Um "Eu te amo" diferente

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Após mais dez minutos de viagem, Adrien estaciona o carro em frente a um hotel. Nós dois descemos do carro, a noite está sombria e gélida, encolho meus braços tentando aquecer-me, mas logo me arrependo pela dor que sinto. Adrien nota meu desconforto e tira seu casaco – empoeirado pelas cinzas do incêndio – e o coloca sobre meus ombros. 
Agradeço com um pequeno sorriso e pego Plagg no meu colo, que até então, farejava a calçada como o gato curioso que é.
Encaro o grande hotel em minha frente. Ao contrário do que havia presumido, o hotel não é absolutamente nada do que pensei que fosse.
O lugar é luxuoso, repleto de luzes douradas que o fazem ser notado mesmo que de longe. Por dentro, tudo é mais charmoso. O piso é branco e tão limpo, que consigo ver meu reflexo, a decoração é moderna, contando com grandes luzes fixadas nas paredes e uma recepção que mais parece um apartamento. Esse é o típico lugar que um mero mortal como eu, jamais conseguiria colocar os pés, mesmo que trabalhasse sem descanso durante uma vida toda.
Adrien coloca sua destra em minha cintura e me aproxima de seu corpo, o que me fez corar imediatamente e sentir um calor confortável em meu corpo. Fito o loiro, e ele nem se quer parece notar o que está fazendo. 
Ele me guia em direção à recepção, onde uma mulher morena de uns vinte anos atende alguns clientes. Quando chegou nossa vez ele sorri pequeno e nos encarou de cima para baixo, não posso julgar, nós acabamos de sair de um incêndio – nosso estado não deve estar menos que terrível. 
– Boa noite e bem vindos! Como posso ajudá-los?
– Boa noite. Nós precisamos de um quarto.
– Vocês tem reserva?
– Não.
– Sinto muito, senhor. Mas não posso ajudá-los se não tem reserva.
– Eu sei, mas… Pode dizer a sua chefe que quero falar com ela?
– Perdão, mas a senhora Bourgeois está ocupada no momento. Quer deixar recado?
– Eu preciso falar com ela urgentemente. Por favor avise-a que Adrien Agreste está aqui. Ela vai me atender, tenho certeza disso. 
A mulher arregalou os olhos e nos encarou com pavor, era como se visse fantasmas bem em sua frente. – Me perdoe senhor Agreste. – Ela diz e se vira para pegar um dos inúmeros cartões atrás dela que estão postos num painel de vidro com luzes de led. Em seguida, ela o entrega para Adrien e sorri simpaticamente. – Vocês ficarão no quarto 209. Avisarei a senhorita Bourgeois que estão aqui imediatamente. Qualquer coisa, basta pedir. 
Nós dois a agradecemos e continuamos com nosso caminho, até chegarmos no elevador. Eu encostei-me na parede fria e o fitei.
– Você parece ser bem famoso por aqui.
– Eu sou famoso em quase toda parte. – Ele franze o cenho. – Você é quem foi lerda em não notar antes.
– Talvez esteja certo. 
– Você trabalha com moda. Eu estou certo!
Eu revirei os olhos intensamente e bufo irritada. Mas apesar disso, sei que o loiro tem um ponto. Eu realmente, fui um pouco tonta em não tê-lo reconhecido logo de cara.
– Eu te odeio. – Murmuro baixinho. 
As portas do elevador se abrem e eu não espero mais um segundo e ando em direção ao quarto em que ficaríamos.
– É, eu sei que você me ama. Não precisa falar! – Adrien dita malandro. E pelo bem da minha própria sanidade, decido não o responder. 
Caminhamos em silêncio até o quarto. A porta era de madeira escura e continha o número 209 escrito de forma destacada. Abaixo da maçaneta, há um ponto para colocar o cartão e destrancar a porta. Adrien não tarda a destrancá-la e a abri-la.
A porta se escancara, e meu queixo vai ao chão. Solto Plagg no chão e deixo meus pés comandarem meu corpo. Fazendo-me correr igual uma criança animada. O quarto é perfeito! Uma cama de casal e com acolchoados prateados  – que parecem custar mais que meus dois rins – está posicionada numa parede. Uma televisão de tela grande é grudada na parede. E uma janela, dá uma vista linda para toda a cidade, que brilha com todas as suas luzes. Além disso, também contém um pequeno frigobar e um banheiro muito chique!
– Gostou? – Adrien questiona-me.
– Está brincando? Eu amei isso aqui! 
Meus olhos visualizaram tudo maravilhada. E me distraio tanto ao ponto de me assustar quando a porta do quarto é aberta com brutalidade. Dou um pequeno pulinho e encaro intrigada o furacão loiro que entra pela porta.
É uma mulher, talvez da minha idade, ela tem cabelos loiros que estão atados em um rabo de cavalo. Seus olhos são azuis gélidos – tão ameaçadores que me dão calafrios. Ela usa um vestido dourado colado no corpo, que realça todas suas curvas sinuosas. Suas unhas combinam com o vestido, são grandes e cintilam com o dourado. Nos pés um salto agulha preto, que me faz perguntar como ela consegue andar com eles sem cair.
Vejo o rosto da mulher, ela está furiosa e encara Adrien como se quisesse que o mesmo sumisse da face da Terra, e pior ainda, ela mesma parecia querer cumprir esse trabalho.
– Uh. – Adrien murmura desconfortável e sorri amarelo. – Oi, Chloé.
A agora nomeada de Chloé, não diz nada, apenas aproxima-se do Agreste com passos lentos e determinados. Ela o analisa, bem no fundo dos olhos. Levanta sua destra e em seguida, dá um tapa estalado na cara do loiro.
– Babaca! – Ela grita.
– Também senti saudades.
– Ainda ouça fazer piada? Tem ideia de quantas vezes te liguei?! Do quanto estava preocupada?! Você sequer pensou em mim enquanto esteve sumido?! – A cada palavra dita era um novo tapa no peitoral de Adrien. 
– Eu entendo você está irritada, mas tente entender meu lado. Eu não podia…
– Vai tentar mesmo bancar o protetor agora?! Isso só pode ser uma piada.
A loira está desesperada e a forma que ela fala… Aparenta ser uma pessoa muito íntima de Adrien que foi deixada de lado. Será possível que eles...? Não é claro que não. Adrien me diria se tivesse uma namorada, certo?
Meu coração se afunda no peito com a hipótese, talvez ela não seja só uma namorada. Provavelmente é a namorada que ele deu um perdido pelo jeito que conversam. E se ele é capaz disso, é capaz de fazer com outra pessoa…
– Chloé… Por favor. Eu só não queria te colocar em perigo também. Eu te amo…
A loira o fita sem palavras, e seus olhos se enchem de água. Chloé chora abraçada em Adrien. E eu assisto a cena de camarote.
Adrien disse que a ama… Ele a ama… Então eles realmente namoram! Sinto meu coração se quebrando em milhões de pedacinhos, um bolo se forma em minha garganta e tudo o que mais quero é chorar encolhida no meu canto. Mas não posso, não aqui na frente deles. Faço o possível para engolir meus prantos e isso dói tanto. Mais cedo, estava decidida a conversar com ele e acertamos de uma vez por todas se o que tínhamos era apenas amizade. E então eu quase morri e fui "sequestrada". Pelo mesmo cara que diz ter um primo gêmeo do mal. E agora, estou de coração partido por saber que ele namora. Argh! Porquê eu tenho que ser tão confusa?! 
Sem meu consentimento, lágrimas finas escorrem pelos meus olhos. Tento limpá-las antes que o casal à minha frente se dê conta, mas é tarde demais, Adrien desvia seu olhar para mim e me vê nesse estado.
– Está tudo bem, Mari? – Ele pergunta preocupado.
– Sim. Está. – Forço um sorriso falso.
Chloé aproveita a deixa e finalmente solta Adrien, e limpa suas lágrimas com a costa das mãos. 
Ela se aproxima de mim e estende sua mão. E eu engolia todo meu choro.
 – Olá, meu nome é Chloé.
– O meu é Marinette. – Aperto a mão dela hesitante. – É um prazer te conhecer.
– Querida, você pode apostar que é sim!
Eu dei uma pequena risada. A loira é engraçada e simpática à sua maneira. Tornando impossível odiá-la. Isso só pode ser um pesadelo! 
– Eu vou pedir para que providenciem roupas limpas para vocês. Os dois estão horríveis! Qualquer coisa é só me chamar.  – A mulher fala e anda até a porta do quarto. – E Adrien, você me deve muitas explicações. 
– É claro. Obrigado, Chloé. 
Após, Chloé vai embora, deixando eu e Adrien sozinhos novamente. O loiro anda até mim, e faz um pequeno carinho na minha bochecha. Ele limpa os vestígios das minhas poucas lágrimas com o polegar. E me fita preocupado.
– Tem certeza que está tudo bem? Eu sei que passou por muita coisa hoje. Pode desabafar comigo se quiser.
– Obrigada. Mas já disse que estou bem, Adrien. 
Me afasto dele com brutalidade, e sua expressão muda para magoada. Sei que ele não tem culpa dos meus sentimentos, mas não consigo ficar assim. Preciso de um tempo.
– Vou tomar um banho.
Sei que não é grande coisa, mas é o máximo de distância dele que conseguirei por hora. 
– Tudo bem, mas tome cuidado com suas queimaduras.
– Ok… – Sussurro sem ânimo.



Fiz o possível para que água não apenas limpasse meu corpo, como também lavasse as impurezas da minha alma.
Me permiti refletir durante um longo tempo no chuveiro. Pensando em cada detalhe desse dia agitado e o rumo louco que ele havia levado. Era tudo tão recente, sentia que a qualquer hora poderia acordar desse pesadelo. Mas a cada segundo que se passa, a esperança de abrir meus olhos e levantar da cama some mais um pouco. E isso frustra-me de uma forma espetacular!
No momento encaro-me no espelho gigante, ele é muito bem limpo, e ao menos para mim, me deixa cinco vezes mais bonita que o normal. 
Estou vestida com uma calça jeans preta e uma regata de cor turquesa – que tenho a impressão de que possa brilhar no escuro de tão cheia de brilho que ela é. Com certeza, essa é uma roupa de Chloé, que teve a benevolência de me emprestar. Decido ignorar o salto alto que ela também me emprestou, como também meu tênis. Saio do banheiro descalça e meu corpo todo arrepia-se pelo contato com o chão frio. 
Me deparo com Adrien sentado na cama, ele está distraído trocando os canais da TV. Solto um pigarreio para chamar-lhe atenção. 
– Você está linda. – Ele murmura. – Nunca te vi de cabelos soltos.
Minhas bochechas esquentam e eu viro a cabeça para o lado constrangida. Era impressionante como nunca consigo me acostumar com seus elogios espontâneos.
– O-obrigada! O banheiro está livre, já pode ir.
Ele assentiu minimamente.
Movida pelo espírito da preguiça – me lanço num pulo sobre a cama. Ela é tão macia, parecia que eu estava deitada numa nuvem fofinha! 
– Essa cama é tão boa! – Murmuro. Meus braços se espreguiçam e eu rolo por todo o colchão.
O Agreste solta uma risada anasalada, me fita com seus olhos verdes intensos e um sorriso malicioso cresce em seus lábios. – Não é apenas para deitar que essa cama é boa.
Sento-me curiosa na cama e cruzo minhas pernas. – E para o que mais ela é boa? 
Ele se aproxima a passos vagarosos e para bem em minha frente, – delicadamente – ele segura minha destra e a leva até os lábios e deixa um beijo suave na costa da minha mão. E eu viro a cabeça para o lado constrangida. 
Ele sorri malandro e retira os tênis e eu o encaro com dúvida. O que esse imbecil está planejando?
Dou um grito de surpresa quando Adrien pula em cima da cama e fica de pé sobre ela. O loiro me estende a mão. 
Eu reviro os olhos, mas sorri animada. Não acredito que vamos fazer isso.
– Você é louco!
– Sou. Sou louco por você. – Ele murmura e meu coração se aquece. Adrien Agreste acabou de falar o que eu penso que ele falou? Ou estou sonhando?!
– Me acompanha nessa aventura, My Lady?
– Como quiser, Gatinho. – Sussurro de volta.
E então o imprevisível aconteceu. Nós dois pulamos iguais dois idiotas em cima da cama.
Ficamos incontáveis minutos apenas nos divertindo, sentido o vento que bagunçava nossos cabelos e ouvindo a gargalhada um do outro. Adrien tem uma risada linda quando não está debochando ou sendo sarcástico. Ele deveria rir mais vezes dessa forma.
Nossos saltos foram lindos, e não querendo me gabar, mas só para esclarecer eu fui quem pulou mais alto! Se Adrien disser o contrário e me chamar de baixinha, saiba que é uma mentira cabeluda!
Conforme o cansaço nos atingia, mais ofegantes ficávamos. E assim, fomos obrigados a parar de brincar.
Caímos na cama exaustos e suados, o que tornou meu banho meio que inútil.
– Isso foi divertido. – Adrien riu.
– Foi mesmo. 
Virei-me de lado para encará-lo e ele fez o mesmo. 
– Marinette, eu amo… – Adrien murmura, mas trava no meio de suas palavras. Eu espero ele terminar ansiosa.  – Amo estar com você… 
Meu peito se aquece com duas, mesmo que no fundo, eu tenha desconfiança que não seja isso que ele queria me falar.
Nos encaramos por longos segundos sorrindo iguais dois bobos. Adrien se aproxima mais, nossos rostos estão quase colados e nossos lábios prestes a se encontrarem. 
Embora eu queira mais, tudo o que damos é um selinho. Um encostar de lábios longo e doce… Não é o que esperava, mas por hora, é perfeito.
Entretanto, logo a realidade me atinge forte – me derrubando sem dó no chão. O rosto daquela moça loira vem a minha mente e a voz de Adrien falando que a ama ressoa. Aquele era um eu te amo que eu nunca iria receber. Não vindo dele.
Suspiro fundo e reprimo meu choro. Me afasto subitamente de Adrien e me sento na cama.
Ele me encara com dúvida e com receio, me sinto mal por preocupá-lo à toa.
– Você precisa tomar banho. – Digo séria. – Está fedendo. Além disso, precisamos conversar.
– Ah… Tudo bem. Não vou demorar. 
Ele se aproxima e deixa um beijo terno em minha testa. Me sinto confortável e protegida. E como detesto isso!
O loiro se afasta e caminha em direção ao banheiro. Eu afundo meu rosto no travesseiro e bufo.
E em pe
nsar que essa noite está apenas começando!

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O cara do apartamento 27Onde histórias criam vida. Descubra agora