Placar empatado

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As duas semanas haviam se passado agitadas e em uma velocidade impressionante. Praticamente tudo em minha vida estava um verdadeiro caos. 
Minhas provas eram cada vez mais constantes, e muitas vezes, me faziam dormir debruçada sobre livros e anotações. Mas sei que preciso trilhar esse longo caminho caso queira ser uma estilista de sucesso. Mesmo que a faculdade pareça totalmente determinada a não contribuir em ajuda a minha saúde mental.
Bem, ao menos, Plagg o gato de Adrien tinha decidido voltar para a casa após algumas horas desaparecido. E pareceu bem confuso ao não encontrá-lo em lugar algum, o bichano ficou literalmente arranhando a porta do Agreste e miando em sua frente durante aproximadamente quinze minutos. Até eu me sentir mal pelo felino e decidir o abrigar temporariamente em meu apartamento. E com isso, descobri que o felino era terrivelmente mimado. Plagg passava basicamente todo seu tempo, dormindo, comendo, escalando e derrubando coisas no chão. Gatos, sempre tão temperamentais!
E infelizmente, eu tive que ir ver Adrien no hospital ao menos uma vez por semana, durante todo esse tempo. Como a que estou fazendo agora mesmo. 
Eu, Alya e Nino estávamos nos revezando no horário de visitas para poder ir vê-lo, já que como não éramos familiares não podíamos ficar com ele. 
Basicamente íamos apenas ver como ele estava, conversar e contrabandear comida para o loiro que dizia detestar o gosto da comida de hospital. 
Podia dizer que em minhas visitas, Adrien se divertia mais do que eu, pois ele adorava me tirar do sério. E eu apenas não o agredi por ele não estar em condições de se defender como também pelo o favor de me emprestar o seu carro. Confesso que fiquei surpresa com essa atitude, e com medo de que o carro fosse explodir a qualquer instante. Mas no final aceitei, quer dizer, quem não aceitaria dirigir um carro como o de Adrien? Eu é que não seria essa maluca! 
– Vai mesmo ficar aí encarando o nada, ou vai agir como uma pessoa civilizada e conversar comigo? – Adrien proferiu com tédio.
Eu revirei os olhos e o analisei por completo depois de um longo tempo em silêncio naquele quarto.
E podia garantir que Adrien estava bem melhor do que antes. Seus machucados na testa e lábios já cicatrizavam, assim como os braços que haviam recebido uma enxurrada de cacos de vidros que cortaram a pele, pelo fato de ele ter se protegido com os antebraços. A cabeça dele ainda latejava de vez em quando, devido ao impacto que ela recebeu. Não era nada grave, mas o suficiente para lhe dar uma dor de cabeça e vomitar durante alguns dias.
Contudo, por pura ironia do destino, nem tudo estava a mil maravilhas. Adrien realmente não conseguia andar direito, e não por causa de uma paralisia e sim pela torção de seu tornozelo que se encontrava enfaixado. Parte de mim se sentia culpada, mas a outra estava gargalhando e dançando.
Eu sorri para Adrien, um sorriso debochado que crescia cada vez mais em meus lábios. – Perdoe-me vossa alteza, a senhorita por acaso se sente insatisfeita com meus serviços?
– Quer parar de me chamar assim, por favor?! Foi engraçado nos primeiros dias mas agora já perdeu a graça.
– O que? É claro que não perdeu! – Falei animada e com os olhos brilhando. – Você está até famoso, sabia disso? Seu vídeo já passou das 500 mil visualizações na internet!
– Por favor, me diga que isso é apenas mais uma das suas brincadeiras sem graça, Marinette! – Adrien choramingou como uma criança, e escondeu o rosto nas palmas da mão envergonhado. O que contei como um ponto para mim, já que deixar Adrien rubro era algo raro. Pois é, o placar de hoje estava, Marinette 1 e Adrien 0!
– Estou sendo totalmente verdadeira. Bem ao menos esse era o número da última vez que chequei. Agora deve estar bem maior, afinal não é todo dia que um cara vestido de Elsa totalmente desesperado é arremessado por um carro em alta velocidade. Mas não se preocupe, seu vestido ficou perfeito na filmagem!
– Isso não é bom, nada bom. – Adrien murmurou. 
Ele deixou a cabeça cair contra o travesseiro. E uma expressão de compreensão e desgosto se fez presente em sua face. – Talvez seja por isso que ela não para de me ligar…
Sua fala me despertou curiosidade, Adrien em suma não se comportava de tal jeito. Nunca deixava uma frase no ar e após, permanecia em silêncio, ele simplesmente tagarela demais para isso. Destarte, passei a refletir de quem ele estava falando. Talvez uma mãe ou irmã preocupada, ou quem sabe uma garota que gostasse dele.
Com reluta decidi perguntar quem era essa pessoa, por alguma razão que não entendia eu precisava saber e essa vontade era muito mais forte do que eu. Contudo, assim que abri a boca, a porta se abriu.
Visualizei a imagem de uma enfermeira adentrando o cômodo. Ela aparentava ser bem jovem. E se concentrava nos papéis que segurava antes de nos encarar e sorrir. 
–  Então quer dizer que é verdade, realmente temos uma celebridade hospedada aqui. 
Eu sorri vitoriosa e fitei Adrien de soslaio, é como tinha dito, o vídeo era famoso na internet. E com certeza boa parte da França, senão do mundo o viram. 
Adrien por sua vez sorriu desconcertado e então assentiu vagarosamente. – É, pois é, celebridade, eu mesmo.
A mulher sorriu animada, e parecia que daria pulinhos de alegria a qualquer instante. Os olhos dela cintilavam enquanto fitavam Adrien. A enfermeira séria de poucos minutos atrás parecia uma adolescente se encontrando com seu ídolo.
– Não quero soar estranha, mas poderia me dar um autógrafo? Por favor.
O Agreste se encabulou com a pergunta e pareceu não saber como responder direito. Eu ri levemente, tentando disfarçar ao máximo.
– Vamos lá Adrien, não seja indelicado. Dê um autógrafo para ela. 
O loiro me fuzilou com os olhos, mas concordou comigo no final. E totalmente sem jeito assinou um papel qualquer que a enfermeira tinha lhe dado. E que agora, encarava totalmente extasiada. 
– Muito, muito obrigada mesmo! Eu vou pendurar isso na parede. Ninguém vai acreditar quando eu contar que te conheci!
– Que legal, espero que combine com a decoração.
– É claro que vai! – Ela disse. E observou Adrien admirada por longos segundos. O que me gerou um certo desconforto. Provavelmente nojo, por ver alguém tão feliz perto do Agreste.
A jovem sacudiu a cabeça por fim, e voltou a sua postura séria. – Mas enfim, eu só passei para informar que já pode receber sua alta hospitalar como vem pedindo tanto, basta assinar os papéis. Tem alguém para ajudá-lo no retorno a casa?
Adrien sorriu de lado e me olhou nos olhos, sua expressão facial me causou calafrios, pois sabia exatamente que algo que eu não gostaria de ouvir estava prestes a sair de seus lábios.
– Eu estou olhando para essa pessoa agora mesmo. Ela é minha vizinha e está dirigindo o meu carro, pode me ajudar quando eu quiser.
– Excelente! Vou avisar seu médico responsável. 
E assim, a mulher nos deixou sozinhas antes se quer que eu pudesse retrucar. Eu apenas arregalei meus olhos surpresa, e aos poucos, desta forma, meu cérebro ia processando o acontecimento. 
Fitei Adrien abismada por tamanha esperteza. Era claro que Adrien tinha segundas intenções ao me emprestar o carro! É, realmente Adrien era muito mais inteligente do que ele transparecia ser. 
– Eu não acredito. Você me enganou, isso não vale! 
O Agreste revirou os olhos com divertimento e após encarou-me ladino. – Apenas aceite essa. Nosso placar está 1 a 1 agora, My Little Pony.  
E com essa simples frase e a risada que Adrien me lançou após. Eu soube que estava prestes a viver o maior inferno da minha vida. E pior ainda, iria conhecer o próprio diabo. 

O cara do apartamento 27Onde histórias criam vida. Descubra agora