Bônus - Christian, O Estranho.
"Você não é, nem nunca será igual aos outros meninos, Christian."
Foi o que mais ouvi durante toda a minha vida.
Desde pequeno sou assim, diferente.
Nasci diferente.
Enquanto os outros meninos gostavam de brincar de bolinha de gude, futebol americano e basquete, eu era mais quieto, introspectivo e preferia me isolar para jogar jogos mais inteligentes como quebra-cabeça e xadrez.
Sempre fui um garoto de poucas palavras, que gostava mais de mergulhar no universo dos livros do que sair pra brincar e não demorou muito para que meus pais me levassem a um psicólogo e constatassem que eu era portador de Asperger, um espectro do autismo.
Nesta época, aos dez anos, eu já sofria bulliyng no colégio e por isso, era superprotegido por meus pais e minha irmã mais velha, Katherine. Perdi as contas de quantas vezes a loira de olhos claros brigou na escola por minha causa, sempre para me defender de algum garoto que implicava com meu estranho jeito de ser.
As vezes, me sentia mal por ser assim, especialmente quando entrei na adolescência e vi todos ao meu redor começarem a namorar, irem para festinhas regadas e músicas ensurdecedoras e viverem a vida como se estivessem muito felizes enquanto eu sequer conseguia sentir empatia pelos outros por conta da minha síndrome.
Mas tudo mudou quando eu a conheci.
Quando conheci Anastasia Steele.
A primeira vez que a vi foi quando estava capinando o quintal de casa e ela chegou no carro do meu vizinho, Raymond, rigoroso chefe de polícia de Forks.
A olhei fixamente por alguns segundos e pude perceber o quanto aquela jovem parecia perturbada e ansiosa. Com certeza era nova por aqui. Horas depois estava na janela de casa observando os passarinhos nas árvores quando a vi do outro lado da rua no quarto dela que estava com a janela totalmente aberta. A moça estava somente de toalha e tinha ombros tão bonitos que não consegui parar de olha-la. É, eu gosto de ombros.
E sim, sei o quanto isso parece estranho perante os outros.
Fiquei confuso quando a morena de olhos de chocolate me viu, mudando o semblante e mostrando o dedo do meio para mim.
Não entendi direito porque ela teve indelicada atitude, mas quando comentei com meu pai ele explicou que Ana deveria ter se sentido ofendida com meu olhar, já que estava somente de toalha e que minha atitude tinha sido inapropriada por ela ser mulher e eu, homem. Ele então me instruiu a ir até ela pedir desculpas para que não ficássemos brigados afinal, seremos vizinhos e querendo ou não teremos que conviver e se for em harmonia, melhor ainda. Então obedeci Carrick me arrumando, pegando a flor mais linda do jardim e atravessando a rua até a casa da vizinha.
Bati na porta e tentei pedir desculpas, mas Anastasia foi bruta novamente com minha pessoa, me acusando ferozmente de ser um tarado.
O curioso foi que depois de ter brigado comigo na noite anterior, na manhã seguinte a senhorita Steele me defendeu de Riley e James, dois garotos que sempre adoraram praticar bulliyng comigo na escola me xingando das piores formas possíveis, até mesmo de doente mental. Isso me machucava até mais do que as surras que me davam de vez em quando pois me fazia sentir inferior aos outros e sentir assim é a pior coisa do mundo para um ser humano. Por conta da confusão que houve acabei me ferindo ficando inconsciente por algumas horas e quando finalmente acordei Isabella estava no quarto, me observando atentamente.
Ela foi a primeira mulher sem ser minha mãe e irmã a entrar em meu quarto. Conversamos brevemente e naquele dia ela perguntou se poderíamos ser amigos. Claro que aceitei a proposta com entusiasmo pois possuindo uma amizade eu seria de certa forma, como os outros.
E ser normal era tudo que eu queria ser.
Depois, Ana perguntou se podia me dar um beijo na bochecha como sinal da nossa amizade.
Fiquei receoso pois por conta do asperger não gosto muito de toques, carinhos e afins mas quando ela beijou minha bochecha não me senti incomodado como das outras vezes, muito pelo contrário.
Gostei daquele simbólico beijo.
E até tive vontade de pedir mais um.
[...]
Com o passar do tempo Ana e eu estreitamos ainda mais nossos laços de amizade, só que o que sentia por ela não parecia mais ser amizade.
Era mais parecido com o que Elliot sente por Katherine do que aquilo Katherine sente pela Mia, por exemplo.
Passei até a dar aulas de reforço para ela a fim de melhorar suas notas baixas no colégio. Todos os dias, depois da aula ela ia para minha casa e lá, ensinava um pouco do que sabia para ela como se fosse um professor mesmo e me sentia muito bem fazendo aquilo pois assim conseguíamos ficar mais próximos.
Certa vez, depois de terminarmos mais uma das nossas aulas, Ana me fez um questionamento.
- Você já beijou alguém?
Demorou um pouco para entender a que ela estava se referindo mas quando entendi, decidi que aquele era o momento ideal para revelar o que realmente venho sentindo por ela.
- De você, Ana. Eu gosto de você. - Revelei ao fim da conversa, deixando-a perplexa.
Mas logo aquela perplexidade se transformou no nosso primeiro beijo.
Quer dizer, um selinho.
Mas não sou o único estranho dessa história.
Tanto que após me dar um selinho, Anastasia tomou a atitude estranha de me evitar o máximo que podia, voltando a ser rebelde na escola e causando diversos problemas a seus pais.
Foi muito difícil aquele período pois sentia muita, mas muita falta mesmo dela.
Sem Ana, meus dias pareciam incompletos.
Era como se faltasse alguma coisa no meu dia.
Voltamos a nos ver quando fui nadar na cachoeira com Katherine e meu cunhado, Elliot. Naquela ensolarada tarde Ana e eu conversamos e aproveitei para demonstrar a ela o quanto sinto sua falta, o que fez um bem enorme à mim, tanto que minha psicóloga disse que quanto mais eu me abrisse para Ana, melhor seria para que eu continuasse evoluindo apesar do asperger.
Vê-la de biquíni me fez corar e até mesmo ficar excitado, o que causou altas risadas na morena que ao fim da conversa me fez um convite ou melhor dizendo... Um ultimato.
Anastasia avisou que naquela noite, eu deveria ir até sua casa para que a beijasse de língua pois segundo ela, já tinha passado da hora deu deixar de ser um "BVL".
Treinei bastante ao longo do dia com laranjas e maças, além de ter pesquisado muito sobre beijos na internet. Como passei boa parte do dia trancado no quarto fazendo isso, Katherine e Grace estranharam um pouco minha quietude mas não me interromperam, muito menos desrespeitaram minha privacidade.
Já no quarto de Ana, quase de madrugada, ela envolveu suas delicadas e macias mãos em meu pescoço após avisar que o momento de me beijar estava próximo. Tentei esconder meu nervosismo pois não queria que ela percebesse minha insegurança ao me dar o segundo selinho da minha vida. Em seguida, a morena pediu passagem com a língua e eu permiti em busca de aprender e entender como ela gostava de ser beijada.
Os lábios de Ana tinham gosto de morango, era tão gostoso que por mim ficaria sentindo seu gosto pelo resto dos meus dias. Depois retribui tudo que ela fez comigo em sua boca, com mais intensidade e desejo, deixando todos os instintos carnais me dominarem de vez.
Foi o melhor beijo da minha vida.
E a vontade de querer mais e mais com ela só foi aumentando com o passar do tempo.
Acordei na manhã seguinte feliz, com vontade de fazer um milhão de coisas como ler, estudar, ouvir os parassarinhos, acompanhar as formiguinhas e principalmente... Beijar Anastasia novamente.
Durante um dos intervalos da aula nós combinamos de nos encontrar de novo para mais beijos.
Infelizmente, na mesma noite tive minha primeira decepção amorosa.
Quando estava prestes a atravessar a rua para pular a janela dela como sempre, me deparei com um garoto chamando por ela em seu jardim e para piorar, Ana permitiu que ele entrasse em seu quarto tranquilamente, mesmo sabendo que tinha marcado um encontro anterior comigo no mesmo lugar.
A sensação de saber que Anastasia e o tal rapaz estavam trancados no mesmo quarto fez meu sangue subir.
Senti raiva, ciúmes e muitos outros sentimentos ruins que até aquele momento, desconhecia completamente. E todo o acúmulo de sentimentos ruins me fizeram ter uma forte crise que não tinha há muito, mas muito tempo mesmo.
Quando tenho essas crises meu corpo todo treme, meus pensamentos ficam desordenados como se estivesse vivendo uma espécia de curto circuito mental. E fisicamente costumo bater a cabeça na parede em busca de ordenar toda essa confusão dentro da minha cabeça. Para minha alegria Ana e eu fizemos as pazes no dia seguinte e ela me fez prometer que não voltarei mais a bater a cabeça na parede, o que para mim será uma promessa bem difícil de cumprir.
Nosso encontro noturno foi o mais ousado até então por causa das carícias um pouco mais quentes de Anastasia em mim. Naquela noite percebi que ela estava a fim de ter relações sexuais comigo, o que seria imensamente complicado, quase impossível porque sou virgem e não sei como fazer sexo.
Acho que Ana percebeu esse meu receio, tanto que nos encontros seguintes não foi mais tão ousada assim comigo. Pelo menos não até o dia em que andei de moto pela primeira vez na vida. Foi uma sensação maravilhosa de liberdade, parecia que estava voando quando senti aquela brisa fria batendo contra meu rosto. Depois, quando ela estacionou a moto na entrada da floresta, Ana fez sexo oral em mim e pela primeira vez tive um orgasmo, uma sensação indescritível de prazer.
Fiquei pesquisando o resto da madrugada sobre o assunto pois queria muito fazer sexo oral em Anastasia também para dar a ela tanto prazer quanto ela me dera na noite anterior, mas a próxima noite que tivemos não foi perfeita como pensei que seria.
Muito pelo contrário, vivi a pior noite da minha vida.
James e Riley bateram muito em mim e até mesmo em Anastasia como os desgraçados que são.
Me senti um covarde por não conseguir protegê-la deles, mais ainda quando a dor física que senti se tornou tão insuportável que me fez desmaiar sem conseguir fazer nada para salvar a mulher que eu... Amava.
É, eu amo Anastasia.
Amo seu jeito, seu rosto, personalidade... Tudo.
[...]
Quando acordei no hospital, Ana não estava mais comigo.
Perguntei por ela mas ninguém quis me dizer onde estava, nem mesmo Katherine provavelmente por ordem dos meus pais. Apenas disseram que ela estava viva e bem, como se só isso bastasse para mim. Quando recebi alta tive que ficar de repouso na cama por alguns dias e para meu azar, sempre que tentava levantar para ir até a janela ver se conseguia ver Anastasia em sua casa alguém aparecia, brigava comigo e me obrigava a voltar para a cama.
Também tentei telefonar para ela mas jamais fui atendido.
Passei a pensar então que talvez, depois de toda aquela tragédia ela tivesse me esquecido.
Possívelmente percebeu que sou um fraco, um doente mental como Riley e James dizem e por isso resolveu me abandonar para viver sua vida do jeito que realmente queria.
Sem mim.
Só não entendo porque ela não veio terminar comigo pessoalmente.
Anastasia não é de deixar as coisas pra lá simplesmente, não é.
E não faria isso comigo depois de tudo que vivemos, não consigo acreditar que nossa história tenha acabado assim, de forma tão abrupta.
Assim que me recuperei meus pais me levaram para passar férias em Londres, onde meus parentes paternos moram, não sem antes eu dizer que não aceitaria que eles me separassem de Anastasia, mas tanto meu pai como minha mãe avisaram que Ana havia ido embora para sua cidade natal, que não iria mais voltar e o melhor para mim seria que a esquecesse de vez.
Quando eles disseram aquilo, meu mundo acabou.
Nada mais fazia sentido.
Minha vida parecia não fazer mais sentido.
O que sou sem a Ana?
Nada, absolutamente nada.
Estar longe dela me causava uma dor tão profunda que chegava até mesmo a doer fisicamente e isso me fez passar dias e dias na cama durante todo o resto daquelas férias de verão, até o retorno a Forks.
[...]
- Ed, levanta! - Minha mãe disse abrindo as cortinas do quarto para a luz entrar aqui.
- Não quero. - Murmurei virando para o outro lado da cama - Eu só quero dormir, Esme.
- Queremos que você vá ver a psicóloga. Hoje é dia de consulta e faz meses que você não a frequenta.
- Não preciso de terapia. - Neguei me ajeitando na cama - O que realmente preciso não poderei ter nunca mais então, por favor, me deixe sozinho.
- Não faça isso, Christian. Não se destrua por causa daquela menina que você mal conhecia! - Minha mãe pediu com lágrimas nos olhos.
- Claro que eu a conhecia, mãe. O nome dela é Anastasia, tem dezessete anos. Ela ama a banda Queen, andar de moto, não gosta de muito estudar, nem de flores mas gosta de mim. Ou pelo menos, achei que gostava. - Dei um sorriso triste enquanto sentia algumas lágrimas caírem dos meus olhos - E não estou me destruindo, mãe. Já estou destruído. - Finalizei indo abrir a porta - Agora por favor Grace, me deixe só. - Insisti apontando a saída para ela que fustrada, resolveu me deixar sozinho.
Voltei a deitar na cama e fiquei olhando para o teto.
Era só o que sabia fazer nos últimos tempo.
Só o que queria fazer.
[...]
Não aguenta mais aquela situação.
Essa dor.
Eu só queria parar de sentir essa dor.
Parar de sentir.
Em uma terça chuvosa, saí de casa, atravessei a rua e peguei a moto de Isabella que estava no quintal de sua casa sem ninguém me ver.
Peguei a moto dela, coloquei o capacete e tentei dirigir.
Queria sentir aquela liberdade da primeira vez que andei de moto com Ana mas o estranho era que sem ela, não conseguia mais sentir a mesma adrenalina. A graça daquela liberdade era justamente minha Ana e ela, eu nunca mais teria nos meus braços de novo.
Decidido a acabar com tudo, direcionei a moto para o poste, fechei os olhos e abri os braços.
Depois daquilo não senti mais nada.
Nada.
[...]
Tudo estava na mais completa escuridão já havia um tempo e eu não tinha ideia do que tinha acontecido comigo.
Foi aí que a luz começou a surgir.
E escutei uma voz.
Mas não era qualquer voz, era a voz.
Que disse tudo aquilo que sempre quis ouvir.
- Christian... Nunca pensei que por minha culpa, você quase morreria. Estou me sentindo um lixo por isso. Me desculpa? Nunca quis teu mal, pelo contrário... Queria te ver bem, feliz porque te amo, Christian. É isso, te amo. Quer dizer, acho que te amo. É um sentimento novo para mim ainda, sabe? Porque nunca amei ninguém do jeito que te amo agora. Desde que te conheci você se tornou o centro da minha vida. Tudo o que planejava, tudo o que fazia era sempre pensando em você. Adoro o seu jeitinho esquisito. O jeito como você me beijava e não quero perder isso pra sempre. Queria muito poder dizer isso a você olhando nos teus olhos, então não morre não. Ainda mais agora que sei que o que sentimos um pelo outro é recíproco. Pelo menos é o que parece pois você não faria o que fez, se não me amasse tanto assim. Não que você tenha feito o certo, o que você fez foi muito errado, entendeu? É o tipo de coisa que não se deve fazer nunca. Enfim, por tudo que é mais sagrado, lute pela vida meu amor.
Ana estava me chamando.
Ela me queria de volta, me amava.
Era tudo o que eu queria.
E por isso, voltei.
Abri os olhos e deparei com ela toda linda, chorando por mim.
- Ana... - Murmurei me sentindo muito fraco ainda, com a cabeça doendo um pouco.
- Christian, você voltou para mim! - Ana disse me abraçando e enchendo meu rosto de beijos .
- É... Eu voltei... Por você. - Afirmei piscando os olhos várias vezes em busca de me acostumar melhor com a luz do quarto.
Anastasia me amava.
Eu a amava também.
E não ia deixar que nada, nem ninguém nos separasse nunca mais.************************************
Entre os vários motivos da demora do capítulo, estão o fato deu ter estado envolvida nesse último mês com duas short-fics especiais no meu perfil (Mãe De Aluguél e Eterno Amor que aliás, já estão devidamente finalizadas) além deu ter ficado doente tempos depois. Peço a todos que sempre leiam os avisos do meu mural, lá sempre aviso sobre as atualizações etc, então fiquem de olho.
Voltando ao capítulo, espero de coração que tenham gostado de conhecer mais o lado do nosso estranho Grey 💜💜
Sobre o próximo capítulo, só vai sair depois que eu postar a one especial de amanhã (fiquem ligadas no meu perfil), Amor & Sexo, O Troco e Treinando O Papai, nesta ordem entenderam? Só quando elas forem atualizadas retornarei aqui, mas o que importa é que voltarei kkk
Se gostaram do capítulo já sabem, votem e comentem 💜
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Estranho Amor
FanficAnastasia Steele é uma verdadeira garota problema que a contra-gosto é obrigada a se mudar para uma cidade pequena a fim de morar com seu pai, Raymond, o chefe de polícia de Spokane. É quando se depara com o filho de sua vizinha, um estranho garoto...