CAP 05- PERDIDO

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CAP 05 PERDIDO                                                                                                                                                                VISÃO: EDUARD

Quando nos separamos e eu fui pro leste eu não sabia que eu ia me perder. Se não, nunca teria concordado com esse plano, preferia minha guerra imaginária. Eu entrei na floresta e logo ela deu lugar a um labirinto. Não aquele com sebes altas que normalmente vimos em filmes americanos tipo "O Iluminado", era realmente um labirinto de árvores. Eu odiava trilhas. Meus pais me forçaram a fazer todos os fins de semana quando eu era pequeno, e eu realmente não gostava. O mato, os bichos, o cansaço... Aaaaaa, era tudo tão exaustante. Quando não sabia mais o que fazer comecei a montar um esquema: uma árvore grande pra direita, uma árvore grande pra esquerda, uma pra direita, outra pra esquerda... É, não sei como não enlouqueci em duas horas de caminhada. Quanto mais andava, mais cansava. Mas chegou um tempo em que os caminhos se abriram em três, então foi só seguir toda vida reto. Consegui chegar em um intervalo na floresta, onde mais pra frente eu avistava trilhos de trem. "Por que não seguir eles?" pensei "Vai que encontro algo interessante? Ou... Na pior das hipóteses, posso ser atropelado por um trem interdimensional". Fiquei brincando um pouco nos trilhos, seguindo-os pé ante pé, me equilibrando. Até que cansei e decidi voltar, já que não havia nada melhor pra fazer e as meninas deviam estar preocupadas. Olhei pra floresta, que parecia não ter gostado da minha presença em suas adoráveis trilhas e havia decidido se fechar para eu não conseguir entrar novamente, e exclamei bem alto, como um louco:

- Vai se ferrar! Eu odeeeeeio trilhas! Mas como não tem outro jeito, será que pode me abrir uma passagem? POR FAVOR? - gritei ainda mais alto.

Claramente, a floresta não me obedeceu e tive que andar por uma mata ainda mais fechada. Esperava apenas que estivesse vivo quando chegasse ao ponto de encontro. Já havia anoitecido e eu ainda estava naquela maldita floresta. A única coisa que eu pensava era se as meninas tiveram o mesmo azar que eu. Não conseguia mais andar e estava ofegante, nunca tinha feito tanto exercício em toda a minha vida. Estava me segurando em árvores quando cheguei em uma pequena clareira, havia uma cabana de madeira no meio dela. Dei graças a Deus e usei minhas últimas forças para sair correndo e bater na porta, esperando por ajuda e um pouco de comida. Bati uma vez e esperei. Ninguém atendeu. "Ótimo" pensei "Estão todos dormindo. Bom, que pena pra eles porque eu estou morrendo, então tenho alguns privilégios" Então bato de novo uma segunda e terceira vez até chegar à conclusão que estou fazendo papel de bobo. "Se Jane estivesse aqui provavelmente teria me dado um belo tapa." penso comigo mesmo "Falando em Jane..." Dou um encontrão com a porta, que se abre com um estrondo. A casa está uma bagunça, papéis jogados no chão, móveis revirados, louças quebradas.. Uma verdadeira zona. "Quem quer que estivesse morando aqui deve ter sido levado a força" penso, revirando alguns papéis no chão. Certas palavras são destacadas em minha mente: dimensões, realidades, prisioneiros, organizações, viagens interdimensionais...

- A pessoa que estivesse nesta cabana provavelmente estava metida em algum esquema que tem a ver com o que estamos passando - penso alto - É melhor levar essas anotações... E pegar uma ou duas comidas que não estejam estragadas... Eu to morrendo de fome.

Fiz uma rápida refeição de barras de cereais, peguei uma espingarda para proteção(Graças ao Céus meu pai me ensinou a atirar quando moleque) e coloquei alguns suprimentos junto com as anotações. Abri a porta e senti um arrepio na espinha. Me virei pra trás, mas não havia nada nem ninguém lá. Quando me virei para a frente de novo o ar me escapou dos pulmões e nunca senti tanto medo em toda a minha existência quanto naquele momento. Dez pessoas ou talvez mais estavam do lado de fora da cabana, espalhadas por toda a clareira. Elas sussurravam meu nome e me encaravam por debaixo das máscaras. Essas eram as piores. O acessório era branco e encobria toda a cara. A boca era curvada para baixo, mas eu sentia que por debaixo os monstros sorriam. Os olhos... Com certeza vou ter pesadelos com isso. Eles sangravam sem parar, escorrendo pelas bochechas brancas. A túnica preta e as placas macabras que eles traziam na mão com os dizeres "Você não sairá vivo", "Iremos te matar" e "Você nunca sairá daqui" completavam o visual dos não-humanos mascarados. Eles se aproximavam e falavam cada vez mais e mais alto meu nome. Entrei na cabana de novo, empurrando uma cadeira qualquer na porta e largando a espingarda em cima da mesa, só pegando minha mochila, e me escondi no porão. Quem em sã consciência se esconde num porão no meio de um ataque de criaturas malignas? Aé, eu. Mas foi exatamente isso que me salvou. Tateei em busca de algo que pudesse me ajudar a sobreviver e achei um alçapão, que me levava a parte de trás da casa, na orla da floresta. E então corri, como se minha vida dependesse disso, e dependia mesmo. Corri sem rumo e sem direção. Corri tanto que meus pulmões e pernas, já debilitados depois de um longo dia de caminhada, pareciam que iam desmanchar. E então vi ela. Parecia ter saído de um sonho depois de todas aquelas pessoas horripilantes. Jane estava sentada, perto de uma fogueira, com ar de preocupada. A luz laranja iluminava seu rosto e seu cabelo. Ela estava olhando para a frente, como se estivesse procurando algo. E então ela virou a cabeça em minha direção e seus olhos brilharam, ela se levantou e correu até mim.

- Eduard! Meu Deus, que bom que você está bem... Estava tão preocupada, você e a Liv não chegavam, eu não sabia o que fazer... - ela falou me abraçando.

Eu não conseguia falar mas abracei ela também, seu cabelo fazia cócegas no meu queixo e seu corpo era pequeno em comparação ao meu. Uma sensação boa me invadiu, naquele abraço me senti seguro e acolhido. Me permiti relaxar por alguns segundos, antes de ela se desvencilhar de mim, dizendo:

- Eca, você tá fedendo! E porque está ofegante assim? Você veio correndo? Está branco, parece que viu fantasma.

Eeee o momento especial havia acabado. Interrompi ela dizendo ofegante:

- Jane... E-eu... Não tenho tempo... De.. Explicar agora... Caras do mal... Atrás de mim...Achar.. Oli..Via... Agora! - disse segurando a mão dela e começando a correr

- Espera! Eu tenho que pegar minha mochila! - ela volta, pega a mochila e segura minha mão - Vamos achar a Oli e fugir desses caras do mal... - nisso escutamos barulhos de galho quebrando atrás de nós - É agora ou nunca!

Então corremos a todo vapor para o sul, que agora de noite, parecia ser o mais sombrio a se seguir.

Os três mundos {(Livro 1)}Onde histórias criam vida. Descubra agora