Se não quer discutir, não roube a revista de sua vizinha!

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Alguém sabe qual a média de um salário de uma babá? Se souber por favor diga-me, estou muito interessada em saber. E sim, estou a falar sério.
Realmente, não esperava ter um dia como estava tendo. Talvez passar de três em três horas no apartamento de Adrien para ver como ele está e se precisava de algo. Sei que ele precisaria de ajuda, e isso era o mínimo que poderia fazer por ele como a moral exige. Eu não teria problemas com isso, nenhum mesmo.
No entanto, o mundo não quis que fosse assim. Tenho a sensação de ele simplesmente ter olhado na minha cara e dito: "- Hoje não, vadia!".
Havia acordado com uma mensagem no celular vinda de meu vizinho querendo auxílio para fazer o almoço, um almoço que logo se transformou num café da tarde e então um fim de tarde turbulento.
E embora a todo momento eu queira deixá-lo sozinho e me trancar em meu apartamento. Eu não poderia negar ajuda, não quando o Agreste me fitava com um olhar de cachorro abandonado e me implorava.
" - Vai mesmo me deixar aqui sozinho, nessa tarde chuvosa e sem poder andar direito." Era o que ele dizia toda vez que eu tentava ir embora. E sua frase nada manipuladora, e sim isso foi sarcasmo, me fazia ficar por mais um tempo.
E assim me encontro no apartamento de Adrien dando uma de babá. Tanto de Plagg, como dele. Ambos eram incrivelmente encrenqueiros, bastava virar as costas e o caos já teria se instalado.
Pois é. Eu sei. Sou uma completa idiota, que não sabe dizer não!
Solto murmúrios de reclamações. Preciso parar de fazer tantas boas ações ou meu coração bondoso acabará por ser minha ruína.
Bem ao menos, Adrien parecia estar quieto, já que o apartamento estava silencioso.Deixo um sorriso pequeno escapar pelos lábios, aquela era a primeira vez no dia em que eu não ouvia sons... Na verdade está tudo quieto de mais...
Franzo minha testa, aquela quietude toda era estranha. Adrien nunca calava a boca.
Olho ao redor de onde estou, nela não havia nada além de uma pequena bagunça que tinha feito ao fazer a pipoca que jazia em cima do balcão. E Plagg, que estava atirado no chão e quase caindo no sono.
Chamo pelo o nome de Adrien e ando em direção a sala. Logo o vejo de pé perto do sofá, seu rosto está surpreso, ele age de maneira inquieta e um sorriso forçado cresce em seus lábios, causando-me estranheza.
- O que quer? - O loiro me pergunta nervoso.
- Nada só te achei quieto demais. O que está fazendo de pé? Não deve ficar forçando o tornozelo. - Falo confusa e intrigada com sua reação.
O loiro pigarreia. - Ah... Eu estou procurando o controle da televisão!
- Tudo bem então... - Dito com desconfiança. Algo naquela história não se encaixava.
Desvio o olhar e percebo que o controle da televisão está repousado no sofá. Volto meus olhos azuis para Adrien e o observo de cima abaixo. E logo, noto algo estranho nele, durante toda nossa conversa ele mantinha as mãos atrás da costa.
- O que está escondendo?
- Nada! Por que acha que estou escondendo algo?
- Então o que tem nas mãos?
- Dedos é óbvio!
- Adrien, estou falando sério.
- E eu também, já disse que não estou escondendo nada!
- E eu não acredito. - Disse com firmeza. E então, me joguei contra o corpo de Adrien na tentativa de pegar seja lá o que ela tivesse nas mãos.
Infelizmente o loiro desviou para o lado bem a tempo. Mas não antes que eu tenha o vislumbre de um objeto retangular do tamanho de uma régua, colorido e feito de papel.
Pisco meus olhos e assimilo o que vi. Não acredito que ele tinha feito isso novamente. Pensei que pararia assim que ele me contou.
- Essa é uma das minhas revistas de moda! - Digo alto e claro.
Adrien sorri forçadamente. - É claro que não! O que eu iria querer com uma revista de moda estúpida?
- Eu não sei me diz você! Por que rouba minhas revistas, Adrien?
O loiro para refletir por segundos, deixando lógico que ele pensava em uma desculpa.
Bufo irritada e me aproximo até ele determinada, o loiro tragicamente se esquiva e se afasta para atrás do sofá o mais rápido que seu tornozelo machucado permitia.
- Me dê isso aqui!
- Se quer tanto vem pegar! - Adrien declarou. E eu não esperei nem mais um segundo sequer.
Soltei um grunhido feito um animal raivoso e dei a volta no sofá. Adrien se afastou por centímetros, e no processo derrubou um vaso que enfeitava uma mesinha de centro. O objeto se desfez em pedacinhos, e espalhou seus cacos de porcelana pelo chão.
Olhei para o vaso quebrado com os olhos arregalados e fitei Adrien com descrença.
- Você quebrou meu vaso caro. - Adrien murmurou.
- Eu não, você quebrou!
Por instantes ficamos parados no mesmo lugar, nossos olhares eram de desafio. E era questão de tempo até um de nós der o primeiro golpe.
Quando estava pronta para pular em cima do loiro, Adrien jogou uma almofada na minha cara e saiu pulando em um pé só em direção ao outro lado da sala.
Fui atrás dele um tanto rápido e acabei o encurralando contra a parede.
E quando pensei que finalmente pegaria a revista, Adrien tirou uma última carta da manga.
Uma jogada genial e a qual eu não tinha muitas chances de vencer. Ele ergueu seu braço direito, o qual segurava a revista para cima.
Pois é uma completa trapaça se formos considerar o fato de Adrien ser relativamente mais algo que eu. Não que eu fosse baixinha, só sou poucos centímetros abaixo da média que pessoas da minha idade tem.
- Me dá! - Declarei feito uma criança birrenta e me coloquei nas pontas dos pés.
O Agreste negou meu pedido e ergueu-se também nas pontas dos pés. Frustrei-me imediatamente com o ato, e me estiquei ainda mais, me forçando a ficar perigosamente perto de Adrien.
Apoiei minha destra em seu ombro e estiquei meu braço esquerdo ao máximo que podia. Nossos peitos se tocaram ao ponto de quase não haver espaço entre nós ao ponto de se tornar uma situação constrangedora. Sua respiração pesada chocava-se contra meu rosto. E seus olhos desesperados me encararam, mas estranhamente logo se tranquilizaram a fitar a profundidade de minhas íris azuis. E pior ainda, eu também me acalmei.
Estávamos relativamente muito perto um do outro e com isso, senti o coração dele se acelerar no peito. Assim como o meu, que mesmo a contragosto, insistia em bater depressa. Nossos olhares pareciam hipnotizados um no outro, fazendo-me estremecer.
Adrien aproximou sua cabeça lentamente até mim, eram centímetros regulados que ele diminuía com medo. Meu coração parecia que saltaria pela minha boca a qualquer momento de tantas cambalhotas que ele dava. Meu corpo queria ceder, e se aproximar também. Mas minha parte racional não demorou a alertar da burrada que estava prestes a fazer.
Este em minha frente é Adrien Agreste, um cara arrogante que eu nunca tinha me dado bem e que brigava diariamente. Eu conhecia o tipo dele, convencido, galanteador, lindo e sarcástico. Era o típico bad boy que os filmes descreviam. E eu certamente não seria a mocinha que o mudaria. Aquela súbita aproximação não era nada além de manipulação, uma tentativa desesperada de me distrair para eu não alcançar meu objetivo.
Nem sequer éramos amigos direito ainda, era questão de tempo até quebrar a cara. E era melhor continuar do jeito como éramos, duas pessoas opostas com uma quase amizade turbulenta.
Fechei os olhos me forçando a parar de encarar Adrien e quando os abri, substituí pela minha face séria e irritada. - Boa tentativa. - Murmurei. - Mas não vai me distrair assim tão fácil!
E sem delongas, fiz o que qualquer baixinha (que eu não sou, apenas para ressaltar) faria: Eu chutei bem forte a canela dele.
Adrien chiou de dor e todo seu corpo tremeu. E antes que diga que eu sou cruel, saiba que poderia ser pior. Como ter acertado a perna machucada dele. Porém, tendo sido maléfica ou não, aqueles micros segundos era tudo o que eu precisava, saltei o mais veloz e alto possível e toquei a revista. Infelizmente, o loiro se recuperou rapidamente da minha investida.
Com os olhos arregalados ele puxou a revista ao mesmo tempo que eu, e assim começamos uma espécie de cabo de guerra esquisita, ambos puxamos com as duas mãos. E à primeira vista, parecia ser um ato infantil para qualquer um, mas para nós tratava-se de uma guerra. Cujo a qual minha vantagem era o desequilíbrio do meu oponente e o seu a sua força.
- Solta, Mari!
- Não, solta você. - Gritei. - A revista é minha!
- Não percebe que estou te fazendo um favor? Estou te livrando de ver modelos famintos que te farão ter a ideia de corpo perfeito!
- Até parece, vou fingir que acredito!
Nós dois aplicamos mais força, ou desistimos ou a revista rasgaria. Por instantes senti o Agreste vacilar, ele perdia as forças e com isso um sorriso vitorioso floresceu em meus lábios, sorriso esse, que estacou-se no meio do caminho e foi substituído por uma expressão de dor.
- Desculpe, My Little Pony. Mas é preciso. - Adrien murmurou antes de fazer uma das suas piores artimanhas, deveria saber que ele também não jogaria limpo agora, como ele nunca fazia. Ele me deixou puxar com força a revista e soltou-a, eu caí de bunda no chão e gemi dolorida. A revista voou para cima, e antes sequer que eu pudesse pensar em pegá-la, Adrien a agarrou no ar.
Uma expressão de dor tomou conta dele, assim que tocou seu pé esquerdo no chão de forma pesada. Contudo, mesmo com sua lógica dor, isso não o impediu de agir. Pois antes de eu poder respirar, ele tinha jogado minha revista de moda super cara pela janela.
Me levantei veloz e encarei abismada a janela por longos segundos, lá fora via a revista sendo vítima da tormenta que assolava Paris ao fim da tarde, a água da chuva molhava suas folhas de papel e carros passavam por cima de si vez ou outra. Meu coração se despedaçou vendo aquela cena, sei que isso pode parecer um pouco dramático. Mas eu sou uma aspirante a designer, minha vida gira em torno da moda. Boa parte da minha inspiração estava contida ali, porém era tarde demais. Ver a revista sendo arremessada pela janela, foi como ver meu futuro voando para longe de mim e sendo consumido pela incerteza.
Virei-me enfurecida para Adrien, apertei meus punhos tentando conter a raiva. - Por que? - Foi tudo o que consegui dizer.
- Eu só... - O olhar do loiro vacilou, ele abriu a boca e a fechou em seguida diversas vezes, provavelmente indeciso pelo que falar. - Eu sinto muito, Marinette. Mesmo...
Eu analisei-o de cima a baixo, sua destra tocava a parede para se apoiar num pé só, o corpo tremia levemente - talvez por frio e pela dor. Sua expressão transmitia culpa, e os olhos verdes mantinham-se grudados em mim apenas esperando minha decisão. E ainda sim, sentia que ele não estava sendo totalmente verdadeiro comigo. Era como se o loiro escondesse um segredo gigante e não quisesse que eu descobrisse, e assim, não me desse brecha para nada.
Respirei fundo e assenti vagarosamente. - E eu aqui pensando que estávamos começando a nos entender. - Murmurei baixinho, mas ainda alto o suficiente para ele ouvir.
- Mas nós estamos... - Ele suplicou. - E eu realmente lamento muito, mas...
- Mas o que, Adrien? Me explica.
Aguardei sua resposta por instantes, e assim mergulhamos nu silêncio fúnebre e de ar pesado. E quando me cansei dei de ombros. - Dessa vez sou eu que lamento, Adrien. Mas não podemos ser amigos se continuar mentindo para mim.
E sem esperar pela sua resposta caminhei em direção a porta calmamente, e a cada passo dado era um aumento na soma de decepções de minha vida. E dessa forma, deixei para trás um Adrien desolado e boa parte de minha saúde mental.

O cara do apartamento 27Onde histórias criam vida. Descubra agora