Capítulo 30 | Yeah, we're goin' down

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Capítulo 30 | É, está tudo acabado agora

Leo já saiu para o trabalho há algumas horas, ainda assim, sua canção favorita do OneRepublic começa a soar dentro do quarto. Procuro de onde vem o toque abafado do celular e descubro a calça que ele usou no dia anterior abarrotada atrás da porta do banheiro.

- Mas a pessoa é tão louca que esquece o celular dentro do bolso da calça e, pior, vai trabalhar sem nem perceber que esqueceu. - penso em voz alta.

Saio do banheiro com a calça em mãos, tentando retirar o celular do bolso enquanto a música aumenta na mesma proporção que me desespero por não conseguir retirá-lo a tempo. Quando encontro o celular, jogo a calça no chão, mas a música "All The Right Moves" já cessou.

No visor, a frase "Você tem uma chamada perdida" acima de um número desconhecido. Em poucos segundos, a música retorna a tocar e o mesmo número de antes aparece na tela. Agora, em cima do número está o nome "Gabi". O celular vibra insistentemente em minha mão, mas apenas encaro a tela iluminada até que o celular pare de tocar mais uma vez. Agora posso ler "Você tem 2 chamadas perdidas" na tela.

Gabi pode ser apelido para Gabriel, não é? Não que ele já tenha mencionado algum antes. Não me orgulho do que estou prestes a fazer, mas uma curiosidade que só perde para a aflição que surge em mim, não me deixa outra alternativa. Sei a senha de Leo de cor e descubro que ele não alterou desde que morávamos juntos. E por que mudaria?

A primeira coisa que encontro ao desbloquear a tela são diversas chamadas feitas e ainda mais chamadas recebidas, as últimas com uma seta vermelha ao lado que indica "chamadas não atendidas". As informações até aí não são suficientes, apenas me instigam ainda mais. Não é meu direito, mas já estou dentro demais para sair agora, tomo coragem para fuçar nas mensagens contidas no celular.

É aí que acho o que procuro, mas o que nunca imaginei que realmente pudesse encontrar. Passo de mensagem a mensagem, que revelam confirmações de encontros e declarações como:

"Adorei te conhecer. Até a próxima?
Bjs, A."

"Ei. Como está o trabalho? Que tal um café mais tarde?"

"Não acredito que acabamos de fazer isso! :O"

"Meu Deus! Você faz meu dia valer a pena!
Beijooos, lindo!"

O chão sob meus pés desmorona, o celular treme em minhas mãos agora ainda mais do que quando vibrava com a ligação. Tenho a sensação de que um lutador de MMA acabou de dar um soco em meu estômago. Sento na beirada da cama, preocupada com o bebê.

Sentimentos confusos me invadem. Uma emoção e decepção como nunca senti antes. Se tem alguém que eu colocaria a mão no fogo para afirmar que nunca me trairia é o Leo. Jamais algo assim passaria na minha cabeça, nem agora nem antes. Não que estivéssemos juntos agora. Mas não estamos? De onde ele sequer tirou tempo emocional para conhecer alguém nesse momento?

Coloco o celular ao meu lado sobre o lençol da cama e forço uma respiração lenta e profunda. Tento me acalmar, mas meu corpo parece não obedecer. O coração bate mais forte do que uma bateria de escola de samba e meus olhos enchem de lágrimas sem pedir licença, a ponto de enxergar tudo embaçado à frente. No meio deste turbilhão de emoções, preciso ficar repetindo que Leo não está me traindo. Não é tão grave quanto eu sinto dentro de mim. Ainda que a sensação seja exatamente essa. Mas não. Não estamos mais juntos, não somos mais um casal. Eu e Leo não estamos mais juntos há meses.

Mais uma vez, toda essa reaproximação me confunde, me deixa maluca. E é isso. Este é o estopim. Como não me afetar por isso? É impossível. Leo é o pai do meu filho, é a única pessoa para quem conto realmente tudo e sou 100% verdadeira, sem medo de decepcionar ou ser julgada. Estamos juntos desde o dia em que nos conhecemos e decidimos ficar juntos novamente nessa mudança, nessa nova vida e até mesmo nessa encenação que já leva semanas. 

Mas, principalmente, eu e Leo sempre estivemos juntos na confiança de que um nunca esconderia nada do outro. Jamais algo tão importante assim. Não sei o que fazer agora. Por que ele não me contou? O que está acontecendo? Se ele queria conhecer outras pessoas, não há nada que eu possa sequer imaginar fazer para mudar isso, e se ele decidir que será mais feliz longe de mim, aceitarei. Arduamente, mas aceitarei.

Fingir sentir o que não sente, fingir estar presente quando está vivendo outra vida escondida, porém, não posso aceitar. Minha mãe enganou a todos e fugiu como se nada ali nunca tivesse pertencido a ela. Jamais aceitaria em minha vida alguém sequer semelhante a uma pessoa assim. Não foi ele quem disse que essa seria uma segunda chance para nós? E agora, como ficaria tudo? Se a encenação já era difícil antes, agora se tornara impossível.

Preciso contar tudo isso para alguém, preciso desabafar antes que meu peito exploda. Rosa infelizmente não é uma opção. Preciso de Eva. Mais do que para cuidar da vovó ou para me salvar quando a situação aperta, dessa vez eu realmente preciso de Eva. Pega o celular de Leo na cama, me levanto com um impulso e vou até a sala.

Com o telefone de Leo apertado em uma das mãos, agarro o aparelho como se fosse evidência de um crime. Busco, então, meu próprio celular na bancada da sala. Ainda tremendo, ligo para Eva. Ando de um lado para o outro quando ouço a voz eletrônica anunciar que a chamada está indo direto para caixa postal. Tento novamente e de novo, mas sem sucesso.

Poderia mandar uma mensagem se meus dedos parassem de tremer, mas eles não me obedecem. Jogo o celular no sofá, do outro lado da sala, que quica no estofado e cai no chão. Não me importo com o ocorrido, a essa altura a frustração me leva às lágrimas. Logo meu rosto está completamente molhado. Não tenho mais forças para continuar em pé. A decepção me deixa literalmente no chão, encostada na parede, minhas mãos sobre os olhos fechados.

Ouço Rosa falar com Minnie, se aproximando ao lado de fora da casa. Neste horário normalmente já estou com ela em sua cozinha, esquentando a conversa para começar o trabalho, então não é de se estranhar que Rosa tenha vindo atrás de mim desta vez. A hora do almoço se aproxima e ela não está mais acostumada a passar suas manhãs sozinha.

Tento me levantar rapidamente, mas a barriga está grande e pesada o suficiente para dificultar o processo. Quando Rosa entra pela porta de vidro com Minnie no colo e um pote de plástico no outro braço, acabo de me levantar e virar de costas para a porta. Caminho até a área da cozinha e disfarço o choro, enxugando as lágrimas o mais rápido possível. 

Um amor para toda vida e nada mais [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora