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Camila

Apoio meu queixo com a mão, o corpo debruçado sobre o balcão da cozinha enquanto escuto Jas falar de sua nova vida... Seu brilho bonito faz meu coração aumentar de tamanho. Eu amo esta menina como uma irmã. Foi assim desde o primeiro minuto em que Luna trouxe ela para morar aqui. Jas chegou aqui despedaçada e sem nenhum amor-próprio. Tão quebrada que eu mesma tinha dúvidas se algum dia ela conseguiria superar. Foi muito difícil entrar na concha fechada que a cercava e conquistar a sua confiança. Seus pesadelos acabavam comigo, no entanto, graças a eles, eu a conhecia um pouquinho mais a cada dia.

Disléxica, com uma mãe que nem merece ser chamada desta forma, a vida não foi fácil para a minha amiga... até o imbecil Damien aparecer. Ok, ok, tenho que parar de chamá-lo assim. Ele faz Jasmine feliz e, por consequência, me faz também. Ou isto, ou eu estava muito perto de pedir ajuda aos amigos de Pini para sumir com um corpo. 

E por falar nele, o barulho do celular e um sorriso pouco contido no rosto de Jas dão conta de que o homem está à sua espera lá embaixo.

— Damien já chegou... Eu disse que iria de metrô — seu sorrisinho se estende e as bochechas coram com a mensagem escrita por ele.

Reviro meus olhos, sem esconder o sorriso.

— Até parece que ele deixaria a "raposinha" dando mole de metrô por aí — brinco.

— Eu o amo tanto, Mila... — ela suspira, sonhadora.

— Como se isto fosse uma novidade, garota.

Os dois são malucos um pelo outro – ele no sentido real da palavra, esta é a verdade.

Levo Jas até o elevador e a seguro em um abraço bem apertado em despedida. Eu sinto falta dela, mas me recuso a dizer. Jasmine está bem em sua nova vida e isto é o que importa.

Ela entra no elevador e eu ando de volta para meu apartamento. Ao passar em frente à porta que leva às escadarias do prédio, risadinhas e conversas me chamam a atenção. Parecem de crianças...Inevitavelmente, a imagem da pequena trapaceirinha me vem à mente. 

Sem poder explicar o porquê, me pego abrindo a porta silenciosamente, curiosa sobre os sons.

— Tem que ser sem isso aí... — pela fresta, vejo uma garotinha loira de cabelos escorridos, com uma mão apoiada no quadril e a outra apontando para algo à sua frente, desdenhosa. 

A maneira desafiadora como ela eleva a sobrancelha soa um tanto impertinente para alguém de seu tamanho.

— Mas sem eu não consigo... — esta voz eu reconheço, é da Luz do Sol.

Com cuidado, abro um pouco mais a porta.

E não gosto do que vejo. 

A loirinha e outra menina estão praticamente cercando minha pequena vizinha. O alvo é a prótese da criança. 

A busca por aceitação no rosto de Luz do Sol leva um calor familiar às minhas bochechas.

— O desafio é este. Se você não consegue, então não podemos te deixar ir.

Não se meta, Camila, não se meta.

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