CAP 31 - SOZINHA

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VISÃO: Amanda

DIMENSÃO A2B7

SOZINHA

Nós tínhamos acabado de entrar no trem e a primeira coisa que eu percebi foi uma canção. Era calma e relaxante, quase como se estivesse ali para fazer os passageiros dormirem tranquilamente durante a longa viagem. Me sentei e logo fiquei curiosa sobre as pessoas estranhas ao nosso redor, mas esqueci disso quando o trem começou a se mover. Toda aquela emoção foi demais para mim e eu automaticamente me aconcheguei no ombro da Gi e dormi. Acordei ligeiramente tonta, mas me senti muito bem descansada. Olhei ao redor e não havia ninguém perto de mim.

- Olá? Gi? Silas? Cadê vocês? - perguntei pro trem abandonado, mas nada nem ninguém me respondeu.

Chequei se minha mochila estava comigo, mas não a vi em lugar algum. Meu celular estava no bolso, sem bateria, e eu não me lembrava de ter pego nenhum mapa comigo. 

"Merda. É claro que isso tinha que acontecer. Estúpida ideia de entrar em um trem estranho" pensei comigo mesma, enquanto olhava ao redor para achar uma saída. 

O trem era o mesmo de antes: bancos aconchegantes de couro, luminárias no teto e as duas portas do lado ao outro do corredor e mais a porta de entrada e saída dos passageiros fechada.

- Ótimo. Acho que eu vou ter que sair daqui se quiser saber onde estou - digo, suspirando. Tento abrir a porta do trem e, após três tentativas, finalmente consigo.

Estou em uma estação, parecida com a que embarcamos, mas ela está deserta e cercada por campos e mais campos.

"Legal, além de perdida eu estou em uma área rural sem ninguém à minha volta" penso "Fico imaginando o que pode ter acontecido... Teletransporte? Ou eu mudei de dimensão?" 

Coloco as mãos nos olhos, me protegendo do sol, e tento enxergar para onde a estrada de terra batida em frente a estação vai me levar. Do lado direito em linha reta consigo ver uma fazenda de morangos.

- Para a fazenda de morangos então! - digo, me encaminhando para lá.

A estrada não era tão longa e logo eu havia chego na fazenda. Quando cheguei perto da plantação descobri que estava com muita fome e que os morangos, uma fruta que eu só tinha ouvido falar, eram ótimos. Peguei um bom punhado e fui comendo enquanto fazia uma varredura do local. O terreno era relativamente grande, com cercados de vacas e ovelhas de um lado, a plantação de outro e um celeiro e uma casa no meio. Ao redor havia um longo e denso bosque que, eu decido, pode me manter em segurança caso eu tenha que fugir de algo ou alguém. Ando até uma árvore próxima da plantação e estou quase me sentando quando algo me chama a atenção: escondido entre os arbustos há um alçapão. Olho em volta e não vejo ninguém, então decido abrir e descer.

- Eu realmente espero que dessa vez não seja uma má ideia - digo, enquanto fecho o alçapão sob minha cabeça.

Era um corredor relativamente escuro e longo, a escada de ferro estava fria ao toque e eu estava começando a ficar com medo, mas a curiosidade sempre me vence. Pulo ao final da escada e me vejo em uma espécie de porão. É uma sala sem janelas, com estantes cobrindo as paredes por ambos os lados e uma mesa no centro, com 16 cadeiras ao redor. Me aproximo da mesa, esperando ver algo de útil. Péssima ideia. Parece uma linha de montagem de máscaras inacabada: os moldes de ferro estão meio cobertos por algo que parece ser pele de animal fresca. Me afasto enojada e acabo esbarrando em uma prateleira, que derruba uma máscara pronta aos meus pés. É a mesma máscara do trem e a mesma máscara dos homens que atiraram em mim na prisão. Olho ao redor ainda mais atenta a ruídos e passos, mas não tem ninguém junto comigo. Procuro algo de útil que possa me ajudar nesse lugar e acabo encontrando uma pistola, cartuchos, uma mochila e um pouco de comida enlatada. A mochila estava com objetos estranhos dentro, que eu tirei sem olhar muito atentamente. Pronto. Agora posso voltar. Olho ao redor mais uma vez e começo a subir as escadas, mas sinto que tem algo me observando. O espaço pequeno é minúsculo e está ainda mais escuro do que na subida, começo a ter dificuldade de respirar e fica cada vez mais difícil subir as escadas. Eu só quero sair correndo desse lugar o mais rápido possível. Abro o alçapão de supetão e me jogo na grama de lado, tentando não vomitar. Nunca tinha parado pra pensar que poderia ter claustrofobia, mas parando pra pensar, eu nunca fiquei em um lugar realmente apertado até hoje. Deito de barriga pra cima e percebo que, em vez de encarar o pôr do sol, estou vendo a lua e as estrelas. Eu passei muito tempo lá embaixo. Me acalmo e estou começando a sentar quando escuto as vozes, elas são como sussurros, mas rápidos demais para que eu consiga entender algo. Eu lembro quando escutei isso: no trem. Eu não falei nada na hora mas, enquanto a Gi estava vendo sombras, eu estava escutando elas falarem. Era um sussurro interminável e agonizante, cheio de falas de dor, morte e sofrimento. Parando pra pensar, porque eu entrei no trem? Me escondi nos arbustos dentro da floresta e observei melhor: era um grupo de pessoas de capuzes e com as máscaras que eu havia visto mais cedo, todas estavam segurando tochas e pareciam irritadas por algum motivo.

"O guardião...Pagar...Tem que pagar..." - uma das vozes diz e as outras ecoam sua fala.

Vou para trás com cuidado, mas acabo pisando em um galho. Merda. Todas as cabeças se viraram em minha direção e eu escuto os dentes rangendo e os sussurros ficarem mais altos. Começo a correr como nunca corri antes. A mata passava como um borrão para mim. Eu estava pulando pedras e raízes, sendo cortada pelas árvores e meu corpo desejava morrer, mas os Sussurrantes estavam atrás de mim, quase tão rápidos quanto eu. Começo a escutar o barulho de água corrente e mudo minha direção para lá. Chego na orla da floresta e paro por um momento, observando o rio correr com toda força. Respiro fundo e entro na água gelada, atravessando-o. Não olho para trás, só volto a correr e logo não consigo mais escutar os chiados. Vou diminuindo meu ritmo até parar. Meus pulmões doem como se fogo líquido estivesse neles em vez de ar e minhas pernas viraram gelatina. Me apoio em uma árvore para descansar e vejo que estou perdida. De novo. As coisas que eu peguei estão intactas e, quando meu corpo se recupera quase totalmente, subo em uma árvore para comer morangos e dormir um pouco.

- Boa noite Gi. Boa noite Silas. Espero que vocês estejam bem - digo em voz alta, olhando para a lua e desejando que todos estivessem seguros aonde quer que estivessem.

Os três mundos {(Livro 1)}Onde histórias criam vida. Descubra agora