25

134 10 20
                                    

Du estava se sentindo culpada. Tentando diminuir a culpa, ela repetia para si mesma que não estava fazendo nada de errado. Lucas é o pai de seus filhos. O fato de que ela foi perdidamente apaixonada por ele por diversos anos era apenas um mero detalhe. Detalhe que ela não mencionou para Gael. Como também não mencionou que agora ela e as crianças estavam morando com Lucas.

Ver o rapaz se afastar do bar sem que ela tivesse contado os acontecimentos recentes fez com que seu coração se afundasse em seu peito. Eduarda não fazia questão de contar da paixão avassaladora que sentia por Lucas para seu atual namorado, achava que a informação era dispensável, principalmente depois da recente aproximação que ela estava tendo com ele, então ela não se sentia tão culpada assim por esse segredo. Mas morar com Lucas era uma coisa extremamente relevante. O que aconteceria se Gael fosse visitá-la e encontrasse o apartamento vazio?

Ela suspirou. Ter passado uma conversa inteira escondendo seu endereço atual fez com que tudo aquilo parasse de ser um detalhe que ela mencionaria casualmente, como ela tentava se convencer, e passou a se tornar um segredo, uma mentira, uma desconfiança, uma rachadura. Du conteve sua vontade de chorar. Não era mais como se ela estivesse prorrogando a notícia, mas sim como se estivesse escondendo algo. Teoricamente, não havia nada a ser escondido. Dois adultos com filhos encontrando a conveniência mútua de cortar de gastos, melhorar a convivência das crianças com os pais, que moram juntos, apesar de não ter nenhum sentimento um pelo outro. Nada demais.

Então por que Eduarda se sentia tão apreensiva só de pensar em contar isso para seu namorado?

◤◢◤◢◤◢◤◢◤◢◤◢◤

Naquele dia, chegou na casa de Lucas (que agora também passara a ser sua) e foi recebida com dois abraços carinhosos. Seu coração ainda pesava da angústia que sentira ao conversar com Gael sem mencionar o fato de que agora estava morando com o pai de seus filhos. Enquanto as crianças contavam seu dia, a mente de Eduarda vagava para longe, e ela só ouvia uma coisa ou outra sobre livros e joias. Estava feliz que os gêmeos tinham se divertido, mas além disso, estava grata que conseguia contar com Lucas para ficar com seus filhos enquanto ela tentava gerenciar sua vida.

"Tô com saudades. Posso passar aí pra gente se ver?" A mensagem apareceu no celular de Eduarda enquanto ela terminava de arrumar os gêmeos pra dormir. Ela lambeu os lábios, inquieta.

"me encontra amanhã a noite no bar do Manuel, aí a gente conversa" — Foi a resposta dela. Du sabia que o tom da mensagem não era muito bom, mas ela se esforçou para ser sutil, já que era verdadeira demais pra fingir naturalidade numa situação como aquela.

"Tá bom amor 💘" — Enviou ele. Sua intenção era, de certa forma, testar Eduarda, afinal ele a conhecia. Se tudo estivesse bem, ela enviaria algo também. Mas não, a mensagem foi apenas visualizada. Isso foi suficiente para que Gael especulasse como seria a conversa na noite seguinte.

◤◢◤◢◤◢◤◢◤◢◤◢◤

— Eu acho que os gêmeos deveriam estudar na mesma escola do Pedrinho. — Marta disse, abordando Eduarda no corredor do apartamento.

— Hã? — Perguntou ela, genuinamente confusa. Havia acabado de fazer os dois adormecerem e sua cabeça ainda vagava entre as suas questões pessoais.

— Quero matricular os gêmeos na escola do Pedrinho. — Repetiu Marta.

— Desculpa, mas por quê? — Perguntou. A mais velha observou o cansaço nos olhos dela e deu um sorriso triste e comovido. Ser mãe era um trabalho árduo que exigia muito da mulher que o exercia. E uma mãe conseguia identificar a exaustão no rosto de outra mãe.

— O Guigo me contou hoje que as crianças na escola dele não são muito... acolhedoras com ele. Deixam ele de lado. — Eduarda suspirou, concordando com a cabeça.

— É assim desde que a asma começou a piorar. Ele não conseguia correr, as professoras não sabiam o que fazer e só tiravam ele da brincadeira. — Disse ela.

— Se eles não sabem como lidar com o Guilherme, não estão preparados pra ter um aluno como ele. Outras escolas podem oferecer um ambiente e um tratamento melhor. — Falou Marta, fazendo Du concordar com a cabeça.

— Eu sei, dona Marta. Mas é que é a única escola perto de onde eu trabalho que tem vaga. — Disse, genuinamente triste e se sentindo impotente perante a situação do filho, sem saber o que fazer para mudá-la.

— A do Pedrinho tem vaga. E se não tiver, faço abrir. São meus netos, oras. — Eduarda riu com o comentário.

— Agradeço de coração, viu, dona Marta? Mas eu não tenho dinheiro pra bancar uma escola cara como a do Pedrinho. Agora tô pagando o tratamento do Guilherme e o dinheiro tá ainda mais apertado. — Falou, um sorriso triste estampado em seu rosto.

— O João Lucas paga. São filhos dele também. — Marta disse, dando de ombros.

— Eu passo, viu? Da última vez que eu e o Lucas nos vimos, antes dos gêmeos, ele me chamou de interesseira pra baixo. Eu é que não vou dar motivo pra ele achar que sou interesseira mesmo. Respeita minha história.

— Ah, deixa disso, menina. Orgulho não vai te levar a lugar nenhum.

— Não é só pelo orgulho, dona Marta. Aquilo me afetou de verdade. Escondi os gêmeos dele porque achava que se eu falasse, ele ia me humilhar de novo, e depois do jeito que a primeira humilhação me destruiu, eu não queria passar por aquilo de novo mas nem morta.

— Meu filho te a— A palavra "ama" parou na garganta de Marta, que tossiu e retomou sua fala, percebendo o deslize que quase cometera — adora. Ele te adora. Deve ter dito isso sem pensar na época, nunca que repetiria esse erro.

— Mesmo assim, aquilo me deixou muito mexida. Não quero ser vista como interesseira, sanguessuga. Não sou assim. O que eu sentia pelo Lucas era completamente verdadeiro. Eu não sou boa de fingir, dona Marta. E não vou esconder meu incômodo se ele começar a bancar meus filhos e eu. Só de estar nessa casa eu já me sinto mal, fico pensando no que ele me disse naquela vez, e me dá vontade de sair correndo com meus filhos daqui. Mas tenho que ser racional, né? O Guilherme precisa daquele tratamento. E eu tô gastando tudo que tenho naqueles remédios.

— Eduarda... — Começou Marta, pigarreando pra tentar se recompor. Ela queria dar uma bronca no filho, mas sabia que ele havia dito aquilo anos atrás e que já não era mais aquele garoto imaturo, e sim um homem. — Eu pago. Também ganho por trabalhar na empresa.

— Obrigada, dona Marta, de coração. Mas eu vou dar meu jeito, sempre dei. Vou ver se consigo vaga pra eles em outra escola...

— São meus netos. Eu quero o melhor pra eles. E pra mim, o melhor é que estudem nas melhores escolas do Rio de Janeiro. Tenho influência nesses lugares, tem peixe grande que come na palma da minha mão, e ai deles se o Guigo chegar em mim triste de novo. — Eduarda teve que rir do jeito de Maria Marta, mas estava se sentindo tentada a aceitar a proposta.

— Não sei, não, dona Marta... tá muito em cima...

— Eu ajeito a matrícula deles até semana que vem. E pode ficar despreocupada, que o boleto vai vir no meu nome.

— Dona Marta... — Ia começar a contestar sobre a questão do dinheiro, mas a mulher a cortou:

— Eles são sangue do meu sangue e quero zelar pelo bem deles. — Disse, arrancando um sorriso de Du. — E eu entendo você. Ser humilhada por um homem que você tem carinho — e que você ama, Marta adicionou mentalmente, mas não verbalizou. —, ser tratada como um nada por alguém que você sempre se importou e quis o bem machuca, e muito. E sinto muito por você ter passado por isso. Ninguém merece uma dor como essas, mas o Lucas tá tentando se redimir. E tudo bem você ser cautelosa, mas vai dando chances pra ele mostrar que melhorou, que não é mais aquele garoto imaturo.

— Tudo bem, dona Marta. Obrigada, tá? Pelos conselhos, pela escola, por tudo. — Disse, abraçando a avó de seus filhos.

— Não precisa agradecer, é um prazer. Você cresceu demais nos últimos anos, se tornou uma mulher incrível. — Eduarda sorriu, sentindo Marta apertá-la. — Enfim, boa noite. Até semana que vem eu deixo as coisas da escola no esquema. — Disse, soltando-a.

— Boa noite. — Desejou de volta, observando aquela mulher sensacional se recompor e tomar seu caminho

Rockabye - LucaduOnde histórias criam vida. Descubra agora