tirei o cartão em branco de dentro dele, e escrevi a primeira mensagem que me veio à mente. Pude sentir uma lágrima molhar o papel enquanto escrevia.
 
“No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. Eu era feliz e ninguém estava morto. Hoje já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias. Serei velha quando o for. Mais nada.”  Sinto sua falta, Kill.
 
— Não faça  isso, Swan. — escutei a voz rouca de Regina por trás de mim.
 
Virei em um susto. Ela estava bem próxima.  Apontou com o dedo para o cartão. Então pude perceber a que se referia. De onde ela estava, tinha lido.
 
— Ele não ia querer que pensasse assim. — ela continuou  baixo  — Desculpe, não foi minha intenção, mas acabei olhando o que estava fazendo.
 
— Tudo bem. — sorri sem graça abaixando a cabeça e olhando para o cartão.  — Eu me lembro da estrofe desse poema, foi uma das leituras que você me mandou fazer.  Me marcou bastante.  — expliquei  envergonhada.
 
— Então deve se lembrar também que era uma situação de melancolia e tristeza permanente.  Isso não  tem ligação  com você. — balançou a cabeça em reprovação. — Claro que a saudade sempre existirá .  Mas a dor vai diminuir. — finalizou  com um olhar compreensivo.  Ficamos em silêncio. 
 
Depois de alguns segundos Regina continuou a falar.
 
—  Tudo bem você se sentir assim agora! — falou pegando o cartão da minha mão. Colocando sobre a grade — Mas vamos escrever algo mais a cara de Killian na parte de trás. — puxou a caneta de minha mão. E então foi a minha vez de me aproximar pelas suas  costas. Olhei o que escrevia.
 
— “A amizade é  um amor que nunca morre" — li baixo. Ela se virou de frente para mim e me entregou o cartão.
 
Sorri triste. Peguei o envelope. Ela em silêncio olhava meus movimentos.  Coloquei o cartão  dentro, fechei. Me posicionei ao lado de Regina. 
 
— Então é  justo soltarmos juntas. — estendi meu braço, com a mão segurando o balão. Ela entendeu o que eu quis dizer. Se aproximou mais, pude sentir seu ombro tocar no meu. Segurou no barbante um pouco mais acima de onde estava minha mão. Olhei um pouco à frente, Regina seguiu o meu olhar com o seu,  as luzes ainda faziam a sua dança.
 
— Um, dois, três  — fiz a contagem e soltamos juntas.
 
Ali, de cima da ponte, acompanhamos com o olhar, e em silêncio, o balão ir de encontro às luzes mais altas.
 
Ele ganhou as nuvens. E sumiu.
 
***
 
Mills
 
 
— Hoje já é o quarto dia, professora Mills, ela se recusa a vir. — Ruby Lucas veio até  mim assim que bateu o sinal do término de minha aula.
 
Bufei impaciente, pegando o meu material para sair da sala. Realmente, eu não via Swan desde seu aniversário no parque.
 
— Deve ser difícil, eu entendo. Mas Swan não pode faltar tanto nas aulas.  Isso vai prejudicar muito suas notas.
 
— Fora o baita problema quando o  pessoal do time ver as faltas injustificadas no boletim. — falou levando a mão à testa.
 
— O que ela anda fazendo? — perguntei.
 
— Emma não é do tipo de pessoa que fica na cama chorando por dias. Pelo contrário, ela treina até a exaustão.  Está indo para o ginásio pela manhã e só sai de lá à noite. Participa dos treinos  com as atletas de outras categorias.  Só consegue fazer isso porque conhece o pessoal de lá. Mas quando a diretoria se der conta, não  quero nem ver. — explicou com receio.
 
Balancei a cabeça em sinal de reprovação.  Swan conseguia piorar as coisas com uma facilidade incrível.
 
— Vou falar com Zelena e ver o que podemos fazer. — falei de maneira amena. 
 
— Obrigada.  — Ruby deu um sorriso agradecido. 
 
Fui direto para a sala dos professores, ao abrir meu armário, pude ver uma caixinha azul que estava ali a mais de uma semana. Desisti na mesma hora de ir à sala de Zelena.  Em vinte  minutos, estava estacionado meu carro no ginásio de esportes de Storybrooke.
 
Nada como ser a ex-prefeita da cidade para ter todos os portões abertos sem questionamentos.  Cheguei até o vestiário sem dificuldades. Lá havia apenas duas jogadoras do time juvenil, me informaram que Swan estava na sala de fisioterapia. Fui até onde me indicaram. Pude ver um rapaz alto e musculoso fechar a porta e ganhar o corredor, me fiz de indiferente quando ele passou por mim, fingindo estar habituada a passar por ali. Bati duas vezes na porta, entrei.
 
Pude ver Swan em uma maca ao fundo da sala, grandes almofadas atrás de suas costas a deixavam quase sentada. De cabelos soltos, usava a roupa de treino, uma camiseta cinza e um shorts de Cotton azul, ambos com o logo do time.  Tinham fios grudados a seus joelhos, eles a conectavam à uma máquina, que eu não  conhecia, mas deduzi fazer parte de seu tratamento. Sozinha, ela usava  fones  de ouvido. Não percebeu que  entrei. Me aproximei a observei com cuidado. Estava de olhos fechados, provavelmente prestando atenção  na música. Sua expressão era amena. Percorri com o olhar cada parte de seu rosto. Parecia relaxada.  Não lembrava em nada a feição  carregada e triste que tinha tomado conta de seu rosto nos últimos dias. Admiti para mim mesma naquele momento o quanto eu senti  falta de vê-la assim, tranquila.  Descansada. Tão  linda! Meu peito se aqueceu em um suspiro aliviado. Aquela imagem  me confortava. Me repreendi mentalmente por estar com um sorriso bobo nos lábios ao olhá-la. Não seja ridícula, Regina!
 
Respirei fundo, endireitei a coluna, e coloquei a minha melhor postura rígida  em ação. Precisava ter foco, e fazer o que tinha como objetivo ali.
 
— Deveria estar na escola agora!  — falei alto  por causa dos fones. Ela deu um pulo e sentou na maca.
 
— Meu Deus! —  disse tirando os fones de ouvido — Precisava disso? — falou colocando a mão no peito tentando normalizar a respiração.
 
— Se estivesse na aula, não  precisaria. — disse levantando a sobrancelha e  usando um tom irônico.
 
— Como entrou aqui ? — ela perguntou impaciente  tirando os fios dos joelhos, sentou com as pernas para o lado de fora da maca, fazendo menção de descer.
 
— Nenhuma porta se fecha para mim nesta cidade, senhorita Swan.  — disse em um tom debochado — E aquele rapaz — apontei para a porta — parece só ter músculos e nada de atenção. 
 
— Ah! Derek essa hora só pensa  em comer. — sorriu balançando a cabeça em negação — Ele foi tomar café pela terceira vez. Eu não sei pra onde vai tanta comida. — concluiu ainda indignada.
 
— Por que não está indo à escola, Miss Swan? — perguntei voltando ao assunto, em um tom autoritário. Percebi que ficou tensa.
 
Abaixou a cabeça. Mexeu nos próprios dedos da mão.
 
— Você sabe o porquê. — falou baixo, encarando o chão. E parecia que toda a carga emocional dos dias anteriores voltara a seu corpo naquele instante.
 
— Swan, você não pode parar a sua vida escolar pelo que aconteceu com o Senhor Jones. — falei firme — Não pode treinar até à exaustão, porque está sofrendo. A dor física não vai superar a emocional.  Você terá que lidar com isso! — finalizei sendo direta.
 
Ela balançou a cabeça como se estivesse concordando.
 
— Meu joelho já está sentindo o esforço. — ainda sentada ela colocou a mão sobre o joelho esquerdo.  Provavelmente era por isso que estava  com aqueles fios conectados.
 
Respirei fundo. Me aproximei mais dela. Ela ainda tinha a cabeça baixa.
 
— Você tem que voltar à  sua rotina normal. Por mais difícil que isso seja. As suas faltas vão começar a te prejudicar tanto na escola, quanto aqui. — expliquei — Swan, olhe pra mim! — disse ainda  com rigidez. Ela pareceu vacilar, mas   levantou a cabeça. Tinha o olhar tão triste  que acabou com qualquer postura rija que eu tinha intenção de usar.  O ar me faltou neste instante. E quem hesitou foi eu.  Depois de alguns segundos apenas olhando em seus  olhos, continuei —  Killian faz muita falta naquela escola. — fiz uma pausa escolhendo as palavras — Mas você também faz. Senhorita Lucas precisa de você. — finalizei em um tom agora  compreensivo.
 
— Eu sei.  — respondeu conformada — Preciso estar bem por ela. — sorriu triste.
 
Espelhei o seu sorriso. Afirmei com a cabeça.
 
— Sim. Precisa, senhorita Swan. — falei baixo. — aprofundando o olhar no  seu. Swan tinha olhos tão belos, que era difícil desviar. E vê‐la assim tão frágil me deixava com uma vontade enorme de tocá-la.
 
—  Sabe uma coisa que não me sai da cabeça?  — perguntou  depois de um tempo em que ficamos apenas nos olhando. Fiz um não com a cabeça esperando que continuasse. — Se eu tivesse contado que era o Peter desde a primeira vez que você perguntou, talvez nada disso tivesse acontecido. — vi seus olhos encherem de lágrimas.  Ela desviou o olhar e abaixou a cabeça novamente . No mesmo instante me aproximei mais.  Deixei apenas um passo de distância entre nós duas.
 
Levei minha mão ao seu queixo e o levantei para que me olhasse.
 
— Não se culpe! — fiz uma pausa, dando mais uma vez atenção a cada parte de seu rosto.   —  Isso não é  justo com você!
 
— Eu poderia ter evitado! —  disse com voz de choro.
 
— Você fez o que achava que era certo para protegê-lo. Não tinha como prever. — falei baixo ainda segurando em seu queixo. 
 
Ela continuou me olhando em silêncio. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Não consegui me conter, levei meu polegar e a sequei suavemente. Fiz um carinho lento em sua bochecha. Swan fechou os olhos parecia aproveitar o contato tanto quanto eu. Ficamos naquela posição por mais alguns segundos. Retirei a mão de seu rosto com cuidado, ela abriu os olhos devagar.
 
— Eu trouxe algo para você. — levei a mão ao bolso do meu blazer. Retirei a caixinha azul, e lhe estendi. Ela olhou,  desceu da maca, e ficou de pé em minha frente. 
 
— O que é  isso? — perguntou confusa, pegando a caixinha de minha mão.
 
— Abra! — esbocei um sorriso contido.
 
Ela me encarou, como se estivesse me analisando. Mas fez o que indiquei.
 
— É  lindo! — exclamou baixou, quando ao abrir a caixa pôde ver um colar de ouro, parecido com o colar que Killian havia nos dado,  mas no seu pingente havia uma estrela no lugar do tão simbólico arco-íris.
 
Dentro da caixinha tinha ainda um pequeno envelope escrito com minha letra “Senhor Jones”. Ela pegou o cartão  e me olhou confusa.
 
— Eu iria entregar a ele na sexta-feira, véspera do aniversário  de vocês, infelizmente, ele morreu na quinta. — expliquei.  Ela balançou a cabeça afirmando que havia entendido. — Posso? — ela perguntou se referindo ao envelope. 
 
— Sim. — respondi. Ela colocou a caixa com o colar na maca. E abriu o envelope.
 
— “Então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Basta olhar para o céu” — ao terminar de ler, me olhou.
 
— Era um trecho que ele gostava muito.  E fala exatamente sobre o brilho das estrelas. — fiz uma pausa controlando a minha emoção, meus olhos estavam marejados — Seria justo ele ter um colar desses. — finalizei dando um sorriso triste.
 
— Sim, seria! — ela concordou.
 
— Quero que fique com ele.  — disse e ela franziu o cenho.
 
— Eu não posso aceitar!  — falou em um tom de reprovação.
 
Balancei a cabeça. 
 
— Pode e vai! — respondi convicta  pegando o colar da caixa. Ela observou meus movimentos em silêncio. — Coloque o cabelo para frente e vire de costas! — Voltei a usar meu tom autoritário.  Ela me olhou agora querendo rir. Mas não se moveu. — Anda, Swan! — falei impaciente. Ela revirou os olhos, colocou o envelope sobre a maca, e fez o que eu pedi.
 
Ergui um pouco os pés para realizar a tarefa,  mas não muito, o salto me deixava praticamente da sua altura. Circulei meus braços em volta do seu pescoço lentamente. Senti o corpo de Swan ficar tenso pela aproximação.  Ao mesmo tempo em que um frio subia pela minha espinha. Fechei os olhos instintivamente durante alguns instantes quando senti o cheiro de seus cabelos.  Meu corpo reagiu como se quisesse guardar na memória o seu perfume. Levei as mãos ao fecho do colar e apoiei próxima ao seu pescoço para poder fechar com calma. Pude então sentir o calor da sua pele.
 
— Pronto. — falei abaixando os braços.  Mas não me afastei.  Não queria me afastar. Algo no cheiro e no calor de Swan me prendia ali.  Ela virou de frente.  Olhei para o colar, e subi com o olhar para seus olhos. Me perdi neles. Fiquei a encarando por segundos. Eu não conseguia, e nem queria quebrar o contato visual. Swan parecia sentir o mesmo, pois também ficou presa naquela pequena proximidade.
 
Ela levou as suas mãos à minha cintura. Segurou firme. Não esbocei  resistência. Eu não queria resistir! Me puxou para ela. Senti seu calor junto ao meu. Fez isso sempre me olhando nos olhos. Cada parte do meu corpo estava arrepiada com aquele contato.  Ela se apoiou na maca. Sentia a sua respiração em mim. Seu olhar passeou pelo meu rosto e se fixou em minha boca. Senti um frio na barriga. Ela apertou mais minha cintura. Fechou os olhos e veio  com o rosto em minha direção. Também fechei os olhos. Mas subi minhas mãos rapidamente, com uma segurei fortemente em seu braço,  e a outra, levei de encontro a seus lábios. A contive ali! Encostei minha testa à sua. De olhos fechados, eu sentia a sua respiração  ofegante em meus dedos.
 
— Eu não posso. — sussurrei e minha voz saiu falhada. Tentei disfarçar o abalo que aquela aproximação me causava.  Pude sentir seus lábios se moverem em um pequeno sorriso. Beijou levemente a ponta dos meus dedos, demorou-se um pouco nisso. Com a mão que estava em seu braço,  cravei as unhas em sua pele. Respirei fundo, tentei manter a sanidade.
 
— Eu sei. Desculpe. — falou  em um sussurro compreensivo.
 
Tirei os dedos de seus lábios, com um toque suave fiz lentamente o contorno da maçã de seu rosto, pude sentir a  maciez de sua pele. Levei a minha mão a alguns fios de cabelo que caiam por ali, os coloquei para trás de sua orelha. 
Deslizei meu toque devagar pelo seu pescoço, podia sentir o seu pulsar se acelerando ainda mais, e sua respiração tornar-se pesada em meu rosto. A minha não estava diferente, e sei que ela sentia isso. Desci com os dedos até seu colo e parei com a mão espalmada quando senti o pingente de estrela.
 
—  Você está fragilizada. Não confunda as coisas. — disse ainda com os olhos fechados e com minha testa junto à sua. Ela respirou fundo. Não via, mas sentia que também mantinha os olhos fechados.
 
— Não estou confundido nada. Você sabe disso! — falou baixo. E nessa hora pude sentir seus polegares por debaixo da minha camisa, fez um carinho lento e  sensual em minha cintura. Apertei o colar com força em minha mão.  E mordi meu  lábio inferior para não gemer.  Não esperava esse contato  íntimo em minha pele. Senti os pelos  dos meus braços se arrepiarem na hora. Isso foi de judiar, Swan. De judiar! Ter que resistir depois disso, era um sofrimento.
 
Soltei o ar que havia prendido. Abri a mão  que segurava o colar.  Fiz força para me afastar dela, simultaneamente, abri os olhos.  E a pude ver fazer o mesmo.   Tirou as mãos de minha cintura e as apoiou na maca.
 
— Ficou muito bem em você! — falei arrumando os cabelos e dando um passo   para trás, apontei com a cabeça  para o colar.  Minha voz soou  totalmente sem graça pelo que tinha acabado de acontecer.
 
— Obrigada. — sorriu também  envergonhada.
 
— Te espero amanhã sem falta na aula. — disse retomando a postura e tentando soar autoritária.
 
Swan riu balançando a cabeça.
 
— Está rindo do que, senhorita Swan?— ergui uma sobrancelha e lancei um olhar intimidador.
 
— Você fica ainda mais linda quando usa esse tom. — falou  cruzando os braços.
 
Senti minhas bochechas queimarem.  Abri a boca para responder algo. Mas não tinha palavras.  Ela riu ainda mais.
 
Usei as últimas forças que tinha para me virar e ir de encontro à saída.
 
— Até amanhã, professora Mills. — pude escutar ela se despedindo com a voz de  riso.
 
— Até amanhã, senhorita Swan. — respondi séria, sem olhar para ela. Sai e bati a porta.

Cinza das Horas (Swanqueen)Onde histórias criam vida. Descubra agora