Revelações

108 10 0
                                    

 
 Swan
 
— AÍ LOBA, VAMOS CHEGAR ATRASADAS! — gritei impaciente batendo a mão espalmada no balcão.  Tinha ido até  o Granny’s buscar Ruby depois de ter passado em casa para almoçar com minha tia. O treino de hoje à tarde era importante.  Seria  divulgada a  lista das jogadoras do time titular.  Sábado aconteceria  a aberturado do campeonato estadual. E se tudo corresse como o planejado, a minha volta a jogos importantes e com visibilidade.
 
O mês de março passou rápido. Tamanha era  a minha lista de afazeres  diários.  Abril começava com grandes expectativas profissionais,  e com Killian  me deixando maluca com os preparativos para o nosso aniversário.
 
Ano passado as escolhas relacionadas  à  comemoração foram minhas. Este ano, por direito, seria dele. E eu não queria nem pensar no que aquela bicha maluca ia inventar.
 
Sentei em um dos bancos do balcão.  Ruby estava demorando muito. Provavelmente conversava com Killian na cozinha. Bufei! Odiava esperar.
 
O sino da porta de entrada do Granny’s pôde ser ouvido. E instintivamente me virei em sua direção.  Um arrepio  subiu pela minha espinha. Regina entrou, seguida por Zelena. Nossos olhos se encontraram.
 
Um mês, e eu não havia me habituado à  todas as reações que o olhar de Regina provocavam em meu corpo.
 
Fiz um esforço grande, desfiz o contato visual.   Provavelmente estavam ali para almoçar, devido ao horário. Essa era boa, já não bastava essa mulher desestruturar minhas manhãs, tinha mesmo que  encontrá-la agora?
 
Depois da semana que fiquei sem intervalo, devo dizer que não foi fácil ler todas aquelas folhas e responder todos os exercícios, eu tinha até começado a  abrir os e-mails que Mills mandava e fazer as leituras em casa, tamanho era o meu trauma de acumular, e ela me obrigar a ler tudo de uma  só  vez novamente.
 
As aulas passaram mais tranquilas nas últimas semanas.  Na verdade, eu entrava muda e saia calada. Acho que aquela implicância inicial tinha amenizado, ou estava sendo ignorada por nós duas. Eu não sei.
 
A partir do segundo dia de castigo ela apenas deixava em minha mesa os exercícios e leituras.  Antes de bater o sinal,  voltava, recolhia tudo, e  saia em silêncio. Comecei  a perceber que  evitava me olhar nos olhos. O que achei estranho depois da atitude gentil de me dar a maçã. Mas não tinha como entender o que ela estava pensando. E é  claro, não iria perguntar.  No entanto, havia momentos como este, que nossos olhos se encontravam  meio que sem querer. Disso ela não conseguia fugir. Aprofundava o olhar tanto quanto eu. Mas tentava  não pensar muito nisso.
 
Aliás, estava me distanciando de tudo  que por algum motivo me tirava o foco. Por isso decidi não ficar mais com Neal.  A atitude dele havia me decepcionado muito. Não teria uma relação, mesmo que informal,  com alguém que faz comentários ou tem atitudes homofóbicas. Mesmo porque, Neal sabia desde o início que eu também ficava com mulheres.
 
Quis devolver o fusca assim que  estivesse restaurado.  Mas ele não aceitou. Disse que agora era meu por direito, e realmente, não estava errado em dizer isso. Eu o havia  comprado, e pago pela sua restauração. Falou que apesar de tudo, ainda preferia que eu ficasse com ele. Sabia que eu cuidaria bem do carro que foi de seu avô.
 
O que Neal  de fato não aceitou bem, foi a minha decisão de não querer mais proximidade com ele. Me ligava o tempo todo. Mandava mensagens.  Ia atrás de mim várias vezes durante o período  de aula. Sorte dele não ter encontrado mais Regina. Ou, se fosse esperto, estava evitando aparecer por lá, quando era aula dela. 
 
Neal chegou até a ir na saída de um treino atrás de mim. Isso realmente me deixou brava. Estava começando a ficar inconveniente. 
 
— Olha se não é a minha atleta preferida! — Zelena se aproximou e me cumprimentando com um beijo no rosto. Regina veio logo atrás com uma expressão séria.
 
— Oi, Zelena ! — me levantei e a abracei.  Tinha um relacionamento bacana com a ruiva. Quando me mudei para cá, ela conversou comigo sobre a rotina da escola, me apresentou o lugar,  alguns professores e funcionários que estavam no dia. Teve bastante paciência com a minha adaptação.
 
Vi Regina reparar em mim de cima abaixo. Eu estava com o uniforme de treino.  Uma regata cinza com o nome do time e patrocinador,  um shorts de cotton azul, também com o logo da equipe. Tinha abaixado as joelheiras para a canela junto com o meião para andar de maneira mais confortável. O meu cabelo estava em um rabo de cavalo.
 
— Miss Swan. — apenas disse e acenou com a cabeça se mantendo séria. Respondi também com um aceno de cabeça e sorri sem mostrar os dentes. Mais por educação do que por realmente querer.
 
 — AH, EU PENSEI QUE EU ERA A SUA ATLETA PREFERIDA! — Ruby finalmente saia da cozinha gritando e se fazendo de ofendida.
 
— Isso até  eu chegar na cidade, loba! — Já fui logo provocando . Ruby estava com o uniforme exatamente como o meu.
 
— Olha se não é a minha outra atleta preferida. — Zelena já foi logo pegando o rosto de Ruby com as duas mãos, dando um beijo estalado na bochecha. Ruby se agarrou à cintura dela. — E ciumenta! —  concluiu. Nós três  caímos na gargalhada.
 
— Aceita que você é minha reserva, Ruby. —  falei me sentado de novo.
 
— Sonha, patinho! — Ruby respondeu enquanto Zelena apagava a marca de batom que tinha ficado em sua bochecha. Elas ainda estavam abraçadas. Regina permanecia em silêncio.
 
— Boa tarde,  professora Mills. — Ruby cumprimentou olhando Regina.
 
— Boa tarde, senhorita Lucas. —  respondeu educada. 
 
— Kill! — Ruby gritou  virando para o corredor — KILL, VEM VER QUEM ESTÁ AQUI.  A PROFESSORA MILLS!
 
Killian num rompante apareceu afobado vindo da cozinha.  Bicha filha da mãe!  Para me ver, não saia da cozinha. Agora para falar com Regina, que já tinha encontrado mais cedo na aula, vinha correndo. Ah, ele me paga!
 
— Oi, Professora Mills! — Ele falou com um enorme sorriso no rosto pegando a mão de Regina e beijando. Na verdade,  nesse mês que passou, Killian havia se habituado a cumprimentá-la assim.
 
Aliás, Literatura tinha caído nas  suas graças, e Regina virado sua professora preferida. Nunca o vi tão empenhado em uma matéria. Nas trocas de aulas, ele nem ficava mais na porta da sala esperando ver Arthur, seu crush, ele acompanhava Regina até a outra sala, carregando seu material, e então, ficavam conversando por mais alguns minutos.
 
— Boa tarde, senhor Jones. — Respondeu, e dessa vez,  um sorriso singelo, mas sincero, apareceu em seus lábios. Dava para perceber que a interação entre eles, apesar de toda a postura rígida  de Regina, era recíproca.
 
— Olha esse cabelo! — soltou a mão  de Regina e pegou uma mecha dos fios ruivos de Zelena — Que ódio de você! — Killian falava de maneira afetada — Solta ela, Loba! Esse abraço é  meu! — Killian empurrou Ruby pelo ombro e se agarrou à  Zelena — Quero uma peruca ruiva de aniversário.
 
Todos rimos, até mesmo Regina fez um curvar de lábios. Sem mostrar os dentes.
 
Killian e Ruby tiveram a oportunidade de ter aulas de História com Zelena antes de ela assumir a coordenação. Então tinham uma afinidade muito grande.  A ruiva, no último mês, chamou Killian e eu  três vezes em sua sala. Isso tudo,  porque Regina havia informado sobre o aluno que estava traficando drogas na escola. Nós dois combinamos de não falar nada. Peter  realmente não estava ali para brincadeiras. E as consequências de uma denúncia assim, não eram o que queríamos.
 
Em uma dessas conversas, Zelena viu em nossos prontuários que fazíamos aniversário no mesmo dia. Pra quê? Killian não falava em outra coisa. E sempre que encontrava a ruiva pelos corredores anunciava a contagem regressiva pela data. Ou, fazia uma piada sobre algum presente. Ela entrava na brincadeira.  E tudo terminava em risos.
 
— Está chegando o nosso dia. — Zelena disse ficando abraçada a Killian.
 
— Não vejo a hora! — falou escandaloso.
 
— E  você está animada, Emma? — a ruiva me perguntou.  Regina nessa hora me olhou, parecia curiosa por minha resposta.
 
— Na verdade, a única coisa que penso nessas últimas semanas é no início do campeonato.  — passei a mão sobre o balcão  — Ele começa sábado.
 
— Nossa é mesmo o Campeonato estadual! — Zelena falou arregalando os olhos — Ruby Lucas o ingresso que a senhorita me prometeu há  meses, posso sabe e onde está? —  olhou para a minha amiga, fingindo estar brava.
 
— Tá na mão, prof. — Ruby respondeu abrindo sua mochila que estava em cima do balcão — eu estava agora entregando o do Kill não cozinha. Já deixei o da Vovó com ela também.
 
Cada jogadora tinha direito a três ingressos para a área vip do ginásio. Eu, como não usaria todos, só peguei o da tia Ingrid e deixei os outros dois com Ruby. Ela escolheria para quem dar.
 
— É  área Vip, porque sou chique! —Ruby ia estender o ingresso à Zelena. Mas olhou antes para Regina. —  Poderia ir também,  professora Mills.
 
Regina a olhou surpresa.
 
— Eu não sou muito amante de esportes, senhorita Lucas. — respondeu meio desconfortável.
 
— Poderia ir me acompanhando,  irmãzinha. —  Zelena falou olhando para ela. E eu Arregalei os olhos surpresa. Como assim irmã? O que mais aquela Loba não tinha me contato?
 
— Sábado estarei com Henry. Não posso, Zelena.
 
— Leve-o, professora Mills. — Ruby tinha três ingressos então os mostrou na sua mão balançando-os — Eu tinha apenas um sobrando, mas Emma me deu os dois que não ia usar. Estão aqui.  Estendeu à Zelena.
 
Regina me olhou receosa.
 
— Mas e Ingrid não vai? — Zelena perguntou  pegando os três ingressos da mão de Ruby, ainda não muito certa se deveria aceitar.
 
— Eu já separei o dela. — me apressei em explicar — Pode ficar com eles. — finalizei educada.
 
— E não vai convidar o seu namorado ? — Regina perguntou irônica  se direcionando a mim.  Zelena a olhou fazendo umas expressão que era uma mistura de curiosidade e surpresa. Ruby arregalou os olhos, e Killian apenas observava.
 
— Ele não é  meu namorado.  — respondi direta — na verdade nunca foi. — franzi o cenho.
 
Zelena olhou de Regina a mim, de mim à Regina.
 
— Então resolvido! Leve os três, Prof. — Ruby tentou quebrar a tensão que havia se instaurado — Se a professora Mills não puder ir, dê a alguém que goste de vôlei. — balançou as mãos nervosamente  — O importante é aquele ginásio estar cheio para a nossa estréia.
 
— CHOCOLATE QUENTE COM CANELA PARA VIAGEM! — vovó  chegou no balcão e me entregou o copo. O peguei e me levantei. Tinha até esquecido que havia pedido — Boa tarde a todos! — a senhora continuou — Prefeita Mills!— balançou a cabeça se direcionando à Regina.
 
Regina apenas acenou com a cabeça em um cumprimento. 
 
— Meu filho, preciso de você aqui! — vovó falou com  Killian que ainda estava aninhado à Zelena. Ele a soltou. E se direcionou à cozinha.
 
— Beijos, suas lindas! — falou mandando beijos no ar —  Espero que dê  para vocês irem ao jogo.
 
Durante a saída de Killian pude sentir novamente o olhar de Regina sobre mim.  Ergueu uma sobrancelha quando me viu levar o copo à boca. Parecia me analisar.
 
— Canela, senhorita  Swan? — usou um tom irônico.
 
— Dizem que o aroma da canela é  inebriante.  — respondi no mesmo tom.
 
Aprofundei o olhar, ela não desviou. Pelo contrário, me olhou na mesma intensidade.
 
— Alguns aromas, professora Mills,  podem deixar a pessoa extasiada e até sem reação. — continuei a falar, dei um sorriso malicioso, não pude evitar.  Levei o copo novamente a boca, dei um gole.
 
Regina acompanhou meus movimentos com o olhar. Passei a língua lentamente pelos lábio. Ela fixou atenção em minha boca. E nessa hora eu tinha caído  na minha própria armadilha. A intensidade que Regina me olhou me desconcertou. Fiquei totalmente desarmada! 
 
Minhas pernas ficaram moles. Céus, o poder que essa mulher tinha sobre meu corpo apenas ao me olhar, me abalava.
 
Ruby e Zelena observavam aquela interação, curiosas. E por alguns segundos eu até tinha me esquecido que estavam ali. Esse era o poder que só Regina Mills tinha.  Tudo perto dela ganhava uma importância secundária. Aquela mulher emanava sensualidade sem fazer esforço algum.
 
— Isso não tem um fundo teórico convincente. — falou, agora me olhando nos olhos novamente.
 
— Deveria  experimentar chocolate com canela, tenho certeza que quando provar, nada mais vai superar  o cheiro, o sabor, o prazer... — e nessa hora ela já sabia que eu não falava mais de canela.
 
 — Na verdade  não gosto de canela!   — se apressou em me interromper. Quebrou o contato visual — Vamos nos sentar?  — falou virando para Zelena, que assentiu com a cabeça.  — Tenha uma boa tarde, senhorita Swan.  — Olhou para Ruby — Senhorita Lucas, passar bem.  — Saiu em direção  às mesas ao fundo.
 
 Zelena se despediu de nós com beijos. E foi sentar-se  à mesa perto da janela com Regina. Do balcão as observei fazerem os pedidos.
 
Ruby colocou sua mochila e fomos para o fusca que estava estacionado na frente do Granny’s.  Estávamos atrasadas. E ainda tive que aguentar minha amiga o caminho todo fazendo piadas com o aroma de canela. Regina Mills realmente desestruturava  a minha rotina.
 
 ***
 
Mills
 
Da mesa que estava  consegui ver Swan e Lucas saírem pela porta do Granny’s.
 
— O que foi aquilo entre você e Emma? — Zelena perguntou assim que o atendente saiu, depois de anotar nossos pedidos.
 
— Aquilo o que, Zelena?  — a encarei impaciente — Não sei do que está falando. — tentei desconversar  dando atenção ao meu celular . Mas na verdade não tinha nada nele.
 
— Desde quando você se interessa com quem seus alunos namoram, sis ? —  ela disse puxando o celular bruscamente da minha mão e o colocando na mesa longe de mim.
 
— Eu não me interesso! — tentei inutilmente pegar o celular, mas de onde estava, não o alcançava.  Descansei as  duas mãos sobre a mesa. — Ok , você quer atenção. — revirei os olhos vencida.
 
— O que está acontecendo que eu não sei? — perguntou  séria.
 
— Não acontece nada, Zelena! — Ela ergueu uma sobrancelha como resposta. Bufei!  — Apenas o namorado da Emma Swan  não gosta de mim . Durante minha gestão, a prefeitura  comprou um imóvel do avô dele para as obras de expansão.  O idiota me responsabiliza pela decadência dos negócios da família. — ergui a mão com a palma virada para cima — Mas eu já o coloquei no lugar dele. Não  se preocupe.
 
Ela me olhou com uma cara nada convencida. Peguei copo de água que o rapaz tinha acabado de deixar na mesa.
 
— Sis, eu estou falando da tensão sexual entre você e Emma.  — disse direta.  Engasguei na hora. 
 
— Tá maluca, Zelena? — perguntei tentando recuperar o fôlego.  Sentia que  meu rosto estava  vermelho.
 
— Irmãzinha, não tente negar. Ela comeu você com os olhos.  E você não fez diferente.  — falou convicta.
 
— Pelo amor de Deus, Zelena, a garota é  minha aluna. — respondi no meu melhor tom indignado.
 
— Mas isso não a impediu de te olhar da maneira que olhou. — balançou a cabeça em negação. — O cheiro, o sabor, o prazer... —  falou tentando imitar a voz de Swan,  e fez aspas com os dedos.
 
— Ela é  menor de idade , Zelena.  — falei seca.
 
— Só pelas próximas duas semanas. — respondeu rápido.
 
— Qual é o seu problema?  Eu sou casada. — tentei usar um tom de repreensão.
 
— Você nem aliança usa!— revirei os olhos. Realmente eu não usava aliança.  Só no começo do casamento. Depois foi caindo no esquecimento. Robin nunca reclamou, apesar de usar a dele.
 
— O que está sugerindo? Onde quer chegar com tudo isso ? — falei  já irritada.
 
— Vai parar de me contar as coisas pela metade, ou eu terei que perguntar à Emma?  —  arregalei os olhos. Não conseguiria esconder nada dela por muito tempo. Suspirei fundo.
 
— Ok! – Disse vencida tentado escolher as palavras. Ela me olhou atenta.  — Quando eu descobri sobre o traficante que há na escola, eu só consegui ouvi‐lo vender as drogas porque — fiz uma pausa passei a mão nervosamente pelos cabelos.
 
— Por quê? — ela me encorajou.
 
— Porque estava dentro da cabine do banheiro com Emma Swan! — falei num fôlego só antes que perdesse a coragem.
 
— O QUÊ? — Zelena arregalou os olhos e gritou. — olhei para os lados.
 
— Se era para fazer esse escândalo, preferia não ter falado nada. — sussurrei fechando a expressão.
 
— Desculpe!  Mas você fala que estava na cabine do banheiro com uma aluna, dentro da escola. Quer que eu tenha qual reação? — disse também sussurrando.
 
Revirei os olhos. Ela continuou.
 
— Você estava transando com uma aluna dentro do banheiro ? — falou em um tom indignado.
 
— É  claro que não, sua doida! — me defendi.
 
— Ah! Ainda bem! — ela respirou aliviada, colocando a mão no peito — Mas então o quê?
 
— Swan saiu da minha aula sem permissão, estava preocupada com Killian, que tinha ido ao banheiro.  Fui atrás dela, claro!  — comecei a explicar.
 
— É  lógico que você não ia deixar isso barato. — afirmou o óbvio, e eu concordei com a cabeça.
 
— Quando cheguei atrás dela no banheiro,  dei uma bela bronca. — parei de contar.
 
— E então? — estendeu a mão no ar curiosa.
 
— Então, Swan viu o tal aluno se aproximando da porta.  E você sabe...
 
— Tanto Emma, como Killian, tem medo de represálias. — continuou por mim.
 
— Exato! — concordei —  Então... — parei lembrando da situação,  senti minhas bochechas pegarem fogo.— Então ela me agarrou, me jogou para dentro da cabine do banheiro, e trancou. — falei rápido.
 
Zelena arregalou os olhos mais uma vez.
 
— Gente, certeza que não rolou nem um beijinho? — falou debochada. A repreendi com o  olhar — Não posso nem brincar. — Revirou os olhos.
 
— Swan me imobilizou, então eu não pude ver o rosto do aluno. Você sabe que ela é mais forte. Isso é  visível.
 
— Sabe o que é visível também? — ela falou segura e com um sorriso nos lábios.
 
— O quê? — franzi o cenho.
 
— Essa história  mexe com você.— disse convicta.
 
— Pelo amor de Deus, Zelena ! Mexe ? Mexe? Claro que mexe! Eu fui imprensada na parede. — falei impaciente.
 
— Eu estou dizendo que Emma Swan mexe com você! — fez um movimento com o dedo no ar como se estivesse desenhado —  Se fosse um outro aluno você teria feito um estardalhaço . Convocado os responsáveis . Feito eu dar uma suspensão de uma semana. Eu te conheço.  — finalizou como se fosse dona da razão.
 
— Zelena, não ouse inventar teorias! —  falei com o dedo em riste para ela.
 
— Então porque me escondeu isso?
— Ora porque... Porque ... — gaguejei — Porque esse assunto me incomoda.
 
— E incômoda por que? —  perguntou em um tom irônico olhando no fundo dos meus olhos.
 
Aquele olhar de Zelena me desmanchou. Apoiei os braços na mesa e coloquei as mãos no rosto . Suspirei pesadamente. Zelena me observava atenta. Eu parecia que sentia o peso do mundo em minhas costas. Aquela culpa me atormentava. Depois de alguns segundo a olhei e fiquei em silêncio.
 
— Você se sentiu atraída por ela. — falou baixo, fazendo um olhar compreensivo. Não era uma pergunta.  Ela sabia!
 
— Eu não pude evitar ela me agarrou! — comecei a falar, tentando me explicar.
 
— Eí calma , sis. — ela pegou em minha mão com carinho. — Você não teve culpa! Ela estava te segurando.
 
— Então por que eu me sinto culpada? — perguntei baixo, balançando a cabeça em negação.
 
— Porque você é uma excelente profissional. E tenta se responsabilizar por tudo. Ter controle de tudo. Mas às vezes  esquece que é  humana. — tentou me confortar.
 
— Mas isso é  errado,  Zelena. — falei e passei as mãos  nervosamente nos cabelos.
 
 — Sis, você tem seus desejos e necessidades.  O corpo cobra! Nós duas sabemos que o seu casamento com Robin é  uma convenção social.
 
— E com isso você quer me dizer  quê ? — perguntei confusa.
 
— Quero dizer que Emma se tornou uma mulher realmente linda. E é  natural  em uma situação dessa você ter gostado. Não se crucifique. — explicou.
 
— Ela é  uma criança! — me apressei em repetir. Isso ecoava em minha cabeça.
 
— Tudo bem pensar assim. Mas daqui há alguns dias ela não é mais criança nem perante  a lei. — Revirei os olhos.
 
Soltei o ar que nem sabia estar prendendo.
 
— Escuta sis, e o que você vai fazer com isso?
 
— Isso o quê?
 
— Com a atração que sente por ela. — falou de maneira tão natural que eu senti meu rosto  queimar de vergonha.
 
— Eu não vou fazer nada, Zelena.  Não há atração alguma.  — Comecei a falar já perdendo a paciência novamente — Foi apenas um momento de fraqueza, que não vai acontecer de novo. Eu não suporto aquela garota!
 
— Não foi o que me pareceu há alguns minutos quando ela estava sentada naquele balcão.  — falou debochada.
 
— Chega de besteiras, Zelena!  — respondi entredentes.
 
— Se você quer se enganar, tudo bem. Eu estarei aqui quando perceber a verdade. — Bufei.
 
— Vamos comer e esquecer esse assunto. — disse me afastando um pouco da mesa para o garçom colocar a minha salada. Ela ficou em silêncio apenas me observando.
 
Negar para Zelena era fácil. Difícil seria convencer a mim mesma.
 
Aquela garota não saia dos meus pensamentos desde o primeiro dia que a vi.

Cinza das Horas (Swanqueen)Onde histórias criam vida. Descubra agora