A maldição Agreste

320 54 13
                                    

Por que?
Fora a indagação que saiu surrada pelos lábios do Agreste. Seus olhos estavam perdidos e vazios, era como se o que ele visse fosse completamente inacreditável. 
Isso tirava-me o fôlego, estar diante de Félix – que agora – gemia de dor no chão, era completamente diferente de estar na presença de Nathalie. A postura dela era mais séria, seu sorriso e seu olhar são mais cínicos. É como estar na frente de um lobo que ameaçava atacar a qualquer instante.
– Por que? – Ela sibilou raivosa, suas palavras eram repletas de mágoa e rancor. – Por sua causa é claro, e daquela vadia da sua mãe! 
Adrien respirou fundo, seus olhos se molharam ainda mais de lágrimas, eu estaria o abraçando e afagando seus cabelos de ouro agora. Isso, se uma arma não estivesse apontada em nossa direção. 
– O que minha mãe tem haver com isso? – Adrien murmurou confuso e com a voz rouca pelo choro.
– Tudo! – Nathalie berrou. – Nós tínhamos tudo para dar certo, eu e seu pai estávamos apaixonados. Gabriel me prometeu que largaria ela, me fez sua cúmplice na loucura dele de se envolver com o tráfico. Mas ele nunca largou ela... Esperou sua mãe descobrir tudo sobre ele pra poder dar um jeito naquela estúpida! E você... O filho perfeito do casal perfeito, seu pai vivia com medo de te magoar. Ele preferiu envolver Félix nessa bagunça do que você!
As palavras saíram cuspidas na direção de Adrien. O loiro tremia, seus olhos se tornam escuros - e com seu olhar desesperado, percebi que mais uma parte de seu coração puro se quebrava. Eu sofri por ele, sabíamos que essa decisão de voltar não seria fácil para ele. Mas agora vejo que as consequências são muito maiores do que pensávamos.
– Vocês tinham um caso… – Adrien murmurou com repúdio. – Minha mãe confiou em você, era sua amiga. Você praticamente me criou, Nathalie. E ainda teve coragem de fazer tudo isso…
 – Nós estávamos apaixonados! Mas quando sua mãe morreu, Gabriel enlouqueceu! Disse que estava arrependido, que queria ver o filho. E que iria largar tudo o que construímos! Eu não queria fazer aquilo… Mas eu surtei, não podia deixar ele me abandonar e ainda por cima me fazer perder tudo!
– Você matou meu pai e fez parecer suicídio... – Adrien rangeu os dentes.
Seu transtorno era visível em suas expressões. Ele chorava desesperado ao mesmo tempo que borbulhava de raiva. Seus punhos se fecharam com força.
– Adrien, se acalme. 
Minhas instruções não pareceram surtir efeito, o loiro apenas me ignorou, como se não estivesse mais me ouvindo. Ele apenas estava preso em sua própria bolha de caos e sofrimento. Como se seu mundo houvesse perdido a cor, mas mesmo assim dado-lhe a liberdade de ver com clareza tudo o que era ruim.
– Quem mais está envolvido nisso? – Ele indagou aos berros.
Nathalie gargalhou sarcasticamente. – Não é óbvio? Praticamente todo mundo que era sócio de seu pai, a Agreste Fashion era apenas uma fachada. Audrey, o pai de Félix, Tomoe! Todos eles! 
Adrien respirou fundo. Abalado com as novas informações. 
Apesar disso me senti mais aliviada, ao menos agora temos provas. Já podíamos parar com isso tudo, e voltar para casa.
Contudo, Adrien não pareceu pensar desse jeito. Acho que as notícias o abalaram demais, eram emoções demais para apenas uma noite.
– Você destruiu minha família! Arruinou minha vida! – Adrien gritou.
Nathalie assentiu, e deu um sorriso doce – o qual se não fosse pelos seus olhos frios, até mesmo poderia fazê-la parecer amigável. 
– E agora estou prestes a acabar de uma vez por todas com ela.
E então, a Sancoeur apertou o gatilho. A bala fez um estrondo tremendo ao disparar. 
Meu coração acelerou, ao ponto de mal conseguir respirar. Se passaram microssegundos, mas eu senti como se fossem uma eternidade. Era tempo o suficiente para reviver tudo o que passei com Adrien, cada minuto de alegria e tristeza. Toda nossa história de amor passou bem diante dos meus olhos.
Eu simplesmente não pensei em mais nada, além da dor que seria perdê-lo. Incapaz de raciocinar gritei por seu nome, e em seguida o empurrei para o lado e fiquei na mira da arma por ele.
Fechei meus olhos com força, e tudo o que veio em seguida foi dor. Com os olhos semi abertos encarei meu abdômen que sangrava, o escarlate do sangue manchava a camisa de Adrien que uso. Eu respiro com dificuldade, cada vez absorvendo menos oxigênio.
Adrien ajoelhou-se desesperado ao meu lado, gritando um sonoro não. 
– Por que fez isso? – Ele murmurou apavorado. De seus olhos lágrimas grossas desciam.
Eu forcei um sorriso, e ergui minha destra para acariciar sua bochecha. Manchei-a com meu próprio sangue, mas Adrien não pareceu se importar nem um pouco.
– P-Por que eu te amo… – Sussurrei com dificuldade. Queria que ele soubesse. Esse poderia ser meu fim, mas não iria embora até dizer isso. Quero que essas sejam minhas últimas palavras.
– Eu também te amo. 
Adrien disse sincero, ele estava em desespero e isso me doía de uma forma espetacular. Não quero que ele sofra.
O som de sirenes ecoam pelo lugar que cada vez mais torna-se claustrofóbico. Em seguida, uma equipe de polícias armados invadiu o local. 
– Parada, polícia da Itália. Você está presa. 
Plagg apontou sua arma para Nathalie que bufou de raiva, e largou a arma. O moreno a algemou e a levou para fora de minha visão embaçada.
Tikki se ajoelhou ao meu lado, e retirou o casaco que usava com pressa. Depois fez pressão no meu ferimento, estancando o sangue. Eu gemi com dor, aquilo doía para um inferno.
– Aguenta firme Marinette. – A ruiva murmurou. – Médico! Chamem o médico. Temos dois feridos por baleamento!
Olhei para o lado e vi Félix lutando contra a inconsciência. Enquanto um policial o fazia prontos socorros de emergência.
Ele me fitou arrependido, e seus olhos não mentiram para mim, soube naquele momento que esse seria o fim da linha para nós dois.
Voltei a observar Adrien, e me permiti olhar os olhos verdes do homem que amava por uma última vez. Sorri. Eu o amava mais que tudo, e faria tudo de novo para tê-lo salvo.
– Me prometa que será feliz. – Murmurei entre uma tosse afogada. 
Adrien me olhou transtornado e negou com a cabeça, apertou minha mão com força e acariciou meus cabelos.
– Nem sequer pense nisso, não aja como se isso fosse uma despedida! – Ele disse alto, mais lágrimas desceram por seus olhos. E vê-lo chorar feito uma criança foi o estopim para mim,  comecei a agir da mesma forma.
– P–prometa-me, Adrien... – Disse com esforço. Não iria embora sem ter certeza que ele ficaria bem. 
Os olhos deles se tornaram escuros, ele assentiu lentamente e apertou mais ainda minha mão.
– Prometo que tentarei.
Eu sorri pequeno, não era exatamente o que queria. Mas bastaria por hora. Pois já estava na hora de dormir.
– Eu te amo. – Sussurrei fracamente.
A voz de Félix ecoou em minha mente: "Essa é a nossa maldição Adrien… Estamos condenados a ferir as pessoas que amamos".
E após, foi seguida pela de Adrien "Eu te amo", ele falou transbordando de emoções, desde a amargura ao mais puro amor.
E então, eu fui envolvida pelos braços da inconsciência. Que levaram-me à mais profunda escuridão num voo nauseante.



O cara do apartamento 27Onde histórias criam vida. Descubra agora