Capítulo 20 | Talvez eu te decepcione
(Status de Relacionamento: 87 MESES + 21 SEMANAS)
Faz um bom tempo desde a última vez que tomei um café da manhã tão tranquilo. A dispensa recheada de gostosuras saudáveis é incrível, mas melhor ainda é a sensação de uma nova chance de fazer as coisas darem certo, não comigo e Leo exatamente, mas no geral da vida mesmo. Tento não pensar em o quanto precisaria voltar a permitir ser vulnerável para que tentasse qualquer coisa com Leo novamente.Respiro fundo e me deixo ficar nesse momento mais um pouco. Estou quase em estado de meditação quando um Leo atrapalhado entra pela porta de vidro fazendo um som tão alto que por um momento pensei que fosse cair e quebrar, ou ele ou a porta.
- Ei, babe! Essas coisas aqui são meio estranhas mesmo. – diz ele, fechando a porta devagar, finalmente concordando com as causas dos meus arrepios na noite anterior.
Leo vem até a mesa do café, preparada especialmente para meu momento de paz e harmonia e começa a beliscar tudo antes mesmo de se sentar.
- "Babe"? – questiono, sugestiva.
- Sim? – replica Leo.
- Você acabou de me chamar de "babe". – explico.
É definitivamente cedo demais para apelidos do tipo. Não sei nem se um dia chamadas carinhosas assim voltarão a ser normalidade entre nós.
- Hm, eu? Imagine. Você deve estar sonhando. - finge.
Essa é boa. Para tentar disfarçar, ele se senta a mesa e enfia a cara no pote de requeijão. O encaro como se dissesse "Jura mesmo?!".
- De qualquer forma! Estava lá conversando com a Rosa... – continua ele, ainda sem olhar para mim.
- É, você acordou cedo. Caiu da cama? – pergunto, fazendo meu máximo para não demonstrar o quanto realmente estranhei não o ver ao meu lado ou em qualquer outro lugar da casa ao acordar.
- Não cai. – responde sério, como se nunca tivesse ouvido tal expressão e eu literalmente tivesse considerado a possibilidade de ele ter caído da cama. – Acho que é ansiedade, sabe? Essa mudança toda mexeu com o meu cérebro.
Como não se encantar com estes comentários de Leo? Ele age e fala exatamente como o mesmo cara que conheci oito anos atrás. Sei que as coisas não estão mais como antes, mas essa sua ingenuidade costumava me matar de amor. Solto uma risada por dentro, mas me seguro, não quero atrapalhar seu momento filosófico.
- Na verdade, eu queria mesmo é conhecer o marido dela, mas ele tinha acabado de sair para o trabalho. Ela combinou um almoço entre nós no centro da cidade para "conversarmos sobre negócios". – conta ele. – Hoje! Eu não faço ideia que tipo de negócio posso fazer com esse cara. Não sei nem no que ele trabalha. Aliás, como ele se chama?
- Beto. E, por incrível que pareça, eu também não faço ideia no que ele trabalha. Ai, meu Deus, e se for alguma coisa ilegal, Leo?! E se isso tudo for propriedade da máfia?!
- Ui, vendo filmes demais, hein? – debocha ele.
- Bem que achei muito estranho estar dando tudo tão certo. Oferta de casa e trabalho assim? Só pode ter alguma coisa envolvida! Alguma coisa ilegal.
- Adoro quando você é dramática. – diz ele, rindo. – Relaxa, Anna. Não deve ser nada disso. Pode parecer estranho para você, mas tem muita gente rica neste país trabalhando honestamente.
- Ah, é? Você conhece quantas? – desafio. Ele permanece quieto por um momento.
- Você acha mesmo que a Rosa se envolveria com alguém que trabalha para a máfia?
- Eh... Não. – admito. A Rosa poderia ser obstinada e mirar alto, mas ela tem um caráter como poucos. A não ser que ela não saiba dos detalhes específicos sobre o trabalho do marido!
- É, eu também tenho certeza que não. Vai dar tudo certo, você vai ver. – completa ele, se levantando.
Leo retira os pratos da mesa, me dá um beijo sereno na testa e começa a lavar a louça. A sensação de inquietude no peito me deixa nervosa. Mais do que pela preocupação repentina, porque o gesto de Leo também me deixa nervosa. Como tudo que tem acontecido ultimamente, me pego entre me deixar levar pelas sensações que nossa relação me traz e o receio de que tudo se repita. Me sentir bem com Leo parece uma prelúdio de me decepcionar com ele, como um dejavu em looping que não consigo ver, apenas sentir.
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Um amor para toda vida e nada mais [COMPLETO]
RomanceNo momento mais desesperado de sua vida, Anna descobre que tudo depende de uma segunda chance. Aos 28 anos de idade, Anna acredita que sua vida já está completamente fora de controle, seja culpa do retorno de Saturno, outro motivo cósmico, cármico o...