Capítulo 14- A salvo

282 44 15
                                    

Shinazugawa havia chegado no tempo exato, como se o destino estivesse colaborando comigo. Estava em seus braços, me recuperando parcialmente do quase estrangulamento que sofri. Usando minha técnica de respiração, pude me revigorar de certos danos causados na minha garganta.

- Como chegou aqui? - pergunto, me levantando e segurando a empunhadura da minha katana.

- Meu corvo acabou me chamando de última hora. Falou que você já estava cuidando da situação e quando cheguei você quase morreu - disse caçoando de mim.

- Vá a merda - digo.

O oni parecia está muito furioso com o ocorrido, andava de um lado para o outro rosnando. Quando lembrei que por muito pouco não morri para um demônio novato fiquei tão envergonhada como também irritada. Pode-se dizer que meu orgulho estava ferido com isso.

Com Sanemi aqui ficaria mais fácil de arrancar a cabeça desse desgraçado fora, meu colega tem força bruta comparável ou até mesmo maior que a do oni. Com sua ajuda com certeza poderíamos o matar sem grandes dificuldades. Em uma investida consideravelmente veloz, avancei para cima dele.

Por reflexo o oni tentou se defender de um ataque que não veio, não de minha parte. Fiz isso como distração para que Shinazugawa pudesse avançar sem ser notado, fazendo um corte profundo no tronco do demônio.

- Tsk - ventania faz um barulho com a língua.

Ele não tinha conseguido desferir com corte forte o suficiente. Isso já estava me dando nos nervos, o oni se regenerou, indo para cima de Sanemi, pulando no mesmo sem pensar duas vezes. Usando minha super visão, corto seus membros superiores para que não machucasse meu colega.

Por algum motivo ele parecia ficar mais forte a cada momento. Quando se regenerou dobrou de tamanho. Olhei para Shinazugawa, teríamos que agir rápido.

Ganhando uma distância considerável, pulei para um telhado, ficando a uma altura que julguei ser boa. O Hashira do Vento mantinha uma batalha direta com o oni, a uma velocidade que até mesmo eu não estava conseguindo acompanhar. Concentrando todo o oxigênio em meu corpo, corri em direção a eles.

Me preparando para realizar a quarta forma da minha respiração, minha nichirin teria um encontro perfeito com a jugular do demônio.

- Respiração da Estrela. Go no kata: Chuseishisei - cruzei minha katana em uma diagonal perfeita no pescoço do oni, derrubando sua cabeça no chão.

Brandi minha nichirin, tirando o sangue imundo daquele ser que sujava a sua lâmina. O oni me olhava com fúria nos olhos, não falava nada, apenas encarava a minha fase com ira perceptível.

- Fico contente que olhe nos olhos da pessoa que te decepou. Será parte do seu pagamento por ter virado um oni.

Ele desintegrava lentamente, não chegava a piscar de tanto que me olhava. Era de certa forma estranho, como se ele estivesse vendo algo em meu rosto. Aquele olhar que antes carregava irritação, agora se desdobrava em pavor. E não acho que seja por eu ter o matado.

Me lembrava do combate contra Tsubasa, como se estes demônios pudessem me reconhecer de algum jeito. Meu coração estava batendo mais rápido, será que eu já os encontrei em algum momento da minha vida e não me recordo?

- Ei, o que foi? - Shinazugawa pergunta, me trazendo de volta.

- Não acha estranho como eles nos olham quando estão morrendo? - pergunto direta.

Ventania pareceu pensar um pouco no que eu perguntei, mas logo respondeu. - Sinceramente nunca liguei para isso, desde que eles queimem no inferno não dou a mínima.

- Entendo. Você pode voltar para o QG, eu ainda tenho que falar com os cidadãos dessa cidade.

- Vou te esperar.

- Eu já estou bem, não preciso de babá - respondo.

- Não é isso que parece, quase morreu se eu não te salvasse.

- O que você quer? Um pedido de agradecimento?

- Era o mínimo que você poderia fazer!

- Certo, obrigada por me salvar.

Depois que falei isso fui procurar aquelas pessoas, as encontrando escondidas em casas. Após ter uma longa conversa com os líderes da cidade, esses que eu acabei expulsando do campo de batalha quando cheguei a vila, eles nos agradeceram por ter salvo sua cidade e ter acabado com o demônio. Fizemos o caminho de volta para o Quartel General dos Hashiras.

O Sol dava indícios que iria nascer, a coloração escura do céu e as estrelas estavam dando seu adeus, dizendo que seu trabalho estava realizado aquela noite. A Lua que era a atração principal daquele quadro azul, agora dava espaço para a estrela de fogo brilhar. O ar até ficava mais leve, junto com o som dos pássaros que voavam tranquilamente.

Acho que nunca vou perder essa mania de admirar o céu, junto com todas as belíssimas formas dos astros que o enfeitam. Talvez por eu ser a Hashira da Estrela tenho uma ligação especial com a imensidão do céu, ou talvez eu somente vivo no mundo da Lua. Porém olhar aquelas estrelas me dava calma que preciso para viver.

Algo me tirou desses pensamentos profundos e lunáticos, notei que Shinazugawa estava me encarando. O olhei curiosa, será que eu estou fazendo uma cara esquisita enquanto olhava aquela amplidão azulada?

- O que foi? - o pergunto.

- Eu lembrei que você não me agradeceu - ele fala.

Isso era mentira, tenho certeza que o agradeci por ter me salvo. Eu tenho certeza que ele endoidou de vez, está até esquecendo de coisas que aconteceram minutos atrás.

- Mas eu te agradeci sim, até falei obrigada - falo, tentando fazer ele se recordar.

- Eu não estou falando disso - Shinazugawa disse.

Antes mesmo que eu pudesse o perguntar o que seria, ele tomou meus lábios para si. Junto com o nascer do Sol, nós iniciamos um beijo caloroso como o mesmo. Os raios solares nos agraciaram, proporcionando um sentimento quente como aquele beijo.

Não saberia dizer o que estava acontecendo, todavia me entreguei aquele carinho tão íntimo. Chegava a ser engraçado como alguém rude como Sanemi conseguia ser tão delicado em momentos como aquele. Sua língua praticamente dançava uma graciosa música com a minha, o sincronismo entre elas poderia ser definido como mágico.

Nos separamos, por falta de ar ou pela simples vontade de nos olharmos diretamente nos olhos. Aquela luz alaranjada combinava perfeitamente com o roxo de suas íris. As cicatrizes eram detalhes insignificantes diante seus olhos que carregavam nada mais do que graciosidade.

- Agora entendi o agradecimento que você queria - falo, acabando com o silêncio confortável que existia.

Ele corou um pouco, iria voltar com aquele beijo inesperado mas extremamente bom, caso não fosse por um corvo inconveniente aparecer.

- Vocês podem parar com isso? É constrangedor - meu corvo fala, pousando em meu ombro.

- Fecha os olhos - falei, perdendo a pouca paciência que eu tinha com ele. - Aliás, temos que conversar sobre aquele assunto de você ter mentido a mando de Mitsuri.

- Eu não menti. Falei que era urgente e que eles estavam os chamando para voltar, isso tudo foi verdade - a ave respondeu atrevido.

- Um dia eu ainda vou fazer churrasco de você - digo, ele saiu do meu ombro e voou para uma árvore perto de nós.

- Eu te ajudo - Shinazugawa fala, ganhando um grito do meu corvo como resposta.

Ri com a fala do ventania, voltamos para o QG, falando o relatório da nossa missão bem sucedida para o mestre. Deveria aproveitar essa tranquilidade que me restava, aproveitar cada momento com meus colegas, com os garotos e com minha prima. Algo poderia acontecer de repente e poderia dar um fim nisso tudo.

Deveria viver a minha vida até o fim.

*The Pilar Of The Star* - 𝒦𝒾𝓂𝑒𝓉𝓈𝓊 𝓃𝓸 𝒴𝒶𝒾𝒷𝒶Onde histórias criam vida. Descubra agora