Você ronca, My Lady!

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O pouco sol que adentrava pela janela acaricia suavemente minha pele. Meus olhos ainda preguiçosos e totalmente embriagados por sono se entre abriram vagarosos para acostumar-se com a luz. E ao abri-los fui dominada pela confusão, ao fitar em volta percebi que aquele não era meu quarto e muito menos minha casa. 
Mexi-me inquieta e assim que o fiz tive a sensação de ter algo macio embaixo de mim, decidi olhar em cima de que estava deitada, e engoli em seco assim que notei que não tratava-se de o que e sim de quem. Meus olhos azuis vislumbravam a face de Adrien de traços amenos e descansados, ele mais parecia um anjo enquanto ressonava, embora acordado ele não fosse nada angelical. O cabelo  louro encontrava-se desgrenhado. E a respiração era fraca e lenta. Ele aparentava estar tão em paz. 
Demorei alguns instantes para entender como havia ido parar ali, entretanto, logo as cenas de ontem a noite vieram à minha mente. Me levando a cogitar que havíamos pegado no sono enquanto assistimos ao filme. Minhas bochechas coraram por ter cometido tal gafe e pior ainda ter dormido em cima de seu peitoral e usado-o como travesseiro toda a noite. 
Tentei me afastar lentamente para não acordá-lo. Não queria o tirar de sua plenitude e nem ver a forma constrangedora em que nos encontrávamos. Delicadamente me afastei, mas ao vê-lo se remexer parei de imediato. 
O fitei desesperada e rezei para ele não abrir os olhos, contudo, acho que não fui muito clara em minhas preces. Pois ao invés dele abrir os olhos, um sorriso sarcástico abria-se em seus lábios. 
– Não vai nem ao menos me dar bom dia antes de sair de fininho?
Eu o olhei desacreditada. Adrien sorriu ainda mais e com seus olhos de jade me encarava intensamente. 
– A quanto tempo você está acordado?! – Indaguei séria.
– Vejamos... – Ele fingiu pensar. – Digamos que tempo suficiente para ver você me admirando dormir e descobrir que você ronca, My Lady!
– Como é? Eu não ronco. E com certeza não estava olhando para essa sua cara feia!
– Cara feia esta que você estava admirando!
– Até parece. – Sussurro irritada, eu não estava o admirando apenas olhando. O que é completamente diferente!
O Agreste sorri debochado, era claro que seu ego imenso jamais aceitaria minha resposta. 
– É estranho te ouvir dizer isso enquanto ainda está deitada em cima de mim… 
Subitamente arregalei os olhos e minhas bochechas queimarem de vergonha, eu realmente havia esquecido completamente que ainda estava deitada confortavelmente no peito do maior.
Me afastei dele e sentei-me no sofá, desta vez o mais longe possível dele. – Eu sinto muito… – Murmurei constrangida e desviando o olhar.
Meu vizinho deu um sorriso pequeno para mim. – Tudo bem, não precisa de desculpar. Nós só caímos no sono sem querer.
Eu anui a cabeça devagar e deixei-me cair em silêncio, sei que ele estava certo, mas isso não tirava minha vergonha. Não é toda noite que você dorme abraçada com um amigo que você fez no mesmo dia, mesmo já o conhecendo.
– Está com fome, My Little Pony?
– Sempre. – Afirmo com os olhos brilhando. 
O loiro sorri radiante e vai em direção a cozinha e eu o sigo. Até que aquela manhã parecia estar tendo um rumo agradável apesar de tudo. 

(...)

À tarde eu e Alya decidimos sair juntas. A companhia da minha melhor amiga era sempre alegre, Alya tinha um jeito especial de ser. Não importava o problema que surgisse, ela sempre via o lado positivo das coisas.
Por isso era sempre bom andar com ela. No momento, nos divertimos com uma piada totalmente sem graça que ela me contara. 
Somente após quase me afogar com o suco de laranja que bebericava consegui parar de gargalhar. 
Nós estávamos na padaria que meus pais eram donos, o lugar onde eu cresci a vida inteira. Ainda me lembro do olhar triste que eles me deram ao anunciar que queria morar sozinha. Para eles foi um baque enorme, mas compreenderam que seria o melhor para mim. Desde que eu sempre os liguei e viesse os ver sempre que podia. Como agora, infelizmente eles atendiam a padaria que estava a todo vapor, sendo assim teria de esperar para ganhar a atenção deles, já que eles recusaram aceitar minha ajuda com o princípio de eu fazer demais já estudando e ganhando dinheiro com roupas que eu mesma confecciono.
A ruiva, sentada em minha frente, parou de rir e observou o celular que havia acabado de notificar uma mensagem. Ela sorriu para a tela, o que causou-me curiosidade.
– Quem é?
– É Nino, me mandou uma foto. – Ela disse e mostrou a tela do celular para mim. – Olha.
Analisei a imagem que mostrava metade do rosto de Nino e sua mão mostrando um colar de pingente, que ao dar zoom na foto notei ser uma cauda de raposa. E como legenda escrito: Um spoiler nada discreto do seu presente. Apenas olhei e lembrei de você. 
– Que fofo!
– Sim, Nino é bem romântico quando quer.
– O colar é lindo. Mas não entendi o conceito, por que uma raposa?
– É algo nosso. – Alya explicou. – Ele diz que me assemelho com uma pela astúcia e inteligência.
– Uau. – Murmurei impressionada. Era fascinante que mesmo após três anos de namoro, ambos ainda fizessem surpresas um para o outro. Era como se eles sempre cuidassem para a chama da paixão deles nunca acabar.
Observei novamente a imagem com um sorriso pequeno, mas dessa vez notei algo que não havia visto antes. A figura de um homem loiro de costas, ele estava um pouco distante de Nino e parecia concentrado em fitar a vitrine.
– Ei, esse aí atrás é o Adrien? – Falei após notar certa familiaridade.
– Acho que sim, Nino me disse que eles haviam saído juntos. – A ruiva disse. – Falando nisso ainda estou surpresa por terem se acertado.
– É, eu também não acredito ainda. Mas aconteceu. 
– Fico feliz por vocês. Agora podemos sair nós quatro juntos.
– Acho que sim. – Digo e como mais um pedaço de meu croissant. E logo uma ideia surge em minha mente, fico indecisa se falo ou não. Mas por fim deixo a curiosidade vencer-me.
– Alya, você sabe por que Adrien decidiu se mudar para meu prédio? – Pergunto e a ruiva se engasga com o suco que tomava. Me assusto com sua atitude, porém ela se recupera rapidamente. Ela ajeita-se em sua cadeira e me encara cética. – Para falar a verdade eu não sei de muita coisa. Só que Adrien é um amigo antigo de Nino e perguntou onde ele poderia ficar já que ele iria se mudar de cidade. Nino então indicou o apartamento ao lado do seu, já que ele estava vago. Sendo sincera, eu achei um pouco estranho isso tudo, afinal a mudança foi rápida demais, e a maioria das coisas Adrien comprou quando veio para Paris, ele literalmente chegou aqui só com uma mala de roupas e Plagg… E nenhum dos dois quis me dizer por quê. 
– Que estranho. – Murmurei com o cenho franzido. 
– Pois é… Mas por que a pergunta? 
– Nada demais. Só fiquei curiosa. – Dei um sorriso amarelo para Alya, não queria encher a cabeça dela de caraminholas, caso Alya detectasse um pouco mais de mistério sobre tudo o que envolvia o Agreste, ela com certeza dedicaria sua vida apenas para investigá-lo. E não descansaria até saber sobre tudo o que o envolvia. 
– Tudo bem então. – Minha amiga proferiu desconfiada, eu não a julgo, sou uma péssima atriz. Mas sabia que ela respeitaria meu silêncio por mais que sua curiosidade houvesse despertado. 
Enquanto a minha estava totalmente alarmada e havia focado toda minha atenção nesse mistério sem resposta.

O cara do apartamento 27Onde histórias criam vida. Descubra agora