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O nervosismo era palpável em Eduarda, embora ela tentasse não transparecer para que seus filhos não se contagiassem com sua ansiedade. Estar com Isis já era angustiante, mas estar com Isis enquanto era obrigada a permitir que ela escolhesse roupas para Eduarda e seus filhos, era tortura.

A roupa de Guilherme era social, mas casual, segundo o que Isis havia dito. O menino ainda estava lindo, é claro. Mas Eduarda teve que conter o riso ao ver a careta brava que Vitória lançava a Isis toda vez que a ruiva virava as costas.

— Por que tu tá tão irritada, meu amor? —  Perguntou Eduarda, esticando os braços para receber uma Vitória carrancuda.

— Ela escolheu um vestido feio pra mim! — Disse, irritada. — Só porque eu não gosto dela.

— Vivi, tu fica linda de qualquer jeito. — Respondeu, acariciando a pequena.

— Mas pra conhecer a família real do papai era pra eu usar um vestido de princesa! Não isso! — Disse, incomodada com os laços enormes em seus ombros no vestido florido. — Não gosto dela, mamãe.

— Tudo bem, meu amor, eu também não. Mas só por essa noite, a gente tem que fingir que gosta, tá bom? — Ainda brava, Vitória concordou, abraçando a mãe.

— Du! Que tal esse? — Isis chamou, fazendo Eduarda beijar a bochecha da filha antes de sorrir falso e atender ao chamado da ruiva.

— Claro. — Disse, tentando soar menos aborrecida do que estava.

Entretanto, no vestido dela, Isis havia acertado. Era um vestido preto de alças e um tecido semelhante a cetim. O decote era sutil e seu caimento perfeito, deixando a mãe dos gêmeos com um porte luxuoso e chique. Ela amou a nova aquisição paga por Lucas.

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Entrar naquele apartamento de novo fez o coração de Eduarda acelerar e todo seu corpo parecia prestes a entrar em combustão. Claraíde havia aberto a porta pra ela e Du guiou seus filhos para dentro, onde a família de Lucas a esperava na sala. Ela respirou fundo com a visão e tentou sorrir. Guilherme parecia querer se esconder atrás da mãe e até mesmo Vitória parecia intimidada com a situação.

— Mãe, Clara, Pedrinho e Amanda, essa é a Du e esses são Vitória e Guilherme. Nossos filhos. — Disse Lucas, apresentando os convidados (e futuros moradores) para os Medeiros. Clara era a que tinha o semblante mais amigável, enquanto Marta e Amanda possuíam a mesma expressão implacável.

— Boa noite. — Disse Eduarda, depois de alguns segundos caçando algo para dizer e optando pelo simples, mas educado.

— Boa noite. — Imitou Vitória, reunindo coragem.

— Boa noite. — Disse Guilherme, baixo, mas audível.

— Muito bom reencontrá-la, Du. — Disse Marta, se aproximando sutilmente da mulher. A imperatriz raramente a intimidava, mas era inegável que ela exalava poder pelos olhos. Antes, Eduarda não tinha nada a perder, e isso fazia com que ela não temesse a poderosa imperatriz. Mas agora, com dois filhos, o medo de que algo acontecesse a estremeceu, e ela se sentiu extremamente intimidada pela presença.

— Digo o mesmo, dona Marta. — Respondeu, tentando acalmar as batidas descompensadas de seu coração.

— Tu que é a imperatriz? — Perguntou Vitória, afrouxando o aperto na mão da mãe ao olhar para a mulher com admiração. Marta sorriu e direcionou o olhar para ela.

— A maioria diz que sim. Vitória, né? — Ela concordou com a cabeça, puxando os laços de seu ombro novamente, com irritação. Eduarda pensou em repreendê-la, mas não teve tempo. — Tem algo errado?

— Tem. A Isis escolheu um vestido feio pra mim. — Disse, brigando com os laços. A mãe da menina prendeu o ar diante do comentário, sabendo que toda a família os assistia naquele momento. Eduarda preparava-se para dar as costas e sair dali correndo no exato instante que Maria Marta deu uma sonora gargalhada. Todos presentes no ambiente estavam paralisados, mas rapidamente Vitória foi contagiada pelo riso da avó.

— Ah, Lucas. Você faz uma ou outra coisa certa quando quer. — Marta disse. O alívio dos presentes no cômodo foi notório e Eduarda sentiu que podia respirar novamente.

— Obrigado, mãe. — Agradeceu Lucas, com uma voz ansiosa e aliviada.

— Ela é uma desqualificada mesmo. Se fosse escolha minha, ninguém com o mesmo sangue que o meu se misturaria com aquelazinha. — Disse Marta, sem se importar com o fato de que Isis ouvia tudo. — Vamos ao jantar. — A família concordou e seguiu as ordens, se sentando para jantar.

O grupo tentou conversar durante a refeição, trocando algumas informações e conversas casuais. Depois de algumas perguntas soltas na tentativa de engatar um diálogo, a família conseguiu desenvolver assuntos e se comunicar naturalmente, encontrando assuntos interessantes e em comum, de um modo que a socialização não fosse afetada pela singularidade da situação.

As crianças também conversavam, mas brincavam na maioria das vezes. Depois das perguntas dos gêmeos sobre a posição de "realeza" da família, essa foi a brincadeira estabelecida, onde os três imaginavam um mundo medieval com reis, rainhas, cavaleiros e castelos. Guilherme não tirava o sutil sorriso tímido do rosto durante a brincadeira, e embora Vitória continuasse uma criança enérgica, Marta conseguia pescar os desconfortos na menina.

Marta e Clara nunca foram próximas. Nem quando a menina era criança. Isso acontecia por conta de muitos motivos, como seu apego enorme com o pai, ou o fato de que ela não se interessava pelas mesmas coisas que a mãe. A relação mais maternal que ela tivera havia sido com Amanda, mas Marta não estava presente na infância da sobrinha, então nunca havia tido a experiência de ter uma filha que fosse sua companheira.

— Tô com um vestido feio igual o das bruxas! Vou entrar na casa delas e elas nem vão ver que eu sou uma princesa e não bruxa! — Disse a menina durante a brincadeira, arrancando Marta de seus devaneios e a fazendo rir sutilmente.

— Vitória? Vem aqui rapidinho. — Chamou a avó, ainda rindo.

— Eu. — Respondeu, correndo até a avó por um instante.

— Você não gostou nada do seu vestido, né? — Perguntou, vendo a pequena negar com convicção.

— Nem de quem escolheu pra mim. — Disse, fazendo uma feição brava e arrancando um riso agradecido de Marta.

— Que tal eu e você sairmos amanhã, pra comprar uns vestidos sem que a franga da Isis atrapalhe, em? — O rosto da pequena se iluminou com a sugestão feita.

— Vestidos tipo o seu? De princesa? — Marta deu risada da resposta.

— Isso. Vestidos de princesa, como o meu. — Vitória concordou soltando da mão da mãe para abraçar a avó. A imperatriz não conseguiu conter o aquecer de seu coração e sorriu de modo sutil. Ela havia tido muito tempo pra pensar depois que o grande amor de sua vida havia morrido, e de pouco em pouco, ela passou a valorizar mais as pessoas que tinha ao seu redor. E ela de forma alguma iria se negar a aproveitar a existência de seus netos. Se seu filho Lucas, que hoje em dia era um de seus principais motivos de orgulho, estava aceitando a situação com tranquilidade, ela não possuía razão para não fazê-lo.

— Eu te falei que ia dar tudo certo. — Lucas disse, observando Eduarda sorrir para o abraço de avó e neta.

— O que aconteceu com a dona Marta? Ela era quase uma muralha. — Perguntou Du, vendo o rapaz sorrir pelo canto de sua visão.

— Ela ainda é uma muralha. Mas agora ela reserva a força dela pra cuidar da nossa família. Acho que ela não vê mais nenhum inimigo dentro de casa.

Rockabye - LucaduOnde histórias criam vida. Descubra agora