CAP 17 -A CARTA

19 6 3
                                    

CAP 17 - A CARTA

VISÃO: EDUARD

Acordei desesperado e assustado no meio da floresta, com uma Jane brava tentando me acordar. Quando viu que eu tinha recobrado a consciência, ela fechou ainda mais a cara e começou a me bater. Com força.

- Você - tapa

- Ai! - esquivei pra direita

- É - tapa

- Ouch! - esquivo pra esquerda

- Um - tapa

- Aiai! - rolei pra direita

- Idiota! - tapa

- Ei! - finalmente consigo me levantar.

Eu a olho com raiva contida e ela me olha de volta, com os olhos inchados e vermelhos, então percebo que ela esteve chorando. Ajoelho ao seu lado e a abraço sem jeito, perguntando o que aconteceu.

- Eu me lembro de estar carregando Olivia e da pousada e então da explosão... E branco, de mais nada. O que houve? - passo minha mão em sua bochecha, secando suas lágrimas. Ela se retesa, mas logo inclina seu rosto de encontro com a minha mão com um sorriso fraco.

- Olha, o que aconteceu é que logo após nós termos entrado naquela pousada abandonada no meio da noite, você teve um colapso e quase derrubou Olivia, que por milagre estava acordada. A única explosão foi a da sua cabeça batendo no chão. - ela me cutuca no rosto - Imbecil - murmura - Me deixou preocupada.

- Que estranho... - sussurro baixinho, para que ela não me ouça. O rosto da minha mãe ainda está tão vívido em minha mente... Mas posso só ter tido uma ilusão decorrente da concussão.

Abraço Jane e ela respira aliviada. Olho ao redor e me dou conta que estamos de volta à floresta, e que, pior, estamos perto da casa de Ben. Me levanto apressado, puxando Jane junto comigo e a agarro pelos ombros.

- Jane! Temos que ir embora! Estamos perto da casa do Ben! Ficou doida? Cadê a Olivia? Temos que ir! - falo alto e apressado, sacudindo-a, ela se desvencilha irritada.

- Pode parar de ser paranoico? Liv nos trouxe pra cá - falou Jane despreocupada - Ela está bem ok? Já está quase andando sozinha e carrega uma mochila sempre que pode. Pra sua informação, estamos a quase um dia inteiro andando e te carregando, e eu acho que tive que dar um desconto pra nossa amiga sem perna e trazer ela aqui.

- Okok, mas porque aqui? - pergunto, pensando se elas não enlouqueceram

- Ela teve uma sensação esquisita que eu não consigo entender muito bem, mas se quiser perguntar, ela tá logo naquela árvore - Jane aponta para a árvore logo atrás da gente.

Solto-a e vou em direção a Oli, que está sentada com os olhos fechados, concentrada. Coloco minha mão em seu ombro e ela abre os olhos, sem se assustar.

- Olha só quem acordou... Dormiu bem Bela Adormecida? - ela sorri - Eu escutei a conversa dos dois. Jane acha que estou louca... E parece que você também - ela acrescenta após ver minha cara. Suspirando, Liv continua - Mas tive uma sensação que tínhamos que estar aqui hoje, mais precisamente depois que o sol se pôr. Então como uma boa amiga, ela me trouxe até aqui e estamos só esperando alguns segundos, porque eu também sabia que você logo ia acordar - levanto a cabeça ao escutar um grito, claramente de dor. Oli vira a cabeça na direção da casa, que percebendo agora, está bem mais perto do que pensei estar antes, ela dá um sorriso cansado - Já começou... - murmura baixinho

- O que? - pergunto, pois não consegui escutar

- Nada, pedi para me ajudar a me levantar - ela disse estendendo a mão

Depois de um tempo, com o acampamento levantado, vamos caminhando nervosos em direção a casa, que agora parece um farol no meio da floresta. Todas as luzes, sem exceção estão acesas e uma música antiga de rádio absurdamente alta está tocando. Nos entreolhamos, dando de ombros e vamos até a janela espiar. Ninguém parece estar em casa, então Oli vai até um vaso na porta e retira uma chave reserva de lá, abrindo a porta com cuidado. "Como será que ela sabe dessas coisas?" me pergunto "Só ficamos alguns dias na casa..". Dando de ombros, sigo por último e tento escutar algo que não seja a música clássica que agora está tocando, passa algum tempo, mas por fim escuto um gemido abafado vindo do porão. Sinalizo para Jane pegar seu taco e se preparar, ela assente, e para Olivia se sentar em um sofá e esperar, o que ela veemente discorda. Então, revirando os olhos, abro o alçapão e desço as escadas com cuidado. O porão mudou totalmente, a caixa de fósforos parecia ser só o primeiro andar da grande estrutura que é o porão embaixo da casa. Descemos as escadas em fila indiana calmamente até o segundo andar, que parece um escritório de Ben, sinto a respiração de Jane ficar mais acelerada atrás de mim e Oli resmungar baixinho coisas sem sentido. Todos estamos vendo Benjamin. Ou o que costumava ser ele. O antigo garoto bonito e charmoso de olhos encantadores tinha dado lugar a um monstro enrugado e encaroçado, cheio de buracos com pele faltando. Ele estava sentado em uma mesinha, cercado de nada, escrevendo com dificuldade, quanto mais ele escrevia, mais ele perdia pele e mais ele fraquejava. A música alta que vinha do rádio ao seus pés acobertava seus gemidos roucos e escondeu também seu último suspiro, quando ele sucumbiu na cadeira e caiu no chão diante de nossos olhos. Depois de algum tempo me recuperando do choque, me aproximei da mesa e desliguei o rádio, coloquei minha mão no pescoço em carne viva de Ben, procurando pulsação. Nada. Fechei seus olhos, logo pegando o papel em que ele escrevia. Era uma carta. Me virando, chamei Jane e Olivia para perto, elas desceram, ainda confusas sobre o que tinha acabado de acontecer. Olivia estava mais abalada do que Jane, ainda olhando o corpo inerte de Ben quando comecei a ler a carta em voz alta.

"Aos meus queridos filhos,

Venho por intermédio de Benjamin Christopher deixar uma mensagem:

Sei que não estão tendo os melhores dias das suas vidas, mas não podem desistir. Vocês não devem estar entendendo nada, e assim deve continuar. Eu só quero dizer duas coisas: Nenhum de vocês não deveria estar vivo ou sequer mesmo existir, e vão descobrir poderes se manifestando em vocês, então tomem cuidado. A partir de agora, vocês vão ser caçados. Mais ainda, já que eles descobriram tudo. Não tenho tempo para explicar, já que este hospedeiro é fraco e já vai sucumbir, mas procurem sua mãe, ela vai explicar tudo.

De: Pai

Para: Eduard, Giovana, Jane, Silas , Amanda e Olívia"

Os três mundos {(Livro 1)}Onde histórias criam vida. Descubra agora