O recomeço

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Mills
 
Há mais de oito anos não passava pelo portão desse estacionamento. Desde o início de minha primeira campanha.  O tempo passa rápido. Foram noites em claro planejando cada passo a ser dado. E dias cansativos.

Fiz um bom trabalho para a maioria dos eleitores, e a vitória na eleição seguinte foi certa. Ultrapassei  os limites  que o sistema corrupto de política da cidade permitia. Mas fiz muito menos do que Storybrooke realmente  precisava. Sai dos meus dois mandatos como prefeita com a sensação de querer cuidar ainda mais de minha cidade. Esse era meu lugar. Aqui eu fiz a minha história.

Apoiei o candidato do meu partido nas eleições  seguintes, mais por obrigação, do que por vontade. A experiência de Gold não supriu a  falta de carisma, e Robert acabou não conseguindo o cargo.
 
Suspirei longamente, apertei o volante de minha Mercedes. Olhei a entrada do colégio no qual trabalhei por dez anos antes das eleições.  Minha rotina mudaria completamente a partir de hoje.  Ou apenas voltaria ao normal. Eu não sei. Peguei minha bolsa, celular, e sai do carro. 
Fui direto para a sala da coordenação. Receberia as últimas orientações antes do meu primeiro dia de retorno às aulas.

—  Se eu não estivesse vendo com os meus próprios olhos, não acreditaria. A prefeita Regina  Mills  está de volta!

— Primeiro, não sou mais prefeita! Segundo, sempre disse que voltaria. Zelena, que saudades! — me aproximei da mesa dela, fui de encontro a seu abraço. Ela espelhou meus movimentos, se aconchegou a mim com carinho.

— Eu nunca me acostumei com esses corredores sem você,  sis. — passou a mão por meus cabelos, pude sentir seu perfume quando encostei o rosto na curva de seu pescoço. 

—  Nunca me acostumei a não ver você todos os dias.  — respondi, fechei os olhos, me demorei um pouco ali.

Zelena e  eu sempre fomos muito unidas. Minha irmã mais velha formou-se em História e Pedagogia, costumava dar aulas nas mesmas turmas que eu antes de me afastar. Dois  anos depois, quando já estava em meu primeiro mandato, ela assumiu o posto de coordenadora da Escola de Storybrooke. Fez um trabalho exemplar, transformando-a em  modelo. Admito que a influência da prefeitura contribuiu bastante para isso. Mas outras escolas com as mesmas oportunidades não avançaram tanto quanto a nossa. Por isso, vivia dizendo que Zelena era a pensadora pedagógica moderna mais importante da história de nosso país. Ela sorria envergonhada, mas entrava na brincadeira. O orgulho que  tenho dela é imensurável. Meu filho e Zelena são as duas pessoas que  realmente têm o melhor de mim.  E voltar a vê-la diariamente  me trazia um sentimento de conforto que não sentia há  anos.
 
 A convivência com a minha irmã foi  uma das coisas que o posto de prefeita me tirou, mas não foi a única. Ser prefeita, a Evil Queen, como  a impressa e muitos na cidade me chamavam, por minha postura  firme na maioria das  situações, também tirou minha liberdade.

O casamento com Robin, e a formação de uma família tradicional e perfeita aos olhos do eleitor, faziam parte da minha falta de liberdade. O fato de minha mãe  só falar comigo  em público, e apenas para  manter as aparências, ou em reuniões de trabalho, também. Cora Mills nunca aceitou o fato de   eu  optar pela adoção, à maternidade convencional. Ela não considera Henry seu neto. E não  fazer um escândalo todas as vezes que ela fingiu ser a avó  do ano diante da imprensa me corroía por dentro. 
 

Foram tantas privações ao longo desses anos de carreira pública,  que estar naquela escola novamente, nos braços de Zelena,  em um ambiente que eu conhecia como a palma de minha mão , me traziam a sensação de voltar para casa.
 

Me desfiz do seu abraço, mantive o contato visual.

— Você continua uma sentimental idiota! — disse e abri um sorriso.

Cinza das Horas (Swanqueen)Onde histórias criam vida. Descubra agora