CAPÍTULO 10 - LEMBRANÇAS VISÃO:JANE
Quando nos separamos estava nervosa. Muito. Mas não queria dar a entender, tinha que ser corajosa pelos dois e por mim também. Demorei alguns corredores para encontrar alguém e roubar sua túnica, estava indo devagar e evitando câmeras, mas apesar do que Oli disse, não havia muitas. Depois de puxar minha vítima desacordada para uma das portas aleatórias no corredor, coloquei a túnica, a máscara e abaixei meu capuz. Andando sozinha e sem música, meus pensamentos começaram a gritar. Eduard. Era praticamente o único nome que eles gritavam. Eu ainda não sabia se gostava dele, mas não podia mentir para mim mesma, ele era fofo e era divertido irritá-lo e seus olhos eram... lindos. Não havia outra palavra para descrever o azul e o violeta de seus olhos. Fazia um tempo que eu não sentia mais aquela tristeza avassaladora que me atormentava a dois anos... Eu estava... Feliz. Me permiti sorrir. Quase não doía mais. Era incrível, não havia passado nem uma semana que eu saí de casa e eu já estava feliz. Quanto mais andava, mais escuro os corredores ficavam, estava com medo de me perder até que vi uma iluminação fraca no fim do corredor. Era um elevador. Fiquei de frente para as portas, pensando se entraria ou não. O elevador era grande, dava quase cinco de mim. Bem, não custa nada tentar. Apertei o único botão que tinha, mas ele não indicava se ia subir ou descer, então fiquei mais curiosa ainda sobre o que estaria me esperando do outro lado. Após alguns segundos, ele chegou. As grandes portas se abriram com maestria e eu entrei, animada. O interior também era grande e graças a Deus estava vazio. E calmo. Antes de apertar um dos milhares de botões que estavam à minha escolha, aproveitei o silêncio e a calmaria por alguns segundos.O silêncio me dava uma sensação de calma, uma sensação de paz, aproveitei ele por mais alguns segundos antes de voltar a realidade. Olhei para o painel e vi que, tirando o andar em que eu estava, aparentemente sendo o térreo, havia mais quatro para baixo e mais quinze para cima, totalizando vinte. Escolhi o número sete, que sempre me deu sorte e esperei meu andar chegar. Estava tocando uma musiquinha relaxante, que me acalmou aos poucos. Quando cheguei no andar certo só havia um corredor. Algumas portas aleatórias e uma que chamava atenção. Era uma porta azul, da cor do céu quando não há nuvens. Uma plaquinha indicava sua função: "Lembranças". Curiosa, abri e entrei. A primeira coisa que percebi foi a névoa. Parecia que alguém havia ligado uma máquina de gelo seco e colocado o equipamento pra rodar por horas. A outra foi uma luz vermelha no centro, que quando eu cheguei perto, descobri se tratar de um botão. "Porque não?" pensei "Já vim até aqui mesmo". Apertei o botão e vi horrorizada o ar ao meu redor mudar rapidamente, o ar escapou dos meus pulmões e desabei no chão, com lágrimas nos olhos.
Mamãe...
Ela estava sorrindo para mim, na frente da nossa casa. Seu cabelo marrom estava frouxo no rabo de cavalo, que escorria pelo ombro. Ela estava falando comigo, e me lembrei do dia que passava ao meu redor.
"Vem Jane Vem! Você consegue, querida! É fácil, é só manter a velocidade!" - ela disse, indo devagar para trás e sorrindo, divertida
"Mãe! Você disse que ia me segurar! Eu ainda não sei andar de bicicleta! Mamãe! Por favor!" - uma Jane chorosa respondeu. Eu caí e me ralei no asfalto, chorando. Minha mãe logo me socorreu, preocupada. Fiquei triste por horas por não ter conseguido andar de bicicleta, mas minha mãe me pegou no colo e disse:
"Jane, o que vale é o esforço. - ela disse séria, me olhando nos olhos - E você se esforçou muito. Se saiu muito bem! Agora é só treinar que você consegue! - e então ela sorriu - Por enquanto... Que tal tomar um sorvete com a mamãe?"
Chorei, me lembrando de como eu era feliz com ela e como ela era meu porto seguro. Como se percebendo meus sentimentos, a sala mudou novamente, me mostrando outra lembrança, uma não tão feliz assim. Estava no meu quarto e tudo estava escuro. Minha silhueta só era visível por conta do brilho da lua, que atravessava a cortina leve. Eu estava em posição fetal, com os fones na minha cabeça. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, como o mar que nunca para. Eu lembro do que eu estava sentindo naquela noite, pois ela não foi a única. Dor. Tristeza. Vazio. Tudo isso e mais a morte da minha mãe, que ainda parecia um ferro quente queimando meu coração. Antes que a sala me mostrasse mais uma lembrança que me fizesse querer morrer, levantei rapidamente e apertei o botão vermelho. A névoa voltou ao normal e eu fiquei um tempo lá, sentindo a dor da perda como se ela fosse recente. Parecia incrível que menos de uma hora atrás eu estivesse sorrindo. Lembrando do motivo dos meus raros momentos de alegria, me levantei e sai da sala, determinada a achar algo antes de sair daquele lugar. Voltei para o elevador e apertei o botão cinco, com um T do lado. Não prestei atenção em nada ao meu redor, e andei no automático por um tempo sem encontrar ninguém, até que ouvi a conversa de um faxineiro:
- Certo, então pego lá na salinha dos registros de vítimas os papéis pro senhor - ele disse - Eu to com as chaves, pode deixar que eu pego tudo certinho.
Bingo! Segui o cara discretamente até uma porta e quando ele parou para abrir a porta, peguei uma vassoura e bati nele com força até o homem desmaiar. Terminando de abrir a porta, entrei na sala rapidamente. Havia milhares e milhares de gavetas de metal, retangulares com etiquetas para vários nomes e datas diferentes, cobrindo as paredes, do chão ao teto. Passei os olhos por todos os registros de pessoas que já foram mortas e me retesei quando cheguei no "P". Lá estava o nome da minha mãe. Patrícia. Coincidência ou não, abri a caixa e procurei a data de sua morte. Por incrível que pareça achei... Um registro. Fiquei chocada e me arrepiei toda.
"Patricia Clifford"
Procurada por: Fuga, viagens interdimensionais ilegais e matrimônio com pessoa(s) de outras dimensões.
Morta por: Nome ainda não identificado"
Me recuperando do choque, peguei o registro e fechei a gaveta com o nome Patrícia. Sai rapidamente e vi se o faxineiro tinha mais alguma coisa de interessante. Bingo de novo! Ele tinha a chave de uma sala de procurados. Carreguei o homem desmaiado para a sala de registros de vítimas e o deixei lá, então sai procurando a tal sala. Não foi tão difícil quanto eu achava. Entrei e fui direto procurar nossos nomes.
"Eduard Taylor"
"Jane Roberts"
"Olívia Thompson"
Nas três fichas havia a mesma coisa:
"Procurados por: Interferência nos mundos e dimensões - A2B7,2475P e 10N2TT"
Peguei nossas fichas e estava me encaminhando para a porta, mas quando toquei na maçaneta um alarme começou a ecoar por toda a base e eu sabia que era minha culpa. Droga! Na minha correria de achar pistas esqueci que o cara poderia acordar, ou até mesmo que ele não estava trancado na sala. Tranquei a porta e escorreguei de costas, sentando no chão e esperando, em silêncio.
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Os três mundos {(Livro 1)}
Science FictionTrês adolescentes vivem em realidades diferentes e, sem saber o porquê, acabam sendo levados para dimensões que não são as deles. Eles vão ter que encarar esta nova realidade e descobrir o motivo de estarem lá.