Onde eu fui me meter?

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Pessoas normais, costumam abrir os olhos como o primeiro ato ao se acordar, eu não, eu gosto de resmungar, me envolver na coberta quentinha e lutar para acordar definitivamente. E só então, abrir os olhos. E hoje não seria diferente. Contudo, não foi apenas essas funções que me impediram de querer acordar, o que habitualmente seria apenas o corpo e mente anestesiados pelo sono, hoje também é uma forte dor de cabeça. 
Reclamo assim que sinto uma pontada em minha nuca, meu corpo inteiro está dolorido, e essa enxaqueca aparenta querer me matar. Todavia, antes fosse só o incômodo incomum que testemunhava, pois também sentia carícias em meu cabelo – elas eram ternas e vagarosas – o que me faz querer voltar a dormir e um calor confortável abriga e envolve meu corpo.
– Acorde, Preguiçosa. 
Digo murmúrios que nem eu sou capaz de entender e finalmente, abro meus olhos com lentidão. Vejo a figura de meu vizinho sorrindo para mim e me abraçando.
– Bom dia! – Ele segreda-me. 
Abro minha boca para responder, mas as palavras fogem para longe de mim ao dar-me por conta de que irrefutavelmente esse não é o meu quarto, e muito menos a minha cama. Grito assustada e me afasto o mais rápido que posso, o que consequentemente me faz cair no chão com as cobertas embrulhando meu corpo como se eu fosse um pacote de presente. 
– O que eu estou fazendo aqui?!
– Não se lembra, My Lady? – Sua fala soa malandra e seus olhos brilharam com malícia.
Eu esforço-me para entender o que ocorria, contudo nenhuma lembrança vinha em minha cabeça, apenas uma pontada de dor que me fazia reclamar. 
– Não...
– Então acho melhor você se sentar. 
Decidi ouvir seu conselho e sentei-me na cama. Para então finalmente notar, a roupa peculiar que vestia. Era uma espécie de macacão com uma saia bufante, a roupa internamente rosa e cintilante – assim como minhas mãos – que brilhava com um monte de glitter que eu não sei de onde veio. Ok… Isso não é um bom sinal. 
– Serei direito, Marinette. – Ele me encarou sério. – Você fez o que pessoas normais fazem em festas, ficou bêbada e fez merda. Quando começou a passar dos limites, te trouxe pro meu quarto e te fiz dormir à força, mesmo com você correndo por todo o lado e gritando: "Não quero dormir, me deixa!". Estou orgulhoso de você, minha pequena fadinha está aprendendo a voar!
Beleza, isso explica a roupa, eu estou vestida de fada e… Espera um pouco, o que ele disse antes disso? 
Arregalo meus olhos ao assimilar sua frase. – Eu o que?!
– Relaxa, My Lady! Não foi nada demais! – Adrien sorriu de lado. – Embora ver você dançando em cima da minha ilha e cantando desafinada não tenha preço.
– Eu dancei em cima de uma mesa? – Choraminguei.
– Sim, tem até um vídeo, quer ver?
– Um vídeo?!
– Uhum, todo mundo da festa tem ele, você animou bastante a galera!
– Estou arruinada! – Reclamei. – Esse vídeo vai ser meu fim, eu nunca vou conseguir ser uma estilista de sucesso!
– Também não é para tanto, Mari… Foi somente uma bebedeira numa festa, nada demais. Não fique assim! – Adrien se aproximou e me deu um beijo na bochecha, fazendo-me corar. Ele sorriu pequeno e ajeitou o travesseiro para que pudesse apoiar a cabeça, me deitei novamente na cama e sorri agradecida para o loiro. Era impressão minha, ou Adrien estava ficando cada vez mais meigo?
Suspirei, embora, muito provavelmente, eu devesse estar desesperada agora eu não me sinto assim… Estar perto do Agreste me acalmava e deixava meu peito quentinho, era uma sensação confortável e que eu estou amando.
Ficamos em silêncio, e tudo o que ouvimos são meus resmungos de dor de cabeça. Não sabia que ficar de ressaca era tão ruim assim! Literalmente qualquer barulho me faz fechar os olhos e vivenciar a dor.
O Agreste deu uma pequena risada e levantou-se. – Vou buscar uma aspirina para você. – Ele proclamou.
Eu assenti devagar e o vi saindo, em seu percurso dei-me por conta que ele não usava mais as muletas e andava normalmente, sorri pequeno, ao menos isso era uma notícia boa.   Entrando quando ele tocou na maçaneta eu chamei por seu nome.
– O que é? – Ele indagou.
– Só quero saber se eu fiz mais alguma coisa absurda, melhor saber por você do que pelos outros.
Adrien observou-me em silêncio e abriu sua boca para falar, porém em seguida a fechou sem produzir nenhum som. – Não. – Ele sussurrou de forma triste e passou a olhar para os pés. – Nada que você deva saber. – Sorriu tristemente e atravessou a porta. Deixando-me sozinha com meus pensamentos conturbados e uma forte dor de cabeça. Seu rosto melancólico acertou-me em cheio, ao ponto de ser impossível não me recordar de sua tentativa de suicídio. Era sempre tenebroso lembrar do fato, assim como ver seus olhos quebrados todos os dias. Quero ajudá-lo, mas nem sequer sei por onde começar. Ele é tão misterioso com sua vida, e quanto mais tento, mais sinto que nem cheguei a tocar sua superfície. 
– Por que sinto que está omitindo algo outra vez, Adrien? – Sussurro somente para mim ouvir. 


O cara do apartamento 27Onde histórias criam vida. Descubra agora