[...]
Desde que Raymond e Carla me colocaram contra a parede, não tive escolha.
Preciso me tratar, caso contrário, eles vão me separar novamente de Christian e isso está totalmente fora de cogitação para mim.
Não tenho dúvidas de que se me separarem de Christian, minha vida não fará mais sentido algum.
[...]
No dia seguinte, Carla me levou para me consultar com a Doutora Lia, a única psicóloga da cidade. Após uma conversa rápida com ela, foi indicado que eu fizesse terapia. Não só isso, como também que deveria ir até os alcóolatras anônimos. A princípio, recusei, bati o pé, mas mais uma vez meus pais bateram na mesma tecla.
Sem tratamento? sem Christian.
Sinceramente... Acho que eles estão exagerando um pouco. Por outro lado entendo que talvez estejam fazendo isso por medo de no futuro, eu acabar virando sei lá, uma alcóolatra de verdade mesmo.
E só por isso resolvi aceitar e visitei aquele lugar que ficava em um prédio abandonado da cidade. As paredes eram cinzas e no local, havia uma série de cadeiras, em formato de círculo, parecida com aquelas rodas que os professores fazem na escola, quando querem fazer alguma interação com os alunos.
Raymond me esperou do lado de fora, pois pedi para entrar sozinha.
Estava sem graça de ir acompanhada, mas ao mesmo tempo com certo temor do que poderia encontrar naquele lugar. Tinha algumas pessoas sentadas na cadeira, a maioria se cumprimentou com um simples aceno, sem muitos laços de amizade. Também não citavam nomes, o que me faz acreditar que quase ninguém se conhece mesmo por aqui. Ou ao menos, que eles querem ser anônimos mesmo.
A líder do local, uma mulher na casa dos cinquenta anos que se apresentou como Beatrice, deu as boas-vindas para nós e depois, perguntou se alguém queria desabafar. Eu claro, fiquei quieta, mas uma moça há duas cadeiras de mim, resolveu se pronunciar. Ela tinha os cabelos negros como a noite e os olhos expressivos e grandes.- Olá, meu nome é Stephanie. Meu primeiro nome, quer dizer. Tenho trinta e cinco anos bem mal vividos, para falar a verdade - Deu um sorriso triste - Tudo começou quando eu era adolescente. Eu era a garota problema da família, vivia arrumando confusão, sendo presa pelas arruaças que fazia por aí. Cresci em um ambiente familiar conturbado, meus pais se separaram quando eu tinha quatro anos. Minha mãe não me quis e por isso, tive que ficar com meu pai. Quando eu tinha uns quatorze anos, meu primeiro namorado me apresentou as bebidas, o cigarro, as drogas. E eu me deixei levar. - Suspirou profundamente - No começo era tão bom, eu me sentia a melhor das criaturas, é sério. E sempre que alguém dizia que eu estava me viciando, eu ria, dizia que era exagero, que podia parar quando bem quisesse. Quantas vezes eu não disse que ia parar e depois, voltava tudo de novo? Resultado? - Suspirou profundamente - Perdi amigos, família e hoje sou este farrapo humano aqui. É muito triste viver assim. Por isso, se algum de vocês ainda estão no começo do vício, é hora de cair fora. Não deixem que essas substâncias terríveis também destruam a vida de vocês. Não deixem, por favor!
Ao fim do depoimento, eu já estava em lágrimas.
Aquilo me tocou e muito, foi como uma faca no meu estômago.
É como se a Stephanie fosse eu no futuro.
Eu no futuro se não sair agora dessa armadilha que a maldita bebida está tentando me colocar.
Mas ela não vai conseguir.
Eu não vou me deixar destruir.
Eu juro que não vou.
[...]
- Um bilhete, Anastasia?! Para que isso? - Katherine me perguntou curiosa após eu entregar um bilhetinho para ela.
- Ah, sei lá. Christian é tão analógico, tão retrô. Acho que vai gostar de receber um bilhete fofo da namorada dele. - Respondi sorrindo.
- É, acho que sim - Kate sorriu de volta, ajeitando a mochila nas costas - Posso ler?
- Uhum.
- Vamos lá - A loira abriu o bilhete - Er... "Christian, só queria te dizer que te amo muito e que vou fazer tudo o que tiver ao meu alcance para ser digna de você e fazer de você o garoto mais feliz do mundo."
- E aí? Ficou bom? - Perguntei curiosa - Coloquei uma marca de batom e o meu perfume para ficar mais sexy.
- Sexy? - Kate riu - Tirando a ausência de vírgulas, o bilhete está ótimo.
- É, a gramática nunca foi meu forte mesmo. - Fiz uma careta, enquanto fazia um coque rápido nos cabelos.
- Eu sei, mas tenho certeza que Christian vai amar seu bilhetinho. Assim que chegar em casa, vou entregar à ele. Ah, e amanhã ele irá voltar para a escola. Papai já o liberou após refazer alguns exames.
- Que ótimo, Kate! Que ótimo! - Exclamei toda animada.
[...]
Me tornei a pessoa que mais detesto.
Uma garota fofa e romântica.
Onde já se viu ficar fazendo bilhetinhos cafonas para o namorado?
Christian gostou tanto do bilhete que me respondeu com outro bilhete enviado por Grace, antes de ir ao mercado da cidade.
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Estranho Amor
FanfictionAnastasia Steele é uma verdadeira garota problema que a contra-gosto é obrigada a se mudar para uma cidade pequena a fim de morar com seu pai, Raymond, o chefe de polícia de Spokane. É quando se depara com o filho de sua vizinha, um estranho garoto...