Presente dado como troco

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Bochechas coradas, vergonha elevada e falta de jeito, checados. Todos os itens dessa lista aparentam não desaparecer tão cedo, resta-me tentar lidar com a situação, que diga-se de passagem, não é uma tarefa fácil! 
Eu senti que tudo estaria perdido para mim, no instante exato em que atravessei a porta do apartamento de Adrien. O loiro puxou-me pela mão para dentro, e praticamente me obrigou a entrar quando sentiu meus pés travando. Contudo, não consegui adiar meu sofrimento por muito tempo, logo eu já estava lá dentro. Naquele ambiente agitado e totalmente fora da minha zona de conforto. 
Nós atravessamos a sala de Adrien com dificuldade e paramos perto da sua bancada da cozinha. De onde estou, posso ter uma vista mais ampla do local. Pessoas se acumulavam em todos os lugares, algumas sentadas e outras em pé dançando ou confraternizando, elas vestiam roupas predominantemente coloridas e cintilantes, estavam cobertos de glitter, e alguns até mesmo usavam fantasias de unicórnios, bruxas e etc. Copos vermelhos e azuis de bebida estavam jogados pelo chão e na mão das pessoas. Em cima da bancada, ao lado de onde estava, várias garrafas de bebidas alcoólicas, desde cerveja, energéticos, coquetéis até vodka, que eram servidos por um cara de cabelos escuros e olhos claros, sorridente. Um casal se pegava no canto da parede, como se nem ao menos, toda aquela gente envolta deles existisse. A música era alta e animada. E uma decoração cheia de luzes e papéis.
– Atenção galera, – O Agreste gritou alto, após parar a música para ser ouvido. – Nossa convidada de honra chegou!
Várias pessoas gritaram em comemoração ao mesmo tempo, o que assustou-me. Havia em torno de quarenta olhos me fitando, me fazendo querer sumir de tanta vergonha. Eu realmente, acho desconfortável ser o centro das atenções. Mas o loiro ao meu lado não aparentava estar nem aí para o fato, pois mesmo com meu lógico desconforto ele decidiu continuar a falar:
– Essa festa é dela, em comemoração a garota mais estranha e interessante que conheço! 
– Ei! – Eu protestei.
– Shippei! – Uma garota levemente bêbada gritou.
–  Mas apesar de todas nossas discussões e diferenças… Ela decidiu ficar do meu lado. Ela é mais que minha amiga… – O loiro pronunciou e passou a olhar diretamente nos meus olhos, eu fiquei sem fôlego e o coração acelerou. O Agreste sorriu terno. – É minha heroína, é quem salvou minha vida… Obrigado, Mari!
Todos gritaram alegremente novamente, e em seguida a música voltou a tocar. Todos se dispersaram para seus cantos novamente, menos eu e Adrien.
Eu desviei meu olhar desconcertada, suas palavras meigas martelavam em minha mente. Aquilo havia sido extremamente fofo…
– V-você realmente foi sincero? 
– Em cada palavra.
– Isso foi muito bonito… Obrigada!
– Não me agradeça, é o mínimo que devo a você.
Ele pegou uma madeixa de meu cabelo azulado e o colocou atrás da orelha e um arrepio gostoso subiu pela minha espinha.
– Enfrentar os problemas de frente e não se abater, certo?
– Certo! Mas Adrien, o que eu faço agora? 
O loiro sorri e parece ler meus pensamentos, seu olhar compreensível e terno me fez crer que ele entendeu que eu não sabia exatamente como me comportar numa festa.
– Agora… – Ele disse e entregou-me um copo de plástico vermelho e pegou outro para si. – Você se diverte!
Ele estendeu seu copo e sorrindo eu bati o meu contra o dele em um brinde. Não pensei muito, apenas tomei um gole da bebida que ele me deu, sua tonalidade era azul e alguns gelos boiavam no líquido. Não sabia exatamente o que era, mas tinha um gosto bom.
Decidi aproveitar a experiência, afinal não era nada demais, eu sou adulta e posso lidar com uma festa. Sorri animada e voltei meu olhar para Adrien, entretanto, ele já havia desaparecido. Olhei em volta e não o encontrei, dei de ombros, e comecei a vagar pelo apartamento, buscando por um espaço onde pudesse ficar. Procurei por pessoas familiares para socializar, mais especificamente, por Alya e Nino, não os encontrei em lugar algum. Me levando a ponderar que eles não vieram, o que era estranho, Nino nunca perdia uma festa, principalmente as dadas pelo seu melhor amigo. 
Não queria parecer uma deslocada, mas estava falhando miseravelmente na tarefa, acabei voltando para a estaca zero, e peguei mais daquela bebida azul gostosa. Fiquei ali por longos minutos, até sentir uma mão tocar em meu ombro, me virei surpresa e fitei quem me chamara. 
O rosto conhecido foi rapidamente associado por mim, um sorriso involuntário formou-se  em meus lábios. – Luka! – Falei alto e o abracei sendo retribuída quase de imediato. Ele usava um moletom azul-escuro que combinava com seus cabelos tingidos de ciano em suas madeixas. Eu conheci através de uma velha amiga minha da escola, ele era seu irmão mais velho e bem… meu ex namorado… Ele era um cara marcante e de charme, contudo acabamos terminando por querermos coisas diferentes, foi um término amigável e decidido por ambos, sem guardar rancor ou nada do tipo. E era nostálgico o ver após tantos anos. 
– Olá, Marinette! 
– O que faz aqui? Pensei que estaria em algum show. – Falei animada, o Couffaine havia viajado boa parte do mundo com sua banda que havia bombado, desde então, ele nunca ficava em um local fixo.
– A Kitty Section decidiu voltar às origens, vamos fazer um show aqui em Paris. Mas em parte vim para descansar e rever todo mundo. Fiquei sabendo dessa festa e resolvi vir.
– Entrou de penetra? – Ergui a sobrancelha. 
– É.
– Mas e você o que faz aqui?
– Sou vizinha de Adrien, o dono da festa, ele meio que me obrigou a participar e fez chantagem emocional.
– Ah, ele parece ser um cara legal. 
– Ele é… – Murmurei e desviei o olhar para um ponto loiro atrás de Luka, no fundo avistei Adrien rindo, meu coração deu uma batida forte… Não podia ouvir a risada dele, mas sabia que ela era perfeita. O loiro virou-se para minha direção e nossos olhares se encontraram, meu rosto esquentou.
O rockeiro me fitou de soslaio e deu um sorriso.
– Você parece gostar bastante dele. 
– Somos bons amigos. – Sorri e voltei a fitar meu velho amigo.
Ele por sua vez, arregalou os olhos. – Cuidado! – Ele tentou me alertar. Contudo já era tarde demais, uma mão puxou meu braço para baixo, e eu apenas tive tempo de dar um gritinho de surpresa antes de sentir aquele líquido viscoso molhar toda minha roupa.
Choraminguei e olhei com nojo para minha camiseta, um cara aleatório e bêbado, tinha literalmente vomitado em cima de mim! E ainda me perguntam por que não gosto de festas!
– Era minha blusa favorita… 
– Eu conheço uma ótima lavanderia… Eles podem conseguir limpá-la. 
– Obrigada, mas acho que não tem mais jeito. – Murmurei com uma careta. – Eu vou para minha casa. 
Disse e tentei evitar respirar o ar nada cheiroso que emanava de mim, andei tentando não esbarrar em ninguém, para não sujá-los.
Quando finalmente saí pela porta suspirei aliviada. É eu precisava urgentemente de um banho. Entrei para dentro do meu apartamento, e senti alguém tocar meu ombro. 
– Luka, você não precisava me seguir. – Falei e me virei em direção a ele. Entretanto, engoli em seco ao ver que não era exatamente quem eu esperava ver.
– Luka? – Adrien indagou-me desconfiado.
– Uh, foi mal. Eu só me confundi.
O loiro assentiu vagaroso e me olhou de cima para baixo, analisando cada pedacinho meu. – Eu vi o que aconteceu lá dentro. E… – Um semblante de nojo se fez presente em sua face. – Nossa, você tá fedendo pra caramba.
– Não me diga! – Falei sarcástica.
O loiro revirou os olhos e deu um sorriso de lado. Nem sequer pediu permissão ou licença e adentrou meu apartamento como se fosse dele. O segui em silêncio, já acostumada com seu jeito de ser.
Entrei em meu quarto com ele em meu encalço, e ele se aproveitou para olhar tudo em sua volta como um gato curioso. – Então… Luka é aquele cara com quem você estava conversando.
– Aham. 
– Vocês pareciam já se conhecer…
– Nos conhecemos. – Dei de ombros e abri meu armário para escolher uma roupa. – Ele é meu ex.
– Tipo, seu ex amigo que você nunca se envolveu romanticamente?
– Não, tipo meu ex namorado.
– Ah… E você ainda, sabe, gosta dele? – Ele murmurou desconfortável. Parei com o que fazia e o fitei seriamente. – Não. Eu não gosto! E você está legal? Estou te achando meio estranho.
– Puft! É claro que sim. – Ele sorriu. – Agora, por que não vai pro seu banho e eu separo suas roupas?
– Eu não sei, Adrien.
– Vamos lá, fui modelo durante anos, sei escolher algumas peças de roupa. – Ele sorriu debochado, e ergueu uma calcinha de renda vermelha até meu ponto de visão. – Tipo essa, combina muito bem com seu tom de pele. 
Eu arregalei os olhos e senti minhas bochechas extremamente coradas. Como ele conseguia agir normalmente nessa situação? Ele não tem vergonha na cara, só pode!
– Me dê isso aqui! – Falei ríspida e agarrei a peça ligeiramente. – Escolha a roupa que quiser, mas nem sequer chega perto dessa gaveta de novo! 
– Você quem manda, Fedorenta!
O dei as costas e tranquei-me no banheiro, suspirei pesado, e decidi tomar meu banho o mais depressa possível.
Depois de alguns minutos eu finalmente terminei meu banho e saio do banheiro. 
E dessa forma, não demoro muito para perceber, que sim, eu sou muito idiota. Não precisa me contar isso. Eu já sei que é verdade e nem vou tentar me defender.
Sinto o gosto amargo da garganta de quem acabou de cometer um grande erro. 
“Escolha a roupa que quiser!” Meus últimos neurônios só podem ter queimado ao pronunciar essa frase. E pior ainda, por pensar que o que fiz não teria volta.
O papel rosa em minhas mãos me deixa zonza, e o poema escrito nele me deixa com cara de taxo. Ao ponto de eu ter de ler mais uma vez para ter certeza que aquilo está mesmo certo: 

Rosas são vermelhas,
Violetas são azuis. 
Volte logo vestindo isso,
ou vai pagar minha conta de luz.

E virando para lado oposto estava:

P.S: Devolvo tudo somente se você voltar e depois da festa acabar. 
Seus convidados estão te esperando!

Gemi de frustração e aceito que aquilo não era um pesadelo meu. Olho tudo em meu armário e percebo que todas minhas roupas sumiram, e tudo o que me resta, é vestir a roupa embrulhada numa caixa de presente em cima da minha cama. A fito novamente. E deduzo ter descoberto o motivo da pergunta que Adrien me fez mais cedo, pois dentro da caixa, encontro uma fantasia de fada cor-de-rosa que cintilava, com direito a asas, tutu e varinha de condão! 
É eu entendi o sarcasmo. Vou anotar na minha agenda, a data da minha vingança da vingança!
Sem muita escolha, visto a fantasia e torço para dar tudo certo.



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O cara do apartamento 27Onde histórias criam vida. Descubra agora