CAP 01- LONGE DE CASA

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CAP 01 LONGE DE CASA                                                                                                                                    DIMENSÃO A2B7                                                                                                                                                                    JANE

" Só valorizamos as pessoas que nos amam quando a perdemos "

Eu sou a Jane. Moro com meu pai e minha tia, e estou tendo os piores dias da minha vida desde que minha mãe morreu. Eu... Não gosto de lembrar deste dia em específico, por isso não falo muito dele. Espero que ela esteja em um lugar melhor, tanto por ela ser muito especial pra mim e alegrar todos os meus dias, quanto por ela ser a mulher que me deu a vida. Agora parece que tudo ficou pior, o mundo não tem mais cor e toda vez que olho uma foto dela, sinto uma coisa muito estranha, como se ela estivesse comigo, só que não aqui. Aos quinze anos fui diagnosticada com depressão, o que não foi uma surpresa, já que aquele vazio que me invadia desde os quatorze não era normal, e eu... também sabia os sintomas. 

Eu havia acabado de jantar um dos meus pratos preferidos. Macarrão da tia Vanda. Uma mulher de vinte e seis anos que nunca precisou de um homem para deixar sua vida mais fácil. Ela também é a irmã mais nova do meu pai. Vanda ficou conosco, nos acolhendo em sua casa, cuidando de mim, tentando nos animar e sempre cozinhando os melhores pratos, já que meu pai não sabia nem fazer um café da manhã e se eu fosse pra cozinha talvez tacasse fogo em tudo sem querer. Acabando de comer disse:

- Tia?

- Sim querida? - Ela levantou os olhos do prato de macarrão

- Eu...Posso ir pro meu quarto? Já acabei de comer, estava muito bom. - Disse, já levantando

- Claro, deixa que quando seu pai chegar ele lava a louça. Quero que faça um favorzinho para mim, ok? Arrume seu quarto Jane, aquele lugar está uma zona! - exclamou ela, olhando em meus olhos.

- Tudo bem tia... - disse dando um sorriso amarelo, meu quarto realmente estava uma bagunça, então concordei apesar de odiar a ideia.

Subi e comecei a arrumá-lo. Acho que a tia Vanda tinha razão, já estava na hora. A última vez que arrumei foi há quase um ano atrás e o quarto estava um completo desastre. Roupas no chão, papéis amassados, material escolar... Sei lá, limpar quartos pode até ser terapêutico para algumas pessoas, mas para mim dá dor de cabeça, e em meio a crises de depressão tudo que eu menos queria era uma enxaqueca. Enquanto arrumava, achei o bracelete que minha mãe me deu de aniversário de quatorze anos, deixei ele em cima da mesa. Depois de quase duas horas arrumando, o quarto já estava quase limpo. Fui fazer minhas tarefas, só para não ficar atrasada quando eu for à escola amanhã. Um dia quase normal. Após terminar, fui ver meu celular. Uma das mensagens era da minha melhor amiga Ana, ela estava me convidando para dormir em sua casa. Como estava num dia bom, resolvi aceitar o convite e fui arrumar a minha mochila para ir até a casa dela... Ou quem sabe... Se existisse um prêmio para ideias malucas inventadas de última hora eu com certeza ganharia. Por que não morar com ela? O tratamento estava fazendo cada vez mais efeito, então já estava praticamente curada da depressão, mas mesmo assim minha tia não me deixava ser... Normal? Queria fugir desse tédio infinito, então mandei uma mensagem pra Ana:

Chat online

 Ana: Oi Jane                                                                                                                                                                     Ana: Como vc tá?                                                                                                                                                          Ana: Quer vir aq em casa passar a noite?                                                                                                                    Ana: Já jantou?

Oi Ana :Jane

To levando a vida sabe? :Jane

Aha, pq n? :Jane

Já jantei ss :Jane

Huumm... Se eu te falasse uma coisa bem doida, será que vc toparia? :Jane

Ana: Claro! Amiga é pra essas coisas

Será q tua mãe deixaria eu morar com vc? :Jane

Ana: Mds!! Óbvio q ss, ela te adora

Ok, vo arruma minhas coisas e chego ai em 30 min :Jane

Depois de falar com ela fiquei uns segundos pensando na minha decisão. Estava tão feliz! Esse sentimento que me invadia era como um velho amigo que há muito tempo não encontrava. Correndo pelo quarto peguei o máximo de roupas possível, meu fone de ouvido (que eu não vivia sem), meu celular e o meu bracelete, esse colocando no pulso pra não danificar no meio da correria. Abri a porta devagarinho com a mochila nas costas e o tênis na mão, então desci as escadas de pé em pé para minha tia não me escutar. Ela estava na cozinha fazendo cupcakes e escutando seu rádio, cantarolando músicas antigas. Iria sentir saudades dela, mas não muita, já que poderia visitá-la sempre que possível. Quando ela não estava olhando, peguei cinco cupcakes pra levar pra família da Ana e comer um durante a caminhada, e deixei um bilhete na mesa da cozinha explicando minha situação. Então sai correndo noite adentro sentindo a liberdade de fugir de casa. Acho que todos algum dia deveriam sentir essa sensação de êxtase. Quando olhei pro céu percebi algo errado, estava mais nublado que o normal, e o único som presente era o crocitar dos corvos, inundando o fim de tarde. Atravessando a cidade percebi que não era só a noite inexplicavelmente escura e silenciosa, ou até mesmo os corvos aos montes que eu estava estranhando quando saí de casa. A cidade inteira estava vazia, sem nenhuma pessoa ou carro a vista. Não passava das sete (eu e minha tia comemos cedo), e esse era o horário do pico, onde todo mundo saia do trabalho e buscava seus filhos. Isso não era normal. O desespero começou a me invadir e sai correndo, esquecendo para onde estava indo, mas tudo estava diferente. Sem cor... sem som .... sem nada! Eu grito pro vento, que começa a soprar cada vez mais forte:

- O que aconteceu? - berro, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto - Onde estou? Isso é um sonho?

Quando percebi, estava correndo de volta pra casa, o medo me invadindo. "E se algo aconteceu com meu pai? E com minha tia? Eu não deveria ter saído de casa!" Algo... Ou alguém se aproximou de mim e sussurrou em meu ouvido:

- Não era isso que você queria? Ficar longe deles? - A voz era sombria, pesada e fria.

Me arrepiou dos pés à cabeça. O suspiro quente no meu pescoço frio. Me virei para olhar quem ou o que tinha feito aquilo comigo, mas não havia nada atrás de mim... Senti meu corpo me traindo e me trazendo pra baixo, minha cabeça batendo no asfalto da rua.

Desmaiei.

Os três mundos {(Livro 1)}Onde histórias criam vida. Descubra agora