De volta aos anos 50

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Ao raiar do sol eu e Adrien pegamos a estrada. Ele havia se despedido de Chloé choramingou abraçada ao peito dele, foi uma cena triste e revoltante ao mesmo tempo. Era muito óbvio que ambos se importavam imensamente um com o outro. Ela nos entregou um pouco de dinheiro para a viagem, nos deu algumas roupas e nos pediu para ligar se precisássemos de ajuda.
No momento, eu e o Agreste nos encontramos num posto de gasolina abastecendo o carro dele para podermos sair de uma vez por todas da cidade de Chantilly, mesmo que eu não faça ideia de onde seja nosso próximo destino. Fugir de um assassino não é nada divertido! Malditos filmes e programas de ação mentirosos!
Ao longe Adrien conversava nervosamente com alguém num celular que havíamos conseguido emprestados de um dos donos do posto. Aparentemente ele ficou com pena do nosso desespero e decidiu apenas nos entregar o aparelho celular. 
Após cerca de cinco minutos, Adrien encerrou a ligação e andou até mim. Notei que ele estava um pouco aliviado, provavelmente deve ter recebido boas notícias. 
– Pegue. – Ele estendeu-me o celular e eu o peguei. – Ligue para seus pais. Apenas não conte sobre, bem… Você sabe. Pode ser perigoso! Eu vou comprar alguma coisa para comermos no caminho.
Maneio a cabeça vagarosamente e o vejo se afastar. De pressa, digito o número do celular da minha mãe que sei de cor. Espero ansiosa. Estava com saudade e preocupada com eles. Até que no terceiro toque, fui atendida. Mal posso expressar a alegria que sinto ao ouvir a voz dela e de meu pai, que apareceu poucos segundos depois. Tive de repetir a eles dez vezes que estava bem e segura. Claro, que deixei de fora o lance todo do incendiador malvado. Apenas inventei que estava na casa de uma amiga da faculdade, que não tinha internet. Pois não podia voltar para minha casa por causa do incêndio. Com custo, nos despedimos dizendo que nos amávamos e comigo pedindo para avisar a Alya e a Nino onde estava. Sei que o Lahiffe vai entender tudo assim que assimilar que eu e Adrien sumimos juntos. 
Respiro fundo e contenho minhas lágrimas de emoção. Essa fuga está me fazendo passar por uma grande confusão sentimental! Sinto a mão de Adrien em meu ombro esquerdo e me viro para encará-lo. Ele sorri pequeno, provavelmente deve entender o que estou passando. Sou grata por ele não dizer nada. Adrien sabe ser muito fofo quando quer! Ainda posso sentir os braços dele segurando minha cintura e a sua respiração calma no meu pescoço. A noite anterior havia sido perfeita, embora tenha custado dormir com todos nossos problemas circulando minha cabeça. 
– Precisamos ir. – Ele ditou.
– Tudo bem. – Concordo com a cabeça.
Em questão de segundos já estamos dentro do carro novamente com ele dando a partida.
– Para onde vamos?
– Ver uns amigos meus em Nancy. Eles não moram lá, mas vão nos encontrar na cidade!
– Foi com eles que conversou pelo celular?
– Sim.
Assenti e sorri pequeno. Bem, ao menos agora sabemos para onde ir!
Plagg enrosca-se em meus pés e se aconchega para voltar a dormir. Nunca vi gato tão preguiçoso quanto ele! Mas para variar decido acolher sua soneca como um conselho. Encosto minha cabeça na janela, e deixo-me ser levada ao mundo dos sonhos. 




Quando abri novamente meus olhos nós já havíamos chegado na comuna francesa. Já eram um pouco mais de 09:30, ou seja, tinham sido mais de longas 3 horas de viagem de Chantilly até Nancy. Ainda bem que eu dormi o tempo inteiro! Tragicamente, Adrien não tinha tido tanta sorte. Me sinto culpada, eu deveria ter trocado a direção com ele.
Pouco tempo depois nós estacionamos na frente de uma pequena casa. Descemos de dentro do carro e assim, posso analisar melhor a residência. Ela fazia parte do aspecto antigo da cidade. Sua tintura era branca e um pequeno jardim com margaridas enfeitava a porta de entrada. E uma pequena janela de madeira marrom completava o visual. 
Adrien me olhou e depois apertou a campainha da casa. O toque ressoou por toda a casa e depois minutos depois a porta da frente foi aberta por uma mulher ruiva. 
– Adrien! – Ela falou alto e correu em direção ao loiro.
Adrien fez uma cara de surpresa ao ser abraçado tão repentinamente, mas não tardou a um sorriso sincero cresceu em seus lábios e ele retribuiu ao abraço de forma calorosa.
– Você está bem? Machucado?! Com fome?! Qual foi a última vez que dormiu?! 
Soltei uma pequena risada pelo jeito que a mais velha o analisava, virando ele por todos os lados. 
O Agreste sorriu constrangido com a atitude da mais velha. – Estou bem. Não precisa se preocupar, Tikki!
– Ok, eu só precisava ter certeza! 
Tikki sorriu emocionada. Sua feição era como a de uma mãe ou de uma irmã mais velha preocupada. Seus olhos eram azuis amistosos. Um conjunto de pequenas sardas destacavam-se em suas bochechas rosadas. Pela aparência, ela deveria ter em torno de 40 anos. O cabelo era ruivo e curto, indo somente até seus ombros. Ela usava um vestido vermelho estufado com bolinhas pretas que ia até seus joelhos, a mulher parecia ter sido teletransportada dos anos 50 diretamente para a atualidade. 
– E quem é essa bela moça?
– Ah, essa é a Marinette! Ela é a minha… – Adrien mudou o peso do corpo para o pé esquerdo e me olhou de soslaio. – Bem…
– É… – Sussurrei com as bochechas quentes. Ainda não estou acostumada a isso. Seja lá o que eu e o Agreste tenhamos ou sejamos. Toda essa aproximação é estranha, ao mesmo tempo que agradável. 
– Ah, entendi. – Tikki sorriu doce e indicou a casa com a cabeça. – Venham, acabei de assar biscoitos!
Nós dois seguimos a ruiva e adentramos seu lar em silêncio. Analisei a casa, ela era aconchegante, com móveis rústicos e repleta de flores.
– Pietro. – Tikki chamou. – Eles chegaram!
Um homem alto apareceu na sala, sua pele é morena, os cabelos negros arrepiados, os olhos são verdes selvagens, deixando claro que ele não era uma pessoa com quem deveriam se meter. Ele usava uma jaqueta jeans e calças pretas. Sua expressão era de poucos amigos e mantinha seus braços cruzados sobre o peito enquanto encarava Adrien seriamente. 
– O que vocês fez agora, garoto?
– Talvez eu tenha provocado a ira de um assassino malvado que está na minha cola! – Adrien sorriu nervoso.
– Eu deveria te dar uma bela surra em nome da sua mãe!
Tikki suspirou e colocou a destra sobre o ombro do homem. – Se acalme, amor. 
Pietro a encarou e desfez a expressão irritada, como um cachorrinho obediente dando ouvidos a sua dona. Ele se aproximou de Adrien e o encarou com uma expressão indecifrável, em seguida, abriu um sorriso e abraçou o loiro apertado. Assim como Tikki havia feito com ele mais cedo.
– Você não consegue mesmo ficar longe de problemas, não é?! 
– Também estava com saudades, Plagg!
Após alguns minutos os comprimentando, fomos todos em direção a cozinha e nos sentamos numa pequena mesa redonda de madeira. O gato de Adrien esfregava nas pernas de Tikki, que depositava uma bandeja cheia de biscoitos em cima da mesa como ela havia prometido mais cedo.
Pietro fazia uma careta para o gato que havia adorado a sua esposa.
– Não acredito que deu meu nome a esse bicho!
– Desculpe, eu só achei vocês dois parecidos e resolvi te homenagear. – O Agreste deu de ombros.
– Uh. Legal.
– Não se incomode com isso, Adrien. Pietro está apenas sendo Pietro. No fundo ele adorou a homenagem!
– Deveria parar de colocar palavras na minha boca, Torrão de açúcar!
– E você de ser tão mau humorado, Meia Fedorenta! – A ruiva ralhou e bateu nos ombros do moreno com um pano de prato.
Eu e Adrien demos uma pequena risada do jeito estranho do casal, eles me lembravam duas pessoas… Fitei Adrien de soslaio e o encontrei sofrendo para mim. Por debaixo da mesa, senti sua mão tentando segurar a minha. Acabei por ceder a ideia e senti a quentura da destra do loiro contra a minha.
– Eu ainda não entendi. – Falei envergonhada. – Afinal, seu nome é Plagg ou Pietro? 
– Pietro e ela se chama Stefanie. – O homem sorriu de lado e levou um biscoito à boca. – Adrien nos chama assim desde que escutou por acidente nossos codinomes de uma missão na delegacia onde trabalhamos. Ele era uma criança na época, Stefanie e a mãe dele acharam muito fofo e os apelidos acabaram pegando.
– Que fofo! – Disse entusiasmada. – Não acredito que Adrien teve uma fase tão inocente assim. 
– Ele era uma criança muito amorosa, vivia falando coisas fofinhas. Até chegar na adolescência e virar essa coisa ai. – Tikki fez um beicinho. – Lembra-se quando Adrien teve a primeira bebedeira dele? Ele estava numa festa, ligou para nós dois pedindo para ir buscá-lo e implorando para não contar aos pais dele!
– Ele vomitou no meu carro. – Plagg fez uma careta de desgosto. – Demorou uma semana inteira para o cheiro ir embora!
Eu e Stefanie gargalhamos. Adrien por outro lado bufou e revirou os olhos. – Vocês querem parar de falar da minha infância e adolescência!
– O que foi? – Plagg sorriu debochado. – Com medo de passar vergonha na frente da namoradinha?
– O que?! Nós nem sequer namoramos! Eu só não quero ficar lembrando dessas coisas vergonhosas!
– Ele com certeza está tentando manter a posse perto dela. – Tikki sussurrou no ouvido de Plagg. 
– E está com vergonha. Ele nunca fica assim. O assunto é mais sério do que pensávamos!
– Vocês sabem que estamos os escutando, certo?
– É claro que sabemos. Apenas gostamos de te irritar!
– Vocês não tem jeito mesmo! – Adrien reclamou. – Podemos conversar sobre o assunto principal por favor?!
– Eu não me importaria de ouvir mais histórias! – Apoiei minha cabeça em uma das minhas mãos e sorri de lado. Aquele assunto estava se tornando deveras interessante. 
– Viu, ela quer escutar mais histórias, garoto! Que tal falarmos da primeira briga dele? Ele perdeu de uma maneira tão linda… 
– Tikki, me ajuda por favor! – Adrien gemeu frustrado.
A ruiva assentiu dando uma pequena risada. – Vamos lá, Pietro. Para de pegar no pé do menino!
O homem fez uma cara descontente, mas se manteve em silêncio.
– Então porque os dois não começam contando a encrenca que se meteram!
Eu e Adrien nos entreolhamos e demos sorrisos nervosos, mas contamos toda a história maluca que nos levou até Nancy e os biscoitos maravilhosos de Tikki! 
Ao acabarmos os mais velhos nos olharam preocupados e nervosos, era nítido que tudo o que contamos havia os deixado angustiados. 
– Mas isso não importa, porque vocês conseguiram descobrir o que era aquilo! – Adrien sorriu esperançoso – Certo?
Stefanie e Pietro intercalaram olhares, pareciam ter uma conversa silenciosa para saber quem daria a má notícia. Adrien desmanchou sua cara alegre e foi dominado por um semblante de pânico. Eu por vez, os fitei confusa, tentando entender o que os três estavam falando.
– Vocês conseguiram, não é?
– Adrien… – Tikki suspirou fundo e o encarou com os olhos sombrios. – Nós estamos fazendo o possível, mas não conseguimos grandes avanços…
– Mas faz mais de mês! Como ainda não conseguiram nada?!
– É tudo muito complicado de acessar garoto, o arquivo está terrivelmente criptografado e repleto de senhas e mais senhas, aquilo desafio às habilidades de qualquer um, até mesmo as minhas e as de Tikki.
– Não me diga isso, Plagg! – Adrien levantou-se bruscamente da cadeira, soltou nossas mãos e bateu as palmas das mãos na mesa. Seu olhar era como ode um bicho raivoso, pronto para mostrar o pior que podia fazer. – Minha mãe morreu por aquela porcaria! Não façam a morte dela ser em vão!
Eu o olhei apavorada, Adrien quase nunca age dessa maneira, perturbado e repleto de ira. Podia perceber seu corpo tremendo e os olhos verdes lacrimejarem. Ele não está bem, e isso é uma dor insuportável que me aflige.
Me levantei tranquilamente e coloquei minha destra em seu ombro o puxando gentilmente para um abraço, o loiro lentamente me retribuiu e afundou sua cabeça no meu pescoço tentando conter suas lágrimas. – Está tudo, vai tudo ficar bem. – Sussurrei ao pé de seu ouvido. Virei meu rosto para o casal e apenas com movimentos labiais os pedi desculpas. Eles assentiram calmamente, o que me fez ponderar se eles já estavam habituados a esse tipo de cena. Tikki sorriu pequeno e me fitou com seus olhos azuis celeste, e soube ali de que certa forma eu tinha seu apoio.




Após todos se acalmarem fomos para a sala para podermos colocar nossos pensamentos em ordem. Plagg carregava consigo um laptop de última geração, e mexia nele freneticamente enquanto Tikki falava coisas incompreensíveis que apenas os dois entendiam. 
Eu apertei a mão de Adrien que não havia a soltado desde que sentamos no sofá, ele se virou para mim e me encarou interrogativo. Sua expressão ainda era abalada, mas muito melhor do que antes. Minhas bochechas coraram por constrangimento, mas a culpa não era minha se eu estava perdida no meio daquilo tudo. 
– Eh, desculpa, mas do que estavam falando lá na cozinha?
– Recorda-se do objeto que minha mãe tinha me dado antes de morrer?
Eu assenti vagarosamente.
– Era um pendrive. Superprotegido, eu não faço ideia do que tem lá, só que são provas suficientes para incriminar gente poderosa e desmanchar a organização.
– Nossa! – Murmurei impressionada. – Isso é uma ótima notícia, se obtermos as informações do pendrive podemos dar um fim em tudo!
– Pois é, mas faz mais de um mês que Tikki e Plagg trabalham nele e não conseguiram muita coisa, é olha que eles são os melhores nerds de computadores que conheço!
– Mas eu ainda não entendi. Como o seu pai morreu? – Eu falei hesitante, sei que ele não gosta de falar sobre o pai dele.
O corpo de Adrien tencionou e com calma ele me abraçou e me fez encostar minhas costas em seu peitoral. 
– Sinceramente, não faço ideia! Ele foi encontrado enforcado com uma das gravatas dele no banheiro, a polícia determinou que foi suicídio… Mas eu tenho minhas dúvidas, não descarto a hipótese de alguém ter feito aquilo com ele.
– Deus, isso é terrível! Adrien, se tiver algo que eu posso fazer por você, qualquer coisa mesmo, é só me pedir…
– Está tudo bem, Mari. Apenas te ter por perto já é algo maravilhoso! Você já me ajuda, e muito.
– Você é tão fofinho! – Sorri.
– E você uma deusa!
– Estou ficando enjoado! – Plagg reclamou.
Tikki deu um tapa em seu braço. – Os deixe em paz! Não está vendo que eles recém-estão saindo da fase de amigos só que não! 
– Tudo bem, mas não precisava bater tão forte! – O moreno queixou-se.
Eu corei fortemente e Adrien desviou o olhar envergonhado. 
– Então a quanto tempo estão tentando desmascarar essa organização? – Disse querendo ao máximo desviar do assunto.
– Dois anos e seis meses. – Tikki suspirou exausta. – Não importa o que façamos, toda vez que estamos perto de pegá-los eles escapam, são muito escorregadios!
– Mas se eles são tão grandes assim, como ninguém nunca conseguiu nada contra eles?
– Com a arte. – Plagg respondeu sem tirar os olhos do laptop. – Ela é sempre uma boa maneira de esconder o tráfico e o dinheiro transferido! Veja Gabriel, um designer de moda, com certeza usava suas roupas como desculpa para traficar!
– Uou. – Falei chocada.
A informação entrava aos poucos em minha mente, ainda não acredito que estou envolvida nessas coisas. Fugindo de um assassino profissional e tentando desmascarar uma organização de tráfico de drogas. Isso tudo é simplesmente muito para minha cabeça!
– Pois é "Uou". Mas com um pouco mais de dedicação, algumas noites sem dormir e muito café. Vamos conseguir ver o que tem dentro desse maldito pendrive. Vocês podem ficar o tempo que quiserem aqui, mas sugiro que decidam um novo destino de fuga. Não vão tardar a perceber que vocês vieram até nós!
Adrien concordou e os três continuaram conversando. Eu me encolhi no sofá, pensando o que eu tinha feito com minha vida.
Me imaginei tendo de fugir por toda uma eternidade, vivendo com medo até de atravessar a rua. Sem poder concluir minha faculdade e nunca mais ver minha família.
Mas acho que é tarde demais para se poder voltar atrás. Eu havia escolhido há muito tempo atrás, e nem ao menos tinha me dado conta disso.


O cara do apartamento 27Onde histórias criam vida. Descubra agora