39.

534 53 9
                                    

Camila

Em seu quarto, ando até seu armário e retiro uma camiseta grande dele. Visto-me com ela.

Um sorriso bonito brinca no canto de seus lábios, assistindo-me invadir seu espaço assim.

— Temos uma criança na casa, não posso correr o risco — pisco, explicando a decisão.

— Muito bem observado, vizinha — o bom humor me faz baixar os olhos, sorrindo também.

Divina misericórdia, como eu consegui ficar sem isso?

Já deitados, em meio à penumbra do quarto, sua mão pousada em meu estômago, minhas costas bem encaixadas contra seu peito, sinto o relaxamento agradável se apossar do meu corpo.

— Eu nunca mais vou ficar longe de você. — sussurro, como uma promessa, lutando para não cair no sono.

— Tampouco eu permitirei que fique — afirma em voz bem baixinha, atraente de um jeito gostoso de ouvir.

— Obrigada, Shawn.

— Pelo quê?

— Por não desistir de mim.

— Eu nunca faria isso. De uma forma ou de outra, eu a traria de volta. Não se engane, não há nada de nobre em mim.

Sorrio silenciosamente no escuro, agradecida pela sorte que eu tenho.

*

Pisco algumas vezes e, mesmo de pálpebras fechadas, sei que o dia ainda está nos primeiros minutos de claridade. Não deve ser mais do que cinco ou seis da manhã. O que me desperta? A presença, o cheirinho, a energia dela. Eu já sinto a menina como se nossas almas se reconhecessem quando estão próximas.

Abro os olhos e a encontro exatamente como na primeira vez que passei a noite aqui, olhando-me quietinha, contemplando meu sono com um ar de admiração tão enriquecedor que emociona. Seu queixo descansado na beirada da cama, as mãozinhas apoiadas no colchão, ao lado de seu rosto.

Sorrio para ela. Ela sorri para mim.

— Oi… — sussurro.

— Oi, Camila… — imita meu tom — Você dormiu na minha casa de novo?

Aliso suavemente sua bochecha.

— Eu só consigo dormir bem quando estou na sua casa, princesa.

Seus olhinhos sorriem para mim.

Sem pensar no que estou fazendo, afasto-me um pouco para trás e levanto o edredom, convidando-a.

— Ainda é cedo, o que você acha de me ajudar a dormir um pouquinho?

O que vejo refletido em sua expressão me suga o ar. Dúvida, interesse, admiração plena.

— Você quer que eu te ajude a dormir? — questiona, surpresa.

— Sim, eu preciso sentir o seu cheirinho.

Sorrindo de maneira aberta, em uma manobra, ela está subindo na cama comigo. Antes de envolvê-la como quero, no entanto, retiro sua perna artificial, dando mais conforto à menina. E a abraço bem forte, dividindo meu travesseiro.

SunlightOnde histórias criam vida. Descubra agora