Epílogo

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Shawn

Alguns meses depois

Amarro os cadarços da bota, levanto do banco, pego a jaqueta, carteira, chaves e celular, e tranco a porta do meu armário no vestiário do batalhão. Mais um turno chegou ao fim. Estive por doze horas, praticamente sem intervalos, socorrendo pessoas nas mais diferentes situações: atropelamento, queda, infarto, acidente domiciliar com eletricidade, enfim, foram muitos casos e com distintos resultados no final.

O dia foi cansativo e eu não vejo a hora de estar de volta à minha casa, junto das mulheres que me fazem esquecer de qualquer outra coisa, porque nesta profissão é assim: temos de varrer o passado e recomeçar, dia após dia, tendo em mente que nenhuma situação é igual à outra.

— Fez um bom trabalho, filho — Raled acena no meu caminho para fora.

— Boa noite, chefe — meneio a cabeça em despedida, sem muita ênfase.

Nós não esperamos agradecimento. Salvar vidas é o nosso trabalho aqui.

Ando até a minha moto, subo nela e desengato o capacete. Antes de colocar o objeto na cabeça, no entanto, ligo para minha mulher. Quero avisar que estou indo para casa, e também checar se há algum de seus desejos que eu deva obter no caminho.

Camila está na reta final da gestação. Seu corpo ganhou um formato lindo pra caralho, redonda em todos os lugares, gostosa, apesar de suas reclamações sobre os vinte quilos obtidos na gestação ou que já não consegue mais enxergar os próprios pés – um exagero, nem de longe ela ganhou tudo isso.

A fixação por comer tomates não mudou. O que eu não esperava (e que, na verdade, tenho até achado engraçado) são seus desejos malucos do tipo: melancia com pimenta. Jesus, de onde a mulher tira essas coisas?

Deslizo o dedo por seu nome e disco o número. Não demora, ouço a voz do outro lado.

— Papai? — é Ellie quem atende o celular da mãe, sem nenhum constrangimento.

— Ei, pequena. Como você está? O que aprontou hoje?

— Hum… Eu estou bem… — quase posso ver seus lábios se enrugando para o lado num beicinho de quem está prestes a pedir algo — Eu e a mamãe queremos saber se você vai trazer bombas de chocolate hoje…

Mal acostumada, ao que parece, hein.

Disfarço meu sorriso.

— Sua mãe está com desejo disso? — finjo não sacar sua jogada espertinha.

Ela hesita.

— Bem, papai… nós duas estamos. A mamãe disse que é bom a gente comer uns docinhos, para Raphaelle nascer mais doce.

Minha mulher tem umas teorias bastante curiosas. E Ellie segue no embalo, como se precisasse de mais estímulo para a sua própria criatividade em me enrolar nos dedinhos.

— Tudo bem, eu passo em uma padaria no caminho, filha. Onde está Camila?

— Ela está lá no quarto. Eu vou levar o telefone pra ela, papai! — o tom de alegria me encobre de satisfação.

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