Capítulo 14 | Saia devagar do chão
Combino de me encontrar com Leo no parque municipal novamente. Não tenho certeza, mas talvez tenha sido aqui que descobri, inconscientemente, que Leo não era para mim apenas uma paixão de faculdade. Aqui descobri que era com ele que queria passar o resto dos meus dias.
A primavera está prestes a chegar. É a época do ano em que o parque fica mais bonito. O sol forte ilumina a grama e as árvores, parece lhes prometer que a temporada cruel de inverno logo chega a seu fim. Diz, ainda que com vento frio, que agora ele volta radiante para trazer a elas uma nova vida, um recomeço, que logo este tempo ruim não passará de uma lembrança distante e amarga.
Espero por Leo sentada em um banco. Com as mãos sobre a barriga, sinto o bebê começar a chutar e penso como deveríamos arrumar um nome para ele logo. Desde o início da gravidez, tive medo sequer de imaginar como este pequeno ser estava crescendo dentro de mim. A cada dia que mais o amava, mais sentia receio por ele e por mim. Um nome trazia a realidade da responsabilidade. Mas chega de adiar. Hoje me sinto mais forte para imaginar esse maremoto que vive em mim como alguém que veio abalar minha vida. Para o bem.
E, pelo visto, o movimento será agitado. O ritmo frenético dentro de mim me faz desconfiar que ele esteja de alguma forma se divertindo lá dentro. Não há como não mergulhar completamente em nossa primeira conversa silenciosa. Ao longe, vejo Leo caminhar apressado em minha direção. Me levanto calmamente para encontrá-lo.
- Oi. Obrigada por vir até aqui. – digo quando chego até ele.
- Sem problemas! Está tudo bem?! – pergunta, recuperando seu fôlego, perdido um pouco pela ansiedade, um pouco pela caminhada.
- Sim, tudo bem. Na verdade, tenho uma boa notícia. – informo, seguindo de volta até o banco onde estava, já que Leo, mais do que eu, precisa de um descanso. – Você se lembra da Rosa, dona da boutique onde trabalhei no ano passado?
- Claro. Ela era hilária! – responde ele, rindo, enquanto nos sentamos.
- É, e pelo visto não mudou muito. Ela estava na cidade ontem e a gente saiu para um jantar informal. – inicio, e então espero um momento antes de continuar. Não sei pelo que, mas uma pausa dramática me parece apropriada. – E ela me ofereceu um emprego em sua nova loja. Como Gerente Administrativa.
A surpresa de Leo imediatamente se estampa em seu rosto através das sobrancelhas que se erguem em arcos. Ele se mantém calado. Quase posso ver sua mente processando a informação diante de meus olhos. Então, ele estica sua coluna e encosta no banco, tomando fôlego.
- Uau, Anna! – afirma ele, enfatizando o que o corpo já diz.
Espero novamente, desta vez por mais reações de sua parte. Tenho mais a dizer, mas a vez ainda está com ele. Seu corpo se volta para frente de maneira que ele possa me olhar nos olhos. Leo me encara, forma uma linha invisível entre nós que ele gosta de criar quando está prestes a dizer algo importante.
– Isso é incrível, parabéns! - continua, usando suas mãos quentes para segurar suavemente as minhas um tanto frias. - Você merece. Eu sabia que uma hora tudo daria certo, não te disse?
- Disse. E é, sim, bastante incrível. Estou muito feliz. Mas ainda tem mais. A loja nova fica em São Paulo. Ela vai abrir um negócio bem promissor, um grande investimento, e quer a minha ajuda.
- Ei, opa! – se agita ele, mudando seu semblante satisfeito para um franzido. – Você vai se mudar?! Com o nosso bebê?!
- Bem, parece que para onde eu for ele vai junto, então, sim.
- Mas não dá. Nós temos que ficar juntos, nós três.
- Eu sei, mas você entende que não posso deixar esta chance passar, não é?
Ele desenlaça seus dedos dos meus e faz menção de falar algo.
- Me deixe concluir. – peço, pegando sua mão de volta para a minha, usando toda paciência que consigo. – A Rosa não sabe que a gente não está mais junto e disse que me deixaria ficar um tempo na casa dela até me assentar na cidade... E disse que você pode ficar lá comigo.
- Você não contou...? Não contou que não estamos mais juntos?
- Não. – respondo, sem graça.
- Por que não?
- Porque ela disse que te acolheria também. A chance de você arrumar um trabalho por lá é muito maior do que aqui. Não é a situação ideal, mas é a que temos. Não podemos mais nos preocupar apenas com o que desejamos. É o melhor para ele. – digo, acariciando minha própria barriga. – Essa proposta tão maluca e inesperada bem agora que voltamos a nos falar. Talvez seja exatamente o que precisamos. Tipo a Lei da Sincronicidade ou algo do tipo.
- Ok. Nunca ouvi falar dessa Lei aí, mas já estou gostando dela.
- Além do mais, ela não parava de falar. Nem tive tempo para pensar direito, muito menos para explicar alguma coisa.
Ao finalmente se dar conta da conclusão da conversa, Leo não consegue esconder o quanto está feliz, mas tenta.
- Tudo bem. – concorda ele, com um sorriso gigante no rosto, que tenta controlar sem sucesso.
- Então? Você topa ir comigo? – pergunto.
- Quantas vezes você quiser!
- Quando exatamente você termina seu trabalho na biblioteca?
- No final desta semana. – responde ele, com uma animação infantil que quase o faz saltar no banco do parque.
- Acho que vamos viajar, então. - concluo, e uma montanha-russa diferente começa a percorrer dentro de mim.
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Um amor para toda vida e nada mais [COMPLETO]
RomanceNo momento mais desesperado de sua vida, Anna descobre que tudo depende de uma segunda chance. Aos 28 anos de idade, Anna acredita que sua vida já está completamente fora de controle, seja culpa do retorno de Saturno, outro motivo cósmico, cármico o...