CAP 24 - UM PROBLEMA

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CAP 24 - UM PROBLEMA / VISÃO: AMANDA

Eu estava no banco da frente e Gi estava com a mala no branco de trás, Silas estava dirigindo de forma tensa, ninguém sabia o que tinha acontecido e ele não havia tocado no assunto o tempo todo em que estávamos viajando. O carro desacelerou e parou no acostamento.

- Olha... Eu não sei o que eu fiz ali ok? - disse Silas, de cabeça baixa, claramente abalado - Eu nunca tinha feito isso antes e isso nunca tinha acontecido... Merda! Vocês viram os olhos do homem? Ele virou um zumbi!

- Silas... Eu também não sei o que aconteceu com você, mas se serve de consolo, tem vezes que eu acordo em lugares estranhos e... - começou Gi

- Você está tentando comparar seu sonambulismo com o que acabou de acontecer? - ele se vira para trás, claramente furioso com a ideia. Dou um tapa forte em seu braço.

- Silas! Que jeito é esse de falar com ela? - eu digo, irritada. Ele se vira e me encara, cético - Só a escute, por favor.

- Como eu ia dizendo, eu sei que pode parecer sonambulismo, mas eu já fiz testes com isso, ok? Me tranquei em um quarto sozinha, pedi que me amarrassem... Nada dá certo. Eu sempre acordo fora da cama. Esses dias, depois do passeio, foi a primeira vez em toda a minha vida que eu acordei na minha cama e desde então não tem acontecido nada - ela diz com cara de brava - Eu nunca contei isso pra ninguém... Mas sei que tem algo estranho comigo. - ela termina se jogando contra o banco de trás e olhando para a janela, irritada com Silas.

- Então... - eu disse, me lembrando de uma coisa - Quando te encontrei no jardim...

- Sim, foi por causa disso. Eu acordei no jardim. - ela olhou para mim, suavizando a expressão - Obrigada por ter me ajudado a entrar falando nisso.

- Então... Temos poderes? - perguntou Silas, tentando se desculpar - Você se teletransporta e eu controlo pessoas?

- Não sei...- Gi se virou para ele, com o começo de um sorriso nos lábios - Tem algo de estranho com nós, só isso.

Sorri internamente. Eles formavam uma boa dupla quando não tentavam arrancar a cabeça um do outro. Apesar da história dos poderes ser ainda um pouco absurda de acreditar.

- Silas, você tá com sono? Quer que eu dirija? - perguntei, colocando a mão em seu ombro e mudando de assunto sobre poderes - Ou quer ficar aqui e todo mundo descansa?

- Não, deixa que eu dirijo. Se eu ficar com sono eu paro em um lugar, pode deixar que eu paro o carro. E Gi?

- Sim? - ela disse, colocando a cabeça no vão dos bancos

- Coloca as malas na frente e a Amanda vai atrás contigo, assim vocês ficam mais confortáveis - ele disse, olhando para a frente, mas eu vi seu sorriso de lado. Idiota.

Só ele no orfanato inteiro sabia que eu era lésbica, obviamente. Mas ele nunca tinha bancado o cupido. Corei, será que ele sabia de algo que eu ainda não tinha percebido? Decidi dar um beliscão nele enquanto Gi estava fora do carro para que ela não percebesse e mudei de lugar. No final estava tão cansada que, quando o carro começou a andar, eu adormeci rapidamente. No ombro da Gi. Espero que ela não tenha ficado incomodada. Mas infelizmente, acordei com Gi me empurrando com força pra baixo, Silas murmurando algumas palavras nada bonitas e o som de tiros ecoando ao nosso redor.

- Gi? - murmurei em seu ouvido, com os olhos fechados em agonia - O que diabos está acontecendo?

- Tiroteio. Acabou de começar - ela murmurou no meu ouvido - Silas parou aqui pra descansar e acordou com barulho de passos na mata, me acordou e dois minutos depois os tiros começaram. Agora... fica quieta por favor.

Concordei e fiquei quieta até o barulho cessar, ainda de olhos fechados. Senti Gi chegar mais perto de mim e me abraçar com força. Escutei vozes se aproximando do carro e me forcei a escutar mesmo com o coração pulsando em meu ouvido.

- Será que pegamos o urso, Camila? - disse a primeira voz, a de um homem velho

- Que urso o quê Arthur! Era um carro, certeza! - disse a segunda voz, a de uma senhora - Vamos pegar os invasores!

Eles se aproximaram do carro rondando-o, estavam com as espingardas a postos, apontando para a janela, atentos ao menor sinal de movimentação. Escutei Silas praguejar o nome dos dois e abrir a porta devagar, saindo com as mãos para cima.

- Quem és tu rapazinho? - perguntou Camila - E por que entrastes em nosso terreno?

- Perdão senhora. Eu estou com minha irmã e minha prima no carro. Estávamos viajando e a gasolina acabou, então vi o portão aberto e entrei para não ficar na estrada. Queira me desculpar, não sabia que era seu terreno - ele disse, sem tremer uma única vez

Devo admitir, ele era bom nisso. Até eu acreditei nele. Decidi sair do carro também, para confirmar sua história.

- Desculpa senhora. Senhor. - eu disse, abaixando a cabeça de forma educada. Gi também desceu e fez o mesmo.

- Ora Cam, esses garoto são educado. Eles tão meio assustado também, tomaram tiro por nada. - disse Arthur - Vamo leva eles pra casa.

- Tadinhos... Desculpa pelos tiros. Eu tinha pensado que eram outras pessoas... - ela disse, sorrindo e colocando a mão nas costas da Gi - Venham para nossa casa, vocês poderiam passar o dia aqui e descansar um pouco antes de seguir viagem. Cês tão indo pra onde?

- Oregon. Um dia de viagem daqui certo? - Silas perguntou

- Uhum, cidade grande e turística. Um bom passeio - respondeu Arthur - Qual o nome do'cês?

- Meu nome é Simon, essa é minha irmã Grace e essa é minha prima, Ali. - Silas disse, apontando para cada um de nós. Novamente, devo admitir que amei descobrir como ele é um bom mentiroso.

Andamos por uma pequena trilha até chegar em uma casa de madeira. Camila levou eu e Gi até um quarto, onde tomamos banho e descansamos até o almoço. Acabamos passando a tarde toda com eles. Camila era muito gentil e simpática e me ensinou a costurar. Silas e Gi ficaram com Arthur, que ensinava eles a atirar. No fim do dia, nos reunimos a mesa para jantarmos.

- Sabe, acabamos de comprar esse terreno - Arthur começou - E estávamos pensando em ficar um bom tempo aqui, vocês poderiam nos visitar qualquer dia desses.

- Sim, sim. Ficaríamos felizes em receber vocês novamente. - concordou Camila - Nós somos um pouco solitários. Eu não pude ter filhos, então vivemos a vida toda juntos, mas sem crianças ao redor, e esse dia fez muito bem para nós dois. Vocês são uns queridos. Bem, chega de falar de mim. Quase não conheço nada de vocês.

- Ah... Então, eu e minha irmã estamos de férias e decidimos visitar Oregon. Ela contou para Alicia e desde então estamos viajando juntos. Mas tirando isso, nossa vida não é tão interessante. - Silas disse, pegando um pãozinho.

Concordei, sorrindo. Gi estava tomando sopa na hora, então só concordou com a cabeça. A conversa continuou por um tempo, mas depois disso, terminamos nossa janta e subimos cada um para o seu quarto. Na escada, olhei para Gi e Silas e percebi que, com eles, eu nunca ia sofrer.

Os três mundos {(Livro 1)}Onde histórias criam vida. Descubra agora