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— Eduarda! — Chamou o pai do amigo de Guilherme. — Ele tava correndo com as outras crianças, daí ele começou a tossir e...

— Cadê ele? — Perguntou ela.

— Ali. — Ele apontou para uma pequena multidão.

Eduarda correu na direção do filho, abrindo espaço entre as pessoas com Lucas em seu encalço. O coração do rapaz estava desesperado e a sensação só piorou ao ver o menino pálido sentado em um banco, tossindo e hiperventilando, tão incapaz de respirar que sequer conseguia falar. Vitória foi colocada no chão pela mãe e pediu colo para o pai, que aceitou a oferta e a segurou, acalentando-a enquanto tentava acalentar a si mesmo. A mãe do garoto entregou a ele a bombinha, e depois de começar a utilizá-la, o garoto pareceu melhorar aos poucos, mas caiu em um choro dolorido depois do evento.

— Dessa vez foi ruim. — Vitória disse, apertando-se no aperto do pai.

— Como assim? — Perguntou Lucas, observando enquanto Eduarda abraçava o filho e tentava acalmá-lo.

— Quando o Guigo não consegue falar é porque foi ruim. O médico disse que isso é um sinal ruim. Sinal de que ele não tá melhorando. — Vitória disse, fazendo Lucas engolir em seco e olhar desesperado para Eduarda e seu filho, que ela erguia no colo, começando a caminhar na direção do rapaz.

— Vamos pra casa. — Eduarda disse, séria, e ninguém se opôs. Se despediram brevemente, pegaram duas sacolinhas de lembrancinha e foram para o apartamento da moça.

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— Ele dormiu. — Disse Eduarda, saindo do quarto onde dormia com as crianças. Xana e Naná haviam ficado sabendo da crise e foram até o apartamento da moça, onde ajudaram a mãe a se acalmar e cuidar do pequeno. — Dessa vez foi uma crise forte. Eu tenho medo que da próxima vez só a bombinha não resolva, que ele simplesmente pare de respirar e... — A mulher parou de falar, enxugando uma lágrima sutilmente.

— Ah, não, Du... não pensa assim, você vai conseguir o dinheiro pro tratamento dele. — Xana disse, abraçando a moça.

— Eu pago. — Lucas disse, caminhando na direção deles.

— Não, Lucas. Eu já falei que eu não quero nada de você. Eu vou comprar esses remédios com o meu dinheiro. — Respondeu, recuperando sua compostura.

— Eduarda, isso não é uma questão de orgulho. É a vida do nosso filho que tá em jogo. — Respondeu, se aproximando dela.

— Vitória, vem com o tio Xana e a tia Naná, tá? Vamos comprar um picolé ali na esquina. — Xana chamou, fazendo a pequena correr até o casal e caminhar com eles para fora do apartamento.

— Lucas, eu tenho o dinheiro pro tratamento. — Contradisse.

— Então por que ainda não deu início?

— Porque o valor é a merda meu salário inteiro! Eu tô juntando dinheiro faz tempo, tá? Mas tô com o aluguel atrasado faz tanto tempo que se eu não pagar, eu não vou ter mais onde morar! Não que isso seja surpresa pra mim, porque depois que meus pais me chutaram de casa como se eu fosse um lixo, eu tive que me virar. Então não me venha com essa sua palhaçada de salvador da pátria porque eu nunca precisei de salvador nenhum, eu sempre dei meu jeito pra tudo, e não vai ser agora que eu vou precisar da porcaria do seu dinheiro pra alguma coisa! — Exclamou, derramando todo a angústia e raiva acumuladas que vinha ocultando por anos.

— Eduarda, me deixa ajudar. — Lucas disse, querendo achar uma maneira de se redimir e aliviar uma baixa porcentagem da culpa que sentia.

— Pra quê? Pra tu me chamar de interesseira de novo? — Disse Du, lágrimas solitárias escorrendo pelas suas bochechas enquanto ela rapidamente as limpava.

— Du, eu fui um idiota com você e você tem total direito de estar brava. Mas por favor, eu só quero te ajudar. — Implorou, chegando ainda mais perto dela e estendendo a mão para tocar levemente no rosto dela.

— Eu não quero que esse dinheiro venha de você, eu já disse. — Reforçou Eduarda, a voz chorosa com os soluços engasgados em sua garganta.

— Então não precisa ser com dinheiro. — A frase fez a mulher revirar os olhos e o olhar cética e de certo modo, até irritada.

— E o que você sugere? — Perguntou, o olhando com incredulidade.

— Vem morar comigo. — Sugeriu ele, com um sorriso sutil nos lábios.

— Você pirou, Lucas? — A feição de Eduarda denunciava sua confusão.

— Tô falando sério. Você não disse que o problema era pagar o aluguel? Não paga. Sai daqui e vem morar comigo. Tem um quarto vago em casa. E daí você usa o seu dinheiro no tratamento. Por favor. Pelo nosso filho. — Disse pausadamente, sem querer que ela se irritasse mais e que realmente considerasse a sugestão.

— Tudo bem. Mas eu tô fazendo isso pelo Guigo, tá? — A resposta dela faz o coração de Lucas se aliviar, fazendo-o trazer a amiga para um abraço apertado. — Só deixa eu te fazer uma perguntinha antes.

— Faça. — Respondeu Lucas.

— A sua família sabe dessa oferta?

— Acho que talvez vocês possam se conhecer enquanto a gente prepara a mudança, não? — Eduarda suspirou, se soltando do abraço do rapaz.

— Eles nem sabem que a gente existe, né? — Perguntou ela.

— Bom, com o tanto de notícias que saíram de nós dois, ia ser difícil deles não saberem que vocês existem. — Respondeu ele de forma meio brincalhona, também incerto sobre o que dizer em seguida.

— Ai, Lucas. Burra fui eu, de achar que alguma vez na sua vida tu planejaria alguma coisa. — Ela disse, oscilando entre a preocupação e a irritação.

— As melhores coisas que acontecem na minha vida não tem planejamento. A empresa, meus filhos... você. — Enquanto Lucas dizia isso, pensava em diversas situações de sua vida em que coisas não planejadas se mostraram melhores que as planejadas.

— Eu? — Ela perguntou, confusa.

— É, você. — Disse, sorrindo, mas com uma sensação borbulhante no estômago que ele não sabia explicar.

— Por que eu?

— Porque eu nunca planejei te reencontrar. Na verdade, eu sequer planejei te perder. — Eduarda sorriu sutilmente com a ideia de que sua presença era tão significativa que o amigo a considerava "uma das melhores coisas", como havia dito. — Amanhã eu vou conversar com a minha família e preparar um jantar simples em casa.

— Bom, mas um jantar simples na sua casa é completamente diferente de um jantar simples qualquer, né? Nem eu, nem as crianças tem roupa pra essa situação. — Lucas concordou com a cabeça, um estalo surgindo em sua mente.

— Posso pedir pra Isis comprar umas roupas pra vocês. — Disse ele, fazendo Eduarda sorrir falsamente.

— Ah, sim. Que incrível... — Disse ela, tentando não soar tão desanimada quanto estava se sentindo com a sugestão de Lucas.

Rockabye - LucaduOnde histórias criam vida. Descubra agora