Virando a página

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Mills
 
Swan deu um pulo para trás, pegou seu roupão em cima da cama. Eu me virei em um susto. Arrumando o cabelo.
 
Ariel estava petrificada na entrada do chalé, com os olhos arregalados.
 
— Eu posso explicar! — falei rápido, erguendo a mão com a palma estendida. Ela saiu do seu transe de susto, virou as costas e praticamente correu fechando a porta.
 
— Coloque uma roupa! — disse olhando para Swan. Deixei o postal sobre a cama e sai atrás de Ariel.
 
Fui direto para o chalé das alunas ele estava vazio. Apenas Ruby Lucas arrumava suas coisas. Provavelmente  as demais alunas estavam aproveitando a última hora livre no Complexo.
 
— Viu Ariel? — perguntei passando nervosamente as mãos pelo rosto.
 
Ela franziu o cenho.  Como se estivesse me analisando.
 
—  Se trancou no banheiro agora. Com uma cara nada boa. — Fez uma pausa. — Aconteceu alguma coisa, professora Mills?
 
Respirei fundo tentando normalizar   meu estado, a conversa precisaria de calma.
 
— Ariel pegou Swan e eu ... — parei de falar e minha expressão disse todo o resto. Lucas já sabia de parte da história, isso era óbvio. Ela arregalou os olhos e soltou a blusa que dobrava na cama.
 
— Aí merda! — levou a mão à testa.
 
— Pois é! — falei sem jeito olhando para o chão.
 
— Eu não quero falar com você! — Ariel bateu a porta do banheiro ao sair.
 
— Ariel não foi o que pareceu. Swan apenas me deu um postal de presente. — falei me aproximando dela.
 
Ela olhou para Lucas com cara de surpresa. E logo em seguida, voltou a me olhar.
 
— Então não é um segredo? — sorriu debochado. Falou se referindo à Ruby — Quem mais está na sua lista, professora? 
 
— Não fale do que você não sabe!  — disse fechando as mãos em um punho, já me alterando novamente.
 
— O que eu sei, é o que eu vi! E é  muita hipocrisia da sua parte falar sobre a postura de August Booth, se dá abertura para esse tipo de comportamento.  O que você anda ensinando para esses alunos depois que eu sai, Regina? — balançou a cabeça em negação —  Não! Não precisa responder. Vi exatamente o tipo tarefa que você gosta de dar!  – finalizou irônica.
 
Assim que terminou a frase Ariel sentiu minha mão espalmada em um estalo no seu rosto.
 
— Não ouse falar assim comigo! — disse entredentes.
 
Ela deu um passo para trás e abaixou a cabeça  com o impacto do tapa. Respirou fundo se recuperando e fez menção de avançar sobre mim.  Ruby entrou em nosso meio, e colocou o braço em minha frente.
 
— Desnecessário isso, professora Ariel! —  Com a mão livre fez sinal para que ela ficasse onde estava. Ariel parou.
 
— Você vai se arrepender, vou fazer uma denúncia! — passou a mão pelo rosto —  Você vai responder por assédio.
 
— O que você viu ali foi justamente a professora Mills tentando se esquivar de mais uma investida minha. Porque se tem uma coisa que ela tentou fazer desde o momento em que você me colocou naquele chalé, foi me evitar. Então se tem alguém que deve responder por assédio  aqui, sou eu! E vou falar a verdade. — Swan chegou fechando a porta do chalé. Seu tom  era sério e decidido. Já estava vestida.
 
—  Parece que a sua namoradinha veio te defender. — Senti meu sangue ferver com a  ironia que usava. Tentei dar um passo a frente, mas Ruby me conteve.
 
— Você sabe que uma denúncia por assédio pode afetar a sua carreira, não sabe? — falou agora olhando para Swan.
 
— É  um risco que terei que correr! — respondeu rapidamente. Olhei surpresa para Swan ao escutar sua resposta.
 
— Ela vale tanto assim? — perguntou debochada.
 
— Me obrigue a te mostrar! — Swan respondeu  desafiando Ariel.
 
Olhava a postura de Swan reparando em cada detalhe, e não conseguia esconder  a surpresa. Realmente não esperava por isso.
 
— Pior que você tem sorte. — falou olhando para mim, percebeu que sua investida para intimidar Swan não havia funcionado — Nem um processo administrativo é  capaz de sofrer, porque é  irmã de Zelena. Mas de uma coisa você não vai poder fugir. — virou o rosto e  apontou para as marcas dos meus dedos que tinham ficado ali — O escândalo que eu vou fazer na mídia. Todos vão saber que a ex-prefeita descontrolada,  agrediu uma colega de trabalho. Eu estou cansada! — sua voz saia cada vez mais afetada — Está na hora de você parar de se dar bem em tudo. De se aproveitar do trabalho dos outros. Fiquei com esses alunos durante um ano. Trabalhei duro. Planejei cada detalhe do aprendizado deles. Organizei esta viagem. Nós iriamos fazer uma feira literária com os conhecimentos que eles adquirissem  aqui. Tudo estava perfeito e arranjado a longo prazo. E o que acontece? A prefeita simplesmente resolve que quer voltar a dar aulas. E pegar um projeto em que praticamente tudo já estava pronto. E então, ter um reconhecimento por um trabalho que não é seu! — falou e o tom de raiva era notável em sua voz.
 
— Você estava me substituindo. Quando pegou as aulas sabia que um dia eu voltaria. — disse surpresa com todo aquele ressentimento.  Ela tinha disfarçado bem até  ali.
 
— Engraçado, tinha que ser quando todo trabalho duro já havia sido feito. — respondeu irônica.
 
Fiz menção de responder, mas Swan veio até mim, e segurou em meu braço.
 
— Vamos, não vale a pena! — disse em um tom calmo, tentando me passar tranquilidade.
 
Ela me puxou em direção à porta , Ruby nos acompanhou. Ainda pude escutar Ariel resmungar mais algumas provocações. Mas não as entendi.
 
Fomos para o chalé  de professor.  Sentei em minha cama. Repousei a cabeça sobre as mãos. Respirei fundo olhando o chão.
 
— Aqui! — Swan abaixou na minha frente, apoiando em minhas pernas e me dando um copo de água.  Aceitei. Tomei com calma. Sentia minhas mãos tremerem. Devolvi o copo, ela colocou no criado mudo e continuou na mesma posição. Ergueu a cabeça para me olhar nos olhos .
 
— Posso te levar pra casa. — falou baixo segurando em meus joelhos.
 
— Não, eu estou bem. — respondi tentando voltar ao meu tom normal de voz. — Tenho que colocar esses adolescentes no ônibus e levá-los em segurança até à escola.
 
— Tem certeza? — perguntou com preocupação na voz. Afirmei que sim com a cabeça.
 
— Mas acho melhor você ir. — falei séria  — É  maior de idade, pode sair a hora que quiser. — Eu dou autorização à senhorita Lucas para ir com você. — Olhei para Ruby que estava no canto do quarto nos observando. — Vá com ela. Não a deixe correr na estrada. — falei me direcionando a Lucas.
 
— Eu cuido dela, professora Mills. —  respondeu com um pequeno sorriso.
 
— Eu quero ficar com você. — Swan começou a dizer já se alterando — E se Ariel falar mais...
 
— Swan! — a interrompi — A professora aqui sou eu! Apesar de nos últimos minutos não parecer. — falei com ironia —   Ficarei bem! Pode ir tranquila. — finalizei. Ela suspirou conformada.
 
— Não concordo com isso, mas se vai te deixar melhor, eu vou! — falou se levantando. 
 
Ruby e ela levaram alguns minutos para organizarem suas coisas. De onde estava, apenas observava a movimentação.
 
— Tchau! — Swan disse já com a mochila nas costas.
 
— Faça boa viagem. — respondi  levantando da cama.
 
— Tente ficar calma, ok? — pegou em meu braço e apertou suavemente, tentando me confortar. — Ela falou aquilo na hora da raiva. Acho que não levará adiante.
 
— Raiva momentânea,  ou não, eu preciso estar preparada. — disse e sorri sem mostrar os dentes.
 
Ela se afastou.
 
— Tchau, professora Mills.  —  Ruby falou da varanda. Tinha pego suas coisas no chalé ao lado.
 
— Até  breve, senhorita Lucas. — respondi alto devido a distância.
 
Swan saiu e fechou a porta.
 
Por ironia do destino, e ao contrário da noite anterior, foi eu que acabei ficando sozinha naquele quarto com os meus fantasmas.
 
***
 
A viagem de volta tinha atrasado, justamente porque Ariel pegou um táxi  e foi embora me deixando sozinha para coordenar tudo. Minha sorte é que Leroy estava lá. E que a turma era bem disciplinada, bastava algumas repreensões mais enérgicas, que tudo dava certo.   Ao chegar na escola, esperei todos irem para casa.  Alguns pais vieram buscar seus filhos e me cumprimentam. Depois de me despedir de Leroy, ainda fiquei um tempo dentro do carro, no estacionamento. Pensando em tudo o que tinha acontecido.  Permaneci ali até me acalmar por completo, e decidir  o que eu faria a partir de agora.
 
Cheguei em casa era mais de dez da noite. Repassei mentalmente como começaria a contar tudo a  Robin. Não  costumava mentir para ele, não  seria agora que iria fazê-lo, mesmo a situação sendo vergonhosa. Errei feio  e deixei as coisas chegarem aonde não deveriam. Não sei o que Ariel realmente faria. Mas independente disso, ele teria que saber por mim. Precisava conhecer primeiro  a minha versão  da história.
 
Passei antes no quarto de Henry, meu filho dormia profundamente, já imaginava isso devido ao horário. Entrei em meu quarto, Robin estava deitado com a TV ligada, mas parecia dormir.  O observei por alguns instantes. Ele era um bom homem. Engraçado, bonito, responsável e perfeito  como pai. Não posso ser injusta e dizer que a vida com ele era ruim. Não era! Mas também não posso dizer que me sentia completa. Porque não sentia. Respirei fundo. Deixei minha bolsa na poltrona que havia ali, e coloquei o livro, que tentei inutilmente ler durante a viagem de volta, em cima do criado mudo, ao lado da cabeceira da cama. Fui até o closet peguei uma camisola e roupas íntimas. Me tranquei no banheiro e  tomei um banho demorado.  Queria tirar todo o peso que aquela viagem tinha trazido às minhas costas. Mas foi em vão, sai do banheiro da mesma maneira que entrei. Sentindo a necessidade de gritar para o mundo tudo que estava errado em minha vida.
 
Sentei na cama, sabia que com esse ato Robin despertaria, eu o conhecia. Tinha o sono leve. 
 
— Nossa, não te vi chegar. — falou com voz de sono. Com o rosto meio grudado no travesseiro.  Estendendo a mão  e passando em minha coxa me fazendo um carinho.
 
— Precisei resolver algumas coisas na escola.— disse me abaixando e dando um beijo em seu rosto. O vi sorrir.
 
— Deve estar cansada. — ele falou se ajeitando na cama.
 
— Estou sim. — disse pegando em sua mão — Mas eu preciso conversar com você. — meu tom de voz mudou.  Robin percebeu que a situação era séria. Sentou na cama.
 
— Aconteceu alguma coisa, Regina? — perguntou  já  com uma cara preocupada.
 
— Aconteceu! — disse e o encarei nos olhos.
 
Ele me analisou durante alguns segundos.
 
— Diga! Estou ficando preocupado. — falou impaciente.
 
Respirei fundo. Passei a mão nervosamente pelos cabelos. Criando coragem para começar a falar.
 
— Durante esta viagem aconteceram coisas... — comecei a falar, mas parei.
 
— Regina, fizeram  algo com você? — perguntou com preocupação na voz — Algum aluno te faltou com repito. Te agrediu? Fala logo! Eu entro com uma ação. — ele começou a falar rapidamente sem nem ao menos respirar.
 
— Não, Robin! — tentei interrompê-lo, mas ele continuou a falar.
 
— Porque se algum deles teve coragem de fazer  algo com você...
 
— ROBIN PARA! FOI EU! EU QUE AGREDI! FOI EU! E NÃO FOI UM ALUNO, AGREDI OUTRA PROFESSORA! — praticamente gritei para que ele prestasse atenção e parasse de levantar conjecturas.
 
— Você agrediu outra professora?  Por quê? — perguntou incrédulo.
 
Respirei fundo.
 
— Porque ela me ofendeu. E questionou o meu método de ensino.
 
—  E ...  — ele ia me interromper, mas ergui a mão para que se calasse.  Eu tinha começado e agora teria que falar tudo.
 
— Ariel , a professora que me substituiu em minha última licença, foi comigo a essa Jornada Literária. Acabou me surpreendendo em uma situação nada profissional com uma aluna. — ele franziu o cenho — então me ofendeu,   e eu dei um tapa em seu rosto.
 
Ele abaixou a cabeça e colocou a mão na testa. Bufou! Robin sabia que  já tinha ficado com uma mulher antes de conhecê-lo, sabia também, que tinha sido casual.
 
— Situação com uma aluna como? — perguntou, e eu já senti um tom diferente em sua voz.
 
— A aluna usava  apenas lingerie  e eu  beijava o seu rosto. — disse direta.
 
— O quê? Ah, pelo amor de Deus, Regina, eu tenho cara de palhaço? — falou levantando da cama, começou a andar de um lado para o outro.
 
— Eu estava justamente dizendo a ela que não poderia acontecer nada entre nós. Eu não imaginei que alguém entraria. — falei rápido. — Ariel vai abrir um boletim por agressão. —  disse já  para dar toda a informação de uma vez.
 
— Quem é  a aluna? — perguntou e dava para perceber que estava se controlando para não explodir de raiva.
 
— Robin, isso não faz diferença...— comecei a falar, mas ele me interrompeu.
 
— QUEM É ELA ? — gritou.
 
Bufei! Também estava nervosa.
 
— Emma Swan! — respondi.
 
Ele me encarou nos olhos, riu debochado.
 
— O que mais aconteceu que você não está me contando? — perguntou desconfiado.
 
— Já disse que nada, eu estava falando para ela justamente que não. — respondi incomodada.
 
— Dando um beijo no rosto?  —  balançou a cabeça em negação — Eu não sou idiota, eu vi a maneira como ela te olhava no velório do seu aluno. E o pior, eu vi como você olhava para ela.
 
Fiquei vermelha.
 
— Eu disse a ela que não era certo. Foi isso. — tentei encurtar o assunto.
 
— Regina, quando alguém tenta algo, você só falta dar um coice na pessoa. Não é  delicada. Não é  simpática. Não se esforça nem em ser educada. Você sabe disso. Então por que CARALHOS COM EMMA SWAN FOI DIFERENTE? — explodiu. E ele sabia. Eu ia negar por quê?
 
Olhei para o chão.  Engoli seco.
 
— Foi diferente porque ela me atrai. — falei baixo, sem encará-lo.
 
— O QUÊ? — ele gritou, deu uma risada alta.
 
—  ELA ME ATRAI! É ISSO QUE VOCÊ QUER OUVIR? — também  gritei me levantei da cama — Eu me sinto atraída por ela. E se você quer saber de toda a verdade, só eu sei o quanto foi difícil dizer não para ela hoje!  — respirei fundo lembrando da hora que eu disse para Swan parar. O quanto ela tinha ficado chateada. — Só não quis ser insensível com ela. — finalizei abaixando a voz. Ele arregalou os olhos. E fixou o olhar no meu.
 
— Você gosta dela!  — não era uma pergunta. Falou se aproximando de mim, pegando em meus  braços e aprofundando o olhar.
 
Ri com ironia e desviei para o outro lado.
 
— Não seja ridículo! — disse.
 
— Você gosta dela! — repetiu, e parecia falar mais para si mesmo do que para mim. Me soltou e deu alguns passos para trás.
 
Andou de um lado para o outro,  passando a mão na nunca.
 
— Você se lembra  as três vezes  na vida que eu disse que te amava? Lembra o que me respondeu? — fiz uma cara confusa.
 
— Não. Eu não me lembro. — falei sincera.
 
Riu debochado.
 
— Claro! — abriu os  braços no ar — Por que você lembraria, não é  mesmo? — ia responder, mas ele fez sinal para que eu esperasse — As duas  primeiras vezes você  simplesmente não falou nada. Apenas sorriu.  Eu relevei, pensei que era o momento errado. Mas a terceira... — parou de falar, sorriu tristemente e balançou a cabeça. — A terceira, você me disse obrigada.  — fez aspas com os dedos. — Obrigada, Regina? — me encarou ainda mais e eu abaixei a cabeça — E em algum momento você se importou se foi insensível comigo? Não! Mas agora está aí toda  sentimental porque negou uma tarde de sexo a uma jovem.
 
— Robin, eu... — ia falar, mas ele não deixou.
 
— Eu me diminui , Regina. Quis caber no seu mundo. Fui  apenas o marido da prefeita. O coadjuvante. Fiz as suas vontades, quis te proteger. Você não queria sentimentalismo no casamento, eu acatei. Se era assim que você se sentia mais segura, era assim que precisava ser. Aguentei o seu estresse diário por causa da política. Aturei sua mãe tratando meu filho com indiferença. Henry não percebia mesmo, e se esse era o preço que tínhamos que pagar para a sua carreira ser um sucesso,  fingia não  me importar. Você se sentia feliz  sendo a prefeita, então, era feliz  por você.  Me diminui tanto pra caber na sua vida, que acabei me tornando invisível. — Vi uma lágrima escorrer pelo seu rosto, ele a limpou, mas outras vieram. Eu o tinha visto chorar apenas uma vez em todos estes anos, fora no funeral de seu pai. — Só pensei que um dia você  fosse me notar. — finalizou. E nessa hora, eu também chorava.
 
Ele se virou, apoiou em uma mesa lateral. Olhou para o teto, respirou fundo.
 
— Não sabia que era assim que você se sentia. — falei enxugando as lágrimas.
 
Escutei um sorriso triste e irônico sair de seus lábios.
 
— E  por que você saberia? — falou baixo. — Nunca se importou em perguntar.
 
Virou e sentou na cama. Respirou fundo mais uma vez. Parecia tentar se acalmar.
 
— Robin... — disse indo para perto dele, sentei ao seu lado.  Ele levantou a cabeça para me olhar. — Nunca quis te fazer sofrer. Você é  uma pessoa maravilhosa.  — tentei pegar em sua mão, mas ele se desfez do contato. —Você merece alguém que te faça feliz.
 
— Ótimo! Agora você está me mandando embora. — respondeu balançando a cabeça em negação.
 
— E vamos continuar com isso por quê? — fiz uma pausa — Eu não amo você, Robin.
 
— É, se tem uma coisa que você deixou claro todos esses anos, foi isso. — falou com tristeza na voz.
 
— Eu nunca quis te diminuir. Eu te admiro tanto! — falei olhando em seus olhos.
 
— Regina, não ouse fazer um  discurso de pena para mim. Se eu estive nesse casamento esses anos todos, foi porque eu quis. — disse mais uma vez limpando o rosto — Agora, que eu tinha a ilusão que um dia você fosse me amar. Tinha sim!  Não vou negar. Mas como você vê... Eu falhei.
 
— Robin...  — ele me interrompeu.
 
— Não! Chega. Você está certa. Eu vou pegar umas coisas e ir para um hotel. Depois pego o restante. —  levantou.
 
Foi até o closet, pegou uma pequena mala a jogou sem delicadeza  sobre a cama. Começou a colocar lá  dentro algumas de suas roupas sem nem ao menos olhar quais eram.
 
—  Vamos ver qual será a melhor maneira para contar a Henry. —  disse enquanto forçava as coisas dentro da mala.
 
— Então é  assim que termina? Com você me odiando? — perguntei triste com aquela situação.
 
—  Não odeio você, Regina.  Só não quero assistir de camarote você  perceber que gosta dessa garota.  — fechou a mala com raiva.
 
— Robin, não diga bobagens. — ele foi pegar seu celular na mesa de cabeceira, onde eu tinha deixado meu livro, o derrubou no chão, suas páginas se abriram revelando o cartão postal que Swan havia me dado.
 
Robin  pegou, respirou fundo olhando para ele.
 
— “Lembrei do seu abraço” — leu em voz alta. Fechei os olhos não acreditando nessa infelicidade. — É  parece que ela também gosta você. — sorriu com ironia.
 
Colocou o livro  e o postal onde estavam. Pegou a mala. E foi em direção à porta. Mas se virou uma última vez.
 
— Só tenta lembrar quantos postais meus ficaram na cabeceira da sua cama em dez anos. Ou melhor, quantos você guardou. — não falei nada  — Pois é!  Nenhum! — ele mesmo respondeu, e fechou a porta.
 
Levantei,  olhei para o livro aberto com o postal sobre ele. Enxuguei algumas lágrimas que ainda caiam. Me aproximei, com o dedo indicador fechei sua capa, sem saber em minha vida, como seria a próxima página.

Cinza das Horas (Swanqueen)Onde histórias criam vida. Descubra agora