Capitulo 29 | Dreaming about the things that we could be

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Capítulo 29 | Sonhando com o que poderíamos ser

Caixas de papelão preenchem o quarto de paredes azul claro do bebê. Pedaços de um berço a ser montado espalhados pelo chão. Entre os objetos já montados ali por Rosa antes de chegarmos estão um armário alto, uma cortina fina na janela e uma poltrona, onde estou confortavelmente sentada.

Entre uma sacola de compras e outra, uma grande caixa de papelão e algumas ferramentas, Leo senta com as pernas esticadas, a testa franzida e um papel de instruções em suas mãos. Uma cena que observo com um quase encantamento. Em meio às suas pernas, as peças do berço fazem parecer que ele tenta decifrar um quebra-cabeça de 5.000 peças.

- Quero só ver se a gente vai conseguir montar isso, Leo!

- A gente nada. Eu né?! Você está aí sentada.

- Estou "descansando" porque você quase fez um escândalo quando tentei te ajudar.

- Mas é claro.

- Como claro? Não foi isso que aconteceu?!

- Sim. Estou errado? Não tem como você ficar agachando e se esforçando com essa barriguinha gravidinha, lindinha. Esqueceu deste detalhe?

- Estou grávida, mas não estou morta, tá?

Leo deixa a chave de fenda e as instruções no chão, se levanta e anda até mim. Meu corpo congela por um momento. Não estou acostumada a não saber seu próximo passo e nem sempre gosto de surpresas. Seu rosto se aproxima do meu e ele me dá um beijo suave na testa. Seu gesto carinhoso me faz parecer idiota por me preocupar tanto.

- Pode ficar tranquila, vou resolver todo esse problema em um segundinho. – diz ele.

- Tipo do mesmo jeito que você resolveu o balcão da nossa cozinha? – brinco, apesar de também estar falando sério.

- Opa, peraí, pegou pesado. – diz ele, interrompendo seu caminho até a caixa de papelão para retrucar. – Você sabe muito bem que aquele balcão veio com defeito de fábrica.

- HA! Claro que não.

- Defeito de fábrica! – continua ele, agora em busca de algo dentro da caixa.

- Sei bem quem veio com defeito de fábrica aqui.

- Isso aqui não é defeito, não, é peça única, meu bem. Extra tasty! – diz ele, passando as mãos das pelas laterais do corpo e finalizando com uma piscadinha.

- Meu Deus! - dou uma risada alta, sem resistir a seu jeito - Olha só o que foi cair na minha vida! O que eu fiz para merecer isso?

- Ou como diria a Eva, é carma. – relembra ele, enfim voltando sua atenção para a caixa de papelão. - Então só pode ter feito coisa boa, tenho certeza!

- É, belo carma. – concordo, me levantando da poltrona. - Fica aí montando tudo direitinho, super-homem, que eu vou levar o resto das compras para o quarto e tomar um banho.

- Ah-Ha! – exclama ele, vencedor, ao retirar da caixa uma peça do tamanho do seu dedão e a erguer no ar.

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Em minha breve escapada, Leo parece ter conseguido fazer progresso na montagem do berço, mas não muito. Seu semblante ainda confuso tenta juntar algumas das peças jogadas aleatoriamente ao seu redor. Persistente, ele continua compenetrado e nem ao menos nota minha presença no batente da porta, ainda que a barriga já ultrapasse os limites do quarto.

Aproveito para me encostar por lá e observar seus movimentos quando ele está sozinho. O cheiro de erva doce do xampu em meu cabelo molhado, porém, não demora a lhe chamar atenção.

- É, não está dando muito certo isso, não. – admite ele, mais desanimado do que quando o deixei. Me sinto compadecida com a situação. Sei que conseguir montar o berço sozinho seria um sucesso para Leo. - Até deu aqui, mas essa parte...

- Defeito de fábrica? – pergunto, mais doce dessa vez.

- Leu meus pensamentos. Só pode ser.

- Não tem problema, Leo. Amanhã a gente tenta de novo, chama o Jorge, não sei... Já está tarde. Se o Tico e o Teco já demoram para funcionar durante o dia, a esta hora não há chances.

- Poxa. – lamenta ele.

Leo deixa a ferramenta persistia em ocupar suas mãos, se levanta e caminha até mim novamente.

- Estou brincando. - digo, tentando o animar um pouco. - Você realmente fez um ótimo trabalho com... essa metade. Está mesmo boa, tipo bem encaixada. Parece firme e tudo mais.

Parado à minha frente, sem dizer nada, ele se aproxima um pouco mais, colocando suas mãos em meu quadril. É como já fez muitas vezes na vida. A diferença é que agora nossa intimidade é outra, como se nossa história até aqui não pudesse ser ignorada e nossos corpos soubessem disso.

Tão perto de mim, olhando fixamente em meus olhos, sinto a presença de cada centímetro do seu toque em mim. Minha respiração acelera. Torço para que ele não perceba. Sinto como se a gravidade nos puxasse cada vez mais perto um do outro. Talvez sejam apenas os hormônios, tirando meu equilíbrio mental, me deixando louca por nada.

Desencosto do batente da porta. Não consigo conter a sensação de que o próximo passo natural, realizado milhares de vezes no passado, seria um beijo, um beijo como só nós compartilhamos.

Sei que esta será a ação de Leo e o desfecho inesperado (e, ainda assim, no fundo, muito esperado) deste dia tão bom. Leo, então, sobe milimetricamente suas mãos até minha barriga, desvia seu olhar do meu para baixo, inclina seu torso e beija a barriga por cima de minha larga camisa de dormir.

- Vou tomar banho. – sussurra ele.

Leo sai lentamente do quarto. Não tenho reação. Não sei o que dizer, nem pensar. Meu coração acelerado demora a voltar a um compasso aceitável. Minha respiração é a única capaz de se reequilibrar nesse momento, já minha cabeça demorará um pouco mais para voltar ao normal e tentar compreender o que acaba de acontecer.

Um amor para toda vida e nada mais [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora