Vitória acordou alegre naquele dia, pulando de um lado ao outro pela casa, enquanto Guilherme se encontrava mais quieto que o normal.
— Prontos pra escola? — Perguntou Eduarda, colocando a mochila dos dois em suas costas.
— Sim! — Respondeu Vitória, animada. Guilherme concordou com a cabeça, tímido.
— Pegaram tudo? Lanche, lição de casa? — Os dois concordaram. — Então tá, depois da escola o tio Xana vai buscar vocês, tudo bem?
— Ah, não pode ser o papai? — Perguntou Vitória, chateada
— Ele vai vir mais tarde. — Vitória concorda com a cabeça, sorrindo. Ela se olhou no espelho mais uma vez, ajeitando o laço em sua maria chiquinha.
— O tio Xana pode arrumar o meu cabelo depois? — Perguntou. Queria estar arrumada para encontrar com o pai.
— Claro, meu bem, é só pedir pra ele. — Disse, pegando sua bolsa e checando se estava com tudo. Ela colocou a bolsa no ombro, pegou suas chaves e respirou fundo. — Ótimo, aqui vamos nós.
— Oba! — Vitória sorriu, pulando e ajeitando a saia de seu uniforme. — Vai, Guilherme, rápido. — Disse, vendo o irmão esconder em sua mochila um pequeno papagaio de pelúcia. Ela nada disse, apenas deu de ombros e segurou a mão estendida da mãe.
— Guilherme? Vamos, pequeno marinheiro? — Ele sorriu e segurou a mão da mulher também.
— Vamos.
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— Lucas? Os relatórios que você me pediu. Das jóias. — Clara disse, tentando tirar o rapaz dos devaneios. Lucas tinha um nó permanente em seu peito, uma ansiedade frequente de se encontrar com aqueles que ele agora sabia serem seus filhos.
— Ah! Tá, tá, desculpa. — Disse, chacoalhando suavemente a cabeça. Ele pegou os papéis, mas os mesmos não pareciam atraí-lo. Lucas bufou. Clara negou com a cabeça e saiu da sala do irmão, voltando ao seu trabalho.
Lucas olhou a foto dos dois em seu celular, Guilherme sorrindo ao segurar um baú do tesouro e empunhar uma espada de brinquedo, enquanto Vitória sorria ao arrumar sua casinha rosa de bonecas. Rapidamente, viu semelhanças entre ele e Eduarda e as crianças. Os dois tinham o sorriso de Eduarda, Guilherme tinha seus olhos, e Vitória tinha os cachos de sua família, visíveis no cabelo de seu pai. Lucas se virou para a imagem do monte, o observando.
— Me pergunto o que você ia achar disso tudo, pai. — Perguntou, olhando a imagem.
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— Então? O que vocês conversaram? — Perguntou Manuel, sorrindo para a moça, que acabara de chegar. Ela riu.
— Sobre muitas coisas. Mas eu contei pra ele. Ele vai vir conhecer as crianças hoje. Conhecer como... Bom, como pai. — Disse, se juntando a Manuel para arrumar as mesas do bar.
— Finalmente! Meus santos ouviram minhas preces! — Mais uma risada. — Agora vai dar tudo certo, menina Du! Tudo certo! — Disse feliz, a abraçando.
— Assim espero, mas estou com um mau pressentimento. — Falou com honestidade.
— Não deve ser nada, não. — Manuel começou a tossir. — Desculpa, sabe como é, idade.
— Tu tá na flor dela ainda, Manuel. — Disse, vendo o senhor posicionar os bancos de ferro.
— Quem me dera estivesse. — Disse, rindo.
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— Tio Xana! — Vitória exclamou, abraçando-o.
— Oi, tio Xana! — Disse Guilherme.
— Oi. — Disse, rindo. — Por que tanta animação, Vitória? Tem alguma coisa pra me contar?
— Tenho sim! Hoje a gente vai encontrar o nosso pai, sabia? — Perguntou, sorrindo e saltitando ao lado dele.
Xana magoou-se por Eduarda não tê-lo contado, mas sabia que o assunto era delicado e só de saber que as crianças sabiam, já se sentia melhor. Olhou para Guilherme, cujo peito chiava. Isso significava que o garoto teria o tratamento adequado, não só um alívio para as crises.
— Que bom! Ele vai ser muito legal com vocês, tenho certeza que vão gostar dele! — Disse.
— Eu já gosto! — Vitória disse, rindo. — Ele é dono de um império de jóias, sabia? Ele é tipo um rei. — Xana riu.
— Disseram que ela é mentirosa na escola, a professora escreveu um bilhete na agenda. — Guilherme disse, menos animado que a irmã.
— Guilherme! Não era pra contar! Agora a mamãe vai saber e vai brigar comigo! — Disse ao irmão, brava.
— Calma, Vivi. — Xana deu risada. — Eu sei que você não tá mentindo. Que tal você deixar isso comigo? Eu escrevo um bilhete pra sua professora?
— Oba! Aí vão parar de me chamar de mentirosa! — Diz, sorrindo.
Xana os levou para o salão, onde ficavam até Naná voltar com Luciano da escola. Então, os mandou retirar os uniformes e colocar as roupas que a mãe havia mandado no início da semana. Xana havia separado as roupas que esperava que os (netos? Afilhados? Não sabia rotular) gêmeos vestissem, mas não ficaram contentes com a escolha, querendo vestir-se sozinhos para o encontro com o pai. Xana deixou.
Vitória escolheu uma camiseta branca com rosas vermelhas desenhadas e colocou o shorts vermelho do conjunto. Sua mãe amava esse conjunto, então a garota assumiu que o pai também fosse amar. Guilherme vestiu sua roupa favorita, uma bermuda azul marinho, com estampa de âncoras, e uma camiseta branca, com o desenho de um barco em azul no centro. Estava nervoso, com medo. Apertava firmemente seu papagaio de pelúcia.
— Tio Xana? — Pediu Vitória. — Tu pode arrumar o meu cabelo?
— É claro que eu posso, Vivi! Vem aqui! — Vitória sorriu, sentando-se na cadeira que Xana indicava. — O que você vai querer, hein?
— Não sei. — Diz, sem saber realmente o que escolher, balançando as pernas na cadeira.
— Que tal prender com um elastiquinho aqui, sem levantar o seu cabelo, e colocar uma fitinha vermelha? — Perguntou sorrindo, demonstrando como ficaria. Não seria uma maria chiquinha, já que não pegaria todo o cabelo, apenas uma mecha, e no lugar de o puxar para os lados, puxaria pra trás, prendendo suavemente. — Pode ser?
— Pode! — Respondeu, alegre.
Xana prendeu seu cabelo, prendendo as fitas de cetim com carinho ao redor dos pequenos elásticos de cabelo que prendiam as duas mechas do cabelo.
— Pronto, agora é melhor irmos pra casa, porque a tia Naná e o Luciano vão chegar logo, logo. — Disse Xana, segurando a mão das crianças e as guiando até sua casa.
— Oi, tia Naná! — Disseram, abraçando a moça.
— Oi, como foi na escola? — Ela perguntou, beijando suas testas.
— Bem. — Responderam.
Os cinco começaram a conversar, contando sobre seus dias, mas todos se silenciaram com a menção do pai dos gêmeos. Luciano não chegara a conhecê-lo, mas se lembrava de Eduarda chorando, se lembrava dela sozinha, fingindo estar com tudo sob controle, mas seu coração de criança da época sabia que ela estava desesperada. Os três fizeram suas lições de casa, os gêmeos sempre maravilhados pela complexidade das lições de Luciano, e enfim Vitória aguardava ansiosamente sua mãe, enquanto Guilherme apertava o bicho de pelúcia.
Então, uma batida na porta.
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Rockabye - Lucadu
Fiksi PenggemarDu não voltou naquele dia, não contou a Lucas que estava grávida. Embora fosse difícil, Lucas teve de seguir sem ela, e ela, sem ele. Acontece que suas vidas vieram a se cruzar mais uma vez, e agora, com tudo diferente, suas vidas voltam a se mistur...