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— Vitória! Vem aqui! — Eduarda chamou, segurando a agenda da filha nas mãos.

— Oi, mamãe! — Disse, indo até a sala, já vestida com o uniforme, pronta para a escola. Assim que vê sua agendinha rosa nas mãos da mãe, seu sorriso morre.

— Tu me disse que não tinha nenhum recado pra mim. — Diz, com um tom de reprovação.

— Eu ia mostrar! Mas aí tu ia brigar comigo. — Diz, olhando pra baixo.

— Quantas vezes eu já não te pedi pra parar de brigar na escola, filha? — Perguntou, ajoelhando-se para poder olhá-la nos olhos.

— Eu não tava brigando! Eles tavam fazendo o Gui correr, aí eu belisquei eles, porque ele ia ficar doente, ficar tossindo, sabe? — Du suspirou, passando a mão no rosto, estressada. Estava quase na hora de ir trabalhar e deixar as crianças na escola.

— Vitória, eu admiro que tu defenda seu irmão, mas ele tem que aprender a se defender sozinho, tu não pode beliscar todos os seus amiguinhos da escola. Quando for assim, tu fala pra mim ou pra tia Cláudia, tá? — Vitória concordou com a cabeça, chateada. Du levantou o rostinho dela e tirou uma mecha de cabelo de seu rosto. — Vai chamar o seu irmão e pega sua mochila, a gente tem que ir. — A menina concordou, correndo até o quarto onde dormia com a mãe e o irmão. Du assinou rapidamente a advertência da filha, colocando a agenda de volta na mochila, quando a pequena a trouxe.

— Mamãe. — Guilherme apareceu, manhoso.

— O que foi, Gui? — Perguntou, preocupada com o rostinho triste do filho.

— Eu não quero ir. Todo mundo vai brincar e aí eu vou ficar pra trás. — Diz, triste.

— Ai, meu pequeno... — Diz, o pegando no colo. Ela mal sabia o que fazer naqueles momentos, lhe doía o peito não poder fazer nada sobre a doença do filho. — Tu tem que ir. Quando for assim, para um pouco antes de cansar e fala com a tia Cláudia, tá? — Gui cincordou com a cabeça, ainda triste.

A dor de cabeça de Du havia retornado, mesmo que a mesma houvesse tomado um analgésico apenas uma hora atrás. Desde que os sintomas de asma de Guilherme haviam aumentado, o menino tinha dificuldade para acompanhar os amiguinhos enquanto corria, e agora, ele precisava trocar o tratamento, já que apenas o controle das crises não vinha sendo suficiente. O problema era o quão caro era o remédio que Gui precisava, Eduarda não sabia de onde tiraria dinheiro para manter o tratamento. Mas daria um jeito, sabia que daria.

— Agora vai pegar sua mochila, se não a gente vai se atrasar. — Disse ela, colocando o menino no chão e pegando sua bolsa.

Os gêmeos apareceram, cada um carregando sua mochila nas costas e os uniformes da escola em seus corpinhos.

— Pegaram o lanche? — Perguntou. Os dois concordaram com a cabeça. Ela suspirou. — Hora de começar uma nova semana. — Sussurrou, abrindo a porta e dando a mão pros dois, andando rapidamente pelo prédio onde moravam e indo até a rua.

Fizeram o caminho de sempre até o ponto de ônibus. Du pegou o ônibus que ia até a frente da escola das criança e as deixou lá com um beijo, checando antes se o filho levava consigo medicamentos de alívio para suas crises asmáticas e ajeitando uma última vez as maria-chiquinhas de Vitória, embora soubesse que até o fim do dia estariam quase soltas.

— O tio Xana vem buscar a gente? — Perguntou Vitória.

— Vem sim, meus amores, encontro vocês depois da aula. Amo vocês, boa aula. — Deseja, e assiste a professora levar as crianças para dentro, em seguida correndo pro ônibus, onde volta a fazer contas com seu dinheiro, pensando no que faria para garantir a medicação regular do filho, mas sempre lhe faltava dinheiro. Ela suspirou. Talvez devesse falar com seu Manuel e perguntar se ele não poderia aumentar seu salário, pelo mínimo que fosse, já ajudaria.

Rockabye - LucaduOnde histórias criam vida. Descubra agora