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Os gêmeos estavam sentados no balcão do bar, sucos de fruta estavam ao lado dos desenhos que faziam para a escola. Eduarda tamborilava os dedos ansiosamente ao lado deles, esperando o momento que Gael chegaria para que os dois pudessem conversar.

— Mamãe, vai demorar muito? — Guilherme perguntou, fazendo a mãe dar um sorriso para o filho e acareciar seus cabelos, ajeitando-os.

— Não, meu amor. Já, já a gente vai pra casa. — Disse, sorrindo carinhosamente para o garoto. Xana havia buscado as crianças na escola e os deixou no bar para esperar o final do expediente de Eduarda, que os levaria pra casa assim que possível.

— Eduarda? — A voz de Gael soou, quase fazendo Du derrubar a bandeja que carregava. Ela apoiou o item na mesa e se virou para o rapaz.

— Gael. — Disse, e engoliu em seco. — Oi.

— Oi. Como tu tá? — Disse ele, indo abraçá-la. Tensa, Du recebeu o abraço. — Que foi, meu amor? Tu deu uma sumida, parece meio distante...

— Gael. — Disse, rapidamente. Ela suspirou, afastando-se do abraço dele. — Eu tô morando com o Lucas. — Du esperou sua reação. A feição de Gael passou pelo choque para um aceno sutil de cabeça. O silêncio prevaleceu por algum tempo. — Tu não vai dizer nada?

— Acho que não tem muito o que dizer. — Respondeu ele, engolindo seco e parecendo se prender em seus próprios pensamentos.

— Como assim? — A ausência de resposta fez o coração de Eduarda acelerar, gerando uma ansiedade enorme em seu peito. — Isso não muda nada entre nós, eu e o Lucas não temos nada. É só por causa das crianças... — Gael a cortou:

— Du, a gente pode combinar uma coisa? — Perguntou ele.

— Claro que sim. — Respondeu, já tendo sua linha de raciocínio atrapalhada.

— Dá pra gente ter uma conversa sem mentiras? — A possível acusação implícita de que Eduarda estaria mentindo a fez se ressaltar.

— Sem mentiras? Como assim, Gael? Eu não tô mentindo pra você. — Disse ela, se sentindo ultrajada com a acusação.

— Eu sei que não. Mas tá mentindo pra si mesma, o que chega a ser pior. — O baque da frase fez ela se desmontar e congelar, incapaz de responder. Gael olhou pra baixo e suspirou. — Eu não sou idiota, sabe? Sei que tu nunca me contou tua história com esse cara, e eu sempre soube que deveria ter um motivo. Uma briga feia, algum podre. Mas hoje em dia eu vejo que não é isso, o motivo de tu não me falar dele é porque é um assunto delicado pra você. Um tópico que tu nunca conseguiu deixar de pensar, que nunca teve um ponto final.

— Não, tu tá entendendo tudo errado. Teve um ponto final sim, eu que coloquei o ponto final. Saí da vida dele sem previsão nenhuma de voltar. — Contradisse ela depois de recuperar suas forças.

— Mas voltou, Du. E age como se tudo que cercasse ele fosse repleto de insegurança. No começo eu não entendi direito, mas agora eu entendo. Seja lá o que vocês viveram no passado, foi muito intenso, e desde então, tu nunca conseguiu parar de pensar nele. E agora qualquer coisa que envolva esse cara parece um tipo de traição pra você. E mesmo que não seja uma traição de verdade, no seu coração tu sente que é, porque qualquer coisa que tu faz com ele faz os seus sentimentos por ele voltarem. E tu é uma pessoa verdadeira, que não consegue disfarçar que tá se sentindo assim. Eu achei que ia passar, que tu ia se lembrar do por que odiava tanto ele. Mas aí eu percebi que tu nunca odiou ele de verdade. Que seu ódio era só um jeito de tentar esquecer o quanto tu ainda gostava dele. E agora o ódio passou, né? Porque tu tá lentamente aceitando que ainda tem sentimentos por ele. — A cada palavra dita, o coração de Eduarda saltava uma batida, tornando a conversa extremamente dolorosa pra ela.

— Gael, não. Eu e ele nunca tivemos nenhum tipo de envolvimento romântico. Foi coisa de uma noite. — Disse baixinho, tentando convencer mais a si mesma do que a ele.

— Mas o caminhou que trilhou até essa uma noite foi repleto de sentimentos românticos, né? Ou tô errado? — Du negou com a cabeça discretamente, com vergonha das verdades que escutava sobre si mesma que nem sequer ela tinha coragem de admitir. — Escuta, Eduarda. Eu tô chateado, lógico que tô. Eu gostava de verdade de você e das crianças. Mas eu sei que o que a gente teve foi sincero até a hora que ele apareceu. E eu não culpo nem ele, nem você. Sei que coisas que não tiveram fim sempre voltam. Eu só dei o azar de tá no meio dessa confusão toda.

— Tu tá terminando comigo? — Perguntou ela, no final da fala que ouvia com atenção.

— Não, Du. Tô te dando a chance de ser feliz com a pessoa que tu sempre quis. Não desperdiça. — Disse, colocando as mãos no rosto dela de modo carinhoso. Du se inclinou e deixou um último beijo nos lábios de Gael.

— Tu merece tudo de melhor nessa vida. — Disse ela, acareciando as mãos dele sutilmente antes dele retirá-las do rosto dela.

— Espero que tu consiga o que tu quer. — Ela sorriu tristemente, assistindo o rapaz dar as costas, colocar as mãos no bolso e descer a rua do bar, sumindo ao virar uma das esquinas.

Lágrimas queimavam nos olhos da mulher, e ela permitiu que algumas delas escapassem por suas bochechas, enquanto tentava processar tudo que havia acabado de acontecer. O pior de toda situação era que ela nem sequer chorava por conta do término, mas sim pelo fato de que aquele rapaz havia conseguido descobrir os segredos que ela acreditava estar escondendo tão bem. Se Gael já havia descoberto a respeito dos sentimentos dela por Lucas, será que o próprio rapaz já sabia? O questionamento fez com que Eduarda sentisse um frio na barriga.

— Mãe? — A vozinha de Vitória soou atrás dela, fazendo-a limpar as lágrimas rapidamente. — Vamos pra casa?

— Claro, meu amor. — Disse, pegando ela no colo e dando a mão para Guilherme. — Tá na hora de ir pra casa.

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⏰ Última atualização: Jul 23 ⏰

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