Ten

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Aquele dia já tinha começado comigo indo parar na diretoria

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Aquele dia já tinha começado comigo indo parar na diretoria. No primeiro maldito dia de aula. E minha mão estava sangrando um pouco depois que eu quebrei o nariz de um imbecil. Keisuke estava do meu lado, visivelmente puto da vida, já se arrependendo de ter se envolvido nas minhas brigas. Eu nem sabia que estavamos estudando na mesma escola, em minha defesa. E ele não precisava ter se metido! Ai que merda. Minha madrinha ia me matar. No primeiro dia de aula eu já estava suspensa por três dias por brigar no corredor. Olha, não foi minha culpa. Eu estava andando tranquilamente pelo corredor quando me puxaram pelo cabelo e eu escutei aquele barulho de tesoura cortando. Cara, sério. Eu fiquei realmente perplexa, principalmente quando me virei e vi um garoto com um pedaço gigante do meu cabelo nas mãos.

Você é a garota que se meteu na briga da Toman contra a Moebius. Se gosta de se meter em coisa de garoto, deveria parecer um então. Foi o que ele disse, com um sorriso de vibora. Meu sangue ferveu. Levei a mão até o bolso da minha saía e arranquei meu canivete de lá. Foi engraçado ver toda a cor sumir do rosto do garoto enquanto eu abria a lâmina afiada e sorria para ele com meu famoso sorriso psicopata.

Você tem razão. Eu disse. E ai cortei o resto do cabelo. É, eu já tinha me arrependido dessa decisão, meu cabelo ficou uma merda! Ficou curto, logo acima do queixo, e todo picotado. E ai, quando acabei meu show, simplesmente guardei meu canivete e dei um murro na boca daquele filho da puta. Não sou de me gabar nem nada, mas foi um soco gostoso e lindo.

Os amigos dele não ficaram lá muito felizes, porque vieram para cima de mim. Eram três contra uma, e, sim, um número desigual do caralho. O corredor já tinha lotado de gente para assistir, claro, porque ninguém ia me ajudar nessa. Bom, pelo menos eu achava que não, porque Keisuke surgiu do além chutando com força o estômago do que tinha erguido o punho para me socar. Repito: eu nem sabia que ele estudava aqui, então imagine meu choque. Ele me olhou meio perplexo e fez uma careta quando viu meu cabelo todo cagado.

O que você fez? Ele perguntou e eu bufei. Como se a culpa tivesse sido minha!

Eu? O cara cortou meu cabelo, Keisuke! Eu retruquei. E também não precisei falar mais nada, porque ele socou os três até ficarem chorando no chão. Na verdade, até o diretor aparecer e mandar todo mundo para diretoria. Agora, estava sentada ao lado de Keisuke, esperando minha madrinha vir me buscar. Já que eu tinha sido suspensa. Ele estava balançando a perna impaciente, provavelmente puto da vida comigo.

-Se era pra você ficar assim, babaca, era melhor nem ter se metido.- eu disse irritada e ele me olhou com deboche.

-Você vive se metendo em merda e dando show, Akemi.- ele disse. Me virei para ele, perplexa.

-Hum, oi? Qual a sua moral, Baji?- eu disse. -Tudo o que você pensa é em socar pessoas! E eu não fiz nada de errado, você acha justo o cara chegar e cortar meu cabelo assim? Olha isso, ficou uma merda!- eu disse, a voz embargada. Ele parou de se mexer e me olhou.

-Calma, não precisa ficar assim também.- ele disse com uma careta, meio preocupado. Eu caí na gargalhada e ele me olhou feio. -Seu cabelo ficou uma bosta. Tá feio pra caralho.

-Ah, vai se fuder.- eu disse dando um empurrão nele. -Seu cabelo também é uma merda!

-Não, não é.

-É, não é. - eu bufei, contrariada. Tinha que arranjar outra coisa para retrucar, porque aquela não ia colar. Ficamos em um silêncio constrangedor novamente. Fiquei mexendo na barra da minha saía. -Vai me evitar pra sempre?

-Eu tô te evitando por acaso?- ele perguntou com deboche. Eu suspirei e olhei para o teto.

-Tá me tratando que nem bosta.- eu murmurei. Keisuke me olhou e deu uma risada sarcástica.

-Como se você tivesse moral de me falar isso, né, Akemi.

-Que inferno, Keisuke!- eu disse irritada, me levantando. -Eu te pedi desculpas, beleza? Isso fazem anos! Eu era imatura e eu etava com medo e assustada, magoada e perdida. Kazutora foi preso, você queria o que, que eu tivesse soltado fogos de artifício? Você nunca me escuta, nenhum dos dois me escutava! Como você acha que eu me senti? Eu estava perdida, Keisuke. O que eu disse pra você não foi justo, mas já pedi desculpas milhares de vezes. Vai me ignorar para sempre? Problema seu, eu caguei!

Keisuke me olhou perplexo, como se fossemos novamente duas crianças de doze anos. Bem, ele estava agindo como uma! Quer saber, eu não me importava, não mesmo. Que ele faça o que quiser e bem entender, não dou a mínima. Ele se levantou também, vindo até mim. Era meio merda, quando éramos mais novos ele não era tão mais alto que eu, mas agora, eu tinha que levantar a cabeça para olhar nos olhos dele. Extremamente irritante. Estar perto assim dele era muito desconfortável. Me fazia querer beijar ele de novo e, ao mesmo tempo, socar a cara dele por ser um imbecil.

-Olha, Akemi...

-Akemi.- uma voz chamou e eu me virei. Minha madrinha estava ali, me olhando com irritação. Olha, minha situação com Baji estava uma merda, mas eu cogitei mesmo me esconder atrás dele. Ela parecia que ia soltar fogo. Era minha morte.

Meio a contra gosto, fui me arrastando na direção dela, olhando para o chão. Ela ofegou quando percebeu que meu cabelo tava uma bela bosta.

-Que merda é essa, o que você fez com seu cabelo?- ela quase gritou, tocando com delicadeza nas mechas cagadas. -Por Deus. Tá horroroso!

Keisuke começou a rir e minhas narinas se inflaram de ódio. Maldito, filha da puta!

-Foi um idiota! Cortou meu cabelo. Ai eu soquei ele.- eu disse. Ela suspirou.

-Pelo menos socou ele direito, né? - ela disse e eu assenti. -Vamos. Vou te levar em algum lugar para dar um jeito nessa merda ai. Tchau, Keisuke. Pare de se meter em encrencas, você também!

Eu nem olhei para Keisuke antes se seguir minha madrinha. Desde que meu irmão... Bem, foi preso, ela era minha responsável legal. Tinha me ajudado a me mudar quando eu pedi. Eu preferia não lembrar muito dos meus pais. Eles também não davam a mínima, então não seria eu a me importar. E, sinceramente, minha família era toda cagada. Eu não gostava muito de falar sobre meus pais.

No fim das contas, o cabelereiro conseguiu dar um jeito do meu cabelo. Ficou curto, mas ficou bonito. Pelo menos eu não estava mais parecendo uma galinha depenada. Eu só me meto em merda, é impressionante! Estava voltando para casa com minha madrinha, ela me dizendo que eu ficaria de castigo para o resto da vida, quando Mikey me ligou. E ai, claro, eu comecei a arquitetar minha fuga de casa. Porque eu tinha coisas mais interessantes pra fazer.

 Porque eu tinha coisas mais interessantes pra fazer

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Data: 06/08/21

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