Capítulo 04* | My Huckleberry Friend

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Capítulo 04 | Meu doce e aventureiro amigo

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Em céu de lua nova, as estrelas brilham para tentar espantar a escuridão da noite. Não há um barulho ou movimento na rua. O clima de filme de terror me faz rir de nervoso como se assistisse uma comédia.

Leo não disse para onde estávamos indo, mas ainda assim não fico surpresa quando entramos com sua caminhonete velha em uma área proibida do parque. A restrição é só uma infração a mais, afinal, não deveríamos estar aqui a esta hora de qualquer maneira. Uma quebra de regra a mais, uma a menos, não fará diferença. Talvez apenas se formos pegos. O que é melhor que não aconteça.

O silêncio ao redor só aumenta a adrenalina que reverbera pelo meu corpo. Chegamos à beira da lagoa e já imagino o que vem pela frente. Leo desliga o motor do carro, antes que o barulho chame a atenção do único guarda ambiental que toma conta do parque nessas horas. Segundo nossas pesquisas prévias para possíveis piqueniques à meia noite, ele tem seu posto a alguns quilômetros de distância. Então, estamos bem, contanto que sejamos discretos.

Ficamos calados, segurando uma risada louca para explodir. Aos poucos, começo a perceber ruídos baixos de aves e insetos, o que adiciona um medinho a mais na sensação de perigo que toma conta do meu ser. Talvez essa pequena aventura não tenha sido uma ideia tão boa, no fim das contas. Aliás, em qual momento essa foi uma ideia boa?

Bem, não sei e não importa. Estou com Leo. Esta é mais uma dessas coisas que eu jamais faria sem ele. Jamais teria essa ideia, muito menos essa coragem. Mas, ao lado dele, de alguma forma, cada instante vale a pena. 

- Está pronta? – pergunta ele, de repente, sem deixar de encarar a lagoa à frente.

- Estou! – respondo, com firmeza.

Saímos do carro, corremos até a frente da caminhonete. Seguimos pelo facho de luz que sai da lanterna fraca do carro até a beira da água. Blusas, calças e camisetas ficam pelo chão, desordenadas ao longo do caminho.

- Meu Deus, Leo! Está muito frio! – grito sussurrando, sem saber como isso é possível, meio parada, meio andando, me despindo enquanto meu cérebro briga comigo para que faça o contrário.

- E desde quando você tem medo de frio? – pergunta ele, desafiador.

Com a disputa declarada, retiro as peças de roupa ainda mais rápido. Ele responde com uma risada larga. Sua cueca é a última a cair no chão. Sua bunda pálida corre em direção à lagoa. A altura de suas pernas não me dá chances, fico para trás.

- Quem chegar por último volta dirigindo! – grita ele, sem se lembrar ou se importar em sussurrar.

- Não! – retruco. 

Leo sabe que odeio dirigir a noite, ainda mais com os pés congelando, imagina? Por mais que acelere meus passos, é claro que seria impossível ultrapassar ele. Então apenas aproveito para assistir seu corpo ficar cada vez mais longe de mim, suas nádegas balançando enquanto o resto do corpo frigido finge não se abater pelo ar gelado. Não consigo conter uma gargalhada com a cena ridícula.

Ele abre a boca em um grito mudo quando entra na água. Meu corpo afunda no manto escuro alguns segundos depois. A temperatura na pele é realmente de calar qualquer palavra e qualquer risada instantaneamente. Leo mergulha, em um ato de coragem. Ou seria de loucura?Faço o mesmo. Meu cérebro congela. Tipo quando você toma um super gole de açaí de uma vez e a sensação é de que vai tudo direto para a cabeça. É isso, multiplicado por dez.

Como um pequeno iceberg, nado desajeitadamente em direção a Leo, e ele a mim. A busca por aquecimento é prioridade, mas não o único motivo. A lagoa é tão larga e está tão escura que é difícil enxergar para além de um metro de distância. Este definitivamente não seria o lugar ou situação ideal para nos perdermos um do outro. Ao tocar seu braço, descubro que não sou a única tremendo por inteira. Pelo visto, essa pequena aventura será breve.

Leo me puxa pela cintura, enfim reabre seu sorriso largo e satisfeito. Seus olhos sorriem junto. É destes olhares que nos fazem esquecer de tudo a nossa volta. Desde a primeira vez, Leo consegue me levar para universos paralelos, junto com ele, neste olhar, onde vejo toda sua felicidade, e a minha refletida nele.

É impossível não se contagiar com sua animação. Envolvo meus braços em seu pescoço, me entrelaço a ele e nos esquecemos do frio digno do Alaska. Não tenho certeza quanto tempo se passa até que um apito agudo soa em nossa volta.

- Tem alguém aí?! – grita uma voz masculina que só pode pertencer ao segurança do parque.

A voz vem de longe, embora seja impossível identificar de onde exatamente. Continuamos abraçados, imóveis, segurando arduamente o riso histérico em nossas gargantas. Leo me segura ainda mais forte, como se me chamasse, e coloca o dedo indicador sobre seus lábios em sinal de silêncio.

- Ai, meu Deus. O que é que a gente vai fazer? – pergunto, o mais baixo que consigo.

- Há apenas duas saídas: Se fingir de morto e continuar aqui em completo silêncio por tempo indeterminado, correndo o risco não apenas de morrer congelado, como também de o guarda perceber a luz da caminhonete acessa e pegar a gente de qualquer forma. Ou... – encerra ele, com uma pausa dramática proposital.

- Ou?!

- Correr pelas nossas vidas.

Ignoro o fato de Leo usar este momento para se sentir em seu próprio filme de ação e apenas o encaro, paralisada. Seus olhos brilham em excitação e tenho certeza que os meus não estão muito diferentes. Em mais diversão do que pânico, sabemos a resposta um do outro.

Com um impulso barulhento dentro da água, saímos o mais rápido possível da lagoa, correndo de mãos dadas. Na margem oposta, um raio de luz dança de um lado para o outro, denunciando a posição do nosso caçador. 

Nos separamos para pegar as roupas no chão e, ainda correndo, entramos no carro. Molhados e pelados. Leo dá a partida no carro e saímos pelo parque no breu, completando a missão com sucesso absoluto. 

Um amor para toda vida e nada mais [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora