Um jantar de segredos saborosos

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Adrien despertou a princesa que vive dentro dele e decidiu passar um longo tempo tomando banho. Eu sinceramente não sei porque ele demora tanto! Depois não quer que o chame de “Princesa”!
Bato meus dedos na minha coxa de forma ansiosa, eu já lhes contei que sou uma pessoa impaciente? Pois é, eu detesto esperar! Esperar quer dizer pensar demais e pensar demais significa reviver todos os meus problemas. O que realmente – após tudo o que passei hoje – eu não quero. Apenas de recordar, posso sentir o calor das chamas loucas para consumir-me, ver tudo o que construí até aqui virando pó sem poder fazer nada. O desespero de ver a face de Félix, que a propósito tinha que ser o focinho de Adrien?! Isso só pode ser uma baita ironia!
Gemo frustrada. Preciso distrair minha mente. O que é difícil. Nunca senti tanta saudade do meu celular – preciso urgentemente falar com Alya e Nino, e principalmente, meus pais. Eles devem estar surtando agora! 
Sem muitas opções coloco a televisão num canal de desenhos animados, que passava My Little Pony, falando nisso que saudades do meu pijama e do conforto dele! Dou de ombros, embora receosa pelas futuras piadas de Adrien, não vou mudar meus gostos por causa disso.
Após um longo tempo, o Agreste finalmente sai do banheiro. Com os cabelos ainda molhados e com uma calça jeans azul e uma blusa preta com uma pata de gato de cor preta.
– Até que enfim! 
– Eu nem demorei tanto assim! 
– Não. Só acabou com toda a água do mundo! 
– Muito engraçado! Se o ramo da moda não der certo você deveria tentar o da comédia!
– Vou anotar a sugestão!
Adrien revirou os olhos e deu um pequeno sorriso. Pegou o par de salto alto que eu ignorei e jogou em mim. Os agarrei no ar antes que eles me acertassem.
– Ei! – Protestei.
– Os calce. Precisamos descer para jantar. 
Olho com desgosto para o salto agulha, que com certeza, irá machucar meus pobres pés. Bem, ao menos eles são bonitos!
Os coloco e saio do quarto junto a Adrien. Pegamos o elevador novamente, e descemos para o andar onde se localiza o restaurante do hotel.
O lugar é lindo, com mesas redondas cobertas com toalhas brancas e cadeiras estofadas. Nós andamos para uma parte mais afastada, onde poucas pessoas estão. 
Sentamos perto de uma janela que nos dá vista para a lua e as estrelas. Admiro a paisagem e me imagino estando aqui numa outra situação. Com certeza aquela cena teria muito mais magia.
Um garçom não demora para vir ao nosso encontro. Ele pergunta o que queremos, e deixo para Adrien pedir por nós dois. Simplesmente não tenho a mínima ideia do que eram aquelas comidas estranhas e caras descritas no cardápio do estabelecimento.
– Então… – Murmuro e o loiro me encara com seus olhos verdes, me indagando com um simples olhar.
Fico com medo de puxar o assunto que estava ansiosa para conversar. Mas talvez esse seja o mais fácil para se discutir agora do que os outros do nosso leque de opções.
– Você e Chloé, né? Nunca me contou que tinha namorada. – Lhe ofereço um sorriso forçado. E dou o máximo de mim para expressar uma falsa alegria.
Adrien por outro lado não parece ter engolido minha atitude. E me lança um olhar cético.
– Eu e Chloé? Você pirou de vez! Por que acha que ela é minha namorada?! 
– Você… V-você tinha dito que a amava, então presumi que…
– O que? Não! Eu não a amo. Não desse jeito! Eu e Chloé crescemos juntos, somos quase irmãos. Jamais ficamos ou ficaríamos juntos! 
– Ah… – Sussurrei constrangida. Alguém sabe onde é o buraco mais próximo para que eu possa enfiar minha cabeça, por favor?!
– Ela é a garota que te mostrei da fotografia, não acredito que não a reconheceu! – Adrien diz com sarcasmo e eu me encolho um pouco mais na cadeira. Pensando bem, Chloé é realmente parecida com aquela garotinha da foto...
– Ei, olha para mim. 
Com custo obedeço o loiro. Ele me fita ternamente e coloca sua mão sobre a minha. 
– Eu não tenho nenhuma namorada, Marinette. Eu te juro. Por favor, não fique assim!
– Desculpa, e-eu não…
– Tudo bem. Não precisa se explicar.
Maneio a cabeça lentamente e me ajeito na cadeira. O garçom que nos atendeu volta com nossos pratos em uma bandeja. Nos entrega, enche nossas taças de vinho e vai embora. 
Encaro a comida e mecho nela sem ânimo. Não estava muito a fim de comer seja lá o que estiver dentro do meu prato, não tenho estômago para isso. 
– Precisa comer.
– Não estou com fome.
– Eu entendo. Mas precisa. Vamos ter um longo dia amanhã.
– Eu sei. Só estou preocupada com meus pais, nossos amigos e com a gente. Acho isso tira um pouco do apetite.
– Vamos dar um jeito de falar com eles amanhã. E não se preocupe, não vou deixar nada, absolutamente nada acontecer com você Marinette. É uma promessa!
– Obrigada. – Falo.
Tomo coragem para trazer um pouco de comida à minha boca. O sabor não é ruim, pelo contrário é delicioso. Mas isso não quer dizer que eu queira continuar a degustando. 
– Na hora que você me salvou… Tinha mais alguém precisando de ajuda? Até onde o fogo se alastrou? – Indago algumas das dúvidas que atormentam minha cabeça desde que saí daquele incêndio. Afinal eu e ele não somos as únicas pessoas que moramos naquele prédio.
– O fogo apenas danificou o seu apartamento, o meu e um pouco do apartamento do da senhora Laiane, mas ela estava na casa do filho quando aconteceu, então não se machucou. O restante levou apenas um susto.
– Bem, menos mal eu acho!
Adrien da outra garfada em sua comida. – Sim, menos-mau. 
– Mas isso não explica o por que estamos fugindo e muito menos de terem tentado me matar! – Disse ironicamente, e o loiro se engasga com a própria comida. Tenho certeza de que ele não esperava que eu fosse ser tão direta com a questão.
O Agreste demora alguns segundos para se recuperar e me observa tenso. – Marinette… Você tem que entender que o assunto é muito delicado. E eu não quero que você se coloque em risco por minha causa por se envolver demais.
– Adrien. – Meu tom de voz fica sério. – Eu literalmente quase fui assassinada hoje por um maníaco incendiador. Me envolver mais ou não, não fará diferença! Mas ao menos dessa forma, eu vou saber com que estamos lidando e poder te ajudar mais, entendeu?!
– Entendi… – Ele bagunça os cabelos. – Mas…
– Sem mas. É hora da verdade. Me diga de uma vez por todas o que você vem escondendo de mim todo esse tempo, Agreste!
– Tudo bem então! – O loiro fala contrariado. – Mas já vou avisando que não é nada bonito.
– Tudo bem, eu estou pronta para descobrir!


O cara do apartamento 27Onde histórias criam vida. Descubra agora