Uma carona por desespero

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o ouvir um barulho incessante, fui obrigada a abrir meus olhos. Virei-me para o lado, e estiquei minha mão na direção do pequeno balcão ao lado da minha cama em busca de meu celular e quando consegui desliguei o alarme.
Minha cabeça doía e minhas pálpebras estavam cansadas demais para deixá-las abertas por muito tempo. Meu corpo e alma sentiam o efeito de ficar boa parte da madrugada acordada – graças a Adrien e sua festa. E agora, era obrigada a lutar contra a inconsciência.
Dei um grunhido de sonolência e me sentei na cama, por mais difícil que fosse teria de criar coragem e levantar da cama ou acabaria me atrasando para a faculdade.
Na força do ódio tomei um banho e uma xícara de café, esperando meu cansaço ir embora, infelizmente não deu certo. Estava condenada a passar a manhã com sono e dor de cabeça e isso era um mal sinal considerando que teria uma prova difícil, basicamente estava encrencada.
Verifiquei se tinha pego tudo enquanto me dirigia a porta do meu apartamento, com calma destranquei a porta com minha chave. Não tinha pressa, havia acordado cedo o suficiente para me dar ao luxo da preguiça. 
Ouvi o clique da fechadura destrancada e abri a porta, estava pronta para andar em direção ao fim do corredor. Mas algo me impediu ou melhor alguém chamou minha atenção. 
Olhei surpresa para defronte da porta do apartamento de Adrien, parado ali havia um homem inconsciente sentado no chão e com a cabeça apoiada na parede.
Me aproximei devagar, passos vagarosos ritmados com o meu coração. Um calafrio subiu minha espinha e engoli em seco, aquele cara não parecia estar nada bem.
Me abaixei a altura dele e hesitante cutuquei de leve seu ombro esquerdo.
– Ei com licença. – Murmurei e chacoalhei  o braço dele. E então fitei seu rosto, e de imediato reconheci a pele morena e as expressão faciais de quem dormia um sono pesado. – Nino! Acorda. – Dessa vez não me importei com descrição, eu o sacudi com força e impaciência. Nino às vezes parecia um adolescente inconsequente. – Você está morto? 
O vi abrir os olhos de forma preguiçosa e logo após fechá-los, acabei por bufar. Aquilo só poderia ser brincadeira!
Um barulho de porta rangendo chamou minha atenção e olhei em sua direção, Adrien saí de dentro do seu apartamento – Com cabelos bagunçados, uma pasta branca pendurada no ombro e segurando um café com a destra. Depois de segundos ele ergueu a cabeça e finalmente observou a mim e a Nino, um sorriso sarcástico floresceu em seus lábios e só com esse ato pude perceber que ele diria algo idiota.
– My Little Pony, que bom que o encontrou! Já estava pensando que ele tinha pulado a janela bêbado ontem a noite.
– Bom dia para você também, Adrien. – resmunguei e voltei a tentar acordar Nino, Alya me mataria se descobrisse que deixei o seu namorado semiconsciente abandonado no corredor. 
Senti Adrien vir até nós dois devagar e se ajoelhar ao meu lado, a destra dele foi até meu braço e em um pedido silencioso notei que ele pedia para ele tentar – assenti, poderia não gostar dele mas Adrien ainda era o melhor amigo de Nino.
Com o visão periférica avistei o loiro retirar uma canetinha preta de dentro da pasta, franzi o cenho e fiz uma careta de desaprovação enquanto Adrien começou a desenhar um bigode e pintou o olho esquerdo de Nino e ainda ousou tirar uma foto com o celular.
Depois guardou o celular e a canetinha e pegou seu café novamente, e com cautela virou um pouco no braço direito do Lahiffe.
O jovem acordou num sobressalto e num grito de dor – Nino literalmente saltitava e segurava o braço desesperado.
– Você me queimou!
– Pare de drama, o café nem está tão quente assim. 
– Porque não foi com você!
– Foi mal cara, mas foi a única forma que você acordou. – Adrien deu de ombros e ajeitou a alça de sua pasta. – Use meu banheiro, e tem mais café na cozinha se quiser.
– Tudo bem. Valeu gente e boa sorte estudando! 
Nós três nos despedimos do moreno e o vimos fechar a porta. Eu e Adrien nos entreolhamos num silêncio constrangedor, ele me fitava de um modo estranho – como se tentasse adivinhar alguma coisa. Por fim o loiro suspirou, provavelmente tinha notado meu desconforto com seu olhar.
– Você não tem faculdade bem cedo durante as segundas? 
– Ah tenho… – Murmurei desconfiada. – Por isso estou aqui.
O Agreste me fitou perplexo, e então a compreensão vislumbrou sua expressão e uma risada sonora saiu de sua boca. 
– Qual é a graça? – Questionei num fio de voz. Temia o que aquilo tudo pudesse significar, com certeza o loiro sabia de algo.
– Você sabe que horas são?
– 06:30 da manhã. 
– Bem, ao menos que 07:00 tenha virado as novas 06:30, você está muito atrasada.
– Espera aí, como é?! – Exclamei apavorada, peguei meu celular como se minha vida dependesse disso, e olhei as horas no visor. E com muito pavor, percebi que o alarme que me acordou foi o de "Acorde logo sua paspalha!" – Confirmando o que Adrien já sabia. Ou seja, eu estava 30 minutos atrasada para dedéu! 
Dei um gritinho apavorado, mesmo se corresse com toda a força de vontade do mundo jamais chegaria a tempo.
– Hum, acho que não esperava dormir tanto. Estou quase me sentindo culpado… – Adrien falou com uma expressão de remorso, que logo foi substituída por seus sorrisos característicos. – A não espera, já passou.
– Não vou perder meu tempo com você.
Murmurei e sai correndo, se ficasse mais um segundo com ele, um de nós dois não sairia vivo. Apenas ajeitei melhor minha bolsa no ombro, e andei depressa pelo corredor do prédio em direção a escadaria, pegaria um táxi, era minha melhor chance no momento. 
Contudo fui surpreendida quando senti uma mão segurando meu antebraço, me forçando a parar na metade do caminho. 
– Espera. – Por longos segundos olhei desentendida para o Agreste que suspirou. – Eu posso te dar uma carona.
– E porque eu deveria aceitar?
– Porque se não fizer isso vai chegar muito atrasada e julgando pelo seu nítido desespero, isso não seria nada bom. Um trabalho ou prova talvez….?
Mordi meu lábio inferior, de um lado o meu orgulho e do outro: minha vida acadêmica, ambas partes travavam uma luta mental dentro de mim e a força era quase igual, entretanto uma delas acabou se sobressaindo – sabia que acabaria me arrependendo dessa decisão, mas valeria a pena. Bom, ao menos era o que eu queria acreditar.
– Legal, aceito sua carona.
– Não vai se arrepender, Arco-íris.

O cara do apartamento 27Onde histórias criam vida. Descubra agora