Plano mirabolante

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Atualmente:

Hoje é um péssimo dia, tudo o que deveria ser simples havia se complicado. 
E meu maior desejo é invadir a Área 51 e roubar sua máquina no tempo para poder voltar atrás, e sinceramente, nunca senti tanta necessidade em realizar algo. Afinal não era para ter acontecido.
Sinto todo o meu corpo fraquejar perante o que via, arrepios de remorso passam por cada centímetro do meu corpo e gelam minha pele. Meus sentidos aparentavam ter se ampliado apenas para testemunhar o terror contido naquela cena. Escutava cada barulho, via cada movimento. Ainda que meus olhos apavorados se mantivessem pregados em minha frente.
Engulo em seco. Meu Deus, o que foi que eu fiz? Subitamente vejo todo meu dia reprisando diante dos meus olhos tensos, cada ação minha que me levaram aquele exato instante.
Me levando a concluir que sou uma total estúpida. 
Fecho os olhos com força, e quando os abro novamente eu grito. Grito com todo o meu fôlego, ao ponto de minha garganta arder. Seu nome saiu de meu lábios em um eco poderoso, mas algo me dizia que ele já não me ouvia mais. E isso me dava medo.

Horas atrás:

– Isso não dará certo.
– Não vai mesmo, se continuar com tanto pessimismo.
– Mesmo que eu tente fazer isso, o que muito provavelmente não vou. Como posso ter certeza que funcionará?
– Não vai. – Alya deu de ombros. – Mas se der será muito engraçado.
– É acho que sim. – Enruguei a testa, não tinha tanta certeza a respeito da vingança, e na verdade começava a querer dar passos para trás, desistir de vez e dormir com a consciência tranquila – era um bom plano para mim.
Não gosto de vinganças, nunca me vinguei de ninguém. Acredito que as pessoas merecem uma segunda chance e que todos – caso queiram, podem mudar. Talvez eu fosse patética e vivesse num conto de fadas ao pensar isso, mas gostava desse modo. Eu era simplesmente boa demais para me vingar de qualquer ser vivo. Caramba, eu até mesmo tinha dó de matar mosquitos e pisar em formigas sem querer! Como poderia fazer algo naquele nível?
Alya não tardou a notar meu desconforto, podia ver em seus olhos o brilho do entendimento e a expressão facial de compaixão, ela deixou um suspiro lhe escapar a boca e anuiu vagarosa com a cabeça. – Tudo bem, não precisa fazer se não quiser, Marinette. Era apenas uma pegadinha.
Mordi meu lábio inferior, ela estava certa. Era apenas uma pegadinha, não precisava fazê-la caso não quisesse e se a colocasse em prática, sabia que Adrien entenderia que era apenas uma brincadeira como a que havia feito comigo. 
Olhei para o lado, diretamente para a caixa de papelão em cima da mesa – a qual continha o “armamento” que precisaria. Agora seria apenas uma questão de escolha.

(...)

Ok, confesso, eu sou um pouco bipolar. Depois de muito refletir e passar um tempo com Alya havia decidido por nosso plano em prática, e em minha defesa só tenho a dizer que:
A) Existe uma primeira vez para tudo.
B) Estava com tédio e caso passasse mais um segundo estudando enlouqueceria.
E qual é? É sempre bom ter novas experiências, não é mesmo? E é o que estou determinada a experimentar o gosto saboroso de uma vingança. 
No momento eu apenas sorria igual uma lunática psicopata e repassava o plano na minha mente, não seria difícil era apenas entrar e sair sem ser notada. Respirei fundo e procurei a chave do apartamento de Adrien, sabia que ele era idiota o suficiente para deixar a chave escondida no vaso de plantas que enfeita o corredor, revirei um pouco a terra e em poucos segundos vi um brilho metálico escondido entre o preto. 
Dei um sorriso vitorioso, a retirei de dentro do vaso e trouxe-a para perto do meu campo de visão. 
– Olá bonitinha. – Murmurei para mim mesma.
 Andei até a porta do apartamento do loiro, depositei a chave na fechadura, e em questão de segundos finalmente consegui adentrar o local.
E tenho que admitir que o lugar era muito mais organizado do que pensava que seria, tirando por algumas coisas foras do lugar tudo estava na mais perfeita ordem. Conforme andava, via quadros nas paredes e algumas fotos em porta-retratos, muitas delas com um garotinho de talvez onze anos loiro – a qual julguei ser Adrien pequeno abraçado a uma mulher também loira e sorridente, e ela era muito linda.
Depois de um tempo analisando tudo, decidi parar de perder tempo e andei até o quarto do Agreste – fiquei com medo de o adentrar por instantes, mas não era hora me acovardar e sem cerimônias entrei no cômodo. Que me surpreendeu mais que o restante da casa, pois este era ainda mais limpo.
– Impressionante. – Sussurrei.
Analisei o meu redor e sorri ao ver o que procurava, o guarda-roupa de Adrien Agreste. Andei até ele apressada e o escancarei animada. Olhei com pressa as roupas aparentemente caras que me despertaram curiosidade, e em seguida as arranquei de dentro do guarda-roupa e as joguei para dentro da caixa de papelão que tinha trazido, absolutamente nada passou batido pela minha visão. Desde moletons a peças de roupas formais, não deixei nada lá dentro.
Após, deixei meu presentinho lá dentro junto de um bilhetinho. Seria uma pena não poder ver a cara do Adrien quando os encontra-se no lugar de suas roupas.
Com um suspiro satisfeito dei-me o luxo de observar minha ousadia, estava sendo mais divertido do que pensava. Peguei meu celular e vi as horas, faltava pouco para o loiro chegar em casa. 
Peguei a caixa com as roupas dele e fui empurrando para fora do apartamento com dificuldade devido ao peso. Quando cheguei na metade da sala, senti algo passando pelas minhas pernas. Olhei para baixo, tendo a vista perfeita da minha última fase do plano.
Com seus pêlos pretos e lustrosos, a coleira azul tilintando e os olhos verdes preguiçosos – que me pedem carinho. De fato, ele era um gato muito fofo, tanto que quase repensei toda a situação. 
– Oi Plagg. – Murmurei, e acariciei o pelo macio do felino. – O que acha de nós darmos uma volta, hein?

(...)

Que minha vida era estranha e confusa, isso eu já sabia. Mas se dissessem para mim a algumas horas atrás que um dos melhores encontros da minha vida seria com um gato, e isso no sentido literal, eu com toda certeza diria que essa pessoa era louca.
Contudo, agora, desfrutando de um copo médio de milk shake de morango, ouvindo música e conversando com aquele felino, ela poderia dizer o oposto. Plagg era uma ótima companhia, sabia ouvir e tinha bom gosto. De fato, era um dos poucos homens que ainda prestavam, embora fosse um tanto preguiçoso e travesso. Sortuda seria a gata que o teria. 
– Então foi por isso que escolhi fazer moda. – Sorri para o bichano, que por sua vez miou como resposta no que eu presumi ser um: “Incrível!” traduzido para o francês humano.
Nós dois estávamos tendo uma tarde perfeita, havíamos dado uma volta por Paris, passado em uma sorveteria e no momento, aguardávamos paciente num banco de praça, sentados um ao lado do outro. Algumas pessoas que passavam por nós faziam caretas, provavelmente por parecer uma louca conversando com um gato. E pensando nisso, eu agradecia por estar usando esses óculos escuros, assim ninguém podia ver meu rosto.
Escutei um miado, e vi que Plagg estava agitado em seu lugar. O olhei com dúvida, e ele miou e apontou com a cabeça em direção do outro lado da rua, onde ficava o prédio onde morava.
E então avistei Adrien, estacionando seu carro.
– Tem razão, a nossa vítima chegou. Você é perfeito, Plagg.
O bichano miou novamente, e eu sorri. Adrien Agreste, você não perde por esperar!

O cara do apartamento 27Onde histórias criam vida. Descubra agora