Cinza das Horas (Swanqueen)

Bem-vinda à realidade

 
Mills 
 
Bufei ao sentir um incômodo que a fresta de luz trazia  a meus olhos. Coloquei instintivamente um dos travesseiros no rosto. Resmunguei  baixo e me estiquei de maneira espaçosa na cama. Robin havia viajado a trabalho na noite anterior. Quando estava quase pegando no sono, meu celular despertou. E eu o amaldiçoei mentalmente.  Precisava me levantar para meu terceiro dia de aula. No mesmo instante Emma Swan me veio à mente. Eu não  sabia explicar o frio na barriga que senti quando, ao virar o corredor que dava acesso às  salas, vi aquelas orbes verdes direcionadas a mim. Não  pude vê-la por completo,  pois um rapaz, provavelmente seu namorado, impossibilitava a minha visão. Uma raiva me acometeu, eu sabia, e ela também deveria saber, que era proibido namorar dentro da escola. Mas me contive para não chamar a atenção de ambos. Falaria com Zelena, afinal, eles não estavam em minha aula naquele momento.  Não sei dizer o porquê não consegui desviar o olhar  enquanto entrava na sala. Aqueles olhos pareciam me prender de alguma forma. Essa garota tinha algo, e eu precisava entender o que era.

Suspirei profundamente,  sentei na cama, passei as mãos pelo rosto. Olhei para o closet aberto. Precisava escolher uma roupa. Lembrei de August Booth e de seu olhar nada respeitoso. Revirei os olhos. Idiota!
Não mudaria o jeito de me vestir apenas porque um aluno não tinha bom senso. Ao pensar nisso, Swan voltou aos meu pensamentos. Será? Não! Ela tem namorado. Tentei justificar. Poderia jurar que Swan olhou tanto quanto, ou até mais do que Booth, para as minhas pernas. Arriscaria dizer que ela me analisou a aula inteira na verdade, e de maneira nada pedagógica.

— Sem devaneios,  Regina! — falei comigo mesma.  Balancei a cabeça em negação.  

Levantei, peguei uma saia lápis preta e uma camisa de seda em um tom quase dourado. Fui para o chuveiro. Me repreendi mentalmente por deixar essa garota mais uma vez invadir meus pensamentos.
 
***
 
— Hoje leremos trechos de O Pequeno Príncipe. — Swan ao escutar a minha frase pareceu levar um susto. Claro que ela não tinha lido os textos que havia mandado por e-mail.  Eu não  precisava nem perguntar.

— O Principezinho, eu adoro esse livro. — Will Scarlet, sentado ao fundo, disse em tom irônico, alguns outros alunos deram risada. 

— Ótimo, senhor Scarlet.  Vejo que tem um bom gosto literário.  — ele assentiu ainda sorrindo.

Os alunos já estavam organizados  em pequenos grupos como havia pedido minutos antes.

— Preciso de voluntários para a leitura.  — olhei ao redor. 

Killian levantou a mão, parecia meio inquieto. Ele formava trio com Ruby Lucas e Swan, obviamente.

— Ótimo, senhor Jones, abra na página... — comecei a dar as instruções, mas ele me interrompeu.
— Não,  professora Mills, me desculpe, mas eu poderia ir ao banheiro? — Ergui uma sobrancelha.

— Na hora da leitura ? — perguntei séria.

— Eu não estou me sentindo bem. — ele realmente parecia pálido.

— Ok, senhor Jones, vá! — ele levantou rapidamente, Swan puxou seu braço,  falou algo que eu não consegui entender.  Jones  não a olhou, apenas desfez-se do toque e saiu da sala de cabeça baixa.
 
 Algo havia acontecido ali.
Continuei a aula.  Uma aluna que quase não interagia verbalmente, mas que na escrita  era ótima, acabou lendo os trechos que precisávamos para a  explicação.

— “E tu terás estrelas que sabem sorrir! Basta olhar para o céu e estarei lá.” — Belle French finalizou.

— Obrigada, senhorita French. — Agradeci, me voltei para a turma — Agora vocês responderão a folha de exercícios  que cada grupo recebeu. Qualquer  dúvida, me chamem nas carteiras.