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O trabalho de Lucas é burocrático e geralmente sempre igual. Como sempre, Lucas é o primeiro a chegar na empresa. Sentado em sua sala, o mundo parece se fechar, e embora sua mente viaje hora ou outra pro dia anterior, o trabalho exige a maior parte de sua concentração.

De repente, entretanto, Clara entra na sala e coloca um tablet em frente a ele. Havia uma foto enorme dele com Eduarda e as crianças de mãos dadas e a manchete dizia:

DONO DA EMPRESA IMPÉRIO VIVE VIDA DUPLA? JOÃO LUCAS MEDEIROS É VISTO COM FAMÍLIA EM SHOPPING DO RIO.

Ele levanta os olhos pra Clara, que tem os braços cruzados e as sobrancelhas erguidas.

— Eu posso explicar. — Ele diz, a olhando com cautela.

— Eu já sei a explicação. Quem não sabe é a sua namorada, os membros da sua empresa e a imprensa! — Clara diz. — Ai, Lucas! Por que uma polêmica logo agora!?

— Calma, Clara. Calma, pelo amor de Deus. Lembra que o pai falava? Essa não é a primeira polêmica e nem vai ser a última. — Ele pensou em Eduarda. Ele e sua família estavam acostumados com os noticiários, as entrevistas e os paparazzi, mas ela não. Provavelmente, aquilo a estava atrapalhando. — Esse assunto vai morrer rápido, eu só... Eu preciso falar com a Du.

— Por que não me contou que foi se encontrar com eles? — Clara perguntou, vendo Lucas puxar o celular e digitar algo para a amiga. — São meus sobrinhos.

— É complicado. Acho que eu queria ter certeza, sabe? Conhecer, saber se são realmente seus sobrinhos. — Clara sorriu com o comentário brincalhão. — Eu não... Não sei. Acho que a matéria tá meio certa. Eu queria separar a minha vida atual da vida que eu tinha antes. E viver um pouco dela. Não quis transtornar a família.

— Não, tudo bem. — A irmã do rapaz suspira. — Mas agora você tem duas escolhas: pode abafar esse caso ou ir a público e falar a verdade.

— Eu posso pensar mais um pouco nisso? — A mulher concorda com a cabeça e sai da sala. Lucas puxa o tablet mais pra perto e desce o dedo pela tela, lendo a reportagem. Não tem muitas informações, só que ele foi visto conversando com a mãe das crianças e brincando com elas. Parece que não houve uma grande pesquisa sobre o caso, isso o tranquiliza.

Lucas se recosta na cadeira do pai e olha para o monte.

— Pai... Me dá uma luz de qual decisão tomar. — Diz, olhando para a enorme imagem.

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Os jornalistas parecem ter dificuldade em encontrar em contato com Eduarda, já que sua rotina geralmente é corrida. Mas no fim do dia, um rapaz jovem a para no caminho pra casa.

— Licença, tu é a Eduarda Botticelli? — Ele pergunta. Ela estranha a pergunta, confusa.

— Por quê? — Questiona.

— Eu sou do jornal Admiração e queria conversar contigo por um minuto. — Ele diz, citando um jornal de fofocas conhecido e em ascensão. Fofocas. Do tipo que Lucas e seu pai se metiam frequentemente.

— Não tenho nada a dizer que te interesse. — Diz, se esforçando ao pegar Vitória no colo também, pra que assim pudesse se apressar com eles.

— Eu discordo. Reconhece essa foto? — Em seu celular, a imagem dela com Lucas e as crianças aparece.

— Não. — Responde.

— Mas é a gente. — Diz Vitória, apontando e sorrindo. — E o papai.

— Vitória! O que eu te disse sobre não falar com estranhos? — Eduarda pergunta, fazendo a pequena se encolher.

— Obrigada, Vitória! Foi de grande ajuda, viu? — Diz o rapaz, mas a pequena esconde o rosto atrás do ombro da mãe, parando de falar com ele. O jornalista anota algo em um caderninho, seu próximo passo era perguntar pela vizinhança.

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— Vida dupla? — Isis pergunta, chegando perto do namorado, que fecha os olhos com força, não querendo ter essa discussão. — Quem são essas pessoas, Lucas? Não adianta dizer que não sabe do que eu tô falando, impossível que você não tenha visto.

— Isis, por favor, me escuta. Não é nada demais. — Tenta explicar. Lucas vê o rosto da namorada tomar uma coloração avermelhada de raiva.

— Nada demais!? — Ela pressiona as mãos no rosto. — Lucas, você tem uma família reserva! Nos últimos dias eu comecei a estranhar o seu comportamento, pensei que você tivesse outra mulher, não outra família!

— Você achou que eu estava te traindo? — Perguntou, indignado.

— Achei! Achei e podemos perceber que não estava errada! — Exclama, indignada. — Não só estava me traindo como tem filhos com outra pessoa!

— Eles tem cinco anos, Isis! Não dois! Eu e você não estávamos juntos nem quando nasceram, que dirá antes disso! Eu não estou te traindo! — Se defendeu.

— Então por que você nunca me contou deles? O que você escondia e esconde de mim? Por que fez tanto mistério? — Perguntou.

— Porque eu não sabia! — Ele diz, baixo, temendo que Pedrinho pudesse ouvir a discussão.

— Ah, e agora eles caíram do céu e você descobriu! — Ironiza, irritada.

— Eu só reencontrei a mãe deles esses dias! — Justifica.

— E, que novidade, também não me contou disso! — Isis bufa e passa as mãos pelo rosto com nervosismo. — E quem é essa mulher, em?

— É a Du. — Diz, sentindo um pouco de culpa por ter escondido tudo isso de Isis.

— Agora eu entendi tudo. — Ela diz, agora passando a estar chateada. — E você teve a coragem de me dizer que nunca tiveram nada. Eu sempre soube, só me recusei a acreditar.

— Isis, não era mentira. — Ele diz. — Aconteceu uma só vez. E ela sumiu depois disso, como você já sabe. Eu nunca imaginaria que essa única noite resultaria nos meus filhos. Não menti sobre isso.

— Mas mentiu sobre o resto! — Ela respira fundo. — Meu Deus. Você tem filhos. Dois!

— Isso também foi um choque pra mim. — Ele se aproxima dela. — Eu não conseguia acreditar. Ainda tô meio em choque. Mas vai ficar tudo bem, tá? Eu não tô te traindo.

— Desculpa por te acusar disso, é que... É fácil de deduzir. — Ele sorri tristemente, ainda magoado pela acusação.

— Desculpa esconder isso de você. É que era um assunto delicado pra mim. — Isis concordou e abraçou o namorado, que abraçou-a de volta.

— E como se chamam os seus filhos? — Lucas sorriu.

— Maria Vitória e José Guilherme. — Ele diz. — São as crianças mais fofas que eu já conheci. — Isis riu.

— Quero conhecer eles. — Lucas a olha, a vendo sorrir.

— Acho uma boa ideia. — Ele responde. — A gente vê isso direitinho, tá? — Ela concorda com a cabeça.

Lucas se sentia apreensivo com isso, porque finalmente misturaria suas duas realidades, e ele não sabia se queria que isso acontecesse. Desde que Eduarda voltou a sua vida, a comodidade que a vida ao lado de Isis lhe proporcionava se tornou entediante, e Lucas não via mais razões pra prosseguir com isso, era como se sentisse desmotivado, mas a culpa que sentia por se sentir assim era maior. Não podia deixar Isis, não agora.

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Eduarda recebeu o pedido de desculpas de Lucas pela reportagem, e ela respondeu que pedia desculpas por Vitória, que havia dado mais informação para o jornalista que qualquer um dos dois. Lucas teve que sorrir e quando Isis perguntou o motivo do sorriso, ele mostrou a foto que Eduarda havia mandado das crianças brincando alguns dias atrás.

O estômago do rapaz se revirou em apreensão e angústia.

Rockabye - LucaduOnde histórias criam vida. Descubra agora