Em uma época em que os onis ainda dominavam a escuridão das noites. S/n Hoshi é conhecida como a Hashira da Estrela, vindo de uma linhagem de Hashiras, composta apenas por mulheres. Após passar por muito sofrimento em sua vida, se junta com sua prim...
Fazia metade de um dia que estávamos andando, meus pés já estavam com calos. Não paramos nem ao menos para comer, Sanemi apenas me deixou ir ao banheiro uma vez durante nossa viagem. Todo o percurso era silencioso, eles não trocavam nem olhares. Pelo menos estávamos perto do nosso destino, pois eu estava à beira de surtar.
- Eu quero comer - resmungo para que o ventania ouça.
- Problema seu.
- Problema meu nada, não posso batalhar de estômago vazio. É melhor nós pararmos em algum lugar agora.
Ele me olhou de canto de olho, sabendo que eu não pararia com o que queria tão cedo. Achamos uma barraquinha que vendia alguns dangos, esses que pareciam está deliciosos. Acabei comprando alguns para mim e Genya. Shinazugawa ficou mais afastado, então decidi ir para onde ele estava.
- Quer um? - ofereci um dos doces para ele que me ignorou. - Ótimo, sobra mais pra mim.
Ele olhava o garoto brincar com um cachorrinho. Mesmo que o rosto de Sanemi parecesse sério e fechado, seus olhos carregavam um pouco de estima pela cena.
- Você deveria falar com ele - digo, mordendo um dango.
- Cala a boca.
- Sinceramente mandar ele calar a boca não é um bom começo, tente outra coisa.
O mais alto revirou os olhos. Mesmo eu dizendo isso como uma brincadeira, realmente queria ajudar ele a se reconciliar com Genya. Nunca sei escolher as melhores palavras para momentos como esses, digamos que sentimentalismo não é das minhas melhores qualidades.
- Olha, vou tentar falar as palavras certas, mas não garanto nada - digo, ele não respondeu, porém sabia que ele estava escutando. - Isso aconteceu há tanto tempo e você quer poder restaurar sua relação com ele. Sei que você é um bruto metido a besta...
- Você está me ofendendo no meio de um concelho? - me interrompe.
- Não podia perder a chance. Mas voltando, Genya realmente sente sua falta. Ele sente falta de conversar com o onii-chan dele. Ele é um garoto tão gentil, nunca vou deixar nada de ruim o acontecer. Acho que se eu brigasse por algum motivo com Hitode, ele acabaria fazendo alguma coisa idiota e faríamos as pazes sem perceber.
Dou um suspiro pesado, olhando para o céu com sua coloração alaranjada. O pôr-do-sol era uma obra-prima, lembro como meu irmão mais velho amava isso. Ele dizia que a cor de sua nichirin representava o Sol se pondo, assim quando ele matasse um oni a noite estaria calma e segura. Por isso que minha katana era azul escuro, ela representava a noite que ele deveria proteger, em outras palavras me proteger.
- Se Hitode estivesse aqui eu aproveitaria o máximo possível. Por favor, não fique tanto tempo longe de Genya. Talvez eu tenha inveja por você tê-lo em sua vida.
- Nós sentimos a mesma dor, perdemos pessoas preciosas em nossas vidas - Shinazugawa começa. - Apenas ouvi suas palavras porque sentimos o mesmo sofrimento. Tivemos o mundo tirado de nossas mãos da mesma maneira. Passamos por coisas parecidas e tivemos a mesma responsabilidade impostas a nós.
Ventania me olhou, talvez aqueles olhos rígidos estavam inundados por lágrimas guardadas há muito tempo. Contudo nenhuma ousou em sair e desbravar o mundo em seu rosto.
- Acho que Hitode está orgulhoso, você carrega tudo que ele te passou, posso ver por isso.
Shinazugawa passou sua mão no meu cabelo, me olhando de uma maneira tão terna que arregalei meus olhos. Via a imagem de Hitode em seu rosto, era como se meu irmão estivesse na minha frente. Com as mesmas feições serenas e lindas que eu me lembrava.
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- Vou tentar. E se Genya te chama de "S/n-nee", acho que você também o tem em sua vida.
Não respondi, apenas assenti com a cabeça. Meu coração batia rápido, aquele toque de Sanemi em mim era tão acolhedor, essas palavras eram exatamente como as daquele dia. Esse era o ventania que eu esquecia que existia.
O garoto acabou se juntando a nós, que logo fizemos nosso caminho. Chegamos em uma floresta enorme, as árvores eram gigantes e o céu estava escuro. Mas aquela floresta me era familiar. Não dei importância, florestas são sempre a mesma coisa.
Adentramos aquele local, escutando os sons de corujas ecoarem pelo lugar. A Lua estava no alto do céu, sendo a única fonte de luz que tínhamos. Quanto mais caminhávamos por lá mais eu me sentia estranha. Não era uma sensação necessariamente ruim, mas chegava a ser agoniante.
Balancei a cabeça, somente deveria ser a ansiedade pela batalha que se aproximava. Ativei minha visão, ficando com meus olhos um pouco mais claros. Passava minhas íris por toda extensão daquele arvoredo, não achava nada que fosse fora do comum. Todavia aquele sentimento persistia dentro do meu ser.
Árvores e mais árvores, até que então eu acho algo que me fez paralisar por segundos. Minhas pernas se moveram sozinhas, andei até uma que seu tronco era mais robusto, chegando perto pude ver algo desenhado em seu tronco. Um símbolo de uma estrela.
Aquilo poderia ser uma brincadeira de mau gosto, não seria o que eu estava pensando. Corri na direção norte, seguindo um caminho claro que minha mente traçava. Pelos passos creio que os outros vieram atrás de mim. Quanto mais corria mais coisas invadiam minha mente.
Eu e Hitode crianças brincando naquela floresta, nos escondendo e brincando de lutas. Cada galho que eu subia, cada folha que caia no solo daquele local. Ouvia meus passos se misturarem com as batidas aceleradas do meu coração em minha cabeça. Algo que chegava a ser ensurdecedor.
Então, parei de repente. Respirando um pouco ofegante graças a pequena corrida realizada. Piscava tentando desfazer o que eu via. Sanemi e Genya me alcançam, ficando cada um de um lado meu.
- Por que você começou a correr assim do nada? - o Shinazugawa mais velho pergunta.
- Viu algo suspeito S/n-nee? - Genya pergunta.
Não havia forças em mim, apenas encarava calada o muro a minha frente. Apontei, eles então viram o que estava praticamente me deixando tonta de tantas coisas que me lembrava. Aparentemente não estenderam nada do que estava acontecendo.
- O que é esse lugar? - Sanemi pergunta.
- Minha casa. Minha casa e o antigo Quartel General das Hashiras da Estrela. O local onde aconteceu o assassinato da minha mãe e do meu irmão - digo.
