Capítulo 07 | Como nenhum outro
Não consigo me lembrar da última vez que vi Leo tão sério. O encaro de volta, sei que está certo.
- O ponto é. – começo. – Não sei o que fazer e tenho uma bomba relógio dentro de mim, exatamente como Juno. Diferente dela, não tenho mais 16 anos. É totalmente compreensível se sentir assim ao estar grávida de um "ficante" do colégio aos 16 anos, mas não aos 28. Era de se esperar que a essa altura eu soubesse o que fazer da vida ou pelo menos como sustentar meu filho.
- Bom, não vou te dizer que você não está ferrada. – comenta ele, desta vez não em tom de brincadeira. Não como o Leo que costuma fugir de um assunto sério quando o problema aperta. Ele está calmo, deve saber que o melhor que pode fazer é ser sincero comigo.
- O que você vai me dizer, então? – pergunto, no mesmo tom, porque às vezes ele me acalma das maneiras mais inesperadas do mundo.
- Que você vai encontrar uma saída. – responde Leo, com uma confiança natural que nunca vi tão grande em outra pessoa. - Nós vamos.
Talvez seja o fato de ele não recorrer aos seus truques de costume, suas piadas, sorrisos e gentilezas, mas seu tom muda dessa vez, e não é, de alguma forma, só mais uma positividade típica do Leo. Dessa vez, é como se ele pedisse de verdade para confiar no que ele diz, porque podemos mesmo dar um jeito, juntos.
Mesmo que eu não queira admitir ao Universo ou a mim mesma, a verdade é que ele é o meu Leo. Ou era. Mas eu sou a Anna, ele é o Leo, e essa é a nossa lanchonete. Não há mentiras nem desconfianças aqui.
O conflito que me cerca pelos últimos meses ainda existe cada dia mais forte dentro de mim. Mas a cada momento que passo ao seu lado, mais o dia de hoje faz crescer a sensação de que algo bom pode realmente acontecer, aquela sensação que era sempre tão comum ao lado dele e eu tinha me esquecido.
Tive medo de me reaproximar e de toda vulnerabilidade que isso poderia me trazer. Agora, não sei mais como voltarei a me afastar. E poderia ou mesmo se deveria. Estes últimos meses não foram nenhum pouco melhores sem esse mundo da lua para acompanhar. Juro que pensei que seriam, que este era a base de todos os problemas.
Será que estava tão errada assim? Leo não me ajuda nas soluções. Não como gostaria. Mas o caminho difícil parece ser melhor com ele aqui. Foi aqui mesmo que já nos juramos sem ter dúvidas que ele estaria comigo e eu com ele até o fim do mundo. A promessa de uma vida, proclamada com fulgor por tantos casais. Essa que se foi quando deixamos de ser, mas que, quem sabe, ainda existe, de outra forma, entre nós.
A garçonete se aproxima novamente, entregando os sanduíches.
- Vou te dizer que não há outro lugar com um hamburguer tão maravilhoso como este. Sério, eu procurei. E, olha, eu estava morrendo de saudades! – diz ele, pegando uma garfada gigantesca do prato e colocando o suficiente na boca para encher suas enormes bochechas. Sua animação é a mesma de uma criança que visita seu playground favorito depois de um mês de castigo.
- Saudades? Não veio mais aqui em busca do hambueguer perfeito? - perguntei.
- Não, não consegui. - ele respondeu, simplesmente. – Sabe o que a gente deveria fazer?! – continua, como se se desviasse de seus próprios pensamentos.
- Por favor, não diga misturar com Milk shake de chocolate.
- Nossa! Lembra quando eu e o Lucas fizemos isso?!
- Infelizmente. – assumo.
- Nunca vou me esquecer. Não deu muito certo.
- Eu sei. Espero que você não se esqueça também quem te acudiu naquela madrugada fatídica no banheiro.
- Eca. – admite ele. - Enfim. Nada de misturebas, passei dessa fase. Deveríamos fazer uma road trip!
- Talvez já esteja na hora de você passar da fase das ideias insanas também, Leo.
- Não, é sério! Como nos filmes. Quando dois personagens precisam descobrir como solucionar um problema aparentemente sem solução, eles pegam a estrada, entendem melhor sobre a vida, descobrem uma saída e pronto: Final feliz. É tão natural. Deve funcionar!
- Ai, Deus. Juro, eu não quero ser estraga prazeres nem nada, mas essas são estórias criadas. Ficção, sabe? Além de que, a gente não tem dinheiro nem para a gasolina de uma road trip digna o suficiente. E, sinceramente, é mais provável que uma viagem juntos faça com que a gente se odeie ainda mais do que se entenda.
- Eu não odeio você. – diz ele, na defensiva, interrompendo o caminho da sua segunda grande mordida para me encarar, sem conseguir esconder a tristeza na voz.
- Eu... Eu também não odeio você. – me apresso a dizer. - Foi um jeito exagerado de falar só.
As palavras que saem da boca sem intenção mais uma vez não podem ser colocadas de volta.
- Eu só estou dizendo que simplesmente não tem como isso acontecer. Pela simples situação financeira mesmo. E você tem lá seu trabalho, seu aluguel, sair para viajar - mesmo que desse - seria só mais um problema para você.
- Mas você sempre vai ser um problema meu.
- Eu sempre vou ser um problema? – pergunto, manhosa. Meu máximo recurso para tentar consertar a situação.
- Você entendeu o que eu quis dizer. – diz ele, rindo. - Que tal um final de semana, então? A gente anda por aí por dois dias, uma noite, e já está de volta.
- Mas de que isso vai adiantar?
- Eu não sei, mas talvez adiante. Além do mais, você já decidiu nossos destinos uma vez. - diz ele, enquanto finjo não entender que ele se refere a separação. - Sinto muito, agora é a minha vez. Momentos desesperados exigem atitudes desesperadas.
Tenho 90% de certeza que ele tirou essa frase final de algum filme, e não necessariamente um filme bom, mas não é exatamente uma fala que não se aplica, não é mesmo?
Concordo em silêncio e me entrego para meu próprio mega-tudo-burguer, que a este ponto, pelo cheiro, já despertou o monstrinho cheio de fome que vive dentro da minha barriga.
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Um amor para toda vida e nada mais [COMPLETO]
عاطفيةNo momento mais desesperado de sua vida, Anna descobre que tudo depende de uma segunda chance. Aos 28 anos de idade, Anna acredita que sua vida já está completamente fora de controle, seja culpa do retorno de Saturno, outro motivo cósmico, cármico o...