Camila
Quanto mais ouço o que meu acompanhante diz, mais eu elaboro, mentalmente, métodos de retaliação, para não dizer vingança, contra Peter.
Seu nem sempre bom hábito de bancar o cupido desta vez superou as expectativas, no sentido negativo da coisa. E a única culpada de cair nesta cilada sou eu, que me deixei vencer pela insistência de meu irmão em me apresentar a seu amigo, "O espetacular Lourenço" – sim, esta é praticamente a forma como o sujeito à minha frente se define.
Luto contra a necessidade de bocejar, quase insuportável a esta altura, e sorrio, "atenta" a mais uma história sobre as grandes conquistas de Lourenço em seus trinta e poucos anos. Estou diante de um incrível caso de super-autoestima; me pergunto se falta muito para a noite terminar.
E outra questão acaba de invadir a minha mente: qual seria o tamanho do incrível Lourenço? Com tantas "qualidades", seria este o seu "pequeno defeito"?
Rapidamente, pego a taça de água e sorvo uma boa quantidade, tudo para não rir. Kat, uma de minhas amigas, certamente não filtraria esta pergunta.
Lourenço é um bom partido, é uma pena que eu já fui casada com um homem semelhante e estou vacinada. Outro ponto negativo para ele é a sua mania de tocar minha mão por cima da mesa toda vez que um homem desacompanhado passa por nós, uma forma detestável de marcar território. Estou quase perguntando se ele não prefere urinar no meu pé para assegurar a marcação do modo tradicional.
Eu sou uma pessoa legal, eu sou uma pessoa legal...
Ajeito-me na cadeira.
— Eu estou adorando estar aqui com você, Lourenço...
— Mas excedemos um pouco o horário, não é? — ele me interrompe, com seu melhor sorriso galanteador.
Bonito, não nego. Lamentável que seu assunto seja tão interessante quanto uma extração de dente siso.
Sorrio também, em reforço.
— Sim, amanhã tenho um compromisso logo cedo, e você sabe como é...
— Não se preocupe, Camila, você tem toda a razão. Dizem que o tempo voa quando estamos fazendo o que gostamos — ele confere seu relógio— Em sua presença nem vi as horas passarem.
Isto é relativo, penso.
— Pois é... passou muito rápido — me sinto uma boa mentirosa.
Com um aceno, ele pede que fechem nossa conta. Seu olhar sustenta o meu de maneira segura. Aparentemente, Lourenço acredita que estamos na mesma sintonia.
Seria péssimo recusar sua carona de volta para casa?
Sim, seria.
Isto é bom para que eu aprenda a não deixar que encontros me apanhem em casa. Onde fica o plano de fuga no caso de saídas entediantes? Estou perdendo o jeito. É isso o que uma vida de solteira solitária faz com a gente. Jasmine está vivendo com Damien. Alice, Júlia, Pini e Kat estão com seus pés mais para o time de casadas do que qualquer outro, e Luna segue a mesma linha. O que me resta? Aceitar as furadas em que meu irmão me coloca.