Camila
Tenho de olhar duas vezes para ter certeza de que não estou vendo coisas.
Aquele odioso não pode ter feito isso... Ele não teria coragem...
Mas aqui está. Claro como a luz do dia.
Ele teve.
Este diretor de meia pataca assinou como sendo dele o projeto da nova coleção de inverno da Átomos, criada por mim! Uma linha inteira de peças cuidadosamente desenhada e projetada pensando no perfil dos consumidores da marca, depois de toda pesquisa, milhares de esboços até chegar ao produto final, todo este trabalho para o cara simplesmente assinar como criador e nem sequer mencionar meu nome.
Empurro a cadeira para trás e me levanto.
Hoje ele se superou.
— O que foi, Mila? — Mau questiona quando passo apressada por sua mesa.
Não respondo.
Mas o sinto me seguindo em direção à sala do grande desonesto.
Nem me dou ao trabalho de bater. Abro a porta de uma vez, para encontrá-lo com os pés cruzados em cima da mesa ostentosa, o corpo relaxadamente deitado na opulenta cadeira de couro branco, com o telefone celular grudado à orelha.
Paro em sua frente e jogo sobre a mesa o material de marketing que circulará pela rede de lojas dentro de alguns dias.
Cruzo meus braços e o encaro.
— Você pode me explicar por que seu nome está assinado como criador da coleção?
Os olhos do babaca se arregalam. Ele me faz um sinal com o dedo, como se pedindo para eu esperar um minuto. Balanço a cabeça lhe negando este direito.
Nos últimos meses, vi todos os meus projetos serem boicotados por ele, inclusive este, que foi tratado de forma completamente desdenhosa. E, agora, descubro que ele não só usou o meu material, mas também o apresentou como sendo seu.
Mauro para ao meu lado, assumindo a mesma posição quando entende o que está acontecendo.
Arrogante (uma versão masculina de Miranda Priestly, do filme "O Diabo Veste Prada"), sem tirar os olhos de mim, o sujeito se despede de quem quer que o esteja fazendo rir ao telefone e desliga.
— Camila, eu acredito que temos regras a serem mantidas aqui. Bater à porta antes de entrar é uma delas.
Sorrio, irônica.
— Assinar como sendo criador de algo que você não fez me parece que também é quebrar uma regra, não?
Sem constrangimento, ele abre o material.
Encontra as imagens das modelos vestidas com minhas roupas e, ao final, seu nome lindamente embasando a ideia, contexto e criação. Eu nem fui mencionada em nada... Na verdade, isto não tem tanta importância, entretanto, a forma como ele trata meu trabalho, isto sim é muito relevante.
Ele sobe uma sobrancelha.
— Eu sou o diretor de criação da LeCher, meu nome deve assinar a coleção — o desdém está bem aqui, presente em seu timbre odioso.